1.5.03





Mi Buenos Aires querido

Quando o avião aterrissou, o senhor que estava à nossa frente virou-se e perguntou se falavámos espanhol. Fizemos que sim, e ele disse, então, que a nossa conversa tinha soado como música aos seus ouvidos, tão bem falávamos. Agradecemos, meio encabuladas, e eu expliquei que devia ser porque tinhamos muita prática.

Para mim, foi um ótimo começo; para a Bia, foi o fim de uma etapa estressante. Ela não está muito acostumada a viajar comigo, coitada, e é do tipo de pessoa que chega ao aeroporto duas horas antes do vôo, pontualmente. Eu nunca consegui fazer isso, a não ser, claro, que esteja em trânsito -- e mesmo assim já me distrai em banca de jornal e quase perdi o vôo.

Sempre penso que tudo vai dar certo e, geralmente, dá. Até hoje só perdi uns três ou quatro vôos; considerando o tanto que viajo (e o tanto que me atraso) é pouco, muito pouco.

* * *

Chegamos ao hotel à noitinha, e só saimos porque estávamos azuis de fome. Adoro hotéis, e este em que estamos, o Alvear, é o que há de bom. Tem todos os luxos e confortos da vida civilizada, e mais alguns, incluindo mordomo para desfazer as malas e fazê-las quando formos embora. Amo isso! Não há nada como ligar um número, dizer "Por favor, cuidem das roupas", sair para jantar e, na volta, encontrar tudo miraculosamente arrumado.

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Comemos muito e bem no Cabaña Las Lilas, em Porto Madero: carne maravilhosa, excelentes batatas souflées, legumes horrendos (acho todos os legumes horrendos) e petit-fours mais bonitos do que realmente gostosos.

Minha experiência com carne aqui na Argentina é sempre a melhor possível, mas acho que não há nada no mundo que se compare às nossas churrascarias. Para um brasileiro, um restaurante como o Cabaña é uma bobagem. Orgia é o que a gente tem em casa, no Porcão, na Mariu's e em tantas outras.

* * *

Enfim, crianças, é isso. Por hoje é só. Eu não quis deixar vocês sem notícias, mas estou caindo pelas tabelas. A Bia dorme há tempos em lençóis Frette, debaixo do melhor edredon que se pode ter; o meu lança olhares cada vez mais convidativos na minha direção.

Durmam bem.

PS: Esqueci de dizer: voltando ao hotel, fomos à banca de jornais. Grande surpresa: os jornais não circulam nos feriados! Fiquei besta. Pedi um Clarin de ontem para não morrer de crise de abstinência e o jornaleiro não aceitou pagamento pelo jornal. As notícias estavam velhas.

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