31.12.03





Queridos: fiz essa foto hoje, na praia da Urca, às três da manhã, ouvindo os cantos para os Orixás, contemplando as oferendas para Iemanjá, molhando os pés na água e bebendo Sidra com a gente legal e cheia de energia positiva que lá estava.

Vocês sabem: yo no creo en brujas, pero que las hay las hay.

Também do bem.

Desejei para todos nós um Ano Novo de paz, saúde, amor e prosperidade -- resumidas, essas coisas todas, na palavra FELICIDADE. Afinal, ninguém consegue ser plenamente feliz se lhe falta algo...

Pois então, que nada nos falte em 2004, e que possamos, ao raiar de 2005, dizer que sim, que fomos muito felizes no ano que passou.

Muitos beijos, carinho e tudo de bom!

30.12.03





"Quando eu relembro a minha infância, os invernos parecem ter sido sempre muito duros, com uma neve densa cobrindo tudo e batendo pela minha cintura. Mas talvez seja só uma questão de escala."(fotolog.net/htt)




Pois é: eu ia reclamar do calor, mas aí caí, por acaso, no fotolog do HTT. Essa é uma ceninha banal do cotidiano islandês, que ele fotografou da janela da sala...

27.12.03



Hoax?!

Não sei se estou ficando cínica demais, mas está rolando um drama humano lá no Fotolog que, para mim, tem toda a cara de hoax. Confiram aqui, por favor, e me digam o que vcs acham.

Será que estou ficando muito desconfiada demais?

Tudo é possível neste mundo, mas uma pessoa terminalmente doente começar um flog dez dias antes de morrer?! Sem postar uma foto sua, sem dar endereço de hospital, nem nada? Weird, weird, weird.

Enfim, como estou batendo pino,vão lá ver e depois me digam, OK?

Thanks!




Bom fim de semana para todos!

Estou meio sumida, desculpem, mas estou aproveitando o feriado para fazer -- isto é, tentar fazer -- duas coisas mais ou menos incompatíveis: descansar um tiquinho e botar o trabalho em dia.

Lamento informar que, até aqui, a segunda parte do programa tem prevalecido sobre a primeira... :-/

Ah, sim: hoje tem Família Gato no fotolog. E embora a gatinha da foto seja a Keaton, o astro lá é o querido da Meg, o Lucas.

Ah, sim II: como é que um cano daquele tamanho da Cedae, que deixa uma cratera monstruosa quando estoura, é consertado em dois dias, e um mísero caninho com um vazamento de nada (que está acabando com a minha parede!) leva semanas para ser consertado?!

Há alguma lógica nisso?!

Ó céus, ó vida...



26.12.03





Já saiu em todo lugar (até no meu fotolog) mas... vocês já viram este Gingle Bells em ritmo de samba?

É uma gracinha!


O Natal visto de fora... e de dentro

Terça-feira, 19h55 na redação semi-deserta do Globo. Metade dos colegas, que vai trabalhar na semana do ano novo, não veio; da outra, quase todos já foram embora, aliviados alguns, aflitíssimos os outros, que ainda têm compras de Natal por fazer. Eu me incluo no último grupo, com uma diferença significativa: continuo aqui dentro, ao passo que as compras ficam lá fora. Os ponteiros do relógio digital — que nem os tem — avançam inexoravelmente. A cada minuto o trânsito fica mais intransitável, os shoppings mais cheios, os vendedores mais neurastênicos. Virada de costas para mim, uma televisão alterna anúncios que falam em paz e felicidade com depoimentos de consumidores histéricos, desesperados em busca do inatingível — aquele presente bom, bonito e barato. Em suma: enquanto o clima natalino atinge seu ponto máximo, a tela do computador me olha branca, vazia, esperando que eu tome uma providência.

— Como é, essa coluna sai ou não sai? — parece dizer. Na verdade diz, agora que escrevi a pergunta.

— Calma, não é tão fácil assim! — respondo, esperando que ninguém note que agora dei de falar com monitores de 17 polegadas. — Essa coluna é para 25 de dezembro, e tenho sérias dúvidas a respeito da utilidade de se escrever qualquer coisa para o dia de Natal. Sempre acho que esse é um dia em que ninguém vai ler jornal. Todos vão estar tão empolgados com os brinquedos novos, tão bodeados da festa... Quer saber? Só tem uma coisa pior: dia 1º de janeiro.

— Data da sua próxima coluna — informa a tela, quando, invadida por uma certeza cruel, clico no calendário.

Fico desmotivada demais quando penso que posso estar escrevendo algo que ninguém vai ler: não seria melhor ir à praia? O pior é que, hoje, como não sou católica, nem ao menos posso escrever sobre o profundo significado religioso da data. Não, não adianta. Essa crônica é uma missão impossível.

A tela, que não entende a minha angústia, continua parada, me olhando.

— Calma! Eu vou escrever.

— Estou calma. Muito calma. Há poucas coisas tão calmas quanto uma tela em branco.

* * *

Na semana passada, a essa hora, eu não estava diante de um monitor pouco compreensivo. Estava lá fora, bem longe da redação, vivendo uma grande aventura. A bordo de um rebocador, debaixo de uma chuva que só vendo, ia, intrépida, em direção à árvore.

“A” árvore, sim — aquela, da Lagoa, que mora em frente à minha casa e que, a cada ano, se supera em altura, beleza e... quilômetros de engarrafamento.

Abre parênteses: sei que quem enfrenta trânsito pesado todos os dias não acha a menor graça no meu ponto de vista mas, sinceramente, apesar do transtorno, não consigo ter antipatia por esse engarrafamento. Acho bonito constatar que, num mundo tão revirado e violento, ainda há tanta gente que se movimenta para ver uma árvore de luz flutuando na água — por bobo que isso possa parecer. Fecha parênteses.

* * *

Enfim, como eu ia dizendo, lá estava eu, singrando a Lagoa rumo à árvore. Ela é mais bonita vista de longe, mas infinitamente mais impressionante vista de perto. De longe, é só uma escultura iluminada; de perto, um navio fulgurante, uma perfeita embarcação.

Isso não é figura de retórica, mas a realidade da árvore, que, solidamente assentada em 11 flutuadores e ocupando uma área de 700 m², é uma complexa obra de engenharia naval, parente de barcos e de plataformas flutuantes. Ao seu redor, além dos pedalinhos, nadam cardumes de peixes atraídos pelas luzes e pequenos caranguejos, hipnotizados.

* * *

Os cinco profissionais que dão plantão no oco da árvore passam o tempo resolvendo eventuais problemas, vendo televisão, espiando pedalinhos. Pablo Hernandez, técnico em luzes móveis e, digamos, “comandante” da nau, que já leu oito livros desde sua inauguração, estava devorando, muito apropriadamente, “Fogo interior”, de Carlos Castañeda.

Faz muito calor dentro da árvore, que tem 2,8 milhões de microlâmpadas (daquelas que a gente usa para enfeitar a casa), 26 mil metros de mangueiras luminosas para formar os desenhos de anjos, notas e estrelas, e oito holofotes. A energia necessária para fazer tudo isso brilhar a contento daria para o gasto de 150 apartamentos de dois quartos — e quando tudo de fato se acende, naquele momento em que a árvore fica iluminada da cabeça aos pés, em toda a sua glória, quem está lá dentro passa a entender, literalmente, o sentido da expressão “banhado em luz”.

É um momento mágico, e a metáfora é irresistível: que 2004 seja assim iluminado, flutuando em águas calmas, trazendo alegria e encanto para todos nós.


(O Globo, Segundo Caderno, 25.12.2003)

24.12.03





Pessoal, eu gostaria de ter feito uma mensagem caprichada, com uma foto especial e umas palavras mais bonitas, mais bem cuidadas -- mas, para fechar o ano com coerência, estou numa correria doida! São 18h40 e ainda nem terminei de fazer as compras de Natal...

Então, fica valendo mesmo o bom e velho

Feliz Natal!

É pouco original mas, acreditem, é de coração.

Mesmo.

Update, antes de sair correndo pra casa da Laura: a fotinha especial eu arranjei... :-)


Acabo de voltar do jornal, onde estava escrevendo a coluna de quinta-feira.

Os feriados na redação são péssimos, mas não de todo ruins: há um sentimento até bacana de solidariedade na miséria, provavelmente comum a tantas profissões que dão plantão enquanto o resto da humanidade se diverte.

Eu fico comovida com os enfeitezinhos e pequenas árvores patéticas que os amigos espetam nos terminais, como vagas lembranças do artigo genuíno.

23.12.03



Ping pong

  • As crianças são ímpias? Então por que Deus não as poupou da sua ira em Sodoma e Gomorra?

    Porque em Sodoma e Gomorra, como aqui, elas assistiam programas da Xuxa e gostavam.

  • Por que um passarinho pode voar e eu não?

    Porque não tens asas.

  • Quem é e por que é o cirurgião plástico de Michel Jackson?

    O cirurgião plástico do Michael Jackson chama-se Dr. Steven Hoefflin e tem entre seus clientes, Elizabeth Taylor, Janet Jackson, Don Johnson, Zsa Zsa Gabor, Sylvester Stallone, Brigitte Nielsen, Princesa Salima Aga Khan, Tina Sinatra, Pamela Anderson, Ivana Trump e o Sultão do Brunei, só para citar alguns. A associação médica da Califórnia tentou processá-lo mas não conseguiu reunir provas. E ele processou vários de seus detratores por difamação. Mais aqui, em inglês. E ele é o cirurgião do astro porque topa qualquer parada e tem soluções que ele acha revolucionárias para os pedidos mais bizarros de seus clientes. Como, por exemplo, fixar parafusos às laterais do crânio para "evitar que a pele do rosto desabe".

  • Há uma coleção dessas pérolas no blog da Teruska; as respostas são do Cesar Valente.

    Confiram!

    22.12.03



    Leia o livro, faça a foto!

    Se você ainda não terminou de fazer as compras de Natal, e tem usuários de câmaras digitais na lista — ou candidatos a usuários — a solução é simples: há, nas livrarias, uma ótima safra para os aficcionados da fotografia digital, time que aumenta exponencialmente a cada ano.

    Dois deles — “Guia prático da fotografia digital”, da National Geographic, e “Fotografia digital: da compra da câmera à impressão das fotos”, de Julio Preuss — estão, apesar de parecidos no conteúdo, em pólos distintos da Escala de Presentes de Natal: o guia da NG é um livrinho pequeno, mas denso e bem ilustrado. Custa R$ 27 e parece com uma revista, do detalhe de trazer anúncios na contracapa, nas capas internas e em algumas páginas, a ser vendido em bancas de jornais. Já o livro do Julio — que tem prefácio meu — e é um belo álbum de capa dura da Axcel, tem preço de gente grande: R$ 69 (por enquanto, em oferta de lançamento no Submarino, por R$ 49).

    * * *

    Julio Preuss é jornalista de informática, trabalha em “O Dia” e sabe tudo de informática e fotografia digital. Seu livro, atualizadíssimo, é a melhor referência brasileira sobre fotografia digital como um todo; ele escreve com clareza, tem ótimas dicas, explica muito bem todos os pontos que aborda e — importante! — vê tudo a partir do nosso ponto de vista. Ou seja: este é o livro ideal para quem mora no Brasil e vive em reais.

    Agora, prepare-se para retocá-la

    Quem tem câmera digital acaba, cedo ou mais tarde, caindo no feitiço do Photoshop — que ainda é, indiscutivelmente, o melhor programa para tratamento de imagens. É, também, um dos mais difíceis de dominar, com uma curva de aprendizado para montanhista nenhum botar defeito. É por isso que ele é um dos alvos favoritos dos autores de manuais e tutoriais: entre em qualquer livraria e você vai se espantar com a quantidade de títulos existentes a seu respeito.

    * * *

    A Editora Campus publica alguns dos melhores desses títulos, de “Photoshop 7: a biblia”, de Deke McClelland — alentado volume de 896 páginas, a R$ 219 — a “Adobe Photoshop Elements 2.0”, de Edson Tanaka, 336 páginas, por R$ 65.

    Este último é excelente para quem recebeu o “Photoshop Elements” como parte do software da câmera digital. Edson Tanaka, outro brasileiro que brilha nas paradas dos livros técnicos, é autor, ainda, de “Adobe Photoshop 7”, um manual de 520 páginas, a R$ 89, também da Campus.

    * * *

    Um lançamento interessante para quem curte o Photoshop, mas gostaria de aprender uns macetinhos de forma indolor, é “Desvendando o Adobe Photoshop”, da Digerati Books. O livro segue mais ou menos a mesma linha do guia da “National Geographic”, quer dizer: tem alma de revista. No caso, a “Computer arts”, sensacional publicação inglesa que, infelizmente, tantos de nós deixamos de comprar por causa do preço, salgadíssimo.

    Pois no livro (que custa R$ 89, e é outra boa oferta do Submarino, a R$ 66) estão alguns dos melhores tutoriais publicados pela revista, com sua imprescindível versão em video nos três CDs anexos.

    Tudo o que você sempre quis saber...

    ...para entender o maravilhoso mundo da tecnologia e dos gadgets, mas ficava encabulado de sair por aí perguntando aos outros: firewire, interpolação, LED, hiperlink, chroma-key, shareware...

    Tudo isso está na “Enciclopédia básica da mídia eletrônica”, de Ricardo Pizzotti, publicado pela Editora Senac São Paulo. O livro, que custa R$ 55 e tem 296 páginas com cerca de 2.100 verbetes, cobrindo o vasto universo da multimídia, é útil até para profissionais tarimbados do setor, como a escriba que vos tecla, já que não há quem consiga absorver toda a sopa de letrinhas em que vivemos mergulhados.

    Ricardo Pizzotti é publicitário, escreve sobre tecnologia de televisão para a revista “Audio e vídeo” e fez um excelente trabalho.

    O Natal entre amigos

    Coisa bonita de se ver vai ser o Natal do Fotolog! Já começou: é deslumbrante a diferença entre os fotologs tropicais, de bracinhos de fora, e os lá de cima, enregelados, mostrando neve, cristais de gelo e bípedes encasacados. Está todo mundo curtindo, encantado, a diversidade do planeta — que a gente sempre soube que existe, mas nunca acompanhou assim, passo a passo.

    Já começaram a aparecer os votos e as saudações nos álbuns de visita, e até eu, que detesto festas de fim de ano, fico comovida em ver como, no fundo, a maioria das pessoas só deseja isso, paz e tranqüilidade, para tocar a vida como ela vem. Paz e tranqüilidade, portanto, é o que desejo a todos que acompanharam o caderninho ao longo do ano, deram sugestões e palpites, xingaram e elogiaram. É muito bom ter vocês como leitores, acreditem.


    (O Globo, Info etc., 22.12.2003)




    A fera é o Bruno, que tem um ótimo site sobre BMX: o BMX4u.com.

    Fiz a foto ontem, quando, passeando com mamãe, parei para ver uma turma de esportes radicais praticando. Os meninos dão um show, coisa linda de se ver.

    21.12.03





    Fotologgers

    Aí está uma parte da galera que compareceu ao encontro de Natal dos fotologgers cariocas; a foto é do Frederico Mendes. Foi um encontro divertido, como têm sido esses encontros, em geral: só ainda não achamos o lugar ideal.

    Da última vez, sabe-se lá por quê, fomos parar no Lord Jim. Muito bonitinho, mas escuro e barulhento, sem serviço ou comida digna do nome. Um grupo dissidente, liderado pelo Fábio (do casal Zipper) partiu para a pizzaria em frente e se deu bem.

    Dessa vez, fomos para o Quiosque Hum. Seria ideal, se, lá para as tantas, não entrasse em cena uma banda até simpática, cantando músicas até legais... mas todas insuportavelmente alto!

    Se a gente estivesse lá para dançar, seria perfeito; mas para conversar ficou meio complicado.

    A garotinha na frente, segurando um objeto estranho, é uma vendedora de lanternas de fibra ótica: aquelas, que parecem fios de náilon com brilhos nas pontas. Apareceu com uma outra menininha, oferecendo a mercadoria cintilante numa mesa cheia de fotógrafos, e acabou se sentindo uma celebridade: nunca foi tão fotografada. De quebra, acabou vendendo algumas lanternas.

    Quem fez uma grande foto da outra menina foi a Sylvia Heilborn, que mantém um fotolog sensacional com um simples Palm Zire 71. As imagens dela provam que a sensibilidade do fotógrafo continua mesmo sendo muito mais importante do que qualquer equipamento.

    Vale conferir!




    Minha série da Viagem ao Centro da Árvore está quase completa; agora estou subindo umas fotinhas feitas com o Nokia 7650, que me acompanhou na aventura.

    19.12.03



    Ugh!

    Tem coisa mais chata, desinteressante e desenxabida do que a onda de cartões de Natal politicamente corretos que assola o país?!

    Vocês sabem, né: esses com fotos de criancinhas carentes beneficiadas por projetos sociais, desenhinhos feitos pelos filhos dos funcionários, e assim por diante?!

    Muita saudade dos tempos em que os cartões de Natal eram apenas cartões de Natal, cheios de dourados e purpurinas, desenhados pelos melhores artistas, e não tíquetes de lavagem de consciência social.

    Update: Esqueci de acrescentar um detalhe. É que 99% dos cartões que eu recebo vêm de empresas, e expressam tanto carinho quanto, digamos, uma cena romântica do Stalone.


    Ó cirandeiro, ó cirandeiro ó,
    A pedra do teu anel
    Brilha mais do que o Sol.




    Viagem ao Centro da Árvore

    Ontem eu estive num lugar muito especial: dentro da Árvore da Lagoa! Fui com a Elis (fazendo a matéria de capa do Info etc.) e o Teixerinha (fazendo as fotos para a matéria). Estou publicando as fotos que fiz dessa aventura lá no fotolog.



    Túnel do tempo

    Fim de ano: qualquer folguinha que sobra, a gente aproveita para arrumar coisas, jogar fora trambolhos, dar um jeito na casa. Fotos de papel têm isso: elas aparecem e desaparecem, e aí, nessas ocasiões reaparecem de surpresa.

    Essa foi feita na Cobal, há milênios, num sábado de manhã. Tom Jobim ainda era vivo e estava na mesa com a gente. E mais Lucinha Veríssimo, Chico e Eliana, José Lewgoy, Jaguar e Hugo Carvana (se não me engano).

    Nesse dia, um garçom perguntou pra Lucinha:

    -- E a Ava Gardner aí, o que vai querer?

    Ela ficou encabulada com o lance da Ava Gardner, mas o Millôr cortou:

    -- Lucinha, aprenda: não se discute com a oftalmologia alheia!

    Eu me lembro disso tudo por um motivo muito simples: é que os Veríssimos (por motivos geográficos) e o Millôr e eu (por questões de trabalho, dele, e de horário, minhas) praticamente não íamos à Cobal.

    A exceção é sempre mais fácil de lembrar do que a regra.

    18.12.03




    Laura Rónai, PhD

    Quase 50 anos depois da Mamãe fazer o seu (dela) doutorado em arquitetura, a família tem uma nova PhD: minha irmã Laura, que defendeu ontem, brilhantemente, a sua tese de música na UniRio.

    O "brilhantemente" aí não fui eu quem disse não: afinal, sou suspeita para falar. Foram os examinadores, mesmo.

    Aprovada com louvor.

    Viva, Laurinha!!!

    Parabéns!!!

    Estamos todos orgulhosos de você... :-)))


    O caso do cachorro iraquiano

    Amigo, inimigo, tanto faz: para os americanos, todos são descartáveis


    Tá. É muito bom o Saddam estar preso, neutralizado e coisa e tal, mas... os americanos não vão aprender nunca?! Não percebem que humilhar publicamente o monstro é, desde logo, diminuir a sua monstruosidade -- além de afrontar os sentimentos de meio mundo?! Por terrível que tenha sido sua ditadura, por mais mortes e miséria que tenha causado, Saddam é prisioneiro de guerra, e prisioneiro de guerra, todos sabem, deve ser tratado com dignidade. Caso contrário, quem o capturou a ele se iguala na barbárie.

    As fotos do tirano de boca aberta, sujeitando-se a um procedimento médico provavelmente desnecessário, são chocantes não só pela sua grosseria mas, sobretudo, pelo que revelam da falta de sensibilidade de quem as fez e distribuiu. É assustador imaginar que o mundo está à mercê dessa gente, incapaz de perceber o grau de repulsa gerado por imagens assim.

    Os americanos que estão no poder -- que me perdoem os americanos tão revoltados quanto eu -– parecem ter perdido, de vez, qualquer sentimento de humanidade. Não têm -- e nem parecem interessados em ter -- a mais vaga noção de como sente qualquer pessoa fora da sua abençoada América

    Naturalmente, ninguém ignora que Saddam fez muito pior com os seus prisioneiros. Não há mais o que discutir a seu respeito, ele é indescritível como ser humano. O problema não é o que acontece com ele, e sim o que lhe fazem: ainda estão nos nossos olhos as fotos dos seus filhos mortos, expostas em todos os jornais do mundo. A selvageria levada ao extremo, de todos os lados.

    Como diria o filósofo paulista, mata, mas não tripudia. Prende, mas não humilha.

    Pois então não aprenderam que não se chuta cachorro morto?!

    Não, é óbvio que não. Para eles, cachorro bom ainda é cachorro morto.

    * * *

    Para mim, as fotos de Saddam prisioneiro se equiparam, em impacto emocional, a uma pequena notícia que meu amigo Juan Carlos Castro y Castro descobriu, no fim de semana, no Orlando Sentinel, jornal da Flórida:

    "O regulamento não permite que soldados americanos no Iraque tenham animais de estimação, mas uma cadelinha preta e magricela que se aproximou da Guarda Nacional da Flórida, estacionada ao norte de Bagdá , se recusou a ir embora" -- escreveu o repórter Roger Roy. "Os soldados da Companhia Alfa do Segundo Batalhão do 124 Regimento de Infantaria a adotaram, dando-lhe o nome de Apache, em referência à identificação da companhia.

    (....) Apesar de afetuosa com os 130 soldados da companhia, Apache notava estranhos imediatamente, latindo e rosnando em tom ameaçador. (....) Fazia grande festa para os soldados que retornavam de patrulhas, mordiscando a mão dos homens e rolando no chão para que lhe fizessem carinho na barriga.

    Os soldados foram avisados que estavam violando as regras, e que teriam que livrar-se dela. (....) Levaram-na de carro a um lugar distante da base, na esperança de que alguém a encontrasse mas, em três dias, Apache achou o caminho de volta. Finalmente, perto do dia de Ação de Graças, os soldados levaram o seu animal de estimação a um veterinário, que a destruiu."

    * * *

    Quem é pior, o que dá uma ordem dessas ou o que a obedece?! Será que ninguém pensa mais, que ninguém sente mais nada?! Como é que se pode matar um animal inocente e amoroso, única alegria que se tem em meio ao horror?!

    Enquanto isso, um cão cenográfico cuti-cuti, mais artificial do que o peru de plástico que encantou os fantoches do refeitório militar em Bagdá, faz gracinhas para a imprensa, no vasto esquema de marketing que pretende assegurar a Bush a continuidade no poder.

    * * *

    Ah, dirão vocês, o que é um simples cão diante dos milhares de mortos do Iraque, antes e depois da guerra? Mais uma vez, digo que não é exatamente o cão o xis da questão, mas o que ele simboliza. A amigos e superiores todos tratam bem; mas pessoas (e países) revelam-se pela forma como tratam os inimigos, os mais fracos e os animais. Na última semana, os governantes dos Estados Unidos falharam redondamente em todos os quesitos. E o pior é que isso nem nos surpreende mais.

    * * *

    Enfim, para constar: que vergonha, o Saddam, tão despreendido em relação às vidas dos demais iraquianos, se deixando capturar vivo. Mais uma vez se comprova como a crueldade anda de mãos dadas com a covardia.

    * * *

    Atenção: vocês só tem mais dez dias para assistir a “O que diz Molero”, no Teatro Casa Grande! O espetáculo é longo, sim, mas é fenomenal. Imperdível.


    (O Globo, Segundo Caderno, 18.12.2003)

    17.12.03





    Gente, pelamordedeus, depois não se queixem de que não foram avisados com antecedência, olhaí:

    Vai rolar o Primeiro Encontro de Natal dos Fotologgers Cariocas. Promete ser ÓTIMO!

    É no próximo sábado, dia 20, a partir das 18h, no Quiosque Um. Na Lagoa, é claro, pertinho do Heliporto.

    Qualquer dúvida, é só deixar um comentário no fotolog da Angélica, Organizadora Mór de Encontros e Festejos.

    Ah, sim: na foto, do ano passado, o Mosca me ajuda com a decoração da árvore. Não foi uma boa experiência.

    Este ano, não teremos árvore.



    Plantão Capivara

    Mais um flagra! Esse, feito por uma turma simpática que ia voltando o Piraquê, e em que ia o Blu.

    A capivara da foto é a fêmea, que mora perto do Vasco.

    Aliás, aproveito para fazer aqui um pedido: se alguém tiver uma capivara sobrando em casa, por favor leve-a para a Lagoa! Se for fêmea, solte em frente ao Corte de Cantagalo; se for macho, na altura do deck de remo do Vasco.

    Essas coitadinhas da Lagoa estão sozinhas demais!

    16.12.03



    Blogger.com.br

    Os usuários do Blogger.com.br receberam um email da Globo.com a respeito de mudanças no serviço. Muitos têm escrito para mim, outros manifestaram preocupação aqui mesmo, nos comentários.

    Bom. Eu conversei com eles ontem, e a questão é muito simples.

    Quem já tem blog hospedado no Blogger.com.br não precisa se preocupar. Eles não vão cobrar nada de ninguém dentro de um limite muito razoável de uso: este internETC., por exemplo, que é bem heavy como tráfego e como armazenagem, caberia folgadamente nesses limites.

    Novos blogs em Blogger.com.br, só para assinantes da Globo.com.

    Por que isso? Aparentemente, porque, com o fechamento do Kit.Net grátis e de tantos outros sites de hospedagem gratuita, os pornôs que moravam por lá se transferiram em massa para o Blogger.com.br -- onde não há estrutura para se conferir cada novo blog criado, e muito menos grana para sustentar banda e hospedagem de site pornô.

    Restringindo o acesso a coisa fica mais fácil para a administração, e mais difícil para os pornógrafos. De cara, o pessoal XXX vai ter que procurar outras paragens. E, agora, a Globo.com vai em cima dos sites que têm milhares de acessos por dia, ocupam quaquilhões de Gigabytes, etc.

    Pelo que me disseram, podem ficar tranqüilos: é apenas uma medida de saneamento do sistema.

    Outra novidade é que estão trabalhando numa versão muito poderosa do Blogger.com.br. O novo sistema, que deve ser lançado dentro de três ou quatro meses, vai ser uma ferramenta de publicação completa, com recursos de fotolog e, vejam só, videolog.

    As conversas com a turma do Fotolog, mesmo, não deram em nada. Há uma incompatibilidade técnica entre o Fotolog e o sistema da Globo.com, que preferiu partir para o tal super blogger que vem aí.

    Nisso, sinceramente, fiquei com pena. O Fotolog não é a maravilha que é só por causa da ferramenta, mas também, e sobretudo, pela sua universalidade. Ainda que 70% dos usuários sejam brasileiros, há estrangeiros de sobra para que a gente se surpreenda com um gatinho no Japão, cristais de gelo na Suécia, crianças em Angola.

    Por outro lado, se a gente navegar um pouco pelos fotologs desses tais 70% de usuários brasileiros, vai ver que a maioria só quer mesmo postar fotos e mais fotos de si mesmos, para que os amigos possam escrever "huahauhauhauha" indefinidamente...

    Enfim. Estou curiosa com o que vem por aí.

    (Enquanto isso, na cadeira ao meu lado, a Tati dorme o sono dos justos... e ronca! Muito engraçado gato roncando...)




    Já foi pior. Foi?

    Meu pai achou este anúncio tão engraçado que guardou durante anos. Eu pus numa moldurinha. Fica no escritório, ao lado da minha mesa.

    15.12.03





    Matusca, quem mais? Só ele pra melhorar o humor da gente...

    Valeu, múmia querida!



    Perdoai-os, Pai... que eu não consigo!

    É muito bom que o Saddam esteja finalmente preso e coisa e tal, mas... será que os americanos não vão aprender NUNCA?!

    Será que não percebem que humilhá-lo publicamente é afrontar os sentimentos de meio mundo árabe -- e de meio mundo ocidental, de quebra?! Por mais terrível que tenha sido seu poder, por mais mortes e miséria que tenha causado, Saddam é um prisioneiro de guerra. Prisioneiros de guerra devem (deveriam) ser tratados com dignidade; ou quem os capturou e pretende julgar a eles se iguala na barbárie.

    Já não bastavam as fotos dos filhos mortos expostas em todos os jornais do mundo?!

    Será que os americanos ainda não aprenderam que não se chuta cachorro morto?!

    Não, é óbvio que não aprenderam.

    Até porque, para eles, cachorro bom é cachorro morto.

    Os americanos que estão no poder -- que me perdoem aqueles americanos que, eu sei, estão tão revoltados contra isso quanto eu -- perderam de vez qualquer sentimento de humanidade.

    Passei o fim-de-semana abalada com uma das notícias mais chocantes que já li. Foi um "presente" do Juan Carlos, que a descobriu no Orlando Sentinel e a traduziu no seu blog:
    "Para os soldados americanos no Iraque, é contra o regulamento ter animais de estimação, mas o magro filhote preto que achou os soldados da Guarda Nacional da Flórida numa base ao norte do Iraque recusava-se a ir embora.

    Então, os soldados da Companhia Alfa do 2º Batalhão do 124º Regimento de Infantaria adotaram a cadela e chamaram-na de Apache, em referência à identificação da Companhia no rádio.

    Mas o regulamento do Exército finalmente alcançou a Companhia Alfa e Apache.

    Membros de famílias dos soldados disseram quarta-feira (10/12) que os soldados foram forçados a obedecer ordens e matar a cadela."
    Quem é o monstro maior: quem dá uma ordem dessas ou quem obedece?! Como é que alguém pode matar um animal inocente, que caiu no enorme, estúpido erro de gostar de humanos, por causa de um regulamento?!

    Enquanto isso, o cão cenográfico cuti-cuti da gang Bush faz gracinhas nos jardins da Casa Branca diante da imprensa, para garantir a sua continuidade no poder.

    Eu não sei mais o que pensar da atual mentalidade americana.








    Flagrei essa ceninha legal no almoço de fim-de-ano da Vivo. O camarada que está falando é Francisco Padinha, CEO da empresa: gente fina.

    Ver e fotografar

    Cara Cora,

    o mundo não é o que se fotografa. A percepção subjetiva de duas capivaras não depende de fotografá-las ou não. A observação é que faz com que você trabalhe seu cerébro. A superutilização dos gadgets faz com que fiquemos como a maioria dos japoneses, que viajam o mundo todo e não vêem nada, só fotografam. Vão ao Louvre, em Paris, param 10 segundos em frente à Monalisa e tiram cinquenta fotos. Na verdade eles não viram a Monalisa. Eles não repararam em nada na Monalisa, apenas fotografaram. Eles viajam a Paris, tiram 500 fotos, mas não conhecem Paris. Eles só vão conhecer Paris, quando estiverem no Japão, e forem ver as fotos. Então, eles passaram a conhecer Paris, mas apenas através de fotos, como a maioria das pessoas.

    Mas o mundo Cora, não cabe em rolos de filme ou em memory cards. Por isso, a superutilização de gadgets é maléfica. Fotografa-se tudo, estamos sempre plugados, mas não percebemos o que é real. Não sentimos os cheiros, não ouvimos os sons ao nosso redor, vemos de tudo, temos todas as imagens, mas não percebemos nada.

    Abraços,

    Paulo Celso Pereira


    Salve, Paulo Celso.

    Não posso te responder em nome dos japoneses, mas no meu, posso garantir que as coisas não são assim tão distintas: ver ou fotografar. Entendo que para quem tem pouca intimidade com a máquina fotográfica, a complicação de ajustá-la se sobrepõe ao gozo do momento; por isso, aliás, não faço foto submarina. Nunca cheguei a dominar bem o equipamento, e preferi continuar curtindo os peixes e corais sem estresse.

    Mas aqui em cima d'água, a máquina é uma segunda natureza para mim. Ela não está agindo em lugar do meu olho ou dos meus sentidos; está apenas anotando o que eu vi. Fotografar bem uma capivara, como, de resto, qualquer coisa, envolve um mínimo de convívio com o animal. Pode ser que haja gente com "quilometragem" de capivara igual à minha, mas maior vai ser difícil. Sei os horários das bichinhas e de onde vêm quando aparecem, conheço as suas manhas, fui possivelmente a primeira pessoa a fotografar as duas. Conheço a sua voz e o seu cheiro (que não é dos melhores), sei até quando estão de bom ou mau humor.

    Não subestime todos os fotógrafos (ou todos os usuários de gadgets eletrônicos) -- que tendem a ser pessoas muito curiosas e interessadas pelo mundo.

    Um grande abraço,

    Cora

    Estava trabalhando na minha correspondência, acabei de escrever essa carta e fiquei pensando por que ainda existe
    este preconceito em relação às máquinas, por que ainda existe essa noção de que ou se vêem as coisas ou se fotografa. Para mim, é tão óbvio que fotografar aguça a percepção do mundo!

    Na quinta passada, escrevi meio de brincadeira a respeito da reação dos gregos à escrita em detrimento da memória. Agora me pergunto se a reação do Paulo Celso -- comum à maioria das pessoas que não fotografam -- não tem um pouco a ver com isso, ou não é uma versão revisitada da velha cisma.

    Num exercício de retórica, poderia haver algo a ser dito em favor da memória sobre a escrita ainda hoje. Se soubéssemos apenas o que conseguimos decorar, se ficássemos restritos ao âmbito das nossas mentes, estaríamos, como estamos, afogados no tal information overload?

    Sei lá.

    Só tou pensando em voz alta.

    12.12.03





    Nada a ver com o "Espírito Natalino", mas que é engraçado é, né?

    Achei no blog da Bia Badaud dia desses, depois perdi aqui na confusão de JPEGs; hoje, procurando umas figurinhas, dei com ele novamente...


    Coração de estudante

    "Qual é a importância do Vale do Paraíba?"

    "O Vale do Paraíba é de suma importância, pois não podemos discriminar esses importantes cidadãos, já que existem o vale-transporte, o vale-idoso, porque não existir também o vale-do-paraíba??!!!"







    Flog in Rio ou
    Encontro de fotologueiros cariocas


    As fotos estão, naturalmente, no Fotolog; sugiro um passeio pelos flogs de quem foi (lista completa lá também).

    Há muitos flagras engraçados!


    Gracinha.com

    Taí: garanto que a Lúcia Guimarães nunca recebeu um cartão tão simpático quanto este, em que o Guilherme deseja Boas Festas para mim... e para a turma do blog!

    Muito obrigada, Guilherme! Beijos para você. Está todo mundo na torcida pela recuperação da Maria, viu?

    11.12.03



    Ego.com

    A Angela Fatorelli, do Bloggete, mandou muito bem:
    A jornalista Lúcia Guimarães, uma das apresentadoras do “Manhattan Conection”, dispara, no próximo número da revista “Argumento”, sua pena sofisticada contra a mania de todo mundo ter um blog e nele expor sua intimidade e a dos amigos. “O blog é o novo trenzinho elétrico do ego”, metralha.

    Essa nota está no Globo de hoje.

    Eu gostaria de comentar que sim, claro, prezada Lúcia Guimarães, o blog é um trenzinho do Ego. A senhora -- ou senhorita? -- não tem ego? Ah, eu tenho. Tenho mesmo. Mas não sou apresentadora de nenhum programa na televisão e nem tenho amigos que publicam toda e qualquer coisa que eu escrevo em revistas e jornais de nome besta.

    Eu tenho que usar uma ferramenta gratuita de publicação para comunicar aos outros minhas opiniões sobre o mundo, sobre as pessoas, e quiçá sobre as exposições de ego alheias, sacou, dona Lúcia?

    ::Ângela F. desconhecida na imprensa, mas feliz da vida com seu mondo blog::



    As invenções bárbaras

    Acontece: às vezes um filme acaba dominando completamente o panorama, como se fosse uma espécie de tema obrigatório da temporada. Já aconteceu com “Beleza americana” e com “Tiros em Columbine”, por exemplo, com “Cidade de Deus” e até com “Amélie Poulain”; agora, está acontecendo com “As invasões bárbaras” — que, apesar de estar em cartaz há mais de um mês, continua dando pano para as mangas. Gostei do filme, como todo mundo, mas, ao contrário da maioria (como é que eu sei?), não achei que está com essa bola toda. Para mim, o bonequinho estaria aplaudindo apenas sentado, vagamente perplexo com a comoção à sua volta.

    Os atores são excepcionais, a direção é excelente, o roteiro é ótimo — mas a questão central do filme, ainda que bem conduzida, é muito antiga para quem discute o assunto desde o século passado (o Vinte), quando o manifesto do Unabomber causou tanta celeuma.

    Rémy, o intelectual, reencontra Sébastien, o filho yuppie que, mergulhado em tecnologia e dinheiro, ama tudo o que o pai detesta e sabe, direitinho, como é que a banda toca. A relação entre os dois se refaz aos poucos, lindamente, em meio a um confronto contínuo entre idealismo vencido e pragmatismo vencedor. Os gadgets de Sébastien e a sua noção de que o mundo cabe inteiro na tela de um notebook ou de um celular são os vilões do filme — embora garantam a Rémy um fim de vida compatível com os seus ideais românticos. Money talks mais alto.

    Para muita gente, meu querido Arnaldo Bloch inclusive, o ponto alto do filme, ou pelo menos um de seus momentos emblemáticos, acontece quando Nathalie, uma junkie do bem, atira o celular de Sébastien ao fogo. Para essa galera de late bixos grilos , é um instante de libertação: “Chega, nerds ! Vivam a vida! Olhem a natureza! Conversem com as plantas e com as pessoas que estão ao seu lado!”

    Ora, simbolismo por simbolismo, para mim a cena representa uma metáfora da inquisição, queimando na fogueira da ignorância aquilo que não compreende. Assim, o Nokia em chamas passa a ser um pequeno Jan Hus de plástico e silício, ardendo em sacrifício pelo conhecimento e pelo progresso — com tudo o que a palavra carrega hoje de pejorativo. Só não exclama “ Sancta simplicitas !” porque o latim saiu de moda e porque, afinal, os telefones celulares são humildes e se abstêm de fazer juízo sobre as pessoas. Mas não é de todo impossível que o último pensamento a cruzar seu chip tenha sido “Holy shit!”, o similar inculto da língua franca do nosso tempo.

    * * *

    Digo tudo isso mas, na verdade, não estaria aqui falando do filme (que, a meu ver, já foi discutido à exaustão: próximo assunto, por favor) se o Arnaldo não tivesse tocado no tema e trazido à tona, na sua crônica de sábado passado, velha discussão recorrente entre nós. Ele acha que devemos restringir o consumo da tecnologia a um mínimo, ao passo que eu acho que devemos explorá-lo ao máximo.

    Não há nem como, nem por quê, reverter o tempo e voltar a um mundo que já não existe. Nosso cordão umbilical está irremediavelmente ligado a saídas USB e fontes de energia.

    Quando digo que não sou ninguém sem as minhas máquinas, isso não significa que a minha identidade está nelas, mas sim que elas expandem a minha mente e as minhas ações para muito além do que pode ir a frágil estrutura de carne e osso que usamos para carregar nossos cérebros de um lado para outro.

    * * *

    Pergunto: para que limitarmos as nossas fronteiras? Como se isso fosse possível! As máquinas não nos afastam das pessoas ou da natureza, pelo contrário; elas ampliam a nossa compreensão do mundo e estendem o nosso afeto, mostrando aos amigos quem somos, onde estamos, o que vemos e o que sentimos.

    Cada ponto numa rede, cada website, cada blog ou fotolog correspondem, sem exceção, a pessoas como nós. Vivinhas, de carne e osso, talvez existindo como matéria em outra latitude mas, como espírito, muitas vezes mais próximas do que os nossos vizinhos de porta.

    Reconheço que lidar com essa abstração nem sempre é fácil para quem ainda vê as máquinas como um fim em si mesmas. É normal, isso. Sempre que a Humanidade muda de paradigma, há quem lamente o que se perdeu: já na Grécia antiga houve quem se revoltasse contra a escrita, aquela função vulgar de escravos que pôs a perder o belo hábito milenar de se trazer todas as histórias na memória.

    * * *



    Ainda outro dia discuti isso mais uma vez com o meu amigo, ao nos encontrarmos em plena Lagoa. Eu ia andando devagarinho, observando cada detalhe e fotografando aqui e ali; ele ia velozmente, pedalando a sua bike .

    — Deixa essa máquina para lá — admoestou. — Você está vendo o mundo através de uma lente!

    Taí: se estou, não tenho reclamações. Ando bem contente com essa lente, que já me mostrou lesmas, peixes variados, biguás, garças e socós — sem falar em duas lindas capivaras.

    Um dia, quando estiver a pé, ele ainda vê uma delas.


    (O Globo, Segundo Caderno, 10.12.2003)



    Brasil!

    Acabo de ver o video da música que venceu a Califórnia da Canção Nativa, no Rio Grande do Sul, um baita festival regional. Chama-se "Laçador de Barro", é da autoria de João e Borges e o video é da Santo Expedito Produções Possíveis, dos meus amigos Fábio e Jaq.

    Pode ter coisa mais brasileirinha, mais gostosa do que tudo isso?

    Eu amo este país! :-)

    Para ver e ouvir a música clique aqui e, ao pedido da senha, digite 7F9F67D3.




    Enquanto isso, no site Dirce, ao qual cedi minhas fotos...

    "Gerard Depardieu, sorria: você está sendo fotografado!"

    Huahauahuahauhauhauha!!!

    Alguém comentou lá no fotolog, e eu não posso concordar mais enfaticamente: se não tivessem proibido fotografar, eu não teria tido uma fração da diversão!

    10.12.03



    Meetup do Rio

    Hoje é dia de meetup, aquele popular encontro de fotologueiros que se realiza, na segunda quarta-feira do mês, em todas as cidades onde existem fotologueiros.

    O do Rio vai ser no Lord Jim.

    Estou saindo às carreiras, atrasadíssima. Peço por favor ao primeiro fotologueiro que aparecer por aqui e que tenha o endereço e horário que deixe esses "pequenos detalhes" nos comentários...

    É que o Fotolog propriamente dito está fora do ar e, portanto, não estou conseguindo chegar aos amigos que já postaram a informação para pescá-la para cá.

    Valew!

    FUI.

    E vou.


    Celebridade

    Gerard Depardieu está rodando umas cenas no Rio. Topei com a equipe de filmagem por acaso quando desci aqui, voltando de São Paulo.

    Uma moça grossa e pouco inteligente me proibiu de fazer fotos... mesmo à distância!!!

    -- Nem uma fotinha?! Isso é um espaço público! Faço uma foto e pronto.

    -- Não senhora, nem uma.

    Bom, não sei vocês, mas comigo o melhor convite para fazer qualquer coisa é dizer que está proibido. Assim, dei a volta, fui para trás do vidro e... clic, clic, clic.

    Infelizmente eu quase não tinha mais espaço no cartão. Apagava fotos do vôo e clicava o Depardieu quando ele aparecia.

    A certa altura ele percebeu que eu estava fotografando e fez um gesto obsceno para mim. O diretor começou a gesticular também e a tal moça foi chamada novamente.

    Antes que ela conseguisse dar a volta para me pegar, saí de fininho, peguei um taxi e mandei tocar pro Globo.

    É lógico que uma das fotos está na edição de hoje, na página 2... :-D


    Ninguém merece!

    É assim: você fica escrevendo coluna até às seis da manhã; vai dormir, aos trancos e barrancos, às 6h30; acorda às 9h30 para ir para São Paulo trabalhar; encara uma Ponte Aérea turbulenta e atrasada; vê o Depardieu filmando no Santos Dumont e se desentende com uma moça desagradabilíssima que proíbe fazer fotos; corre para o jornal; termina a coluna, resolve uns pepinos e abre a mailbox.

    Aí encontra um cretino desses.

    OK. Eu sei que não se amplia a voz dos imbecis. Mas, putz, tem hora que cansa, viu?!

    Como eu acabei de dizer lá no Fotolog também: ARGH!!!!!
    "Também sou jornalista e tenho uma produtora de vídeo. Li sua matéria dia 8/12/2003 sobre a câmera Kodak DX6490. Vi as duas fotos da inauguração da árvore da Bradesco que, segundo você foram tiradas da janela do quinto andar do seu apartamento na Lagoa.

    Muito estranho. Eu estava lá, no palco, gravando o coro das Meninas Cantoras de Petrópolis. Me desculpe, consultei outros fotógrafos e diretores de arte amigos e todos foram unânimes emafirmar o que vi na hora que olhei suas fotos: a foto menor - que seria o super zoom da Kodak, está num angulo que só poderia ser tomado ao nível do palco, e nunca do quinto andar! eu mesmo fiz tomadas que estão quase no mesmo plano.

    Repare que a foto maior revela o teto dos automóveis, da barraca... No mínimo, o coral apareceria no mesmo ângulo, a menos que, além de um zoom muito poderoso, a Kodak também venha equipada com uma grua... E ainda assim, infelizmente, as árvores ficariam na sua frente!

    Muito estranho...Se foi uma ilusão de ótica, seria legal você explicar. Tenho certeza que qualquer um que fotografe regularmente vai estranhar também.

    Grande abraço,

    Heber Lobato Jr."

    8.12.03





    Tutu, mandando uma mariposa covarde tomar vergonha na cara e descer lá de cima para enfrentá-la feito gente.




    DX6490: show de câmera!

    Até eu levei um susto: segundo o contador da máquina, em pouco mais de um mês fiz 3.743 fotos com a Kodak DX6490 (mais da metade, provavelmente, dos meus gatos...). A explicação é simples: ela é uma das melhores câmeras digitais que usei, e quando a experiência é tão compensadora, a gente tende a repeti-la. Dois detalhes combinados a tornam única — o sistema Easy Share, do qual falei no outro dia, e que realmente muda a relação da gente com as câmeras (e a delas com os computadores) e o fenomenal zoom óptico 10x, cuja performance vocês podem avaliar pelas fotos.

    As da festa da árvore foram feitas da minha janela, no quinto andar; as da praia, do 37 andar do Méridien. Ainda por cima, através de janelas escuras! (Para ver mais exemplos de fotos, e toda a seqüência do zoom, vá ao meu fotolog, em www.fotolog.net/cronai). Nos dois casos, além de toda a extensão óptica do zoom, usei também o zoom digital 3x, de que em geral não gosto, mas que aqui funcionou bastante bem.

    O segredo do espantoso zoom da Kodak DX6490 pode ser resumido em três nomes: Schneider-Kreuznach Variogon. Poucas câmeras podem se gabar de ter lentes com tal pedigree — inclusive, poucas câmeras até da Kodak, que as reserva para o seu topo de linha. É lógico que, com um zoom desses, ela não é uma câmera de bolso — mas, ainda assim, é pequena e leve o suficiente para caber na bolsa sem incomodar. Além de tudo, é um objeto muito bonito, com um design sóbrio e enxuto.

    Mas há outras coisas de que gostei muito nela, além do design e do zoom poderoso. A bateria, por exemplo, que segura as pontas com extrema galhardia; o LCD, que é grande, claro e tem ótima resolução; o visor eletrônico, que em casos de muita ou pouca luz, de fato funciona; os botões dos comandos mais usados ao alcance dos dedos.

    Como todas as Kodak, a DX6490 é facílima de usar, quer a gente trabalhe em modo automático, quer deseje ter maior controle sobre as funções; ao contrário das irmãs, porém, ela oferece uma alternativa menos “mastigadinha” do software, o que achei uma felicidade, e algo a ser incorporado às demais câmeras de primeira linha da “família”.

    A qualidade da imagem, que vai a 4 MP, é ótima em todas as circunstâncias, inclusive à noite, e até com flash. Ela usa cartões MMC ou SD, e custa R$ 2.997. Há muitas outras coisas interessantes a respeito dessa grande máquina; recomendo uma visita ao seu site, em wwwbr.kodak.com.


    (O Globo, Info etc., 8.12.2003)

    6.12.03





    Fiz esta panorâmica de Copacabana do alto do Hotel Méridien, no Leme.


    =^..^=

    TESTE!

    Você sabe distinguir um gato de uma gata?

    Estou falando em quadrúpedes, naturalmente... (a minha pontuação foi 11/16).

    Valeu, Rinatinha, muito obrigada... :-)))




    Keaton, pensando no sentido da vida...


    Haja pixel!

    Um amigo me mandou, há alguns dias, o link para uma foto extraordinária, que só tive sossego para ver agora: uma imagem do Bryce Canyon montada a partir da colagem de 196 fotos de 6 Megapixels cada.

    São 40,784 x 26,800 pixels no total, ou seja, cerca de 1.09 bilhão de pixels.

    É muito pixel!

    Mais uma façanha de Max Lyons, que vem se dedicando a fazer imagens digitais cada vez maores e mais detalhadas. Para quem gosta de foto digital e lê inglês, passear por lá oferece bem mais do que lindas figurinhas.

    5.12.03




    Plantão Capivara

    A capivara vascaína está ficando muito exibida!

    Logo depois de ser flagrada pelo Marcelo Soares, posou para o RockRJ, inteiramente na dela.

    Já já começa a se queixar de que não agüenta mais a vida de estrela, e que os paparazzi não lhe dão sossego...





    Notícias da Bia

    A Bia está bem melhor.

    Além do tratamento médico de primeira que recebeu, várias distrações a estão ajudando a não pensar nas queimadurinhas.

    A Mayra, amiga dela desde pequenininha -- sim, meninos, a Mayra (1m77) já foi pequenininha! -- está passando uns dias aqui em casa antes de seguir para Barcelona, para onde está se mudando de vez.

    Os gatos, muito sensíveis, estão fazendo o que podem para mostrar que estão solidários: sobem no trabalho, mordem a canela, pedem colo.

    Finalmente, um frila que era para ser uma entrevistinha simples, a ser entregue na semana que vem, revelou-se um compêndio de celebridades, com um monte de entrevistas... a ser entregue ainda hoje!

    Resultado: o Bipe mergulhou em telefonemas, apurações, textos.

    Foi dormir ainda agora.

    Não só está doidinha, como está deixando a Mayra, aos gatos e a mim igualmente birutas.

    Em suma, a casa voltou (quase) ao normal.

    4.12.03



    Um grande susto, uma grande amiga

    Tivemos um acidente doméstico no domingo passado.

    A Bia foi pôr uma pizza no forno, que explodiu quando ela se abaixou para ver se estava ou não acesso. Eu, trabalhando sossegada no escritório, levei o susto da minha vida quando ouvi ao mesmo tempo o barulho e o grito dela; voei para lá, sem ter idéia do que havia acontecido -- o barulho podia ser qualquer coisa, de geladeira caindo a terremoto -- e a encontrei no meio de um monte de fuligem, com os cabelos ainda fumegantes, a cara toda preta, chorando de dor.

    Coitado do meu bípede!!!

    Passei a mão no telefone e liguei para a querida Dra. Vânia, que muitos de vocês conhecem como Bia Badaud. Cirurgiã plástica com grande experiência em tratamento de queimados mas, sobretudo, muito bom senso e muito coração, ela era exatamente a pessoa de quem a gente precisava.

    Nós nunca havíamos nos encontrado em pessoa antes, mas, para mim, isso não fazia nenhuma diferença. De ler constantemente o que escreve, tanto aqui nos comentários quanto no seu próprio blog, eu tinha certeza de que não havia ninguém melhor para acudir a sua quase xará.

    Dito e feito. Logo a nossa doutora estava aqui. Olhou a Bia, medicou-a, tranquilizou-a.

    Tranquilizou igualmente a mãe da Bia, assaz assustada -- e que nem sabe como agradecer a competência, a atenção e o carinho da amiga. Que, no dia seguinte, como médica e amiga ciosa, estava de novo aqui, fazendo curativo, conversando, nos deixando contentes e alegres.



    Felizmente, a maioria das queimaduras da Bia foi superficial; o nariz ficou um pouco mais bem passado do que devia, mas com os devidos cuidados não ficará marcado.

    Ontem ela já voltou ao trabalho, onde foi prontamente apelidada de Rena do Nariz Vernelho.

    PS: Com o coração do Keith Haring vai um agradecimento muito especial também para o Marquinhos, um dos nossos melhores amigos, também médico e muito querido, que acudiu com remédios, carinho e histórias engraçadas para fazer a gente rir depois do susto.





    Há meninos brancos em Angola

    E o céu de Silva Pinto, simplesmente magnífico


    "Não me digas que em Angola não há um garoto branco... um velho de olhar terno para fotografar?” — perguntaram, dia desses, ao Silva Pinto, o amigo angolano de tantos brasileiros, mestre em registrar os fatos (sem perder a ternura jamais). Uma provocação seguida do que eu, admiradora do seu trabalho, considerei no mínimo um desaforo: “Não alteres muito os tons ao céu com programas de fotografia... perde a graça.”

    Não é à toa, porém, que o homem tem aquela elegância toda. Confiram sua resposta:

    “Garoto branco, garoto negro, garotos “todos iguais, todos diferentes”, todos garotos, será que assim é, será que é assim que as coisas acontecem na minha realidade. Bom, como tu deves saber eu vivo em Luanda, Angola, vivo em África onde a população negra é maioritária. Em Luanda, há garotos brancos, sim, há meninos e meninas brancas, há meninos e meninas negras. Se me perguntares se vivem todos da mesma maneira, estou tentado a dizer-te, sem te mentir, que não, que a esmagadora maioria dos meninos negros da minha terra não vive da mesma maneira que a maioria dos meninos brancos.

    Os meninos brancos de Luanda, são, em regra, filhos de expatriados trabalhadores das petrolíferas, das ONGs, das companhias estrangeiras, do Corpo Diplomático acreditado em Angola, e de poucos cidadãos europeus que por razões profissionais cá se fixaram ou por cá se deixaram ficar. Majoritariamente estrangeiros, portanto, vivem nos luxuosos e caríssimos bairros residenciais de Luanda, em enormes casas cercadas de muros altos bordejados de arame farpado ou cacos de garrafa com guarda fardado à entrada, não têm falta de água nem de electricidade, freqüentam as escolas privadas caras de Luanda, não andam a pé, deslocam-se de carro com motorista, não têm paludismo, têm piscina no jardim, não comem uma bucha sentados no chão, têm pai, têm mãe, têm cartão de vacinas, sabem onde nasceram, sabem o dia e a hora em que vieram a este mundo, têm brinquedos, têm sonhos de menino, não são surrados por dá cá aquela palha pelo primeiro que aparece e tem necessidade de descarregar raivas antigas, dormem o sono tranqüilo e fresco dos anjos velados por uma bábá de serviço (essa sim, quase sempre negra) que até fala a sua (deles) língua.

    Fotografar estes meninos será sem dúvida tarefa interessante, será também tarefa muito árdua. Imagina tu o que me fariam se me apanhassem empoleirado num escadote de câmera apontada a fotografar as crianças loirinhas e lindas do Sr. Fulano de Tal, em amena brincadeira à volta de uma piscina, numa qualquer tarde quente? No mínimo seria acusado de qualquer coisa bizarra. Os meninos que eu posso fotografar são os meninos com quem eu cruzo na rua diariamente, que me chamam Tio, que têm fome (alguns), que sorriem, que choram, que brincam, que não têm guardas nem babás, que têm como piscina o charco no passeio feito pela última chuva ou pela conduta de água da Epal que estoirou e nunca foi reparada, que não têm hora de regressar a casa, ou porque simplesmente não a têm, ou porque ninguém os espera para jantar.

    Os velhos de olhar terno, esse já é outro assunto. A esperança de vida em Angola, como deves saber, é de tal forma das mais baixas do mundo que encontrar um velho já é difícil, então encontrar um com olhar terno será, direi eu, um acaso muito feliz. Sabes, eu não exploro a miséria, seria até muito fácil para mim fazê-lo, nem a tristeza, eu não invento a dor nem o sofrimento, eu não fabrico poses nem sorrisos, eu não fabrico imagens chocantes pelo simples prazer de incomodar. Por uma questão de princípios e de respeito próprios, e pelos outros que fotografo, eu só capturo o que me toca, nada do que fotografo é falso ou artificial, tudo o que vês nas minhas fotos existe, é palpável, é natural, é verificável.

    Vem ver ou pergunta a quem já viu, como é que é um céu da minha terra, um pôr-do-sol da minha terra. Quem sabe eles se lembrem e te digam que é… simplesmente magnífico. Se quiseres, os ajustamentos que faço às minhas fotos no computador são os mesmos que, há uns anos atrás, se faziam no ampliador, quando se escolhiam os tempos de exposição, fabricavam máscaras para proteger zonas e queimar mais outras, se utilizavam determinados reveladores e emulsões para se obterem determinados resultados. Se já fizeste cópias de contacto, tiras de teste, escolheste filmes e papéis em função de efeitos que queres criar, deves saber do que estou a falar. Os meus azuis são mesmo azuis, as minhas cores são mesmo cores. Não as altero, não as modifico, não as fabrico, estão aí para quem as quiser apanhar.

    Agora, sejamos realistas, e deixemo-nos de falsos purismos. A fotografia é uma arte, é emoção, mas também é técnica. Ou por acaso supões que os grandes fotógrafos não usam filtros, não polarizam os céus, não ajustam contrastes? Se calhar, eles não o fazem, mas tem quem faça por eles…

    Valha-me Nossa Senhora dos Recados, que isto hoje já vai longo.

    Volta sempre.”


    (O Globo, Segundo Caderno, 4.12.2003)

    Outro texto que vocês leram antes aqui; mas achei que seria uma pena deixá-lo restrito ao universo ainda reduzido das pessoas que lêem blogs e vão ao Fotolog, tendo aquele lindo espaço disponível lá no jornal...

    3.12.03










    Plantão Capivara

    A capivara do Vasco foi vista ontem!

    Fiquei muito contente, já não tinha notícias dela há alguns dias. O melhor é que, dessa vez, foi até fotografada.

    Aí vai o relato do feliz caminhante que a encontrou:
    "Ontem à noite, andando pela Lagoa, encontrei a famosa capivara! O bichinho estava em frente à igreja Nova Vida, logo depois do Clube Náutico, comendo o capim à beira d´água.

    Não é que é enorme? Depois de três flashes ela resolveu ir embora, e calmamente mergulhou na água. Realmente um barato!"(Marcelo Soares)
    Valeu, Marcelo, muito obrigada!

    2.12.03





    Naturalmente

    Um dia começaram a aparecer no Fotolog umas fotos deslumbrantes de bichinhos esquisitos, daqueles que costumam pôr a gente para correr, como cobras, sapos e outros seres escorregadios. As fotos eram macros gloriosas, tão boas que a gente jurava que o dono daquele específico fotolog, o Naturalmente, estava tirando aquelas maravilhas de publicações especializadas.

    E não é que estava mesmo? Mas não, não se trata de um caso descarado de plágio. Quem está por trás do Naturalmente é a portuguesa Isabel Catalão, fotógrafa especializada em répteis e anfíbios, e autora de algumas das mais lindas fotos de natureza que já vi. Várias delas vão, mesmo, parar nas grandes revistas e nos salões de exposições de museus e universidades do mundo todo, que Isabel percorre como conferencista.

    Quando está em casa, ela colabora, particularmente, com o grupo de herpetologia do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (ufa!). Quer dizer: pouca gente conhece cobras e lagartos como ela — e nem pensem que aqueles closes de serpentes sorridentes e sapos saltitantes se obtém com zoom, à distância. A moça é valente mesmo, e trabalha sempre a poucos centímetros dos seus modelos.

    Nos momentos em que deixa o seu mundinho animal, Isabel Catalão fotografa os sítios históricos de Portugal — e, claro, dá um show de bola. Tinha que ser: afinal, castelos medievais não se mexem, não pulam e, sobretudo, não mordem. Para ver as fotos deslumbrantes dessa Indiana Jones das imagens, vá ao seu fotolog, em www.fotolog.net/naturalmente. E, para saber mais sobre ela (e ver mais umas fotinhas) vá ao seu website, em www.isabelcatalao.com.

    Você nunca mais vai ver um sapo com os mesmos olhos.

    (O Globo, Info etc., 1.12.2003)

    Sim, sim, vocês leram (quase) o mesmo texto aqui antes.

    Vantagens da publicação online, em geral, e do blog, em particular... ;-)

    1.12.03




    Uma espécie de Fotolog antigo

    A Laura acaba de me ligar no auge do entusiasmo: descobriu The Web Gallery of Art, um dos websites mais bonitos do ciberespaço. Nele, há quase 12 mil reproduções de pintura e escultura européia produzida entre os anos 1150 e 1800. Muitas obras estão comentadas, há biografias dos artistas mais importantes e a navegação está extremamente bem resolvida.

    Os quadros podem ser encontrados usando-se os mais diversos critérios de busca; há visitas guiadas, que facilitam a compreensão da galeria e das ligações artísticas e históricas entre as obras; e pode-se até usar um navegador com tela dupla, que permite carregar dois quadros ao mesmo tempo, para facilitar comparações. Não há nenhum dispositivo impedindo a cópia das imagens, que podem também ser enviadas como cartões eletrônicos.

    A galeria é um autêntico tesouro, uma espécie de Fotolog da Grande Arte. Permite até que se escute música do período que se está vendo. Não se recomenda a ninguém que precise realizar algum trabalho urgente (ou, aliás, qualquer tipo de trabalho) que vá até lá.

    Em tempo: este site é húngaro...