31.10.03





A ponte iluminada pela metade deu um charme todo especial ao apagão de Florianópolis!

Para ver este mesmo lugar de dia, igualmente engarrafado, clique aqui. E aproveite a estada no blog do Cesar para ler sobre o kit apagão.


FOTOS!

(O apagón de Florianópolis ilustrado; tem historinha, também...)

30.10.03



Últimos vôos

Gentilezas e elegâncias perdidas


Na sexta-feira passada o Concorde fez seu último céu. Lá se foi uma das poucas aeronaves comerciais verdadeiramente legendárias, incompatível com estes tempos de aeroportos hostis e talheres de plástico. É triste ver um sonho indo para os museus de aviação, para as gavetas da História. Para mim, o Concorde será sempre mais do que um lindo avião: por mais longe que a vida me leve, ele permanecerá sempre como uma das minhas melhores lembranças.

Eu estava em Paris, fazendo as malas para ir para Nova York no dia seguinte, quando o telefone tocou. Era um funcionário da Air France, perguntando se eu queria ir de Concorde.

— O senhor está usando o verbo errado. Querer eu quero, mas também quero um Mercedes e um pequeno veleiro na Martinica.

— É convite nosso, estamos oferecendo um upgrade . Grátis.

Um upgrade grátis... na Air France?! Esquisito, muito esquisito. Perguntei o que estava acontecendo.

— Um cliente nosso, que toda semana voa para Nova York com o Concorde, não pode viajar amanhã de manhã. Poderia ir à tarde, no horário em que a senhora vai, mas o vôo está lotado. Como a senhora é a única passageira que está viajando sozinha na primeira classe, propomos uma troca: a senhora vai às 11h, no Concorde, e ele vai no seu lugar, às 14h.

— Ah, tudo bem, faço esse favor à Air France. Digo mais: sempre que precisarem de alguém para resolver problemas dessa natureza, podem contar comigo.

Assim é que, no dia 25 de março de 1998, fiz minha primeira, única e inesquecível viagem de Concorde, junto com uma câmera Mavica F5. Que, por ser então uma alta novidade digital, chamou quase tanta atenção quanto o avião em si mesmo. E, entre outras coisas, me permitiu entrar na cabine de comando, já que o comandante, fotógrafo nas horas vagas, estava interessadíssimo na engenhoca .

* * *

O Concorde era pequeno, não muito espaçoso, de modo que os trâmites do embarque eram todos feitos em terra. Entrava-se para uma sala de espera, uma comissária conferia a passagem, pegava casacos e um ou outro pertence de mão mais incômodo. Lá havia jornais e revistas, canapés, bebidas e umas poltronas confortáveis, mas bem estreitinhas -— talvez para irmo-nos acostumando com os espaços do avião. Igual a qualquer outra sala VIP, exceto que, nela, todos já estavam teoricamente embarcados. No avião (que é como os leigos chamam as aeronaves), as poltronas eram como as de uma classe executiva, mas sem a tecnologia das poltronas mais modernas, que fazem até massagem nas costas do freguês.

Diferente mesmo era o “conjunto de obra”. A cabine, decorada por Andrée Putman, em tons de branco, contrastava com os uniformes coloridos das comissárias — disparado as comissárias mais chiques que já vi. A comida não só era extraordinária, como apresentada da forma mais requintada, numa louça simples e fina. Os talheres eram de prata, da Christofle. Só.

Lá na frente, na telinha em que os outros aviões mostram o mapa da viagem, o Concorde mostrava um marcador em números Mach. Mach 1 corresponde à velocidade do som, cerca de 1.224 Km/h. Não me lembro que velocidade o “meu” Concorde atingiu, mas tenho uma foto registrando 1.79 Mach. Tão rápido que, três horas e meia depois de decolarmos de Paris, aterrissávamos em Nova York. Prontos, graças à diferença de horário, para o segundo café da manhã no mesmo dia.

* * *

Se tenho tantos detalhes da viagem, isso se deve, em parte, a Mara Caballero -— para quem fiz, especialmente, várias das fotos de bordo. Gostávamos muito de chatear uma à outra com os momentos de sorte inesperada com que as viagens nos brindavam; adorávamos fazer de conta que este glamour emprestado era real, embora tivéssemos plena consciência de que, como jornalistas, estávamos apenas de passagem por mundos que não nos pertenciam de fato. Ou pertenciam, Mara?

Geralmente, ela ganhava o páreo, fácil. Afinal, o povo da moda sabe viver melhor do que o da tecnologia, e faz seus encontros em Londres, Roma e Tóquio, ao passo que os nerds vão, ano após ano, para Las Vegas, Atlanta e Orlando. O Concorde me deu uma pequena vantagem. Temporária: poucos meses depois, ela voltou de Paris triunfante, com mil e uma novidades a respeito do George V, onde ficara hospedada. Ah, se eu visse as fechaduras...! E aquelas gavetas dos armários, todas divididinhas?!

Entre as tantas qualidades que eu admirava nela, Mara tinha um olho infalível para o detalhe. Sabia temperar as observações mais graves com o humor peculiar que era sua marca registrada. E tinha uma elegância atrevida, sempre inteligente, e tanto mais chique por nunca se levar inteiramente a sério.

Vai demorar muito até que eu me convença que, desta vez, minha amiga querida, a minha referência maior nas delicadezas que tornam esta vida mais gentil, não volta mais.


(O Globo, Segundo Caderno, 30.10.2003)


Cheguei!

Pronto, cá estou, de volta à base. Saí de manhã, via Curitiba, e vim direto pro jornal. Estou louca para ver como ficaram as fotos do apagon (não, não são todas pretas não: tem umas com uns carrinhos, umas iluminadas estratégicas, etc.)

A melhor cobertura do blackout está, naturalmente, no Carta Aberta -- que eu, agora, estou acompanhando feito novela pra ver o que acontece com os meus amigos.

Mas olha, Cesar, na verdade o blackout me causou a melhgor das impressões de Floripa! Ele mostrou que a cidade está em perfeita sintonia com a modernidade, seguindo os passos de São Paulo, Nova York e Londres.

29.10.03



Fui

Mandaram desligar os computadores.

Os geradores não estão mais segurando a barra.

Vou nessa.


Update de Floripa

Ôba!!!

A luz vai voltar!!!

Amanhã.

Às 18 horas.


Às escuras, no claro escuro

Pequeno break no Futurecom.

Floripa só não está às escuras porque é dia claro, mas se a situação não se resolver logo, breve estará. Falta energia desde a hora do almoço. Se isso, por um lado, me consola de ter esquecido todos os conectores em casa, por outro atrapalha um bocado o trabalho.

Como o resto da humanidade não tem o consolo do esquecimento, rola um ligeiro estresse no ambiente.

Nesse momento, uso um dos dois únicos computadores que estão funcionando na sala de imprensa. Atrás de mim há uma fila de coleguinhas no aguardo e, na minha frente, uma janela de onde se descortina o maior engarrafamento de que essa cidade tem notícia, a crer no pessoal da terra.

Alguns geradores garantem o funcionamento de uns poucos estandes e das salas de conferência.

Graças a esses geradores, os telefones IP da Cisco estão funcionando bem. Mas como as antenas de algumas operadoras de telefonia ficam na área do blackout, muitos celulares morreram. Outros, que estão funcionando, não mandam fotinhas.

Rola também um ligeiro caos no ambiente.

Mas agora, que começa a chegar a hora do jantar, o que rola mesmo é um ligeiro pânico: onde vamos encontrar um restaurante para onde se possa ir a pé (os carros não estão circulando mesmo, acreditem!) que tenha, já nem digo comida, mas uma cervejinha gelada?!

PS: Ontem consegui mandar duas fotinhas da abertura do Futurecom para o Fotolog.

Update: Ainda agora os geradores pifaram e o Centro de Convenções ficou inteiramente às escuras -- como, lá fora, Floripa inteira está. Deu pra ter uma idéia do caos.

Ao meu lado, um colega acaba de lembrar um pequeno detalhe: as fechaduras das portas do hotel são todas eletrônicas. Ainda que a gente consiga chegar ao hotel, como vamos entrar nos quartos? E ainda que a gente consiga entrar, como vamos tomar banho?!



Sinais de vida

Desculpem o sumiço!

Estou teclando de Florianópolis, para onde vim na segunda-feira, para participar do V Futurecom, gigantesco evento de telecomunicações.

Foi uma viagem meio turbulenta. Ainda muito gripada, perdi a hora de acordar, e tive cerca de 45 minutos para fazer as malas, tomar banho e me vestir. De modo que, dessa vez, em vez de esquecer a roupa chique (que trouxe, mas de que não vou precisar) acabei esquecendo os conectores.

Enumero:

  • Cabo para conectar o notebook à corrente, o que, dada a idade do meu bom e velho Thinkpad, significa no máximo 40 minutos de autonomia, que estou usando agora;

  • Cabo para recarregar a bateria da Sony P10;

  • Cabo para recarregar a bateria da Kodak DC... oops, esqueci o nome dela e agora não tenho coragem de ir lá checar por causa dos 40 20 minutos acima mencionados;

  • Cabo para conectar a Sony P10 ao notebook; e

  • Cabo para conectar a DC-what's-her-name ao notebook.

    Vocês podem imaginar em que situação precária isso me deixa?

    Mamãe!!!!!!

    Até aqui, sobrevivi -- mas só Deus sabe como. Mandei a coluna de quinta-feira lá da sala de imprensa, onde também chequei o email (responder às msgs, nem pensar); estou economizando nas fotos, como nos tempos dos rolos de filme de 12 imagens (o que é um pecado, considerando-se que estou com DUAS máquinas maravilhosas); e estou indo dormir direto, sem email, blogs ou fotologs (o que é possível, ainda que estranho e muito, muito bizarro).

    Bom. Esta é a parte ruim da história.

    A parte boa -- aliás, ótima! -- é que fui jantar com o Cesar e a Lúcia, que são exatamente como a gente os imagina do Carta Aberta: charmosos, simpáticos, engraçados, super boa gente.

    A gente já se conhecia de longa data, obviamente: desde que o Cesar começou a fazer aquele blog delicioso. A única coisa que faltava era um encontro ao vivo.

    Fomos para um pequeno restaurante em Sambaqui, a cerca de meia hora do Hotel (Ibis: sou pobre mas sou limpinho). Comemos uma redundância de camarões (à milanesa como aperitivo; depois risoto) e um peixinho que nem vos conto, jogamos muita conversa fora e só fomos embora porque os restaurantes daqui têm o estranho hábito de fechar depois do jantar.

    Na volta, paramos para fotografar uma antiga igreja lindamente iluminada, onde os dois se casaram (há algum tempo, mas não tanto quanto eles dizem: olhando para eles, a gente vê que é impossível que, em 1977, já andassem, falassem e dissessem "sim") e onde, apesar da chuva fininha, fizemos umas fotos que parecem bem bonitas vistas assim na máquina -- e que vou mostrar a vocês assim que me reunir novamente com os conectores das máquinas.

    Valeu, meus queridos irmãos manezinhos!

    Muito obrigada por uma noite inesquecível.
  • 26.10.03



    Pronto, Paulinho! II -- o resto das fotos

    No outro dia, quando subi as fotos das crianças para o Fotki, a metade ficou por aqui mesmo. Agora, finalmente, está tudo lá -- mas a quem já viu, recomendo começar pelo fim, para não ter que começar tudo do... começo, ué!


    Fala sério...

    Com tanto travesti no Brasil, o Fantástico tinha que ir buscar um... chinês?! Eu hein.

    25.10.03





    Mara

    Morreu hoje, aos 53 anos, de um ataque cardíaco causado por uma crise de asma, a minha querida amiga Mara Caballero, editora do suplemento de sábados do Globo, o Ela.

    Era uma pessoa interessantíssima, dona de um sense of humor todo particular, cheia de charme e de boas histórias. Nós nos conhecíamos desde os tempos de Caderno B, quando tantos de vocês não eram nem nascidos. Ainda não consegui processar direito essa notícia.








    Grande Pássaro Prateado

    Ontem o Concorde fez seu último vôo: de agora em diante, só vamos poder ver esses lindos aviões nos museus de aviação.

    Eu tive a felicidade de voar num deles, e a sorte de fazer fotos de alguns detalhes do vôo.

    Em julho passado, quando o fim da Era do Concorde foi anunciado, postei no Fotolog uma série com algumas fotos desse vôo. Para vê-la (ou revê-la) clique AQUI, e depois clique em NEXT até o fim.

    Boa viagem -- e adeus, Concorde!



    Emergência felina!

    "Encontrei essa gatinha perdida e passando fome em Buzios. Quando foi encontrada estava à beira da morte. Deve ter
    entre um e dois meses e o seu estado de saúde já melhorou muito. Pelo contato que eu tive com ela, deu para perceber que será uma ótima gata de apartamento (ou casa). Eu gostaria muito de poder ficar com ela, mas as minhas outras duas gatas ficaram enlouquecidas com a idéia de mais uma concorrente em casa. Não sou muito bom de marketing, mas estou mandando esse e-mail para ver se alguém se comove e decide adotar essa gata (ela também precisa ser batizada, pois até hoje está sem nome). Ela está na idade perfeita para arrumar uma nova casa e já está recebendo os
    devidos cuidados. Quem se interessar pode escrever pra temporária-atual-dona, Leila Maia." (Paulo Gouvêa)


    Muitas felicidades, queridinhos!





    Das fotos das férias do meu amigo Ricardo Rangel, em St Rémy de Provence: achei muito gozado!

    24.10.03




    Lar desfeito

    Gente, os bichinhos dessas fotos são vítimas da crise econômica. Eleonora, a bípede deles, está muito endividada, não pode continuar mantendo o apê onde mora e vai ter que se mudar para a casa de parentes. Não poderá levá-los consigo, e procura desesperadamente por gente carinhosa, que tenha coração e espaço para um ou mais gatinhos. Todos são castrados, dóceis e têm entre dois e dez anos. Alguém pode ajudar? Os telefones para contato são 25124985 ou 93062523. Valeu!




    Momento Celebridade: A Bia (minha filha) fez uma matéria com a Luana Piovani brincando de fotografar a super-fotógrafa Nana Moraes. Acabou fazendo também uma ótima série de fotos que eu, corujamente, adorei. Estão no fotolog dela, vejam se não ficou legal... :-)

    23.10.03



    Viva Matusca!

    Amanhã, dia 24, é aniversário do favorito de onze entre dez blogueiros, o Matusalém Matusca. Pois a Helô não perdeu tempo, e já fez uma linda homenagem à NMQ (Nossa Múmia Querida).

    Viva!!!



    Pronto, Paulinho! Enjoy...

    Paulinho me pediu que subisse as fotos deles e das crianças para que possam fazer cópias. Mandei o lote todo para o Fotki, que é um ótimo serviço, excelente para armazenagem online de fotos. Para quem quiser dar uma olhada no conjunto da obra -- tias, primas, amigos, alô! -- está tudo aqui.



    O poder desconectado

    Foi o Waldir Leite quem me chamou a atenção para uma declaração do Gabeira que eu não tinha visto: nem Lula nem José Alencar chegaram à era da internet. Em relação ao Lula, não posso dizer que tenha ficado muito surpresa, embora só agora tenha parado para de fato pensar no enorme significado disso; mas o José Alencar também?!

    Tudo bem, conheço muita gente boa e de valor que não acessa a rede -- mas nenhuma dessas pessoas está no poder ou em postos de mando. Para alguém que tem que tomar decisões importantes, não ter acesso à internet é tão ou mais grave do que não ler jornal. Não só pelo que se pode obter de informações, mas pela experiência cultural como um todo -- e pela compreensão da sua importância.

    Vocês sabem disso, é claro: afinal, estamos todos aqui.

    Quando falo em experiência cultural, estou me referindo à cultura na acepção mais ampla da palavra, aquela que singnifica a vivência plena de um tempo, de uma sociedade, de um mundo inteiro. Governar, ou tentar governar, sem ter essa percepção é sair para a luta, de cara, com um handicap desgraçado.

    É estar a léguas de distância da modernidade, como um mergulhador antigo no seu escafandro, isolado do ambiente que observava.

    Não adianta a gente achar que os assessores em volta estão conectados, que o presidente e seu vice não precisam saber ou fazer nada que tudo lhes chega mastigadinho. Há um conhecimento só se tem em primeira mão.

    Complicado, isso.

    22.10.03



    Yes, nós temos capybaras!











    Algumas fotos de Detroit. Só estão entrando agora, porque postei o texto do jornal, e as fotos estavam aqui em casa.

    Impressões de viagem


    Esplendor e decadência de um sonho americano


    Um dia, o francês Antoine de la Mothe Cadillac deu com um recanto às margens de um rio que lhe pareceu ideal para a criação de um entreposto de comercialização de peles. Ficava entre os Estados Unidos e o Canadá, e era servido de amplas possibilidades de transporte fluvial. Corria (devagar) o ano de 1701, a ecologia ainda não tinha sido inventada, todo mundo achava perfeitamente natural o uso de peles. De modo que o vilarejo, chamado por Cadillac de Ville D’Etroit (a cidade do estreito), foi crescendo. Quando, em 1763, o cacique Pontiac declarou guerra aos caras-pálidas, o lugar já se chamava, pura e simplesmente, Detroit. Logo alguém percebeu que juntar Cadillac e Pontiac era um destino.

    Com a criação da Ford Motor Company em princípios do século XX, Detroit ganhou projeção internacional como capital mundial do automóvel. Foi a primeira cidade a ter uma estrada asfaltada, um sinal de trânsito e um shopping center. Em menos de 40 anos, com mais de dois milhões de habitantes, desemprego inexistente e mansões e edifícios luxuosos brotando por toda parte, tornou-se uma das cidades mais ricas dos Estados Unidos, e uma das mais famosas no mundo. Entre outras coisas, por ser berço da Motown, a surpreendente gravadora que revelou talentos como Martha e as Vandellas, Marvin Gaye, Stevie Wonder, The Four Tops, Diana Ross e as Supremes, o Jackson Five.

    Mas Detroit tornou-se, também, uma das cidades mais explosivas do país, com conflitos raciais cada vez mais freqüentes e violentos. Em 1967, a maior dessas conflagrações deixou 43 mortos e um rastro de destruição do qual Detroit nunca mais se recuperou. Empresas, negócios e a classe média branca fugiram espavoridos para os subúrbios. Logo em seguida, os carros japoneses conquistaram o mercado e a indústria automobilística nacional entrou em recessão.

    Hoje Detroit é praticamente uma cidade fantasma, inóspita, assustadora. Muitos edifícios da época de ouro estão abandonados. Outros foram ocupados por mendigos. A sujeira é universal. Montes de lixo por toda parte. Rua após rua, o que se vê são lojas fechadas, ruínas, escassos sinais de vida. Na antiga estação ferroviária, que deve ter sido uma beleza, não sobrou uma vidraça inteira para
    contar a história.

    Para nós, brasileiros, que convivemos diariamente com esta miséria de Terceiro Mundo, é desconcertante essa outra miséria, nascida do fausto, vicejando, sórdida e brutal, em restos de edifícios de antigo luxo.

    Há um grande esforço para reerguer Detroit por parte das autoridades e de setores da comunidade. A sinfônica é famosa no mundo inteiro, um dos grandiosos cinemas do passado foi restaurado, os Tigers têm um estádio de beisebol estalando de novo. A cidade oferece incentivos de toda espécie para empresas que queiram se estabelecer lá — algumas têm aceitado o desafio.

    Por isso, aqui e ali, no meio das ruínas e dos prédios vazios ou subaproveitados, ergue-se uma construção moderna, limpa, destoando incrivelmente do resto. A seu lado, eventualmente, uma lanchonete, ou um comércio miúdo num quarteirão policiado. As pessoas que trabalham nessas empresas — meu filho é uma delas — mal e mal saem dos escritórios, e fazem de tudo para ir para casa antes que anoiteça.

    A despeito do que dizem os guias de turismo e o website oficial da cidade, o
    pessimismo e a falta de perspectiva angustiam a tudo e a todos. Detroit luta não apenas contra o seu passado, mas também contra o clima ingrato — invernos pavorosos, verões senegaleses. E luta, sobretudo, contra cidades menos marcadas pela História, como Portland (Oregon) ou Milwaukee (Wisconsin) que, com notáveis resultados, estão fazendo de tudo para atrair jovens empreendedores.

    Se algum dia os Estados Unidos conseguirem reconstruir Bagdá, deviam topar Detroit como desafio seguinte.

    * * *

    Mudando de assunto e de hemisfério: vi a capivara de novo! E fotografei! E — tambores rufando, s’il vous plaitnão é a mesma capivara!!!

    Sou péssima fisionomista, mas boa fucinhonista. Quer dizer: não tenho memória alguma para pessoas, mas de bichos me lembro sempre bem. E garanto que a
    capivara do outro dia era diferente: maior e (ainda que a diferença possa ser atribuída à luz, ao horário e ao fato dela estar molhada) mais escura.

    A trama se adensa.

    Recebi mais mensagens sobre a capivara, todas excelentes. Vou voltar ao assunto, com certeza. No entrementes (!) procuro alguém que me explique o mistério da capivara da Lagoa.

    Perdão: capivárias.


    (O Globo, Segundo Caderno, 23.10.2003 -- sim, você lê no blog de hoje o que vai ler no jornal de amanhã!)



    Cold turkey

    Céus! o Fotolog está fora do ar!!!

    Quando voltar, se vocês quiserem ver umas fotinhas que fiz ontem na Ponte Aérea...

    20.10.03



    Informação inútil

    Hoje nevou na Suécia. Eu soube pelo Fotolog, claro, assim como eles estão sabendo que apareceram as capivaras na Lagoa...


    Fotolog da semana: Oliby

    A cantora Olívia Byington não brilha apenas nos palcos, nas maratonas e nas participações especiais em novelas: ela é uma das estrelas do Fotolog, uma das raras divas do “mundo real” com quem os fãs podem se encontrar no ciberespaço. Simpática e sempre cheia de boas idéias, Oliby (como é conhecida on-line) registra o seu dia-a-dia com um olho atento e senso de humor. Seus filhos, amigos, ensaios, corridas e festas estão em <www.fotolog.net/oliby>. Para acompanhar este fotolog com uma trilha sonora à altura, vá até o site da Biscoito Fino — uma gravadora realmente fora de série — e encomende “Canção do amor demais”, o CD mais recente da bela fotologueira.

    Câmera (quase) popular

    Novo lance na disputa pelo coração (e pelos reais) do consumidor: está para chegar ao mercado, a R$ 699, a câmerazinha da foto ao lado. Ela é a Easy Share CX6200, uma Kodak digital de 2 megapixels, perfeita para quem quer uma máquina simples e não precisa de grandes ampliações (a 2 megapixels, pode-se chegar, eventualmente, a 20 cm x 25 cm, mas nunca ir além disso). Trabalha com memória interna de 8Mb, mas aceita cartões MMC (Multimedia Card) ou SD (Secure Digital); faz filminhos, “fala” português e permite a armazenagem de até 32 endereços de email, para facilitar o envio dos clics a quem de direito. É uma candidata muito séria ao título de melhor relação custo x benefício no entry level da fotografia digital.

    Comdex em liquidação

    A Comdex, que já foi a alegria e a parada anual obrigatória de todos nós da área de tecnologia, vai mal das pernas. Muito mal! A prova maior disso é que, a menos de um mês da feira, conseguem-se quartos no Hilton a U$ 49,90, segundo informa a Cnet.

    Detalhe: o Hilton fica colado ao Centro de Convenções e, apesar de não oferecer as atrações modernas e mirabolantes dos hotéis mais novos, ainda é a melhor alternativa para quem quer fugir das inevitáveis filas de ônibus e taxi.

    No fim do século passado, era impossível conseguir quarto no Hilton em tempos de Comdex a menos que se fizesse reserva com seis meses de antecedência — e a pelo menos U$ 250 por noite. Eu cheguei a desembolsar isso por um quarto furreca, no auge da bolha, e me dei por muito satisfeita. Havia gente pagando mais, e ficando mais longe. Que tempos!

    (O Globo, Info etc., 20.10.2003)



    Xerox: a vingança dos nerds

    Imaginem bolinhas minúsculas como grãos de poeira, brancas de um lado e pretas do outro. Presas entre duas folhas de plástico fininhas, elas flutuam numa suspensão oleosa, e reagem a impulsos elétricos, enviados por um computador, que as fazem girar, expondo ora o lado branco, ora o lado preto. Com isso, formam desenhos na superfície do plástico: tipicamente, letras.

    Aí está uma das fórmulas do papel eletrônico, espécie que desafia a criatividade de cientistas nos principais laboratórios de pesquisa tecnológica do mundo, estimula a imaginação de jornalistas e, provavelmente, causa pesadelos aos fabricantes de papel. No famoso Palo Alto Research Center (PARC) — de onde saiu, a rigor, a computação pessoal como a conhecemos hoje — ele atende pelo nome de SmartPaper.

    A invenção por trás de seu funcionamento, chamada Gyricon, é um dos grandes trunfos da Xerox como geradora de inovações. Como tal, era uma das atrações de um evento que reuniu num hotel em São Francisco, na semana passada, jornalistas do mundo inteiro e cientistas dos principais laboratórios da empresa — disposta a demonstrar que, apesar das acusações de irregularidades financeiras de três anos atrás, das turbulências administrativas de diversos tipos e dos tempos bicudos na bolsa de valores, continua tinindo quando o assunto é inovação tecnológica.

    Para quem gosta de tecnologia e de cientistas inventivos, mas desconfia de contadores e administradores em geral, a inquestionável demonstração de força do “R&D” (research and development, ou pesquisa e desenvolvimento) da Xerox tem um sabor todo especial. É bom ver que não há mágica financeira capaz de superar, em credibilidade e resultados, um sólido time de cérebros.

    Do papel eletrônico às imagens mutantes

    O SmartPaper já é uma realidade, mas ainda não para quem espera ler o jornal diário enroladinho num canudo eletrônico. Sua aplicação imediata é em quadros de avisos para corporações, lojas e escolas. Parece uma tela de cristal líquido, mas não é brilhante, pode ser lido de qualquer ângulo e... não é atraente!

    — Bom, ninguém vai querer roubar uma tela dessas, vai? — explica Bob Street, um dos responsáveis pelo seu desenvolvimento. Ele tem razão: por inteligente que seja, o SmartPaper não é um objeto de cobiça. — Além disso, esse sistema é mais econômico: ao contrário de uma tela convencional, usa energia apenas quando é redesenhado.

    A Xerox ou, melhor dizendo, a Gyricon, empresa criada para comercializar a tecnologia, já negocia a sua venda com cadeias de lojas. Quais? Ah, isso ainda é segredo.

    Mas o SmartPaper foi apenas uma das estrelas do show, que tinha novidades tão novas que, a rigor, ninguém sabe ainda muito bem para que servem. Por exemplo, algo chamado illuminant multiplexed imaging ou, mais simplesmente, switch-a-view , que permite a impressão de imagens diferentes, uma em cima da outra, visíveis, cada qual, de acordo com a cor da luz ambiente.

    Sucesso garantido em camisetas mutantes para festinhas, imagino; ou, como propõe Robert Loce, principal cientista do Wilson Center for Research and Technology (laboratório da Xerox em Webster, Nova York) livros infantis, embalagens, promoções. É uma linda e divertida invenção, e nem por isso menos interessante: afinal, quem diz que todo cientista tem que salvar (ou detonar) o mundo?

    O caso desta invenção, aliás, é particularmente curioso. A principal preocupação de quem trabalha com cores é descobrir formas de fazer com que tenham a mesma aparência, independentemente da luz sob a qual são vistas. Pois o switch-a-view nasceu desta preocupação virada pelo avesso: quão diferentes as cores podem ficar sob diferentes luzes?

    Um laboratório onde se fez história — e folclore

    O PARC, verdadeiro coração do Vale do Silício, ficou famoso na história da tecnologia não só pelas invenções que saíram de lá como pelas que não saíram: a interface gráfica, o mouse, a Ethernet... a lista é enorme, e o folclore também. A Xerox estava tão entretida no negócio das copiadoras que deixou escapar essas tecnologias preciosas, que fizeram a fortuna de outras empresas.

    Mais tarde, escaldada, passou a patentear tudo e, eventualmente, a criar pequenas empresas separadas para comercialização das tecnologias que não estavam diretamente vinculadas às suas atividades principais.

    De qualquer forma, o fato é que essa história, contada e recontada milhões de vezes, deu ao PARC — e, por tabela, à Xerox — uma imagem que vale mais do que se pode imaginar. O laboratório continua sendo uma instituição quase sagrada, um centro de excelência, um ninho de cientistas extraordinários que chegaram ao Olimpo da sua profissão.

    Por causa de uma série de problemas que, há três anos, quase levam a Xerox à falência, ele deixou de ser propriedade exclusiva da empresa. Hoje chama-se Palo Alto Research Center Incorporated, e desenvolve pesquisa também para outros clientes. Tem 250 empregados, dos quais 180 pesquisadores, divididos em seis laboratórios que tocam, simultaneamente, uns 50 projetos.

    Um JPEG com todo o jeito do gato de Alice

    Desses projetos, um dos mais compreensíveis à primeira vista é o que envolve uma nova forma de JPEG, o clássico padrão de formato de compressão de imagens que todos conhecemos tão bem.

    O JPEG 2000, que corrige falhas do JPEG e trabalha com um nível de compressão consideravelmente maior, é desenvolvido pelo Joint Photographic Experts Group (daí seu nome), e é a base para o projeto da Xerox, que o associa à sua tecnologia MRC ( Mixed Raster Content ). Essa mistura permite que diversos elementos de uma mesma imagem web sejam tratados de forma diferente, o que agiliza enormemente a vida do ser conectado. Dependendo de onde clique, o usuário poderá ver áreas mais ou menos definidas, de acordo com seu interesse.

    Por exemplo: ele quer encontrar, num mapa do Brasil, informações sobre o Rio. Hoje, sua única opção é ver o mapa num thumbnail e, depois, esperar que carregue todo — para, então, ir ao ponto que procura. Com a nova tecnologia, em vez de lutar com a visualização de miniaturas e o tempo de download, bastará a ele clicar, numa imagem em tamanho grande, sobre a área onde se encontra o Rio. Somente ela será carregada em alta resolução.

    Robert Buckley, especialista em arquivos digitais de imagens, resume a questão de forma simplíssima:

    — É como o gato da Alice, ficando em foco na árvore.

    (O Globo, Informática etc., 20.10.2003)


    Mais capivara!!!

    19.10.03



    Adeus, email

    Não abro a minha mailbox aqui de casa desde que voltei de viagem. Venho pro computador, olho os ícones do MailWasher e do Eudora, fico com uma dor horrível na consciência mas vou adiando o momento de ver o que está lá.

    No jornal, nesses últimos dias (mas se eu escrevesse anos em vez de dias não estaria exagerando) já gastei mais tempo limpando porcaria do que trabalhando. Uma das grandes alegrias que eu tinha, que era checar o email, acabou.

    Não há mensagem bonitinha, foto de gato ou carta de amor que compense a frustração e a irritação causadas pelas toneladas de spam, pelo tempo perdido, pelo nojo que sinto por essas pessoas que se acham tão inteligentes inventando nomes falsos e títulos "espertos" para tentar nos empurrar suas vigarices.

    Há alguns anos, quando comecei a escrever contra o spam, recebi muitas e muitas mensagens agressivas de leitores que achavam que eu estava sendo uma fresca, e que não custava nada dar um delete em duas ou três mensagenzinhas inócuas. Aqui mesmo no blog houve um flame brabo por conta disso, do qual participaram até uns spammers tentando defender o seu trabalho sujo.

    Pronto, taí o resultado.

    Acontece antes comigo por causa do mundo de lixo que é mandado para endereços publicados em jornais, mas fatalmente acontecerá, mais cedo ou mais tarde, com todo mundo. O spam está matando o email.


    A Fal viu a novela:

    "Vejo a Débora Evelyn de destaque absoluto na novela das oito, com milhares de falas, geralmente em close, lentes de contato claríssimas, papel relevante na trama e não entendo cumé que tem gente que fala mal de casamento. Pelo amor de Deus, gente, casamento é uma instituição maravilhosa. Principalmente quando se é casada com o diretor da novela." (Drops da Fal)




    Às vezes a gente faz umas fotos de que gosta particularmente. Não tem nada a ver com tema, com acerto técnico, nada: a gente gosta porque gosta.

    Hoje (na verdade, ontem, sábado; mas como ainda não fui dormir, considero hoje) aconteceu isso. Eu ia saindo correndo pro restaurante para encontrar com a turma quando vi a persiana entreaberta e o reflexo. Era uma foto uivando para ser tirada.

    Fiquei muito feliz com o resultado. Uma daquelas poucas vezes em que a foto fica exatamente como a gente imaginou que ia ficar... :-)

    Bom domingo para todos!

    17.10.03





    Bomba! Bomba!

    Vi a capivara de novo!

    E fotografei!

    E -- tambores rufando, s'il vous plait -- não é a mesma capivara!!!

    Tenho péssima memória visual para pessoas, mas bem boa para bichos. E garanto que a capivara do outro dia era diferente: maior e, ainda que a diferença possa ser atribuída à luz, ao horário e ao fato dela estar molhada, mais escura.

    A trama se adensa.

    Tenho que encontrar urgentemente alguém que me explique o mistério da(s) capivara(s) da Lagoa.


    Ufa...

    Desculpem a falta de notícias, mas ainda estou às voltas com as matérias da viagem e com as mailboxes que ficaram abandonadas, tanto em casa quanto no jornal.

    Agora acabo de dar uma atualizada básica nos meus fotologs de pequeno porte (Palm Zire e Nokia 7650) e no da Família Gato. E, claro, no fotolog pra valer.

    Fotinha é mais fácil, né? É só subir. Dêem uma olhada...

    16.10.03



    Tem mais foto dos meninos aqui...







    Notícias de um país em guerra


    (Sobrevoando os Estados Unidos)


    Quando o telefone tocou no meu ouvido, às seis da manhã em ponto, e uma voz artificialmente eufórica exclamou, na outra ponta, “Good morning, Ms. Rónai, this is your wake-up call!” achei que era trote. Só podia ser. Eu tinha acabado de adormecer. Estava escuro do lado de fora. E chovia. E fazia um frio do cão.

    Mas não era trote. Eu tinha exatamente 45 minutos para me vestir, terminar de empacotar as coisas, tomar café, fazer check-out e sair para o aeroporto. Consegui dar conta de quase tudo, menos de tomar café, porque o restaurante do Marriott Hotel, em Portland, Oregon, só abre às sete — coisa que eu, mais do que ninguém, compreenderia, não fosse pelo detalhe de que não há praticamente vôo que saia daquela cidade depois das oito.

    Este horário, aliás, é um problema típico da Costa Oeste americana: por causa da diferença de fuso horário para o resto do país, os vôos saem sempre cedíssimo. E os hóspedes do Marriott saem sempre sem café da manhã.

    * * *

    Agora, sobrevoando milhas e milhas e milhas de terras cultivadas como colchas de retalhos em Dakota do Sul, casinhas salpicadas aqui e ali pela paisagem, tento imaginar como é e como pensa a gente que vive nessa solidão geométrica e monótona. Apesar do ar cristalino e do dia ensolarado, sinto um arrepio. Essa é a gente que apóia Bush incondicionalmente, que está convencida de que vive num país democrático e que, mais dia menos dia, ainda vai votar em Schwarzenegger para presidente: em seus 114 anos de História, a Dakota do Sul só deixou de votar no Partido Republicano quatro vezes — e ninguém lembra quando.

    De acordo com as últimas pesquisas de opinião, no entanto, parte da população começa a achar que, talvez, quem sabe, a guerra contra o Iraque não tenha sido uma idéia tão boa quanto parecia. Mas não porque há milhares de mortos e um país destruído do outro lado do mundo, mas sim porque aqueles ingratos, que não sabem apreciar o favor que lhes foi feito, continuam matando americanos, onde já se viu?!

    * * *


    Estou nos Estados Unidos há quase uma semana. Na vinda me encontrei, no avião, com um amigo que vive no circuito das conferências internacionais. Perguntei se anda viajando muito. Sim, disse ele, muito. Para a Europa, basicamente, e para os países da América Latina. Para cá, porém, essa é a primeira vez no ano, e provavelmente a última.

    Não é um problema de mercado, já que, com Lula na Presidência, há interesse pelo Brasil. O problema é ele, que não tem mais qualquer vontade de vir para esses lados.

    Entendo perfeitamente. Eu também não venho desde o começo do ano. Deixou de ser bom. Não há mais prazer nessa viagem, que hoje fazemos apenas por trabalho, por um resto de curiosidade malsã ou, eventualmente, por laços afetivos: temos, ambos, filhos morando aqui. É impossível deixar de ver como uma piada de mau gosto o cartaz que, na imigração, diz: “Bem-vindo aos EUA”.

    Mentira. Ninguém é mais bem-vindo a este país. Somos todos inimigos em potencial, do momento em que embarcamos e nos sujeitam a toda a sorte de constrangimentos, ao momento em que voltamos, sobretudo se viajamos com uma companhia americana. Os comissários de bordo, que antes nos destratavam por simples vocação ou esporte, agora nos destratam por obrigação. Contratual e, vai ver, “patriótica”.

    * * *


    Desde que os republicanos tomaram o poder e transformaram o país num estado totalitário, as relações humanas andam complicadas. As pessoas se fecharam em grupos, sobretudo as que ousam discordar da política vigente. Sim, é verdade, há passeatas acontecendo aqui e ali nas grandes cidades; mas no interior, no dia-a-dia, nos encontros entre amigos ou no papo ocasional com o desconhecido no trem ou com a senhora na fila, pesa a sombra das palavras medidas, a sensação de pisar em ovos semânticos e ideológicos.

    * * *


    Para os democratas que, até hoje, sofrem com o resultado das eleições e com o calamitoso governo Bush, uma das poucas alegrias dos últimos tempos foi a queda de Rush Limbaugh. Para dar uma idéia do personagem: seu último contrato, assinado com a PRN por nove anos, é de US$ 285 milhões, e o “Rush Limbaugh Show”, transmitido por cerca de 600 emissoras, alcança mais de 20 milhões de ouvintes em todo o país.

    Espécie de crossover de Ratinho e Gugu Liberato em termos de charme, cultura e credibilidade, mas dedicado à política e extremamente influente (quando visitou a Casa Branca, Bush pai carregou suas malas até o quarto), Limbaugh tornou-se o radialista mais bem pago e de maior audiência da História como porta-voz da direita linha-dura. Aquela que, entre outras coisas, acha — e diz — que viciado bom é viciado morto.

    Pois na sexta passada, depois das denúncias de uma ex-empregada que fazia hora extra como aviãozinho, ele admitiu, publicamente, que fazia uso ilegal de opiáceos, disfarçados em remédios contra a dor. Os jornais e revistas mais liberais estão deitando e rolando.

    Afinal, as boas notícias andam escassas.

    (O Globo, Segundo Caderno, 16.10.2003)



    Bípede cansado demais para escrever...

    ...posta, no entanto, três fotinhas das crianças no Fotolog.

    Não deixem de ver. Modéstia à parte, estão lindas. Crianças e, acho, fotos também.

    15.10.03



    SOS Bicho em Sampa!

    "A Inês, protetora daqui de SP, faleceu ontem. Ela deixou 52 gatos e 15 cachorros órfãos. Ela sempre cuidou com muito carinhos desses bichinhos. A família já disse que não quer os animais, mas deu tempo para serem doados. As protetoras se uniram e já adotaram 22 gatinhos. Os órfãos estão no site www.geocities.com/sos_sampa"
    Eu vi as fotos; é uma família linda, gente!

    14.10.03



    De volta...

    Depois eu conto tudo. Ou, pelo menos, algumas coisas. Agora tenho que correr para o jornal para terminar a coluna.

    Enquanto isso, aí vai minha foto com Alícia, a mais novinha da turma. Se vocês clicarem na foto, vão ver uma outra, espetacular, da Emília. E, imediatamente antes, uma super linda do Joseph.

    Vó é sempre assim... ;-)

    11.10.03





    Tem umas fotinhas ...


    Alicia & Companhia

    Amanhã vou para Michigan conhecer a Alicia, a ruivinha esquentada da família, e conferir como andam os meus queridinhos desse lado do mundo.

    É bom ou o quê?! :-)


    Impressionante

    A agenda oficial chega ao fim. Foram quatro dias de pouco sono e muita correria, mas também de muitas novidades: a Xerox apresentou em São Francisco o que tem de mais interessante no forno, e que não é pouco. Depois, como eu contei, nosso grupo de jornalistas foi ao PARC e, de lá, viemos para Portland, no Oregon, onde fica a sede da Tektronics, hoje uma empresa Xerox.

    Adorei conhecer o ninho das impressoras Phaser, máquinas que usam pigmentos sólidos e que, há muitos anos, povoam o imaginário de todo mundo que curte tecnologia. Digo "povoam o imaginário" porque não são nem pequenas nem baratas; não são dirigidas a usuários finais, mas são tudo o que certos usuários queriam ter. Como a que vos tecla dessas lonjuras.

    Lembro perfeitamente de quando vi uma delas pela primeira vez, numa Comdex. A Tektronics estava timidamente pondo a cabeça de fora. Não tinha um estande, mas alugou um espaço entre dois pavilhões, ao lado de uma escadaria. Havia filas contínuas ali para ver de perto a maravilha que imprimia em cores numa época em que todo mundo usava matricial monocromática e, sobretudo, para pegar algumas daquelas páginas impressionantes.

    Entrei nas filas diversas vezes, para ter amostras de impressão para dar no jornal. Fiquei lembrando disso na hora do jantar, trocando nostalgias com um dos engenheiros que estava lá naquele ano remoto, fazendo demonstração; por tabela, falamos dos velhos tempos em que a Comdex era o epicentro da indústria, e em que tudo era tão saudavelmente anárquico no nosso mundinho nerd.

    Quase choramos de saudade e tristeza.

    Cada página levava três minutos para ficar pronta, e a tecnologia, então recém-nascida, precisava de uns ajustes: como a base do pigmento usado pela Phaser é cera, as imagens saiam brilhantes demais. Era esquisito, mais ou menos como uma mulher que passasse base demais, mas era inacreditável.

    Hoje as páginas continuam brilhantes, mas na medida certa. E saem voando das máquinas. Que continuam grandes e caras -- e destinadas a outros bicos.

    O sonho não morreu...




    Essa foto é pro Tom Taborda, que sabe quem é a moça... ;-)

    Batemos um ótimo papo em São Francisco; à noite, ela jantou com o nosso grupo de jornalistas. Por acaso, esta é uma das primeiras fotos da P10; mas a maquininha de que a Sophie Vandebroek mais gostou foi mesmo o Palm Zire.

    Tem ótimas idéias a Chief Engineer da Xerox, e uma noção a meu ver muito correta do papel da tecnologia nas nossas vidas: nada daquelas visões apocalípticas e desencontradas da realidade que estou tão acostumada a encontrar por aí, e, no entanto, muito pouco convencional.

    Gostei mesmo.

    10.10.03



    Telhado de vidro

    Eu aqui gozando os meus amigos californianos porque elegeram o Schwarzenegger e eles, coitados, aceitando a gozação, muito humilhados.

    É que nunca ouviram falar na Rosinha.








    Três fotinhas, só para não ficar sem dar notícias: hoje saímos de São Francisco cedíssimo, fomos para Palo Alto, passamos a manhã toda no célebre PARC vendo o que andam aprontando por lá e seguimos direto para San José, onde pegamos um avião para Portland, no Oregon.

    Chegamos, largamos as coisas no hotel e saímos para o jantar programado na agenda. O grupo -- que tem jornalistas de Israel, Índia, Turquia, Argentina, Chile e Brasil -- está batendo pino. Alguns, como os turcos e o israelense, estão com 10 horas de diferença de fuso horário, e agora é que a barra está começando a pesar de verdade.

    Mas nem vai dar para acostumar.

    Amanhã temos que sair do hotel às 7h30 (agora são quase duas, socorro!!!) para ir para o laboratório da Xerox em Wilsonville. Pela agenda, voltamos para cá só à noite.

    Está legal, estamos vendo coisas muito interessantes e o grupo é bom, simpático e bem-humorado.

    Se eu sobreviver, escrevo.

    9.10.03



    Do Fotolog

    Acabei de escrever isso lá; trago pra cá porque estou pregada demais... Hoje o jetlag me pegou de jeito!

    Bom -- com todas as pistas fornecidas ao longo do dia de ontem pelo Roscoe, a maioria já deve ter sacado: estou em São Francisco. Isto é: estava. Amanhã (quinta) saio de madrugada daqui com outro destino. Viagem de trabalho tem isso, a gente às vezes não consegue nem ligar para os amigos, quanto mais fotografar. O que vocês estão vendo é a vista da minha janela, no 12 andar do Hilton.

    Com esta foto chegou ao fim uma convivência de três anos e milhares de imagens: a boa e velha Kodak 4800 subiu no telhado. Simplesmente se recusa a tomar conhecimento das baterias, e não houve nada que eu, ou as três baterias, pudéssemos fazer para mudar sua determinação. Estou muito triste; fomos felizes juntas.

    Chegando ao Brasil, vou mandá-la para a assistência técnica, que provavelmente vai dar gargalhada na minha cara. Mas ainda estou em denial, não aceito o seu falecimento como fato concreto.

    À tarde, dei uma escapulida para a loja da Sony e comprei uma Cyber-shot P10 que, até segunda ordem, será minha companheira de estrada. Com tantas máquinas boas no mercado, escolher uma só é uma dificuldade, mas no fim a equação se resolveu assim: eu queria uma câmera ótima, levíssima, que coubesse no bolso, custasse menos de U$ 500 e para a qual eu já tivesse mídia suficiente.

    Com isso, Olympus e Pentax estavam fora da jogada, porque só tenho bastante Compact Flash (da velha Kodak) e Memory Stick (do Clié e da Sony P1). Ela ganhou das Canon pelo conjunto de obra. Agora está carregadinha e já fizemos até algumas cenas noturnas. Resta apenas um problema: como transferir as imagens para o notebook, um velho IBM Thinkpad 560Z de 1998, amarrado com barbante, que até aqui não deu mostras de querer conversar com o novo membro da família...

    8.10.03



    Amanhã!

    Vida Digital

    Sabe tudo aquilo que você sempre quis saber sobre Palms e PDAs em geral, mas nunca teve a quem perguntar?

    Pois a sua chance de remediar isso é amanhã, no Vida Digital, nosso costumeiro papo das quintas-feiras, que vai ao ar com o Marcelo Rodrigues -- que sabe tudo a respeito dessas maquininhas maravilhosas.

    Lá no lounge do Rio Design Barra, às 20hs -- como sempre.

    7.10.03




    No ar

    Então. Tou de novo na estrada, depois de um tempão solidamente ancorada no Rio. Já estava perdendo a prática de discutir com gente de companhia aérea...

    Viajei bem, cheguei direitinho e agora estou indo comprar uma roupa para o jantar. Claro, eu trouxe mil camisetas e todos os casacos, mas esqueci a roupa chique. Por que é que NUNCA acontece o contrário?!

    6.10.03









    Fotolog da semana

    Karin Faulkner é loura, solteira, americana: tudo, em suma, que os chineses estranham. Está há quatro anos na China, dando aulas de inglês em Xiamem, cuidando de Carney (um gato que por pouco não virou comida) e registrando suas impressões sobre o país. Está escrevendo um livro, e faz um dos fotologs mais interessantes que conheço, sobretudo para quem fala inglês e pode ler as suas ótimas legendas.

    Karin não tem câmera digital, suas fotos poderiam ter sido feitas por qualquer um de nós, mas lá está a China que a gente não vê no noticiário nem encontra na National Geographic: um país diferente mas nem tanto, onde até a geladeira da vendinha é familiar. Em www.fotolog.net/roomwithaview .

    Píxeis no papel

    Preparem-se: uma nova espécie de produto promete tomar conta do mercado. São as pequenas impressoras termais feitas exclusivamente para imprimir fotos, que podem trabalhar diretamente conectadas a câmeras digitais, dispensam intermediação do computador e produzem cópias 10 x 15 perfeitas — iguais, se não melhores, como qualidade e durabilidade, às cópias em papel fotográfico.

    Do tamanho de um livro grosso, essas impressorinhas são simplíssimas de usar, e trabalham com papel e tinta vendidos em kits, conjuntos de páginas e cartucho com tinta suficiente para aquelas páginas. Nos EUA, o preço de um kit de 40 páginas da Canon, por exemplo, está em cerca de U$ 25. É caro, mas permite calcular exatamente quanto custa cada foto, coisa impossível com as jatos de tinta a que estamos acostumados.

    Estive usando uma Canon CP 300, que tem inclusive bateria para poder ser utilizada longe de fontes de eletricidade. Embora tenha gostado do efeito Polaroid criado pela câmera diretamente acoplada a ela, confesso que o que me conquistou mesmo foi a sua versatilidade quando conectada ao PC. Mais simples de instalar e usar, impossível; se eu fosse californiana, diria que essa foi a melhor “experiência” de impressão que tive em muito tempo.

    Para isso contribui o software da Canon, que tem uma infinidade de molduras, recortes e bossas que podem ser aplicadas às fotos (que vão levar adolescentes à loucura e pais à ruína). Uma vez impressas, elas recebem a camada de filme protetor característica das termais, que as torna à prova d’água, ou seja: à prova de crianças, cães, gatos e adultos desastrados. E o verso do papel ainda tem uma gracinha a mais: marcas de cartão postal, para que a gente possa levar as cópias direto ao correio mais próximo.

    Como a maioria das novas impressoras do gênero, a CP 300 e sua irmã menor CP 200 (sem bateria) usam o padrão de indústria PictBridge, que permite a câmeras de diversos fabricantes utilizarem impressoras de outros. Os seus preços (entre U$ 150 e U$ 300 nos EUA) são, como costuma acontecer nesse ramo, relativamente baratos: como sabemos, é nos kits de papel e tinta que está a nossa perdição — e o lucro dos fabricantes.

    Fotos ‘alternativas’

    Criei dois pequenos fotologs para quem quiser ver como funcionam fotos “alternativas”. Em www.fotolog.net/palm
    estão exemplos das que venho fazendo com o Palm Zire 71; em www.fotolog.net/nokia7650
    as que saem de um Nokia 7650 da Tim. Em ambos, links para vários outros fotologs “móveis”.

    (O Globo, Infoetc., 6.10.2003)


    Alguém sabe dessas tartarugas?

    "Olá Cora,

    Gostaria de perguntar se você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu com aqueles ovos de tartaruga que foram postos na praia da Barra perto dos Bombeiros. Eles estavam lá enterrados num local protegido, com placa dando explçicações sobre a espécie. Pois não é que dia desses eu passando por lá não vi mas nenhum sinal dos ovos, também não havia nenhum bombeiro por perto para perguntar, será que viraram omelete? Desculpe ocupar seu tempo, mas se por acaso souber de algo ficaria muito grato.

    Um grande abraço e bons ventos

    Cláudio Teixeira da Silva"

    5.10.03





    Ontem, na estréia de O Acidente, nova peça do Bosco Brasil, tentei pegar ele e o Dan de surpresa, mas não consegui. Se eu tivesse que ganhar a vida como paparazzo já estava morta de fome...

    Novos tempos

    Gostei muito da peça, que vai ter o ingrato destino de ser inevitavelmente comparada a "Novas Diretrizes em Tempos de Paz", o grande sucesso do Bosco. Ora, "Novas Diretrizes" é imbatível sob vários aspectos -- a começar, justamente, pelo seu extraordinário sucesso, que ganha o público antes mesmo que ele entre no teatro.

    "O Acidente" parte da festa de aniversário fracassada de Mario (Marcelo Escorel), a que ninguém vai, com exceção de sua colega de firma Mirian (Louise Cardoso), para fazer uma bela parábola sobre as relações humanas e os nossos enganos e desenganos. Se eu tivesse que resumir a história numa única frase, usaria (para variar) uma do Millôr: "Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos muito bem!"

    Não vou contar o que acontece porque não sou estraga-prazeres. Dêem um pulo até o teatro, para conferir por vocês mesmos; é uma linda história!

    Taqui o serviço completo:

    Casa de Cultura Laura Alvim: Av. Vieira Souto 176, Ipanema — 2267-1647. Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 20h30m. R$ 25 (qui, sex e dom) e R$ 30 (sáb). 90 minutos.


    Grrrrr...!

    "LAS VEGAS - Um tigre branco atacou o mágico Roy Horn durante um show da famosa dupla "Siegfried e Roy" em Las Vegas na noite de sexta-feira, deixando o ilusionista seriamente ferido." (Mais aqui)
    Oquêi. A gente não deve dizer "bem-feito!" diante de um drama desses, portanto não digo. Mas penso. Acho revoltante qualquer show de animais. Não foi para se exibir em cassinos que os tigres vieram ao mundo, definitivamente.

    Vi alguns desses pobres felinos há alguns anos, lá mesmo em Las Vegas, no Mirage, se não me engano. Eles ficavam expostos, durante o dia, numa "ambientação" pra lá de fake, bem condizente com a cidade. Fiquei deprimida com aquilo.

    Quantos treinadores tigres, onças e leões vão ter que detonar para que as pessoas entendam que é uma crueldade sem tamanho forçar bichos a fazerem gracinhas para o público?!

    4.10.03




    Sabem quem faz anos hoje?


    A Emília!!!


    Parabéns, gatinha querida!




    Escreve o leitor

    Carlos Eduardo Martins, leitor do Globo, me mandou uma excelente e indignada mensagem:
    "A Telemerd - oops, Telemar está ligando para as residências com uma mensagem gravada, "Aqui é Andréa Beltrão. Faça DDD e DDI pelo trrrrinta -" só ouvi até aí antes de desligar. Além de ser uma forma de "spam" e de atentar contra a livre concorrência - ou será que a Telemar vai fornecer seu cadastro de graça para Embratel, Intelig etc.? -, significa que a própria concessionária está sobrecarregando as linhas para fazer auto-propaganda, de resto totalmente dispensável haja visto que a campanha já é fartamente veiculada pelas outras, argh, "mídias".

    Alô, Conar? Alô, Anatel? Alguém em casa?"
    É isso aí...

    3.10.03







    Ainda agora, aqui na redação: Xexéo no telefone e a mesa sempre arrumada do Nelson Vasconcelos, colunista de Economia. Fotinhas de celular...


    Quadrúpedes necessitados, aqui!







    A capivara em pessoa!

    Ganhei essas fotos maravilhosas do Felipe Süssekind, fotógrafo que, junto com um amigo, está produzindo um vídeo sobre a capivara da Lagoa, pacientemente filmada por eles. Os dois já entrevistaram pescadores e vendedores de coco, o bombeiro que tentou capturá-la e biólogos do Riozoo.

    Dentro de algumas semanas o trabalho fica pronto.

    Não vai ser o máximo? Um vídeo estrelado pela capivara?! Esse eu tou louca pra ver!!!

    2.10.03



    A caminho...

    A caminho do Rio Design Barra, faço um dos meus últimos posts com o Partner: essa semana, a maquininha e eu nos separamos. Vou sentir saudades...












    Fotos de telefone

    Fiz essas fotinhas na saída de casa com o Nokia. Mandei pra mim mesma, aqui no jornal; e daqui a pouco vou ver como ficam no telão do Rio Design Barra, na outra ponta da cidade.

    Agora só falta a gente conseguir se transportar com a mesma velocidade... :-(((


    Hoje!

    Vida Digital

    Hoje o Vida Digital, nosso costumeiro papo das quintas-feiras, vai ao ar com a cronista que vos tecla.

    Depois de duas semanas de convivência com imagenzinhas pequenas, proponho conversarmos sobre celulares e PDAs que fotografam, e onde eles podem se encaixar no dia-a-dia da gente. Vocês topam?

    Vai ser lá no lounge do Rio Design Barra, às 20hs, como sempre.


    Tem uma festinha no fotolog



    A cabra, a capivara e algumas antas

    Um dia, vinha eu calmamente andando pela Visconde de Pirajá quando, na esquina da Aníbal de Mendonça, vi uma cabra em cima de um muro. Isso foi há muito tempo. Tanto, tanto, que a gente podia andar calmamente pela Visconde de Pirajá. Ali, onde hoje há um hotel, uma casa com jardim e quintal vivia seus últimos dias. Vocês aí nem eram nascidos. Nós achávamos Brizola o pior governador de todos os tempos, sem saber o que o destino nos reservava. Ainda assim, posso garantir que uma cabra em cima do muro não era um acontecimento rotineiro em Ipanema.

    Ela era branquinha e amistosa, e tentava alcançar as folhas de uma árvore, equilibrando-se no muro com a facilidade e a elegância da espécie. Fiquei maravilhada com o espetáculo, e feliz em estar tão bem posicionada para assistir. Não tinha dúvida de que, em breve, haveria um aglomerado no local.

    Pois sim! Durante todo o tempo da refeição, que durou uns 20 minutos, fui a única a achar que cabra em cima de muro, numa das esquinas mais movimentadas de Ipanema, merecia atenção. A multidão ia e vinha como sempre, carregando sacolas e acenando para ônibus e táxis. Ninguém parou, ninguém manifestou espanto, ninguém sequer notou a cabra. Senti uma vontade louca de parar as pessoas, de sacudi-las:

    — Vejam, há uma cabra em cima do muro! Em plena Visconde de Pirajá! Uma cabra! De verdade!

    Como sou tímida, fiquei só na vontade. Quando a bichinha acabou de comer e sumiu por trás do muro, fui embora, encantada com o animal e perplexa com os meus semelhantes, que não tinham percebido o insólito da cena. Até hoje guardo a lembrança dessa cabra carioca como uma das coisas bonitas que me foi dado ver.

    * * *


    Pois domingo passado, caminhando pela Lagoa, encontrei finalmente a capivara. Quando começaram a falar nela, achei que era personagem de mais uma lenda urbana, prima distante do monstro do Lago Ness. Logo, porém, fotos e testemunhos me fizeram mudar de idéia. Passei a levar a máquina fotográfica nas caminhadas, de olho no manguezal.

    Os dias se passaram e acabei deixando a capivara pra lá. E no domingo, como já era tarde, deixei pra lá também a câmera. Não deu outra! À altura do Hospital da Lagoa, noite caindo, lá estava ela, gorda, lustrosa, refocilando na lama em toda a sua glória. Um rapaz que vinha de bicicleta parou ao meu lado, igualmente encantado. Conversamos um pouco.

    — Deviam levar para o zoológico. Aqui não vai durar nada, daqui a pouco alguém mata para comer.

    Concordei, em princípio, embora tenha dúvidas em relação à idéia do zoológico: animal solto é outra coisa. Enquanto isso, várias pessoas passavam batidas pela capivara, exatamente como, tantos anos antes, passavam pela cabra. Diálogo de duas moças:

    — Não é cachorro, não, deve ser aquele bicho que falaram, como é o nome?

    — Paca, né não?

    — É, uma coisa assim...

    Quer dizer: nem sabendo que ali havia um bicho diferente pararam! O rapaz da bicicleta e eu nos entreolhamos, diante de tal falta de interesse. Depois nos despedimos, e desci devagarinho para a beira d'água, para ver a capivara mais de perto. Ela não se incomodou com a minha presença. Olhou para mim brevemente, e voltou à sua magnífica imundície.

    Rolava no chão contente, esfregando as costas. Parou um pouco, bebeu água, comeu mato e voltou à lambança. É um bicho grande. Deve ter quase um metro, uma cara muito engraçada. Como todos nós, gosta de se divertir: dava botes nos martins-pescadores, que fugiam alarmados, aos gritos, a cada movimento dela. Mas não tinham por que se preocupar, os bobos. As capivaras, maiores roedores do mundo, são herbívoras.

    Quando minha nova amiga — já a considero assim — mergulhou para nadar até o outro lado da saída de esgoto, voltei para a calçada, onde um segundo rapaz, também de bicicleta, estava parado observando.

    — É a capivara, é?

    Ele ouvia falar nela há tempos, e nunca a havia encontrado.

    — Maravilhoso ver a natureza assim!

    Esse era dos meus! Animados, conversamos sobre a vida na Lagoa, sobre os biguás e as garças e tudo o mais em volta.

    — Coitada dessa capivara. Deve estar muito solitária. Deviam botar outras aí. Já pensou, um monte de capivaras, como as cotias do Campo de Santana?

    Gostei da idéia: uma colônia de capivaras na Lagoa! Há provavelmente mil contra-indicações ecológicas, e até morais e religiosas, mas que seria formidável encontrar capivaras todos os dias, lá isso seria.

    — Poderia virar uma grande atração turística, imagine quantas pessoas viriam para cá para ver as capivaras.

    Será que viriam? Será que veriam?

    Nisso, a capivara mergulhou e sumiu por um tempo. Quando a vi novamente, ia lá na frente, pronta para chatear mais um grupo de pássaros. O rapaz subiu na bicicleta e ficou olhando. Eu continuei a caminhada, e completei a volta da Lagoa em 2h45m. De noite, ouvi no “Fantástico” que um corredor do Quênia chamado Paul Tergat fez a maratona em 2h04m55s. Esse cara não olha capivara.


    (O Globo, Segundo Caderno, 2.10.2003)


    Gente grande

    Meu amigo Gregório escreveu essa maravilha no Greg Flog:
    "Essas são Nina, Bettina e Daphne, grandes pequenas amigas. Hilárias, elas vêm nos visitar todo dia, religiosamente, no pátio da escola. Com uma eloqüência e um humor que muitos adultos não têm, contam histórias, piadas e fazem perguntas com seus olhos enormes e curiosos, desejosas de saber o que vêm pela frente de suas vidinhas tão frescas. Outro dia, eu disse que estava no último ano e que sairia da escola em novembro. "Pra sempre?", perguntaram elas, perplexas. "Pra sempre", eu respondi. Só aí me dei conta de que eu sairia de fato da escola, pra nunca mais. Só aí me dei conta de que pra sempre é pra sempre e pronto." (Gregório Duvivier)

    1.10.03



    Surpresa

    A gente às vezes guarda coisa de que nem se lembra mais. Aí vai remexer nas gavetas e se emociona.






    Pixeis ao telefone


    Ontem à noite jantamos com Oscar Niemeyer. Ele é habitué de um dos nossos restaurantes favoritos, e volta e meia acabamos na mesma mesa. Dessa vez, eu estava com o Nokia 7650, um celular com câmera, e não resisti.

    As fotos não ficaram grande coisa para uma máquina fotográfica. Para um telefone, porém, se saíram otimamente -- sobretudo se a gente levar em consideração a iluminação local. Eu gostei particularmente de uma foto do Oscar tragando a cigarrilha: a pontinha de luz ficou bem destacada.

    E aí aconteceu uma dessas coisas tão internet: Pixelman, um fotologger que desenha algumas das imagens do dia, transformou aquela fotinha de telefone num belo retrato. Legal, né?

    Para quem quiser ver mais fotos de telefone: estou fazendo um fotolog só com imagens capturadas nesse Nokia em fotolog.net/nokia7650. Lá estou juntando também links para outros flogs feitos a partir de imagens de phonecams.


    tonight soky ovw efcfhgx

    Só por curiosidade: será que ainda há alguém no mundo que abra uma mensagem com um título desses?!