31.12.08
30.12.08
29.12.08
(Nikon D60)
(Nokia N95)
Algumas dicas para fotografar o Réveillon
E, novamente, chegamos àquele momento crítico do ano: levo ou não levo a câmera para o Réveillon? Fotografo os fogos ou mergulho de cabeça na festa? As dúvidas são muitas, atrozes e justificadas. Não é todo dia que a gente tem um foguetório feito o do Ano Novo para fotografar; também é verdade que não é todo dia que a gente tem uma festa como a do Ano Novo para curtir.A questão, como sempre, é de foro íntimo. Mas o que não dá é deixar a festa pra lá, se concentrar na fotografia... e só conseguir borrões indignos do espetáculo. Aqui vão, portanto, algumas regras básicas e simples para obter boas fotos dos fogos.
O local: sem um bom ponto de vista, o resto é inútil. Portanto vá um pouco mais cedo para a praia, para a casa do tio que tem aquela vista linda ou para onde quer que você decida passar a virada, para poder ter o privilégio de escolher bem o seu cantinho. Este será um passo decisivo para o resultado das suas fotos.
O tripé: eu sei, é uma chatice passar o Ano Novo ao lado daquele trambolho, mas, infelizmente, sem um bom tripé, é praticamente impossível fotografar fogos decentemente. Qualquer tripé estável quebra o galho. Em última instância, se você não tiver tripé ou não quiser levá-lo consigo, garanta pelo menos um bom ponto de apoio para a câmera – uma mureta, uma mesa, qualquer superfície sólida e firme. Se nem isso estiver ao seu alcance, apele, e fotografe a multidão olhando os fogos. Sempre haverá um brilho lá atrás e, com sorte, alguma cena legal ali em frente.
A foto maior desta página, por sinal, foi feita assim, com uma Nikon D60; a menor, já publicada no Segundo Caderno, foi feita com o Nokia N95. A queima de fogos na inauguração da árvore da Lagoa, este ano, pegou muita gente no susto, eu inclusive. Felizmente a cerca funcionou como um apoio razoável e tive a sorte de ter, em primeiro plano, um casal amoroso e lindo.)
A exposição: as recomendações acima são necessárias porque fogos de artifício devem ser fotografados em exposições longas, entre um e três segundos (há quem recomende até quatro). O ideal é usar o ISO mais baixo possível, para garantir a nitidez; mas, vocês sabem, quanto mais baixo for o ISO, maior deve ser a exposição. A maioria das câmeras digitais compactas tem, no menu, uma opção específica para fotografar fogos. Se este for o caso da sua, você já está com meio caminho andado.
O foco: esqueça o auto-foco e ponha a câmera em infinito ou, se ela não oferecer essa opção, em paisagem, que dá na mesma.
O equilíbrio de branco: nunca experimentei essa opção, mas vários fotógrafos experientes recomendam que se escolha tungstênio. Isso evitaria a predominância do vermelho.
Clicar fogos com câmeras de celulares é um jogo de azar: só Deus sabe o que vai sair. Se o seu aparelho permite filmar, use essa alternativa. Na minha experiência, os filmes de queimas de fogos feitos em celulares saem sempre melhores do que as fotos. Caso contrário, ponha no automático e mande ver. O que importa mesmo é torcer para que 2009 seja um grande ano para todos nós.
Até lá!
(O Globo, Revista Digital, 29.12.2008)
Na Forbes há uma pequena matéria com as dez casas mais caras à venda mundo. A maioria fica nos Estados Unidos (onde mais, né?) mas há ofertas na França (como a da foto), na Rússia e na Inglaterra.
Não sei para quê alguém pode querer uma coisa dessas -- exceto, talvez, para transformar em hotel -- mas vai que algum de vocês se entusiasma... ;-)
28.12.08
La Dolce Vita
Mamãe, numa foto da Laura, em que testei efeitos do Picasa
Nega
A nova estrelinha da casa
A chuva atrapalhou meus planos de fotografar, passear pelo jardim e brincar com os cachorros, mas nem por isso falta o que (não) fazer aqui no sítio. Além do gatinho que o Thiago já trouxe duas vezes para nos visitar, a Nega aparece todo dia e diversos passarinhos vêm comer frutas e tomar banho na varanda.
Ainda não vi os jacus, mas já vi uns sanhaços, umas saíras, uns sebinhos; ouvi um bem-te-vi, mas não descobri onde estava.
Como de hábito, uma vez aqui, não ponho os pés fora dos limites do sítio. Me sinto muito bem na minha toca, ao ar livre ou não, para enfrentar trânsito, cidade, gente.
Cheguei à conclusão de que, sempre que venho para cá com chuva, acabo fazendo um spa ao contrário. Num spa a gente acorda cedo, faz exercício, não para quieta e não come nada. Aqui durmo até tarde (até pelos meus parâmetros!), não faço nada além de ler e de brincar com os celulares, e saio totalmente da dieta -- ou da "reeducação alimentar", para ficar com o termo politicamente correto.
É que a Jandira fica nos mimando com todos os nossos pratos favoritos e, mesmo que eu conseguisse resistir, seria uma indelicadeza não corresponder com entusiasmo às suas proezas culinárias.
A essa altura, todo mundo já voltou para o Rio, com exceção da Laura (que fica até o Ano Novo) e de mim (que comemoro no Rio). Por causa dela, que é fã de seriados, assisti a uma quantidade de episódios de Two and a Half Men. A série é ótima, mas as risadas enlatadas me dão nos nervos de tal maneira que acabo desistindo de prestar atenção.
Também assistimos a dois filmes que concorrem, fácil, para aquela célebre lista dos Dez Piores: Expresso Polar, que pelos créditos me parecia legal, e Mamma Mia!, que fisgou a Laura pelos atores.
Oh well.
Também era querer demais que, além de tudo, todos os filmes fossem ótimos...
27.12.08
Estamos todos apaixonados pelo bichinho!
A história dele é a seguinte: a mãe o abandonou assim que nasceu, há 12 dias. Meu palpite é que foi prematuro, porque diz a Jandira, que trabalha aqui com Mamãe, que ele nem pêlo tinha, ao passo que o irmão, estranhamente, nasceu todo completinho.
(Esse outro, o que foi aceito, está sendo cuidado não só pela mãe, como por uma outra gata que mora na vizinhança.)
Quem achou o coitadinho rejeitado foi o Ezequiel, marido da Jandira, que o levou para casa. O Thiago, filho da Jandira e do Quiel, e neto postiço da Mamãe, logo começou a tratar dele (ou dela, ainda não sabemos).
O veterinário ainda está reticente em relação às suas chances, mas ele está sendo tão bem cuidado que acho que tem tudo para vingar.
Mas logo o Harold Pinter?!
Sítio tem dessas coisas: passei o dia sem internet e, sinceramente, nem me fez muita falta. Agora que a conexão voltou, dei um giro por aí e descobri, chocada, que Harold Pinter morreu no dia 24.
A notícia ainda não estava no seu site quando fui até lá.
Gosto de muitas pessoas, mas admiro, com reverência, muito poucas. Pinter -- ator, diretor, escritor e pensador extraordinário -- era uma delas.
O mundo não merecia uma notícia dessas em pleno Natal.
A notícia ainda não estava no seu site quando fui até lá.
Gosto de muitas pessoas, mas admiro, com reverência, muito poucas. Pinter -- ator, diretor, escritor e pensador extraordinário -- era uma delas.
O mundo não merecia uma notícia dessas em pleno Natal.
Fôlego para encarar a vida
Todos nós temos desejos ocultos. Um dos meus sempre foi usar o termo Bildungsroman, que, como outras palavras compostas alemãs, dá a qualquer texto, imediatamente, um ar de grande densidade acadêmica. Pois chegou a minha hora! Bildungsroman é a definição chique para romance de formação, vale dizer, aquele em que eventos da vida do personagem na infância e na juventude são narrados em detalhes que nos levam a entender como a criança se transformou no adulto que é. O grande Bildungsroman da minha geração, por exemplo, foi “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Sallinger; não é coincidência que eu tenha me lembrado tanto de Holden Caufield quando terminei de ler as aventuras de Bruce Pike, o Pikelet, herói de “Fôlego”.
Parece pretensão usar palavra tão pomposa para um livrinho de meras 252 páginas, metade das quais gastas na descrição de ondas e das diversas sensações de atravessá-las (ou não) em cima de uma prancha; mas, à parte o número de páginas, se há uma coisa da qual não se pode chamar o romance de Tim Winton é de livrinho. Extraordinariamente bem construído, duro e poético ao mesmo tempo, nostálgico e dolorido, ele continua conosco tempos depois de terminadas as tais 252 páginas.
Pikelet, o narrador, cresce no interior da Austrália, numa minúscula cidade dominada por uma serraria, por algumas fazendas e pelo tédio. Diverte-se pescando, nadando no rio e disputando com seu amigo Loonie quem fica mais tempo embaixo d’água sem respirar. Um dia vão até o mar, distante uns poucos quilômetros, e vêem, pela primeira vez, alguns surfistas nas ondas. Aquele é um momento de revelação: “O quanto era estranho ver aqueles homens fazerem algo belo. Algo sem sentido, algo elegante, como se ninguém estivesse vendo, como se ninguém se importasse.”
A partir daí, nada será como antes. Pikelet e Loonie entregam-se ao surfe de corpo e alma, e em breve, para inveja dos demais garotos com quem dividem a praia, são “adotados” por Sando, um americano cheio de mistérios, que enfrenta monstros inimagináveis do alto de sua prancha antiga e dos seus trinta e tantos anos. Incentivados por ele, buscam situações cada vez mais perigosas: escapar da morte passa a ser a prova irrefutável de que estão vivos. Qualquer outra coisa é... bem, qualquer outra coisa.
“Tudo ao meu redor parecia não ter sentido algum, parecia pequeno demais,” lembra Pikelet. “Na rua, os moradores do lugar pareciam covardes, fracos, ordinários. Onde quer que eu fosse, eu me sentia como a última pessoa acordada num aposento cheio de gente adormecida.”
Mais adiante, Eva, mulher de Sando, esquiadora radical cuja carreira foi interrompida por um acidente, e ela mesma uma espécie de dependente química de situações de risco, observa que, quando o fazendeiro vai a Paris, não quer mais voltar para a fazenda. Pois da Paris de um mar assustador, onde às ondas grandes junta-se um eventual tubarão branco, Pikelet e Loonie não conseguem mais voltar à fazenda dos sentimentos comuns, corriqueiros.
Há, porém, uma diferença importante entre eles. Por trás da coragem de Loonie nota-se um elemento de auto-destruição que falta a Pikelet. A amizade entre os dois começa a se desfazer na Nautilus, uma onda “tão feia quanto um monumento cívico”, que Pikelet tem o bom-senso de evitar. Como esta não é uma história a respeito de bom-senso, Sando passa a dar preferência a Loonie, e sobra para Pikelet a companhia de Eva. Difícil saber qual dos dois meninos enfrenta o pior perigo.
Ao contrário do que essas linhas gerais podem dar a perceber, “Fôlego” não é um livro sobre o surfe, ainda que tenha as mais lindas e emocionantes descrições de ondas que já li, assim como arrepiantes retratos da natureza australiana. Como em todo Bildungsroman (ha!) de respeito, suas páginas são atravessadas principalmente por sentimentos e conflitos, e pela inevitável amargura do amadurecimento. Gostar ou não gostar de surfe é indiferente para apreciar o romance, muito embora seja difícil terminar sua leitura sem, pelo menos, compreender um pouco melhor o que leva um ser humano a desafiar uma parede de água que não está nem aí para a sua presença.
A maior pista do tema de Tim Winton está no título, uma palavra mais abrangente em inglês do que em português: “breath” é fôlego, sim, mas é também respiração, inspiração, trégua, hálito, momento, sopro, momento, pausa, alento... To breath or not breath, eis a questão; eis a tênue fronteira entre a vida e a morte. Ter fôlego, por outro lado, é apenas uma questão de preparo físico. Tanto quanto a água, ou até mais, é o ar o grande elemento deste romance deslumbrante e inesquecível.
Em tempo: a diferença entre “breath” e “fôlego” é uma idiossincrasia lingüística, e não culpa da tradutora Juliana Lemos, que fez um excelente trabalho. O livro contou ainda com a revisão técnica de Fred d’Orey, que não só sabe tudo sobre as ondas, mas é, também, um craque com as palavras.
(O Globo, Prosa e Verso, 27.12.2008)
26.12.08
25.12.08
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