30.6.09

Mais um Airbus... (ou menos um)

Coincidências acontecem, mas estão acontecendo coincidências demais com os Airbus, vocês não acham? Eu não tenho nenhum medo de voar, mas confesso que olhei os A320 em que embarquei para Manaus meio de banda.

Os Airbus são, além disso, os aviões mais apertados e desconfortáveis do mundo; a Tam, por exemplo, devia ter vergonha do espaço entre as poltronas nos seus vôos domésticos.

Aliás e a propósito, a Tam devia ter vergonha de várias outras coisas, entre elas o uso predatório que dá aos aeroportos SDU e BSB. Nos tempos da Varig, voava-se para Manaus do Galeão. Havia vôos diretos e com escalas, mas escalas que faziam algum sentido.

Com a Tam voa-se do Santos Dumont e faz-se conexão -- leia-se troca de avião -- em Brasília. Isso porque a última coisa em que a empresa pensa é no conforto do usuário, seja em terra, seja no ar.

Resultado: tanto o Santos Dumont, que só devia ser usado para vôos curtos, quanto o Aeroporto de Brasília, que virou hub para todos os destinos no Norte-Nordeste, ficam intransitáveis -- tudo para que a Tam possa atochar mais e mais passageiros a bordo.

Que companhia ABOMINÁVEL!!!

Millôr, Hélio, Chico




Lula e Bianco




O que o seu mestre mandar...




29.6.09

Ganhou o Boi Garantido

Ótimo resultado!

O boi vermelho fez um espetáculo menos luxuoso, mas mais criativo. Além disso, tinha músicas melhores, cantadas pelo excelente David Assayag: foi ele quem gravou "Vermelho" com a Fafá de Belém, lembram?

A diferença foi pequena: 1.250,9 pontos para o Caprichoso e 1.255,70 para o Garantido. Os dois são julgados em 21 quesitos por jurados que vêm de outros estados, convidados pelos dois bois entre especialistas em arte e folclore.

O Garantido, "boi do povão", tem, agora, 27 vitórias contra as 17 do Caprichoso, "boi da elite".

Oops...

A casa às vezes falha: o Velox mais uma vez está fora do ar.

Fiz assim uma espécie de descanso forçado depois da aventura amazonense, mas que é chato -- para não dizer insuportável - lá isso é.

Agora me conectei rapidinho via Vivo Zap, mas volto a sair do ar logo, já que agora o meu modemznho não é mais de uso ilimitado e já estourei demais o limite este mes.

Eu só queria mesmo agradecer a companhia que vocês me fizeram durante a viagem. Sair por aí com o apoio dos amigos não tem preço... :-)

Ir é ótimo; voltar é melhor




27.6.09

Notícias da selva

Escrevo da varandinha do meu camarote do barco. Estamos atracdos numa esquina de rio sossegada. O trânsito de barcos, lanchas, canoas e outros objetos flutuantes é relativamente pequeno. À nossa volta, porém, há muitos barcos atracados, e o barulho do fim-de-tarde é tipicamente amazonense: a trilha sonora do Boi, que toca incessantemente em todas as casas, estabelecimentos comerciais e embarcações de Parintins, gritaria de crianças alegres, que mergulham e nadam no rio, motores de lanchas e jetskis e, acima de tudo, a algazarra dos pássaros que se recolhem para a noite.

O Boi é muito mais bonito do que eu imaginava. É difícil compará-lo com qualquer outra coisa, escolas de samba inclusive, porque a festa é única, um misto de show, espetáculo de torcida e prova de resistência. Ao longo de três noites, cada associação apresenta as suas variações de lendas amazônicas, descritas através de música, dança e alegorias imensas e cheias de detalhes.

Bichos se mexem, aves voam, bonecos piscam e agitam os braços; as construções enormes se multiplicam na arena como se fossem cartolas de mágicos, e delas saem muitas surpresas, às vezes detalhes engraçados do conjunto, às vezes alas inteiras de dançarinos.

Enquanto isso, a torcida (que aqui se chama galera) dá um how à parte. Pula sem parar, faz coreografias, agita panos coloridos, acende isqueiro, joga milhares de estrelas ou corações de papel para o alto.

As evoluções da galera, que contam para o resultado final, são ensaiadas durante meses. Enquanto um Boi se apresenta e a sua galera se esfalfa, a torcida contrária fica quietinha no escuro. Qualquer movimentação é perda de ponto.

* * *

Hoje à tarde estive na cidade. Muitas casas e repartições estão alagadas, e há tábuas em algumas ruas, tal e qual a aqua alta de Veneza.

O mundo é bem redondo.

Agora volto para o Bumbódromo, para um passeio final. Amanhã saimos cedíssimo daqui e, nem preciso dizer, chegamos tardíssimo ao Rio.

* suspiro *

Fotos!


Finalmente acho que consegui subir algumas fotos, e dar um jeito no outro álbum: AQUI e AQUI.

Ufa!

Pode ser mais bonito?!

A vista do meu quarto no barco

Para o Riq

26.6.09

Do bumbódromo de Parintins

Diário de viagem


A viagem até Parintins é comprida, e não carecia do perrengue de trocar de avião em Brasília -- mas, quando a gente se pega no meio da floresta, num mundo de água e céu por todos os lados, esquece qualquer inconveniente. Não há nada mais bonito do que isso aqui.

Passei o dia entre o barco em que viemos de Manaus e a lancha em que saimos pelo rio. Vi (e ouvi) uma quantidade de pássaros, algumas iguanas e, maravilha das maravilhas, dois botos.

Fiz um monte de fotos, mas todas me decepcionaram: nenhuma chega perto do que é a natureza ao vivo.

Agora vou para o Bumbódromo, para ver o Boi. Depois eu conto como é.

A conexão, via Vivo Zap, está péssima, e MMS não existe. Ainda assim, se a gente pensar bem, qualquer conexão que se faça daqui é um milagre: o barco está ancorado longe da cidade, num cantinho perdido do maior rio do mundo.

Há um pequeno álbum com as fotos que fiz à tarde no rio AQUI. Demorou muuuuuuuuuito a subir, e teve que ir aos pedaços.

Ah, sim: Fiquei muito sentida com a morte de Michael Jackson. É sempre complicado ver uma pessoa que teve tudo levar uma vida tão absolutamente infeliz.

25.6.09

Vamos ficar offline até amanhã. Tchau!




Olha o que apareceu!




(O calor está bem aturável)




Chegando ao porto




Tudo alagado...




Cemitério de aviões




Aeroporto de Manaus: o Boi é o bicho




Brasília




Fui!




Começa a clarear




Isso é hora de sair de casa?!




Canudo e competência




“Você tem que escrever sobre esta barbaridade!” – disse o amigo do meu amigo. – “Acabar com a exigência de diploma para os jornalistas... a que ponto chegamos! Agora qualquer um pode ir para a redação e se dizer jornalista. Como é que vai ficar isso?”

Gostei da sugestão; mas minha opinião deixou-o desconcertado. É que sempre fui contra – radicalmente contra – a exigência de diploma de curso superior para o exercício da nossa profissão.

“Então você acha que ninguém precisa estudar para ser jornalista?”

Pelo contrário! Ainda que não entenda o que diplomas têm a ver com estudo, acho que jornalistas precisam estudar muito, e sempre. E acho bom que esqueçam este verbo, “estudar”, em geral ligado a algo que se faz por obrigação. Jornalistas de verdade lêem e se informam contínuamente: por hábito, por segunda natureza, por uma curiosidade intelectual incontrolável que os leva a se interessarem por tudo, ou quase tudo. Diploma não leva ninguém a fazer isso, a ser assim.

O problema é que o Brasil cultiva a noção de que o diploma de curso superior é sinônimo de conhecimento. Como o nosso ensino básico é péssimo, e dificilmente se aprende alguma coisa na escola, sobra a ilusão de que a passagem por uma universidade nos tornaria automaticamente cultos e educados -- e tão superiores aos demais, que passaríamos a ser até merecedores de prisão especial.

É por isso que algumas pessoas insistem em ver, no fim da exigência do diploma, uma espécie de “rebaixamento” da profissão. Elas acham que, se o diploma de jornalismo deixou de ser obrigatório, nenhum diploma (leia-se conhecimento) será necessário. Não pode haver equívoco maior.

A única coisa que o diploma de jornalismo garantiu, até aqui, foi uma reserva de mercado injusta e pouco democrática. As redações vão ficar mais ricas e diversificadas com o fim dessa burocracia anacrônica, que pressupõe que apenas quem fez comunicação está apto a lidar com a informação.

Acontece que o jornalismo é importante demais para ficar restrito a um grupo homogêneo de pessoas, sem a mínima brecha para variações.

* * *

Paradoxalmente, o fim da exigência do diploma deve melhorar muito a qualidade dos cursos de comunicação. Como eles não são mais obrigatórios, precisarão ser suficientemente ágeis e inteligentes para conquistarem os alunos e as empresas de comunicação. Que continuarão, é claro, a recrutar a maior parte dos seus quadros entre os formandos.

Nos últimos dias, tenho visto muita gente lamentando o tempo que perdeu na faculdade para conseguir o diploma; mas qualquer curso que alguém lamenta ter feito não precisava, nem merecia, ter sido feito. E me lembro de Mark Twain, que dizia que nunca deixou sua escolaridade interferir com sua educação.

Outra coisa que ouvi e que encontrei aos montes na internet foi a declaração estapafúrdia de que os cursos de jornalismo seriam imprescindíveis por “ensinar ética”. Como assim, “ensinar ética”?! Ética vem de casa, da vida inteira; não há curso que possa suprir essa lacuna. Meu conselho para quem acredita nisso é esquecer o jornalismo e entrar para a política.

Ser jornalista, enfim, não vai ficar mais fácil. Vai ficar cada vez mais difícil. O que vai ficar mais fácil é se dizer jornalista, mas não vejo em que isso possa diminuir qualquer um de nós. Ser escritor, por exemplo, é para poucos, embora uma quantidade infinita de pessoas bem intencionadas se atribua o ofício. Ter diploma de escritor não mudaria em nada a sua falta de talento. Ou de leitores.

* * *

Recebi um email do dr. Alceu Cardoso, coordenador técnico da Sepda, esclarecendo a ação da secretaria em relação ao assassinato dos gatinhos da prefeitura:
“A Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, ao tomar conhecimento do evento em questão, prontamente acionou seu staff para as devidas providências conforme sua própria citação.
O técnico (médico veterinário habilitado e capacitado) enviado para primeira inspeção dos cadáveres, de fato atestou lesões compatíveis com agressão. Entretanto, ao contrário do que foi publicado em sua coluna, os corpos dos animais foram enviados para o Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, para que fossem realizadas as necropsias no intuito de se estabelecer a causa mortis, e, posteriormente, se efetuou a cremação sem perder as provas do crime.
A Sepda jamais teria uma atitude leviana de cremar os cadáveres sem que houvesse prévia e criteriosa avaliação e, posteriormente, a conclusão do fato ocorrido. O laudo emitido pelo Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman confirma a causa mortis (lesões traumáticas graves, provavelmente causadas por animal agressor). Quanto à autoria do fato, a SEPDA encaminhou ofício à 6ª DP para registro, averiguação e elucidação de tal ato desumano.”

Fico mais sossegada sabendo que a Sepda está atenta ao caso, mas continuo sem entender como foi possível que quase vinte gatos tenham sido mortos em frente à prefeitura sem que um único guarda percebesse o que estava acontecendo.

(O Globo, Segundo Caderno, 25.6.2009)

24.6.09

Desculpem o sumiço...

É por uma boa causa: amanhã vou para Parintins, ver o Bumba-meu-boi.

O problema é que o avião sai às sete da manhã (!!!), e hoje passei o dia inteiro estressada por conta.

Li que acabam de inaugurar um super sistema de wi-fi na ilha, de modo que, pelo menos em tese, vocês terão notícias em breve.

(Isso, claro, se eu sobreviver ao horário.)

Pacman no Twitter





Charge de Scott Hampson

23.6.09

Prontinho!




A caminho




Emergência artística!

Pessoas, acabam de me ligar do CCJF dizendo que os painéis com as minhas fotos (que têm um metro de largura, e ficam pendurados do teto, com fotos de um e do outro lado) ficam abaulados.

A sugestão do pessoal que está lá é simples: inserir réguas de alumínio fininho entre frente e verso.

Estou me despencando para a cidade para tentar resolver isso.

A minha pergunta é: alguém sabe onde a gente encontra alumínio fininho, de preferência lá no Centro?

Update: Valeu, amigos! O problema foi temporariamente resolvido com a disposição dos fios (que penduram os painéis) em X. Isso nos dá tempo de encontrar outra solução com calma.

Tutu, ajudando no trabalho




22.6.09

Sobre oxímoros

Recebi por email:
Oxímoro é, segundo o Houaiss, uma figura de retórica, na qual se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam uma expressão.

Exemplos: silêncio ensurdecedor, obscura claridade, contentamento descontente, ilustre desconhecido e por aí vai.

Para o Millôr, Escola Superior de Guerra também é oxímoro. Ele sustenta que, sendo de guerra, não pode ser superior.

Já Sérgio Rodrigues acaba de descobrir um tremendo oxímoro nas manchetes dos jornais:

"Conselho de Ética do Senado".

20.6.09

Recuerdos



Esta é a cena final de "In Custody", de 1993, filme de estréia de Ismail Merchant como diretor; eu até aqui só o conhecia como produtor, e como metade da formidável dupla Merchant/Ivory -- que, na verdade, tem três pessoas, incluindo a roteirista Ruth Prawer Jhabvala. O trio assinou "Uma janela para o céu", "Vestígios do dia", "Howard's end", "Maurice" e uma quantidade de outros filmes maravilhosos.

A cena está cortada no finalzinho, mas essa foi a única versão que encontrei no You Tube. Vale pela música, maravilhosa.

O filme podia ser melhor do que é. Parte de uma idéia bonita e melancólica: um professor bem pobre coitado (Om Puri), que ama urdu mas ensina hindi, faz um enorme esforço para entrevistar o maior poeta indiano vivo (Shashi Kapoor), que escreve em urdu. Previsivelmente, fracassa em grande estilo.

Hoje idioma do Paquistão, o urdu foi, durante mais de 600 anos, a língua da corte indiana. Com a Partição, em 1947, foi substituido pelo hindi como língua oficial, e o estilo de vida refinado e indolente que representava desapareceu.

O poeta que o professor entrevista é o resumo perfeito deste velho mundo. Enorme de gordo, perde-se entre o cotidiano mesquinho da casa, as brigas de suas duas mulheres e os admiradores que, no fundo, estão mais interessados em comer e beber às suas custas do que nos seus poemas. Apesar disso, é uma alma delicada que conserva antigas finezas, como a criação de pombos e um jardim de rosas.

"In Custody" é bem filmado, tem ótimos atores no elenco e uma trilha sonora da melhor qualidade. Não sei exatamente por que não funciona como devia. É lento, mas com a temática que tem nem podia ser mais rápido.

A coisa interessante é que ele cresce depois de terminado: hoje, na memória, ele me parece muito melhor do que ontem, quando o vi.

A continuar assim, daqui a alguns meses acaba entrando na lista dos meus favoritos...

Exposição: dia 23, no CCJF



Há cerca de um ano, com saudades dos velhos tempos de fotografia “de verdade”, comprei uma Nikon D60 e algumas lentes. Já saímos juntas algumas vezes, mas a câmera passa a maior parte do tempo dormindo na bolsa. Nesse ínterim, tive também duas Lumix: uma TZ3 e, mais recentemente, uma FZ28, que ainda está comigo. Assim como a Nikon, elas também não trabalham muito. É que a minha forma favorita de capturar imagens continua sendo o telefone celular, que me acompanha desde o momento em que acordo ao instante em que vou dormir. O celular é parte integrante do cotidiano; não produz exatamente Fotos, assim, com F maiúsculo, foco perfeito e definição de faca, mas pequenos registros, anotações de luz.

Compreendida a sua natureza, essas fotinhos são muito satisfatórias; tanto que resolvi aceitar o convite do Milton Guran, e participar do FotoRio 2009, o encontro internacional de fotografia do Rio de Janeiro. Não sei se, com as fotos que faço com as câmeras, teria coragem de expor meu trabalho ao lado de craques como André Arruda, Anna Kahn, Claudia Jaguaribe ou Luiz Garrido. As fotos dessa página são uma prévia do que vai ao ar no Centro Cultural da Justiça Federal, na Avenida Rio Branco 241. Além dos fotógrafos que já mencionei, estarão expondo também Gustavo Malheiros, Gabriel Jauregui e Micaela Vermelho, Guy Veloso, Thiago Barros e Sophie Elbaz.

Ou seja: Cora Rónai, onde você foi se meter?!

A abertura é no dia 23, a partir das 19h, e, nem preciso dizer, todos estão convidados: vai ser uma festa!


(O Globo, Revista Digital, 22.6.2009)

Adoro esse cenário!




(hoje madruguei)




O Rajastão do Projac




18.6.09

Alguém sabe como cuidar de mico?

"Caiu um miquinho bem aqui no meu quintal. Está tão mal que quase não consegue se mexer. Consegui chegar nele antes da gata, mas não sei o que fazer com um mico.

Socorro!" (Petista Chato)

Ratos vivos e gatos mortos




Nunca antes na história desse país se viu tanta roubalheira e tanto descaramento num endereço só. O Senado está abusando da paciência dos brasileiros, e o pior é que, pelo que se vê, pode abusar à vontade. O máximo que acontece a um senador pego em flagrante é ter de devolver o produto do roubo -- como se, com isso, ficasse tudo bem. E fica, não fica? Os princípios básicos da moral e da justiça não valem no Congresso Nacional, onde a imunidade parlamentar, instituída com o nobre intuito de defender a democracia, virou uma excrescência insólita que apenas garante a impunidade dos criminosos.

É assustador (e nojento) perceber que, no Congresso Nacional, exibe-se hoje o que o Brasil tem de pior, a começar pelo coronel José Sarney, nos tomando a todos por otários. Ele tem razão, porque aqui estamos, otários que somos, pagando os impostos mais pesados do mundo para que nada jamais falte às excelências, suas famílias e agregados. Ele tem razão também quando diz que a atual crise não é sua, mas do Senado. Num senado decente, ninguém lhe daria bom dia, e os demais senadores teriam vergonha de serem vistos em sua companhia. Pois lá não só o elegem presidente da casa, como fazem questão de abraçá-lo depois de um discurso sem-vergonha como aquele de terça-feira.

Está ficando muito cansativo falar sobre a roubalheira, ler sobre a roubalheira, escrever sobre a roubalheira. Um escândalo é sepultado por outro que é enterrado por um terceiro e assim sucessivamente. As manchetes de hoje são iguais às do mês passado e serão iguais às do mês que vem; nem os personagens mudam. A crônica que foi escrita no começo do século e do milênio poderia ser republicada ano após ano, ano após ano, ano após ano...

Os safados estão conseguindo nos vencer pelo tédio.

* * *

Como todos os brasileiros que estão acompanhando as eleições iranianas, eu também tive vontade de me enfiar debaixo do sofá, de pura vergonha, ao ouvir Lula dar apoio incondicional ao presidente golpista Ahmadinejad. Se, como o coronel Sarney, Lula também acha que tudo que o contraria é intriga da imprensa, que pelo menos circule pelo Twitter antes de dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça.

A luta dos iranianos na internet tem sido comovente. Com quase todas as comunicações bloqueadas no país, eles têm usado as redes sociais, que estão fora do alcance das garras dos aiatolás, para contar ao mundo o que está acontecendo lá. Notícias não param de chegar ao Twitter, que até cancelou uma parada de manutenção na madrugada de terça; e Facebook e Flickr têm recebido incontáveis fotos das manifestações, que blogueiros fora do Irã se encarregam de espalhar.

Há uma grande comoção online, e a ajuda chega de todas as maneiras. Um dos gestos mais significativos partiu do The Pirate Bay, popularíssimo site de downloads, que vestiu-se de verde e mudou o nome para The Persian Bay, apontando links para um fórum de discussões (iran.whyweprotest.net) e para ferramentas de segurança individual na rede.

* * *

Os funcionários da Prefeitura que trabalham no Piranhão, na Cidade Nova, foram recebidos na segunda de manhã com uma cena de horror: os cadáveres de 18 gatos que viviam no terreno vizinho estavam caprichosamente alinhados na grama, na calçada que dá acesso à estação do metrô.

Ninguém sabe com certeza o que aconteceu, mas segundo uma das versões espalhadas por email, o massacre teria sido perpetrado por traficantes do São Carlos, que teriam soltado pitbulls entre os gatos. É a história mais inverossímil e mais mal contada que já ouvi.

Alguém consegue imaginar um bando de traficantes saindo do morro com seus cães, levando-os à prefeitura, soltando-os entre os gatos, esperando que trucidem todos, recolhendo-os e levando-os de volta para casa?!

Acionada pelos protetores, a Sepda (Secretaria de proteção e defesa dos animais) emitiu uma nota:

"Enviamos um médico veterinário ao local para averiguar o ocorrido e, segundo o técnico, os animais apresentavam lesões compatíveis com mordedura de animais maiores. Todos os felinos foram encaminhados para o Instituto Jorge Vaitsman para cremação. A Sepda irá investigar o que causou os óbitos."

Está tudo errado: desde quando se cremam as provas do crime? A prefeitura precisa explicar isso melhor. Muito melhor. Também precisa explicar como é que alguém consegue assassinar vinte gatinhos nas suas barbas sem que um único vigilante perceba o que está acontecendo. Bagunça tem limite. Maldade também.


(O Globo, Segundo Caderno, 18.6.2009)

15.6.09

Gato plastificado






Iranianos protestam contra o resultado das eleições; de um espantoso álbum de fotos publicado no Facebook.

No Twitter, notícias em tempo real.

Bambi: era tudo verdade!







(Valeu, Layla!)
Dados

Quantos novos bits...?!


Ando falando muito em information overload, a sobrecarga de informação que tem deixado todo mundo maluco. O pior é que nem precisamos de colaboração externa para nos afogarmos em dados; basta os que produzimos sozinhos. Agora mesmo, na Fashion Rio, fiz mais de 400 fotos que, depois de uma primeira seleção, caíram para cem. É muita coisa! E é por isso que, a cada dia que passa, preciso de mais e mais espaço no computador. Hoje, entre discos internos e externos, tenho 1.480 Gb no desktop, quase um Terabyte e meio.

Quem se dá bem com isso são os fabricantes de HDs e as empresas que se especializam em armazenagem. No mês passado, Carlos Alberto Teixeira, o nosso Cat, esteve em Orlando, participando do EMC World 2009. No evento, promovido pela EMC (líder mundial em desenvolvimento e provimento de infraestrutura de armazenamento de dados), ele descobriu alguns números muito interessantes, que publicou no Fórum PCs:

“A EMC divulgou uma pesquisa da IDC dando conta de que apenas em 2008 foram criados 3.892.179.868.480.350.000.000 novos bits no universo digital, ou melhor, 3,89 zettabits. Se você não souber direito o que é um zettabit, então é melhor expressar esse número quase inimaginável como 3 sextilhões, 892 quintilhões, 179 quatrilhões, 868 trilhões, 480 bilhões e 350 milhões de bits. Usando uma escala decimal de conversão de bits em bytes, considerando oito bits em cada byte e os usuais múltiplos de dez, isso tudo se traduz em pouco mais de 486 exabytes, ou seja, 486 bilhões de gigabytes.

A pesquisa, que foi patrocinada pela EMC, é intitulada “As the economy contracts, the digital universe expands” (“À medida que a Economia se contrai, o universo digital expande”). De acordo com esse estudo, a quantidade de informação digital criada em 2008 cresceu 3% mais do que a projeção anterior da IDC. A expectativa é de que o universo digital duplicará de tamanho a cada 18 meses, sendo que em 2012 serão geradas cinco vezes mais informações digitais do que em 2008.

Estima-se que nos próximos quatro anos, o número de usuários móveis triplicará. Mais de 600 milhões de pessoas se tornarão internautas e cerca de dois terços de todos os usuários internet utilizarão dispositivos móveis pelo menos parte do tempo. As interações entre pessoas por meio de correio eletrônico, mensagens instantâneas e redes sociais aumentarão oito vezes.

Quanto à atual crise mundial, a maioria das medidas de estímulo para recuperar a economia redundará num aumento na quantidade de informações digitais geradas, crescimento que também será fomentado pelo aumento da cobertura de acesso internet banda larga, pela adoção de registros médicos eletrônicos de pacientes, de redes elétricas transmitindo dados e de edifícios e automóveis inteligentes.”

Clique AQUI para a íntegra do texto do Cat.


(O Globo, Revista Digital, 15.6.2009)

Paheli



Lachchi é a linda moça que casa-se com Kishan, um tipo estranho que, já no dia seguinte ao casamento, parte numa viagem de negócios que vai mantê-lo cinco anos longe do lar. Eis que, por acaso, um espírito apaixonado fica sabendo dessa viagem, e decide tomar o seu lugar. Lachchi aprova a substituição, e os dois vivem na maior felicidade... até o dia em que Kishan volta para casa.

Essa é a historinha básica de Paheli (Enigma), um dos filmes indianos mais gostosos que vi até hoje: tudo funciona bem, da fotografia aos efeitos especiais, passando pelas músicas e pelo trabalho dos atores.

Recomendo muito!

(Acho que a rede deve estar cheia de cópias baixáveis; para quem tiver muita paciência -- sobretudo com as legendas -- há até uma versão completa no You Tube.)

11.6.09

Fashion Rio: foi lindo!




A Marina da Glória é um belo lugar, mas, para uma semana de moda, o Píer Mauá – nome chique do Cais do Porto -- é imbatível: o que mais ouvi durante a Fashion Rio foram Oh!s e Ah!s de admiração diante da paisagem. Pudera não. A água do mar batendo logo ali, os navios ao largo, as montanhas, o perfil da cidade, a Ponte Rio-Niterói. Liguei extasiada para um amigo:

-- Pode se preparar para morrer de inveja. Estou na Fashion Rio, olhando para a Baía de Guanabara. Há dois guindastes lindos à minha frente!

-- Guindastes? Mas logo guindastes?! Eu pensei que você ia me falar das modelos!

Não, não dá para explicar para um homem que, eventualmente, dois guindastes podem roubar a cena num universo fervilhante de moças bonitas. E, no entanto, lá estavam eles, os dois impávidos colossos, chamando a atenção de todos. É preciso ver um guindaste iluminado à noitinha para perceber que bonito que é.

* * *

A nova locação da Fashion Rio é um sucesso. Tudo mudou para melhor, a começar pelos armazéns, que substituíram as antigas tendas com enorme vantagem. Na verdade, chega a ser injusto comparar as tendas, tão transitórias, com o velho cais, todo faceiro depois da restauração. No novo endereço, a própria dinâmica do evento passou a ser outra. O passeio em frente aos armazéns virou uma espécie de calçadão, com diversos pontos de descanso: restaurantes, barracas de cachorro quente e de sorvete, espreguiçadeiras, almofadas. Ir de um desfile a outro deixou de ser prova de resistência, mas, mesmo assim, para os mais comodistas ou apressados, havia carrinhos de golfe fazendo o percurso.

O principal assunto de conversa foi, como não podia deixar de ser, a nova administração. Paulo Borges passou no teste com louvor. Não ouvi uma única crítica às novidades, embora, aqui e ali, tenha encontrado quem achasse que a semana perdeu um pouco do seu espírito carioca. A princípio, eu mesma tive essa impressão; depois, pensando melhor, percebi o que aconteceu. É que a Fashion Rio ficou mais madura, mais profissional. Todos os detalhes foram tratados com muita atenção. O melhor retrato disso eram os seguranças, discretos, eficientes e bem arrumados, sem um botão desabotoado. Excelente!

Algumas mudanças notáveis: os insuportáveis filmetes dos patrocinadores, repetidos antes de cada desfile, passaram a ser misericordiosamente exibidos enquanto a platéia buscava seus lugares, e ficaram indolores; a localização dos extintores de incêndio era relembrada sempre que as luzes se apagavam; e, aleluia!, o horário dos desfiles foi cumprido, com a margem razoável de 30 minutos de atraso.

Entre as raríssimas exceções, o verdadeiro espetáculo que o Carlos Tufvesson apresentou, mas não por culpa dele. Nos ingressos estava escrito 20h30. Às 21h, com todos em seus lugares, as luzes se apagaram... e nada! Lá ficamos nós, mil pessoas, esperando no escuro. O mistério só foi desfeito às 21h15, quando chegaram o governador e o prefeito, acompanhados de esposas e comitivas. Que papelão. As excelências levaram uma boa vaia, para aprenderem que a pontualidade é a cortesia dos príncipes.

Outra exceção ao bem cronometrado relógio da Fashion Rio foi a Lenny, que também atrasou 45 minutos. Ondas de impaciência varriam o público, submetido a uma dose dupla de filmetes; o pior é que, nesse caso, nem havia a quem vaiar. Prova da sua excelência é que, apesar da má vontade gerada pelo atraso, todo mundo adorou o desfile, como sempre impecável. A Lenny não erra.

* * *

ão vi todos os desfiles, mas vi muitos deles, provavelmente mais do que em qualquer outra edição da Fashion Rio. Meus favoritos foram o da Cantão, em que tudo estava lindo, alegre e colorido, e o do Tufvesson, que criou um clima disco muito divertido. Cantão é a roupa que a gente usa, solta e leve. Tufvesson é a roupa com que a gente sonha, e com muita nostalgia, diga-se, quando passou dos 40 (anos/quilos): é tudo bem colorido, bem justinho, bem curtinho.

* * *

Carlos Tufvesson não brilhou só na passarela. Junto com o release do desfile, distribuiu um texto comovente, relembrando os 40 anos da luta dos homossexuais pelo reconhecimento de seus direitos civis.

“Este ano comemoro 15 anos de casado com uma pessoa com quem divido minha vida, minhas alegrias e tristezas, e por quem tenho profundo amor e carinho”, escreveu. “Não enxergo nada de errado ou indigno no nosso amor. Tenho certeza de que ele é abençoado por minha família, por nossos amigos e por todos que nos querem bem. Se isso não é casamento, não entendo o que possa ser. Por isso me sinto envergonhado de, ainda hoje, no meu país, ter de me declarar solteiro. Tomo isso como uma falsidade ideológica e uma afronta à minha cidadania.”

Sou amiga de Carlos e André, e de inúmeros outros casais que não têm o direito elementar de serem legalmente reconhecidos. É inacreditável que, em pleno século XXI, a mão pesada do obscurantismo ainda impeça parcela tão preponderante da humanidade de viver em paz.


(O Globo, Segundo Caderno, 11.6.2009)