30.9.01

Contagem regressiva


Y cá estamos -- quase todos los periodistas do grupo -- a bordo de um 747 que, neste momento, atravessa uma turbulência bacana, daquelas de derramar a bebida toda. É estranho porque as aeromoças acabaram de tirar o.... hm, almoço? jantar?... whatever... e, na minha experiência, a turbulência começa enquanto elas ainda estão servindo.

Estamos voltando para Los Angeles e, de lá, cada um toma o seu rumo.Eu decidi passar um dia na cidade -- acho uma pauleira suicida emendar dois vôos de 12 horas, com umas quatro de leseira em aeroporto no meio. Assim dou uma descansada, faço umas compras básicas (recarregador de bateria para a Kodak, nova bateria para a Sony, etc.) e, ainda por cima, escapo por mais um dia das obras do meu lar doce lar que, segundo a Laura, chegaram ao seu ponto culminante: o meu quarto. SOCORRO!

Esta foi uma excelente viagem. O grupo era de um tamanho administrável, muito variado -- havia jornalistas até do Panamá e da Costa Rica -- e simpático. O pessoal da Samsung foi extremamente competente e, mais do que isso, carinhoso: não nos sentimos como um bando de cabeças a serem feitas das sete da manhã às sete da noite, sem descanso, mas como pessoas -- gente, sabe como é? tipo people, unidades de carbono -- a quem outras pessoas -- idem -- querem mostrar o seu país e o que fazem. Quem já participou de viagens de jornalismo tecnológico sabe como isso é absolutamente raro.

28.9.01

Ih, esqueci...


...de trazer pra cá a capa que escrevi para a edição passada do Info etc.! Bom, com quase uma semana de atraso, aí está...

No dia 11 de setembro, quando a BBC ainda estava se dando ao trabalho de informar aos telespectadores, a intervalos regulares, que as cenas terríveis do World Trade Center não eram cenas de um filme, um e-mail de John Perry Barlow bateu, aflitíssimo, nas caixas de correio dos seus 897 amigos mais chegados. Um dos mais conhecidos ativistas do ciberespaço, Barlow, já naquele momento, previa o que, em poucas horas, começaria a se tornar realidade: o ataque dos terroristas daria à linha dura americana a desculpa que estava querendo, há tempos, para controlar a internet.

“Como muitos de vocês sabem, eu acredito que, ao longo dos últimos 30 anos, os Estados Unidos vêm se tornando, de forma gradual, sutil e invisível à maioria de nós, um estado policial”, escreveu ele. “Os acontecimentos desta manhã são, de modo geral, equivalentes ao incêndio do Reichstag, que deu, aos nazistas, a desculpa social para se apossarem da Alemanha. Não estou dizendo que, como os nazistas, as forças autoritárias da América tenham participado diretamente desta tragédia inconcebível (...). No entanto, nada poderia servir melhor àqueles que acham que a “segurança” americana é mais importante do que a liberdade americana.”

Barlow não foi o único a dar o grito de alerta. Richard Stallman e Eric Raymond, gigantes do software livre, que sempre acreditaram que os computadores são importantes demais para a humanidade para serem controlados por meia dúzia (meia dúzia? que exagero!) de empresas, também entraram em ação; e, como eles, dezenas, centenas, milhares de usuários que acreditam que a rede é o maior instrumento de liberdade jamais construído. Blogs foram abertos, websites criados, novas páginas adicionadas a sítios já existentes; abaixo-assinados pela preservação da liberdade online começaram a circular, enviados até por gente que, a vida inteira, sempre se manifestou contra circulares na internet.

O movimento foi tão impetuoso e espontâneo quanto o que pôs links para a Cruz Vermelha e outras instituições beneficentes em quase todas as páginas da rede; mas as suas chances de sucesso não chegam a ser animadoras. Na própria tarde de terça-feira, o FBI já estava às portas dos principais provedores americanos, instalando cópias do Carnivore que, uma semana antes, teriam sido alvo de estrepitosa (e justa) indignação. Agora, porém, diante de uma população em pânico, nenhum dos provedores ousou dizer nada.

Na verdade, nem foi bem assim. Naqueles primeiros momentos da temporada de caça à internet, alguns provedores de acesso se manifestaram, sim: eles declararam que cooperariam com o FBI em tudo o que fosse necessário. E mais não disseram, nem lhes foi perguntado.

Barlow, um dos fundadores da EFF (Electronic Frontier Foundation), instituição que luta, consistentemente, a favor dos direitos digitais de internautas e não-internautas, está apavorado. Em Nova York, onde está agora, diz que as coisas estão calmas — tristes, mas calmas. Mas, no interior do país, a situação é preocupante. O que ele mais teme é uma espécie de “efeito-machão”: mesmo pessoas de índole liberal, que normalmente se posicionariam contra a vigilância e a censura à internet, não têm coragem de se manifestar, porque isso pareceria, aos olhos dos seus vizinhos, como um ato de condescendência para com os terroristas — em suma, um ato antiamericano e pouco patriótico.

O grande problema enfrentando por quem defende a liberdade na internet é uma abissal e generalizada falta de conhecimento sobre o assunto — e não só nos EUA. John Keegan, respeitado jornalista do “Daily Telegraph”, na Inglaterra, defendeu a proibição de material criptografado na rede, e chegou ao cúmulo de sugerir o bombardeio de provedores de acesso estrangeiros que permitam a circulação de mensagens criptografadas.

Se até ele, que é um ser supostamente esclarecido, está pensando assim, o que é que se pode esperar do americano médio, que há tempos acha que a internet não passa de um antro de pedofilia? Não muito: numa pesquisa realizada nos dias 13 e 14 pela Princeton Survey Research Associates, 72% dos americanos disseram que leis contra criptografia seriam bastante ou muito úteis no combate ao terrorismo.

Ao mesmo tempo, uma outra pesquisa, realizada online pelo “Washington Post”, revelou que 66% deles estavam dispostos a abrir mão de suas liberdades individuais em favor de melhores condições de segurança — ignorando a sábia observação feita por seu patriarca Benjamin Franklin de que aqueles que trocam liberdade por segurança perdem as duas.

Para os grupos que defendem a privacidade e os direitos civis, tudo isso não passa de manipulação do Congresso, que estaria usando o pânico causado pelos ataques para passar, no grito, uma legislação que jamais seria aprovada em condições normais.

— Ninguém deve confiar em pesquisas realizadas logo depois de um desastre, — disse à CNet Simon Davies, diretor da Privacy International. — Este é um momento em que as pessoas ainda estão confusas e abaladas emocionalmente, e se deixam influenciar com muita facilidade.

Para quem conhece a internet, é bastante óbvio que a criação de mecanismos de controle sobre a rede só vai prejudicar mesmo aos cidadãos comuns, aqueles que pouco ameaçam a sociedade. Como bem lembrou o Register, vale citar Phil Zimmermann, criador do PGP (esperto pacote que, pela primeira vez, pôs ao alcance dos internautas um mecanismo de criptografia): quando uma tecnologia é criminalizada, apenas criminosos passam a ter acesso a ela.

O Globo, 24.09.01


27.9.01

Antípodas




Olhem bem pro tamanho do camarada e me digam: não é à toa que as crianças de Kyongju se espantam com o Ramalho, é?!
Agora difícil, mesmo, é a gente se equilibrar de cabeça pra baixo, pendurado aqui na outra ponta do mundo...

Fim de linha


Agora, infelizmente, é para valer. Depois de fazer que ia mas não indo, e sumindo para voltar de novo, o Media Grok, uma das melhores newsletters da área de tecnologia e filhote da pranteada Industry Standard, despediu-se, de vez e para valer, dos seus fiéis leitores. Maiores informações foram postadas no site do seu editor Jimmy Guterman.

Pé na estrada


Hoje à tarde, depois de visitar a fábrica da Samsung e ver como se monta um telefone celular de ponta a ponta, chegamos a Kyongju, antiga capital da Dinastia Shilla. Eram umas quatro da tarde, e isso nos permitiu passear e fazer umas fotos legais -- ainda havia boa luz. Assim que eu me encontrar com uma conexão decente, vou subir as fotos para o Photo Island para que vocês vejam. O lugar é maravilhoso, mas a Coréia (e, sobretudo, Kyongju, que é longe até para o povo de Seul) ainda está tão fora do roteiro dos turistas ocidentais que, quando fomos ao museu local, chamamos a atenção dos bandos de crianças que estavam lá com as suas professoras. As crianças nos olhavam, riam e as mais saidinhas vinham conversar com a gente. Melhor dizendo, vinham testar se o que estão ensinando a elas é mesmo inglês e se os gringos entendem:

-- Hello! What's your name?

-- How old are you?

-- Where are you from?...

Só faltou mesmo fazerem a clássica pergunta do Rubem Braga:

-- Is this an ashtray?

Éramos o próprio P.T. Barnum Circus, chegando à cidade em grande estilo. Os maiores sucessos da parada foram, curiosamente, os dois muchachos brasileiros: o Ramalho, que tem quase dois metros de altura, e o Carlos que, apesar de baixinho (tem só 1m83), é ruivo.

Agora passa de uma da matina, e estou caindo pelas tabelas; meu saudável plano de, finalmente, tentar dormir sete horas, foi para o brejo. Tive que dar pelo menos uma geral nos mais de cem mega de fotos que já fiz -- e, nisso, passaram-se três preciosas horitas. Amanhã saímos cedo. Ainda damos uma rápida volta em Kyongju, e depois pegamos a estrada de volta para Seul.

Dois detalhes:

1. Os coreanos são totalmente diferentes dos japoneses e dos chineses. Não são um coletivo perpétuo, como os japoneses, nem disciplinados, como os chineses. São gente light e descontraída, e são extremamente simpáticos. Uma coisa que particularmente me encanta neles é a forma como encaram os horários. Quando marcam alguma coisa para as nove, isso não quer dizer, necessariamente, que vamos nos encontrar no exato momento em que os ponteiros dos relógios se encontrarem sobre os números determinados, mas apenas que esta talvez seja uma boa base de trabalho. Não cheguei a discutir a teoria a fundo com nenhum deles, mas suponho que o encontro real dos corpos não é tão importante assim dado que, em espírito, estaremos mesmo juntos quando constatarmos que horas são. E, afinal, somos todos espírito. Ou não, Millôrzinho?

Eu gosto muito disso!

2. Estamos todos nós, apesar de periodistas, por supuesto, meio -- para não dizer inteiramente -- desligados das notícias do chamado "mundo civilizado". Pois querem saber de uma coisa? Sinceramente? Não nos estão fazendo a menor falta.

A hora e a vez dos celulares


Tirando a indústria bélica que, a essa altura, está (literalmente) soltando foguetes, este não é um grande momento para o mercado mundial. Uma das poucas exceções está aqui na Coréia, de onde a Samsung, trabalhando mais ou menos em silêncio, vai conquistando uma parcela cada vez mais ponderável do mercado mundial de celulares.

Para quem está neste ramo, aliás, o ataque terrorista aos EUA foi um grande negócio. As vendas dispararam depois do papel dramático desempenhado pelos aparelhinhos, cuja imagem como elo de ligação familiar e dispositivo de segurança foi consideravelmente reforçada. Nem preciso dizer, claro, que este não é um assunto fácil de se discutir por aqui.

O tema é extremamente delicado, e qualquer palavra mal traduzida pode gerar grande constrangimento. Junte-se a isso a tradicional reserva oriental, e pronto: está armada a tal charada envolta por um enigma. Ou vários. Ainda assim, conversando, sobram suficientes meias-palavras para quem é bom entendedor.

Park Sang Jin, vice-presidente da Samsung e seu diretor geral de marketing, confessa, quase consternado, que as vendas de celulares deram, de fato, um grande salto, e não só nos Estados Unidos. Mas ele não gosta de falar em números e acha o quadro todo ainda muito confuso para que se possa chegar a qualquer conclusão definitiva. A médio prazo, confirmando-se a recessão, ele prevê uma queda tão brusca nas vendas quanto o inesperado aumento de agora -- o que equilibraria os bons negócios deste primeiro momento, deixando um saldo geral para a empresa nem melhor, nem pior do que o de antes. Como a maioria dos empresários, ele acha que, na segunda metade do ano que vem, estaremos assistindo à retomada de fôlego da economia.

Por quê?

Boa pergunta. Mas eu não disse que a coisa toda é uma charada envolta num enigma?



26.9.01

Futebol ecológico



Voltando ao estádio de futebol, que é o grande assunto de Seul -- prometido para dezembro deste ano, o Estádio da Copa de Seul (que deve ficar pronto bem antes do tempo, ainda antes de outubro) já é uma das grandes atrações turísticas da cidade. Com 63.930 lugares, e uma estrutura arquitetônica arrojada, baseada em materiais modernos e idéias milenares -- a cobertura lembra as tradicionais pipas coreanas de papel e as velas das embarcações que cruzavam o rio Han (arquiteto adora umas analogias) -- o estádio, praticamente pronto, está sendo ponto de convergência dos milhares de coreanos que estão em Seul esta semana para festejar o feriado nacional ao lado de suas famílias.
Mas a atração vai além do estádio em si. Toda a área em que ele se localiza, chamada Sang-am-dong, antes abandonada e ocupada por um lixão centenário, está sendo revitalizada e transformada em modelo de cidade ecologicamente correta. Por trás do complexo esportivo estão sendo construídos prédios inteligentes que devem abrigar casas, escritórios e pequenas indústrias digitais, não-poluentes. Quanto ao lixão, está sendo convertido em cinco parques, entre eles um campo de golfe popular e uma área de plantas nativas, e ainda está sendo aproveitado como fonte de energia alternativa: o gás que gera vai fornecer parte da energia necessária para o aquecimento do estádio. A inauguração da nova área, prevista para maio, antes do começo da Copa, será comemorada a caráter, com a plantação de árvores por toda a cidade.

25.9.01

Do outro lado do mundo




Este é um post rapidinho, porque:

a) Já passa de meia-noite e, em tese, eu passei a noite em claro: vai convencer este corpito brasileño que não é meio-dia!;
b) O dia foi particularmente puxado;
c) Amanhã saímos muito cedo para ir para uma outra cidade, e eu ainda tenho que arrumar a mala toda de novo.

Assim, só o básico:

1) Seul é um barato. A cidade é engraçada e colorida, uma certa doideira zen, mas antes assim -- é preciso muita paciência para encarar o trânsito daqui. Os paulistas do grupo até sentiram saudades de casa.
2) A comida... bom. Hmmm. Quer dizer. Tá, tem bons restaurantes italianos.
3) As pessoas são extremamente simpáticas e, de modo geral, muito bonitas, o que prova que ninguém precisa ser louro e ter dois metros de altura pra ser bonito. Do alto do meu metro e meio, estou me sentindo, se não alta, pelo menos normal. YES!!!
4) A terceira geração de telefonia móvel já existe e vai bem, obrigada. Atende por CDMA2000. Vimos algumas coisas super impressionantes na Samsung. Entre outras, streaming video por celular, que tal? (nem vou explicar o que é, já que só vai se impressionar com isso quem já sabe do que estou falando -- mais tarde -- ou mais cedo, sei lá -- quando eu estiver com menos sono, tento dar uma idéia).
5) Como a Nokia na Finlândia, a Samsung, aqui, está em toda a parte. Como observou o Ramalho, a uma certa altura: "Eles só não chamam o país de Samsung porque não ia pegar bem..."
6) Como prêmio por um dia de aplicados trabalhos e bom comportamento, nos levaram para ver o estádio onde será realizada a Copa do Mundo. Está praticamente pronto, e é realmente bonito. É o segundo estádio de futebol que eu conheço em pessoa. Uma vez fui ao Maracanã com o Xexéo. Fomos ver o show do Paul McCartney, e gostamos muito.


7) Destaque especial para o motorista do ônibus que nos leva de um canto para outro -- e as nossas famílias tão preocupadas porque estavámos viajando de avião! Deixa o Osama bin Laden saber dele... Unindo todo o know-how latino-americano presente (somos uns dez jornalistas cucarachas de diversas nacionalidades), chegamos à conclusão de que ele aprendeu a dirigir no México, tirou a carteira na Costa Rica (ou comprou no Paraguai; os especialistas divergem) e fez mestrado em La Paz.

E, com essa, aqui fico.

PAZ.

24.9.01

Correria




Pessoal, tou voando, mas s?para dar uma id?a de onde estou, a?v? algumas fotos: uma panor?ica da vista do meu quarto (injusta; agora que o dia abriu a vista ?bem mais bonita, mas esta foto foi tirada de madrugada, ? 6h30); e umas fotos do quarto. N? ?o m?imo? O hotel se chama Shilla.














(in)Segurança


Como o post anterior, este também está sendo escrito a bordo. Quando a gente tem doze horas de vôo pela frente (em cada perna!) dá para fazer muita coisa... No primeiro pedaço da viagem, pela Varig, eu estava tão cansada que só deu mesmo pra escrever, esperar a decolagem de verdade (quer dizer, rumo a Los Angeles) e jantar. Chegamos a Los Angeles às 8h00, e este vôo em que estou agora, da Korean Air, só saiu às 12h30. Mas pergunto, sinceramente: o que são quatro horas e meia para uma mulher que está querendo escolher uns cosméticos básicos no Duty Free?!

O aeroporto de Los Angeles também estava vazio. Não tirei nenhuma foto porque aquele povo não é propriamente conhecido pelo senso de humor, ainda mais nesses dias tensos. Vai que um deles cisma de achar que estou fazendo fotos indevidas de instalações nevrálgicas, ou sabe-se lá o quê. Brincadeira? Pensem de novo: em todos os vôos chegando ou saindo dos Estados Unidos, estão proibidas facas de verdade para a comida (nos vôos internos nem conta, porque eles nunca servem comida, mesmo). Tanto na Varig quanto na Korean, o negócio é talher de plástico... como se essa fosse a causa de todos os males que nos afligem. O pior é que as facas sumiram antes que fossem feitas as necessárias adaptações no cardápio. Vocês já tentaram cortar cordeiro assado com faca de plástico? Não? Pois aceitem um conselho de quem já tentou: peçam a sopa.

Eu não sou uma pessoa mal-intencionada, nem tenho grande imaginação para bolar crimes ou atentados.Nunca descobri o final de um livro da Agatha Christie sem trapacear, por exemplo e, entre outras coisas, fiquei perplexa com os atentados porque nada daquilo jamais teria me passado pela cabeça. Mesmo assim, apenas olhando o que temos à mão, vejo diversas armas em potencial ignoradas por esta segurança de jardim de infância que não quer facas a bordo ("Nada disso, crianças, vocês podem se cortar!"): garrafas, por exemplo. Quem já viu um western sabe que uma garrafa quebrada é uma arma e tanto. E quem já viu La Femme Nikita sabe que há poucas coisas tão contundentes quanto um lápis bem apontado. Os pratos de porcelana fininhos: quebre um ao meio e você terá um bom objeto pontiagudo em mãos. Os cadarços do sapato do cara que está ao meu lado, que qualquer sequestrador de tamanho médio pode usar para estrangular aeromoças pequenas...

Fora o que não vi. Apenas na minha mala de mão, cuidadosamente revirada tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, há um tubo enorme de mousse para pentear, um notebook e uma câmera digital. Duas vezes me pediram que ligasse o notebook, mas ao tubo e à câmera, a meu ver mais perigosos, ninguém deu a menor atenção. Na câmera, no vão das pilhas, caberiam pelo menos duas facas bem espertas. No spray, poderia haver uma quantidade de gás suficiente para acabar com um bocado de gente. Lembram do metrô de Tóquio? Pois é.

Mas tudo isso é bobagem. Não são medidas rudimentares e infantis como essas (fora com as tesourinhas de unha! abaixo os alicates! lixas de metal, adeus!) que vão resolver o problema de seqüestros cometidos por kamikazes. Contra uma pessoa que está disposta a morrer, há muito pouco a fazer -- se é que há, por pouco que seja, a não ser impedi-la de embarcar.

No Los Angeles Times de hoje, domingo, há uma matéria gigantesca a respeito das falhas da fiscalização dos aeroportos americanos. Um expert em segurança israelense disse tudo: "Há uma diferença de enfoque. Os americanos continuam procurando a bomba. Já a El-Al quer encontrar o cara que vai detonar a bomba".

É isso aí. Nos aviões da El-Al, que estão entre os mais seguros do mundo, as refeições continuam sendo servidas com todos os talheres, mas as cabines de comando são invioláveis. Há tempos.

Olhem bem!


Este é o cartão de milhagem de um dos meus companheiros de viagem, o grande (em todos os sentidos) José Ramalho. Eu nunca vi um desses antes, e vocês também provavelmente não. Este é o cartão de um camarada que já completou um milhão de milhas voadas numa mesma companhia! Na verdade, ele já está com 1.200.000 milhas, e tem um novo plano de metas: quer completar dois milhões. O que, pelos cálculos dele, deve acontecer dentro de dois anos e meio. Como é: tem louco pra tudo, ou não tem?


Adendo, no dia 23.09.01, às 23h28 (hora local): Cheguei a Seul. Sã, salva e morrendo de sono. Novas notícias em breve, ou em edição extraordinária...

23.9.01

A caminho


Como eu já imaginava, quase não deu tempo de arrumar tudo o que precisava para a viagem. As coisas que sempre vêm comigo -- notebook, máquinas fotográficas, microdrive, cabos, baterias, um reloginho com os horários de diversos lugares do mundo, adaptadores de tomada, jacaré para conexões clandestinas em hotéis que ainda não chegaram ao ciberespaço -- costumam ficar juntas no escritório. O diabo é que, com a obra, o escritório não está mais no escritório. O notebook estava na mão, e uma das máquinas também. Mas o resto? E -- pequeno detalhe -- o passaporte? Em que caixa foi atochado? Resumindo a ópera, passei a tarde inteira vasculhando a casa, catando uma coisa aqui, outra ali. Acho que agora estamos todos juntos, mas se isso é verdade mesmo só vou descobrir em Seul.

Mamãe, Laura e Manoela vieram no final da tarde. Mamãe (que é arquiteta) e Laura (que não é, mas é como se fosse) estão assumindo a obra. Tomamos algumas decisões importantes, todas dentro da famosa síndrome do "já que" (tipo "já que estamos com a casa toda revirada, vamos aproveitar e fazer logo uma bancada para o banheiro da Bia"). Enquanto discutíamos essas coisas, a Manoela fez um desenho lindo para mim.

Mais tarde, o Super Rodrigo passou lá em casa e me levou para o aeroporto. Mamãe, que está mais apavorada do que de costume (detesta aviões, e está firmemente convencida de que "Boa romaria faz quem em sua casa fica em paz") veio junto; só isso já torna esta viagem especial. Quando a gente viaja o tempo todo, dá tchau pelo telefone e pega um taxi na esquina.



Mas os tempos estão esquisitos. Muito esquisitos! O aeroporto estava simplesmente DESERTO. Nunca vi nada igual, nem mesmo quando os funcionários dos consulados americanos entraram em greve e todo mundo ficou sem visto, lembram? Entrando para a área de embarque, todo mundo era revistado na mão; o engraçadinho de sempre, que ia na minha frente, perguntou se não podia ser revistado por uma das moças em vez do negão. Nos EUA, tinha ido em cana; como, felizmente, ainda estávamos no Brasil, todo mundo riu, inclusive eu, porque o jeito como ele pediu foi muito gozado.



Na porta do avião havia uma turma de federais revirando todas as bagagens de mão. Todas mesmo. Tiraram todos os alicates, tesourinhas e lixas de unha metálicas que encontraram, e mais os talheres de um mochileiro. O atraso que isso causou foi considerável, e olhem que o avião não estava propriamente cheio. Só imagino o que vai ser isso com um daqueles aviões lotados, carregando três excursões pra Disney...

Estou postando isso de Los Angeles, onde está tudo, ao que me parece, calmo. Agora tenho que correr pra pegar o avião da Korean Air pra Seul. Inté!

22.9.01

O must dos novos tempos


Como o resto do pessoal, Millôrzinho não está particularmente entusiasmado com esta viagem. Ainda assim, fez questão de me trazer do estúdio dele o "must" das viagens internacionais: confiram!




Depois dessa, para encerrar as transmissões aqui do Rio, um flagrante da porta da minha casa neste sábado cinzento.



FUI!



Próxima parada: Coréia




Eu ainda vou tentar postar alguma coisa sobre as monumentais obras lá de casa, que com tanto interesse e simpatia vêm sendo acompanhadas por parte de algumas almas solidárias, mas não sei se vai dar tempo. Ainda estou na redação (são cinco e tanto!), com meia dúzia de faxineiras e os meninos do CCR (a salinha onde ficam os parelhos de fax, telex e essas coisas que alimentam um jornal); só consegui fechar a edição agora, e estou aproveitando a conexão rapidinha para deixar este blog em dia. À noite embarco para Seul mas, até lá, ainda tenho que fazer algumas coisas básicas como comer, dormir, decidir o que levar, fazer mala e ver com quem vou descolar alguns dólares, porque esta viagem me pegou meio de surpresa e estou a zero desta moeda verde e alpinista.

Sim, a família está toda revoltada comigo.
Não, não estou com medo: acho que voar nunca foi tão seguro.
Sim, mandarei notícias.
Não, não ficarei muito tempo, volto domingo que vem.
Sim, vou me lembrar de vocês e postar fotos e novidades todos os dias.
Não, não vou fazer gracinhas com o pessoal da companhia aérea, tipo "tem só uma bomba aqui na minha mala".
Sim, vou levar a tesourinha de unha, mas ela vai na mala grande, que eu vou despachar.
Não, não vou correr riscos desnecessários, apenas aqueles que tornam a vida tão divertida.

Beijos!

21.9.01

Mais uma vítima


Para o tipo de viagem que eu costumo fazer, em cima do laço e sem muita possibilidade de alteração de data, o melhor do sites sempre foi o Biztravel, em que eu podia consultar horários de vôo, reservar passagens e hotéis, e conferir todas as contas de milhagens. De acordo com o meu perfil, lá arquivado direitinho, eu podia escolher configurações de viagem tendo como prioridade preço ou menor número de escalas, uso racional das milhas, ofertas especiais dos hotéis e/ou companhias aéreas onde já tinha me cadastrado como usuária. Pois agora, precisando checar detalhes de uma viagenzinha que vou fazer amanhã, acabo de dar com a cara na porta: o Biztravel fechou!

Fiquei besta. Como, fechou? Mas se ninguém disse nada...! A nota pregada na home-page diz que a empresa, que já vinha mal e mal enfrentando a crise econômica, decidiu, em face dos últimos e catastróficos acontecimentos, encerrar de vez as atividades no dia 21 de setembro de 2001.

Olhei o calendário; mas é hoje! Fiquei chocada e triste. Eu gostava muito desta ponto.com, e vou sentir a sua falta.

Deu no New York Times, ou
Vale a pena ler de novo...


No dia 10 de julho passado, na página de opinião do NYT, um camarada chamado Larry C. Johnson escreveu um artigo com o infelicíssimo títutlo The Declining Terrorist Threat, argumentando que o papo de terrorismo islâmico não passava de alucinação coletiva dos americanos, insuflados pela mídia. O dito cidadão foi identificado pelo jornal, ao pé do artigo, como especialista em contra-terrorismo. E ele já trabalhou para o Departamento de Estado!

As coisas começam a se esclarecer, ou é impressão minha?

Lar, doce lar







A jogadora


Tem razão a turma de moralistas que vive implicando com a internet: êta lugarzinho perigoso, sô! Agora mesmo, por causa de uma simples voltinha pelos blogs, aonde é que fui parar? Num site de joguinhos on-line, onde há um PAC-MAN PERFEITO!!! Resultado: acabo de passar duas horas correndo atrás de pedrinhas, frutinhas e fantasmas... como se não tivesse mais o que fazer!!! Confesso: eu já fui totalmente viciada em Pac-Man. Meus filhos, que eram pequenos na época, chegaram a ficar muito preocupados comigo, porque eu passava noites em claro jogando. Felizmente, tive força de vontade (leia-se: o disquete com o game estragou) e consegui me livrar do vício para sempre... Sempre que não haja um Pac-man por perto. O Pac-Man, que está fazendo vinte anos (vocês não eram nem nascidos), é, possivelmente, o único jogo do mundo a ter um culto próprio.

Inconfidência: o Millôr também era inteiramente viciado! Morria de raiva de perder tanto tempo com um videogame, mas não resistia. Mas ele é um ser superior, que não tem recaídas, ao contrário do ser rastejante que vos tecla.

Aliás, por falar nisso...


Há dois dias estou esperando que alguém comente um discurso feito pelo FhC que vi, de raspão, num telejornal -- e, até agora, nada! Acho que o pessoal já se acostumou de tal maneira às bobagens proferidas pelo Supremo Mandatário da Nação que ninguém liga mais... Não me lembro qual era a ocasião, mas lembro muito bem que, a certa altura, ele se referiu às várias religiões do mundo e aos seus "portadores".
Cumequié?!
Portadores?!
Portadores?!

Mudanças estruturais


Acabo de assistir ao discurso do Bush e, confesso, fiquei bem impressionada. Alguém por lá deve ter se dado conta do desastre completo que é o homem, e resolveu mudar roteirista e diretor. Em relação ao protagonista, não há mesmo nada a fazer -- mas, pelo menos, ele falou num tom de voz razoavelmente moderado, não chorou, não fez bravata, deu uma segurada naquele sotaque caipira insuportável e até tentou fazer uma cara inteligente.

20.9.01

Mastigadinho


Se o mundo já sofria de information overload antes do dia 11 de setembro, o que dizer do que aconteceu depois? Todo mundo que tem algum espaço em jornal, rádio, TV ou website fez questão de escrever sobre o assunto; blogs surgiram da noite para o dia; amigos que não se escreviam há séculos saíram freneticamente procurando os e-mails uns dos outros para trocar idéias. O mundo está se afogando em informação e contra-informação. Boatos voam à velocidade da net. É difícil -- impossível, na verdade -- acompanhar sequer uma fração disso. O jeito é recorrer aos habituais filtros de informação, aos sites que vêm, desde os atentados, tentando direcionar os seus leitores às notícias que julgam relevantes. Uma das melhores coleções de links para acompanhar o dia-a-dia dos noticiários está no blog SiliconValley.com, onde a galera da tecnologia, há tempos perfeitamente à vontade com a informação em tempo real, apenas mudou de enfoque.

Vida de cão


A barra que enfrentam os 300 cães que trabalham nos escombros do World Trade Center não é em nada menos pesada do que a dos humanos que os acompanham, reporta o San Francisco Chronicle. Ainda que não saibam quem é Osama bin Laden ou o presidente George Bush, eles percebem a enormidade da catástrofe, trabalham sem parar e ficam muito deprimidos com o panorama e o cheiro de morte e destruição. Eles também sofrem fisicamente: muitos ficam desidratados, têm problemas nos olhos e nos focinhos por causa da poeira e freqüentemente ferem as patas nas ruínas.

Lar, doce lar


O silêncio é de ouro


Todo mundo que conhece música erudita (caramba, eu odeio essa expressão, "música erudita"!) sabe que o compositor alemão Karlheinz Stockhausen nunca bateu muito bem da bola. Isso ficou absolutamente claro no domingo passado, quando ele comparou os atentados nos EUA a uma obra-de-arte:

“Isso que aconteceu – e agora vocês precisam colocar os seus cérebros num outro modo – é a maior obra de arte que já existiu. Essas mentes alcançaram com um ato o que nem se pode sonhar na música, gente praticando como louca para um concerto, de forma completamente fanática, durante dez anos, para depois morrer. É a maior obra de arte que existe em todo o cosmo. Eu não conseguiria. Comparados com isso, não somos nada, nós compositores.”

Extrapolou, para dizer o mínimo. O pior é que eu até acho que entendo o que ele estava provavelmente pensando -- a dificuldade de se imaginar, orquestrar e coordenar todos os atos, e o seu impacto ainda incalculável, não seria isso? -- mas a verdade é que, ainda que se possa pensar tudo, nem tudo deve ser dito. Pegou tão mal, mas tão mal a maluquice de Stockhausen, que não só seus concertos foram cancelados como, ainda por cima, sua própria família o está repudiando.

Leitores & leitores


Estou acostumada a receber dezenas, às vezes centenas de mensagens diárias no Globo. Embora saiba que elas não estão destinadas a mim por um processo de escolha randômico, mas sim por causa de algo que represento ou que escrevi, não posso ignorar que os leitores da minha coluna são, antes de mais nada, leitores do jornal. A relação primordial que eles têm é com O Globo; a que têm comigo, por amável e simpática que seja, é, na maioria dos casos, apenas uma decorrência dela.

É curioso notar como mudam as coisas no blog. Aqui, as relações se tornam de fato pessoais; mas não só porque sei que, se alguém me leu, este encontro foi deliberado, mas também porque há uma igualdade de condições extremamente democrática na rede. As ferramentas de que disponho para escrever são as mesmas de que dispõe quem me lê e me escreve.

Em suma: no ciberespaço, somos todos iguais e temos, todos, a mesma tiragem.




Uma carta especial


Por falar em leitores: recebi hoje uma carta que me deixou muito comovida. Foi enviada por uma leitora da Califórnia, a Scarlett Freund.


"Antes de mais nada, gostaria de dizer o quanto sou grata pela abrangência e compaixão dos seus comentários e posts. Sou nova-iorquina de nascença, los-angelena de residência, mas brasileira de coração (passei meus anos de infância e adolescência em São Paulo), e para mim o seu blog tem sido uma das melhores fontes alternativas de informação e consolo no decorrer do terrivel atentado à cidade de NY.

Queria também passar uma dica de um ótimo website, um site que incentiva o debate e se empenha a analisar e a tentar fazer sentido deste horror inimaginável através da exploração de pontos de vista divergentes. O site é relativamente novo, baseado em Londres, e se dedica a fomentar o processo democratico em todos os cantos do mundo: OpenDemocracy.

Meu coração está despedaçado com a desgraça que está abalando NY e seus habitantes, mas uma coisa que também me causa muita dor é ver — em vários blogs brasileiros — que mesmo no auge do trauma tem gente difundindo noções extremamente estereotipadas do americano (infelizmente, o Bush como presidente pouco faz para desmentir as piores impressões) e adotando um antiamericanismo incompreensível.

Eu gostaria de pensar que estas caracterizações atualmente são mais resultado de falta de informaçao do que de preconceito enraizado. Embora o governo e a mídia americana estejam tomando uma linha dura, o povo americano não está acompanhando esta posição como muitos estão retratando. Está ciente de que medidas sérias devem ser tomadas, mesmo porque deixar este ato sem resposta alguma provocaria uma open season de terrorismo no mundo inteiro. Mas são poucos, mesmo nos mais altos níveis administrativos, que bradam por vingança a qualquer custo. As vozes críticas estão se deixando ouvir em tudo quanto é lugar. As reações perante o ataque terrorista, mesmo no ground zero, na área dos destroços, estão longe de serem unânimes.

Veja, por exemplo, a conclusão de um post de Todd Gitlin no site de OpenDemocracy, intitulado "There's more than one America":

If and when military power lashes out in the days to come, Washington will claim that all Americans agree on what the government is doing. But there are an awful lot of Americans like Dean who feel spasms of anger and vengefulness and have not succumbed to them. Those who plan indiscriminate war may well roll over such doubts and dissent. But they are here. They have not been stampeded. They are the heartland. These patriots are not going away.

There's more than one America. During the painful days ahead, let our allies and critics remember that we are not all mad bombers, racist or authoritarian bullies - far from it. The White House may claim that the American public demands all-out war, but there's little sign of that. Even in high places in Washington there are counsels of restraint and focus - starting, it seems, with Colin Powell. Don't understand America too quickly. Don't box us in.

Este tipo de opinião raramente aparece nas redes tradicionais da mídia. É por isso que estou tomando a iniciativa de indicar o OpenDemocracy. Porque o único jeito de combater o ódio e a irracionalidade do fanatismo é através do diálogo aberto, do livre intercâmbio de idéias. Quanto mais gente participar dos debates, melhor será a nossa chance de promover paz e tolerância.

Check it out, please! E, por favor, passe a dica aos seus leitores tambem. Muito obrigada. E obrigada novamente pelas palavras sábias, pela empatia e humor gentil do seu blog."


Ainda o caso CNN


Continuo recebendo e-mails de amigos passando adiante a mensagem de um aluno da Unicamp que ataca a CNN, afirmando que as imagens de palestinos comemorando os atentados, mostradas pela emissora, são de 1991. Isso já foi desmentido pela CNN, por gente que estudou a camiseta da seleção que um dos meninos usa, pelo estudante que mandou o e-mail, pela reitoria da Unicamp... ufa! Em suma, galera: a fita da CNN é autêntica, e pronto. A quem ainda tem dúvidas, recomendo uma passada pelo Relatório Alfa.

19.9.01

Leiam o que o Ali escreveu hoje no Globo. Está imperdível.

O Tutty ataca novamente...


Talebanalização
Aconteceu o pior! Gerald Thomas virou correspondente de guerra da Caras em Nova York! É o fim do mundo!

Assim se tece uma rede


O Clicio me escreveu:
"Não deixe de ver os belíssimos nus de Luiz Lhacer. Eu recomendo."
Aí eu fui, achei deslumbrantes e recomendo também.
Grande página, magníficas fotos.

Lar, doce lar


Uma página americana com fotos das manifestações de pesar pelos quatro cantos do mundo. Bem bonita (apesar de um midizinho muito enjoado: desliguem o som antes de ir lá).

Liberdade vs. segurança



Consultados pelo Washington Post online, 66% dos americanos disseram que concordam em perder parte das suas liberdades civis em nome da segurança nacional, contra apenas 24% que não abrem mão do que já conquistaram (10% não se decidiram). Para nós, brasileiros, que sabemos bem o que pode fazer um governo em nome desta segurança, e que não temos qualquer vontade de assistir ao filme de novo, este resultado é, para dizer pouco, alarmante. Passada uma semana dos atentados, porém, parece que o pessoal está voltando a raciocinar. Uma das vozes importantes a se manifestar em relação ao assunto foi a Forbes, onde Brigid McMenamin escreveu um ótimo artigo chamado "A grande mentira". Ela termina citando a frase clássica do patriarca Ben Franklin: "Aqueles que trocam a liberdade pela segurança não terão nenhuma das duas".

Abaixo-assinado do bem


Você repudia os ataques terroristas aos Estados Unidos, mas acha que sair por aí bombardeando o mundo todo talvez não seja a melhor solução para o problema? E você gostaria de se manifestar a esse respeito? Então, a solução ideal para você está num site chamado Shared Voice, onde um manifesto dirigido ao mundo em geral, e ao governo americano em particular, está reunindo assinaturas eletrônicas da comunidade internauta.

18.9.01


Edição sem graça


A "New Yorker", tão conhecida pelos seus cartuns sensacionais quanto pelos textos longos e refinados, chega hoje às bancas numa edição sui generis: da capa, totalmente em preto, com a data dos atentados estampada em vermelho, à última página (com um poema de Adam Zagajewski), não há um único cartun para contar a história. A insólita decisão foi tomada pelo editor David Remnick -- que, aliás, assina a principal matéria da revista (para a qual colaboraram também outros 22 repórteres e escritores da casa, entre eles nomes como Peter J. Boyer, Jeffrey Toobin e a legendária Lillian Ross). Ilustrando a edição, um portfolio de fotos que contam a história do World Trade Center. Como este é um exemplar que vai, provavelmente, ser disputado a tapa aonde quer que chegue, virando logo o que eles lá chamam de collector's item, acho difícil que nosotros, cá embaixo, cheguemos a ter algum em mãos. No problema: o grosso do material já está online.

Dinheiro não é tudo (mas é 100%)


Dentro da linha "A Vida Continua", circula pelas mailboxes de usuários do PhotoPoint a propaganda de um novo produto da casa: um cartão de crédito Visa em que o freguês tasca a foto que quiser. Os exemplos dão uma boa idéia do que caixas de restaurantes e lojas nos Estados Unidos devem começar a ver em breve: bichinhos de estimação, a família, "aquela" foto de pôr-do-sol e por aí vai. Muito bacaninha. E é claro que, tendo saído lá, já já chega aqui também. Quando isso acontecer, a minha grande dúvida será: qual dos meus gatos vai para o cartão?

Agendando o fim do mundo


A Bolsa despencou, a MacWorld de Paris foi cancelada mas, apesar de tudo, a vida continua: a Handspring lançou ontem dois novos modelitos do Visor, seu popularíssimo PDA baseado no sistema Palm. Seguindo a escola Mac de novidades tecnológicas, os novos brinquedinhos vêm em cores diferentes dos modelos anteriores: o Visor Neo, que passa a ser o entry-level da linha a US$ 199, pode ser encontrado em vermelho laqueado, roxo azulado ou cinza; o Visor Pro, mais chique e mais caro (e primeiro PDA Palm a vir equipado com 16Mb), custa US$ 299, num elegante tom metálico prateado. Essas belezocas podem ser vistas no site da Handspring, onde há ainda uma série de acessórios interessantes, entre eles uma pequena câmera chamada EyeModule, por US$ 199, que faz até filminhos em Mpeg.












Dicionário Brasileiro de Quandos


Acabei de receber pelo e-mail e, como costuma acontecer com essas coisas, não tenho idéia de quem fez. Se alguém souber quem é o autor, por favor me diga, para que eu possa dar o devido crédito, OK? Achei muito engraçado!

Para evitar que estrangeiros desinformados fiquem pegando injustamente no nosso pé coletivo porque prometemos e não cumprimos, está sendo compilado o Dicionário Brasileiro de Quandos, com lançamento previsto para breve (vide "Logo"). Dele foram extraídos os trechos a seguir:
DEPENDE - Envolve a conjunção de várias incógnitas, todas desfavoráveis. Em situações anormais, pode até significar "sim", embora até hoje tal fenômeno só tenha sido registrado em testes teóricos de laboratório. O mais comum é que signifique diversos pretextos para dizer "não".
JÁ-JÁ - Aos incautos, pode dar a impressão de ser duas vezes mais rápido que "já". Ledo engano, é muito mais lento. "Faço já" significa "Passou a ser minha primeira prioridade", enquanto "Faço já-já" quer dizer apenas "Assim que eu terminar de ler meu jornal, prometo que vou pensar a respeito".
LOGO - "Logo" é bem mais tempo que "dentro em breve" e muito mais que "daqui a pouco". É tão indeterminado que pode significar séculos: "Logo chegaremos a outras galáxias". É preciso também tomar cuidado com a frase "Mas logo eu?", que quer dizer "Tô fora".
MÊS QUE VEM - Parece coisa de Primeiro Grau, mas ainda tem estrangeiro que não entendeu. Existem só três tipos de meses: aquele em que estamos agora, os que já passaram e os que ainda estão por vir. Portanto, todo mes, do próximo até o fim do mundo (que, aliás não anda muito longe), pode ser um "mês que vem".
NO MÁXIMO - Essa é fácil: quer dizer "no mínimo". Exemplo:"Entrego em meia hora, no máximo". Significa que a única certeza é de que a coisa não será entregue antes de meia hora.
PODE DEIXAR - Traduz-se como "nunca".
POR VOLTA - Similar a "no máximo". É uma medida de tempo dilatada, em que o limite inferior é claro, mas o superior é totalmente indefinido. "Por volta das 5 horas" quer dizer "a partir das 5 horas".
SEM FALTA - É uma expressão que só se usa depois do terceiro atraso. Porque, depois do primeiro, deve-se dizer: "Fique tranqüilo, que amanhã eu entrego". E depois do segundo: "Relaxa, amanhã estará em sua mesa". Só aí é que vem o "Amanhã, sem falta."
UM MINUTINHO - É um período de tempo incerto e não sabido, que nada tem a ver com o intervalo de 60 segundos conhecido como "minuto". Raramente dura menos que cinco minutos.
VEJA BEM - É o day after do "depende". Significa "Viu como pressionar não adianta?". É utilizado da seguinte maneira: "Mas você não prometeu os cálculos para hoje?" Resposta: "Veja bem..."
XIIII.... - Se dito casualmente, acompanhado de um olhar voltado para o alto, logo após frases como "Não vou mais tolerar atrasos!" exprime dó e piedade por tamanha ignorância sobre nossa cultura.
ZÁS-TRÁS - Expressão em moda até os anos 50. Significava "ligeireza no cumprimento de uma tarefa, com total eficiência e sem nenhuma desculpa". Por isso mesmo, caiu em desuso e foi abolida do dicionário.

Enquanto isso, aqui em casa...



Pois é: resolvi trocar o chão da casa toda. O chão original era taco, ainda por cima peroba, que nem existe mais e acho muito bonito, mas estava soltando todo e, segundo especialistas, não agüentava mais passada alguma de máquina. Pensei em algumas alternativas quase indolores, como aquelas tábuas que a gente cola por cima dos tacos velhos, ou aquela coisa meio-sintética-meio- sei-lá-o-quê que vem, se não me engano, da Suécia (vocês vêem que me informei bem sobre o assunto) mas mamãe e Laura, minha irmã, foram taxativas:

-- Se é pra fazer, faz direito de uma vez! Tira todo o taco e põe o que você quiser, mas não põe nada em cima de taco porque, com o tempo, marca tudo e fica uma porcaria.

Bom. Pra quem mora com oito gatos, carpete está inteiramente fora de cogitação; tábua corrida é legal, mas quando um deles resolve se vingar de alguma maldade que eu tenha porventura (ainda que involuntariamente) cometido -- como, por exemplo, viajar -- fica difícil limpar. Se eu fosse inteligente, tivesse seguido os conselhos da minha mãe e ido atrás de uma profissão séria, a escolha estaria entre mármore, granito ou cerâmica.

A cerâmica do quarto da Bia já foi toda colocada. Hoje de manhã atacaram o escritório (na foto) e eu estou me sentindo um peixe fora d'água: os computadores estão desligados e desmontados lá na sala, numa confusão que me faz prever dois dias de trabalho só pra reconectar tudo -- já nem estou falando de coisas secundárias, como repor os livros nas estantes. A televisão está em cima da mesa, morta; sem BBC e CNN não sou ninguém numa hora dessas. Tudo está coberto de poeira. A banda larga é apenas um modem encostado num canto, mas como dói...

Neste momento estamos encolhidos aqui no quarto, os quadrupes e eu, respondendo a e-mails, escrevendo notinhas pra Globo.News e atualizando o blog no meu lindo, valente e fiel ThinkPad 560Z, conectado à rede via IP discado a (diz ele) 44.200Kbps. Não, não é o Pentium IV que está solto lá na sala, nem oo menos o Pentium III; e não, o monitor não é o lindo Samsung de 17" polegadas da minha vida, mas é, ainda assim, uma nobre e utilíssima máquina, que já me acompanhou a muitos lugares estranhos (Miami e Orlando, para citar apenas dois).

Não estranhem, portanto, se a atualização deste blog ficar meio capenga ao longo dos próximos dias...

17.9.01

Jornalistas até o último bit



Sobre o que se escreve numa semana como essa? Há — para júbilo dos Jáders e dos Condits — algum outro assunto? Alguém ainda agüenta falar sobre isso? Alguém consegue deixar de falar sobre isso? Estamos todos nos repetindo, tautologicamente, como as imagens da TV, em que as duas torres do WTC não páram de ser atacadas por dois aviões, uma de cada vez, explodir em chamas e ir ao chão. Já vimos essa imagem centenas, milhares de vezes, vamos ver outras centenas, outros milhares e, embora exaustos, vamos mais uma vez parar em frente à televisão, hipnotizados, incapazes de acreditar no que estamos vendo — mas incapazes, também, de acreditar que estamos duvidando do que tão claramente se desenrola diante dos nossos olhos.

Dizem que uma imagem vale por mil palavras, e não há como discutir o impacto das horrendas imagens a que assistimos ao longo dos últimos dias. Mas por quê, então, esta ânsia de falar, de escrever, de buscar uma tradução em palavras para o que, afinal, já vimos tanto? Eu não sei responder. Imagino que haja um quê de catarse nisso, que o fato de escrevermos e falarmos uns para os outros nos ajuda a ordenar as idéias, na esperança de descobrir algum sentido que talvez nos tenha escapado.

No meu caso particular, como jornalista, sei que nada na minha vida acontece completamente enquanto não é narrado, contado, compartilhado. O repórter é essencialmente um ser que reporta, um contador de histórias. Ele precisa contar o que viu, e quando viu; precisa dizer onde estava, o que fazia, o que aconteceu. E quem fez o quê, e como e por quê, e é a falta de respostas a essas três últimas indagações, imagino, que nos está deixando a todos tão aflitos.

A tragédia americana demonstrou, claramente, que há mais jornalistas, mais bípedes narradores espalhados pelo mundo, do que poderíamos imaginar só de ler os jornais e revistas, ou assistindo à televisão. Eles não estão ligados a nenhuma empresa de comunicação e, na maioria das vezes, são jornalistas sem querer, ou mesmo sem saber — como Mme. de Sévigné, que descreveu com tal riqueza de detalhes a vida na França do Século XVII que é inquestionavelmente a grande repórter da sua época.

Se tivesse se afastado da filha e começado a lhe escrever aí por 1985, Mme. de Sévigné teria sido o que, então, a gente chamava de BBSzeira. Trabalhando com modems de 2.400Kbps, baixávamos os pacotes de mensagens e posts do dia, respondíamos a tudo, escrevíamos mais alguma coisa e subíamos o nosso pacote. Era complicado, mas a gente achava o máximo. Se Mme. de Sévigné estivesse começando a escrever hoje, porém, ela seria, é claro, uma blogueira. Do seu cantinho do mundo, estaria dando a sua versão dos acontecimentos, fazendo observações, tecendo as palavras com o mesmo cuidado com que outras pessoas fazem tapeçarias ou peças de crochê.

Assim fizeram incontáveis blogueiros de Nova York, narrando, em suas respectivas línguas, o que viam acontecer ao redor de si. A maioria das pessoas estava na frente da televisão, olhando uma tela de fora para dentro; mas eles, jornalistas incorrigíveis, preferem olhar a tela de dentro para fora.

O Globo, 17.09.01
(E agora, depois dessa coluna, chega, né? Quero mudar de assunto!!!)


16.9.01

Chove lá fora


Dica para intelectuais metidos a besta, feito eu e o Geraldinho Carneiro (meu queridíssimo Carneirinho), sem assunto neste domingo mal-humorado: um brinquedinho em Java que traz os heroic couplets dos sonetos de Shakespeare, menos a palavra final do poema, que a gente tem que lembrar -- ou chutar, também vale. Nas fases mais avançadas, sem as duas, três ou quatro últimas palavras -- mas aí quero ver alguém acertar no chute! Muito bacaninha. O Gerald Thomas deve achar a coisa toda insuportavelmente infantil. E, já que o assunto é poesia, no ComVerso há uma coleção (antologia, pois não?) de lindos poemas.

Momento crítico


Desde o dia 11, poucas coisas vêm sendo discutidas tão intensamente na internet quanto o papel da tecnologia nos atentados. De um lado, os celulares e agendas conectadas que permitiram às pessoas avisarem às famílias que estavam bem ou, absoluto horror, que o seu avião havia sido sequestrado ou o prédio estava caindo. De outro,a possibilidade de que a internet tenha, de alguma forma, facilitado a comunicação entre os terroristas.

No dia seguinte ao atentado, o FBI já estava batendo à porta dos maiores provedores de acesso e instalando Carnivores em seus servidores. O Carnivore é um software que permite a leitura do conteúdo dos e-mails que trafegam de um lado a outro; ele próprio faz uma leitura inicial desta massa de informação buscando pelas palavras-chave que, em tese, acenderão a luz vermelha para que um agente entre e cena e veja o que diz a perigosa mensagem. Como se, ao planejar um atentado, alguém precisasse, necessariamente, usar as tais palavras-chave...

Mas, como seria de se esperar, houve pouca, quase nenhuma resistência a este software que, há poucos meses, era execrado pela comunidade de TI. Na maioria dos fóruns de discussão sobre tecnologia de segurança, americanos se dizem dispostos a permitir que seus telefones sejam grampeados e seus e-mails escarafunchados pelo FBI se isso contribuir para a segurança do país. Essa reação absurda, que está assustando os usuários de outros países, só se explica pelo medo - e, possivelmente, pela ignorância do que seja, de fato, um estado policial.

Terroristas usam a internet? Provavelmente. Mas eles também usam os correios, e nem por isso vamos dar autorização para que a nossa correspondência seja rotineiramente aberta e lida em nome de uma vaga segurança. O Carnivore (e seu colega europeu Echelon) darão algum resultado? Talvez. Quando se vasculha tudo, o tempo todo, alguma coisa sempre se encontra - mas não o suficiente para que, em nome dela, se prive toda uma sociedade de seus direitos básicos e de sua liberdade de expressão.

O Globo, 16.09.2001

"A America de hoje é liderada por um presidente que parece ter estudado na Escola de Política Vladimir Putin", diz o Guardian, jornal inglês que tem publicado um artigo melhor do que o outro sobre O Assunto. "Assim como o líder russo deixou seus compatriotas indignados há um ano, ao não se abalar da sua dacha para ficar ao lado das viúvas do Kursk, George Bush conseguiu atravessar a barreira de luto e choque dos nova-iorquinos -- e enchê-los de fúria."




Bons velhos tempos


Para dar uma aliviada no clima lúgubre dos últimos dias, acabo de passar horas olhando fotos antigas.

De repente encontrei essa, tirada há uns dois anos: a Bia e a cronista que vos tecla, mergulhando felizes em Arraial do Cabo.

Gente, eu adoro essa foto,
e estou morrendo de saudades da Bia!


Aliás, Bipe, sabe com quem eu vou almoçar hoje?
Com a Mayra, que veio conferir se o Rio de Janeiro continua lindo.

Não é que continua?

Rien ne va plus!


Há cerca de um ano, fiz uma reportagem sobre os cassinos virtuais. Foi um trabalho interessante: me inscrevi em inúmeros cassinos, participei de listas sobre jogo on-line, troquei e-mails e teclei ao vivo com os gerentes de alguns deles (que ficam habitualmente baseados no Caribe). Fiz minha fezinha também, lógico -- e, inacreditavelmente, até ganhei algumas vezes. Os cheques chegaram prontamente pelo correio e, pasmem, tinham fundos. Foi uma experiência bacana, com certeza -- mas, assim que a matéria saiu, tratei de desinstalar os programas de cassino virtual da minha máquina, e nunca mais deixei o mouse pôr os pés em qualquer deles. Ao mesmo tempo, escrevi para todos pedindo que me retirassem das suas listas de e-mail. Dois ou três me atenderam, mas a maioria se fez de desentendida. O resultado é que, até hoje, continuo recebendo de três a seis spams diários de cassinos que tentam me seduzir.

O dia 11 de setembro não foi exceção. Os spams chegaram pontualmente à minha mailbox, como se nada houvesse acontecido. Esquisito, porque, não sei se vocês repararam, a quantidade de spam enviada ao longo da semana foi visível e drásticamente reduzida. No dia 12, mesma coisa. Menos spam ainda, mas lá estavam os cassinos, imperturbáveis. Até que, no dia 13 (também, com esse número...) a ficha começou a cair. Eles devem ter recebido tantos flames que ficaram espertos. Alguns, como o Golden Palace e o Prestige, pediram desculpas pelo marketing inconveniente, e enviaram mensagens de pêsames e solidariedade.

Mas o Windows Cassino foi além -- na mensagem compungida que mandou, aproveitou para convocar os clientes a dividirem a sorte com os menos favorecidos, através das linhas que criou (à la Amazon.com) para a Cruz Vermelha e para o fundo dos bombeiros de NY. E prometeu que, para cada pessoa que faça login até o final do dia 16, doará US$ 5 para essas duas instituições. Sem necessidade de depósito ou de jogo por parte do pat... digo, cliente.

No fim, ainda é capaz de faturar algum. Há jogador que, uma vez no site, resistirá a tentar a sorte? Ainda mais movido por causa tão nobre?

15.9.01

This news event has proved that the Internet has come of age as a reporting tool. (ITN)

One of the most striking things about the terrorist attacks in Washington and New York was the outpouring of outstanding Internet coverage from ordinary citizens. (Wired)


Utilíssimos links!


Escreve o C@T, numa Parabólica que eu reproduzo tal e qual:

"É mais ou menos com um cão que corre em círculos querendo morder o próprio rabo. Foi graças à criptografia que os terroristas conseguiram esconder suas trocas de mensagens via email. Deu-se então o terrível atentado. Conseqüentemente, os ativistas que lutam pela liberdade de expressão manifestaram justificado receio de que o governo americano tomará medidas que limitarão ainda mais a privacidade e a liberdade do cidadão comum. Para garantir seu direito de livre expressão sem que as agências de inteligência fiquem metendo o bedelho nos assuntos privados do cidadão, este mesmos ativistas estão oferecendo à comunidade internauta a mais completa lista já divulgada de ferramentas gratuitas de defesa da privacidade, muitas delas de distribuição restrita ou proibida, incluindo encriptadores, telefones seguros, algoritmos e quebradores. Pega quem quiser, gente boa ou gente má.


Já prevendo reação adversa dos organismos de segurança americanos, os organizadores da tal lista informam nela também os espelhos internacionais, ou seja, sites fora dos EUA onde o material listado pode ser obtido. Para quem se interessa, o negócio é pegar logo antes que a sopa acabe.


Obviamente, a rapaziada do /usr/bin/laden também vai downloadear este material rapidinho. Mas... pensando bem, talvez eles tenham outras preocupações neste momento." (Carlos Alberto Teixeira)

Listas & notícias


Sob certos aspectos a internet é imbatível como fonte de informação. Exemplo: a lista de sobreviventes que a prefeitura de Nova York está publicando e atualizando na rede, ou a lista de inquilinos do World Trade Center, empresa por empresa, dando conta do número de empregados, de quantos já apareceram, quais os telefones para contato neste momento, e assim por diante, publicada pelo Wall Street Journal. A televisão não pode fazer isso; os jornais impressos podem, mas sem a agilidade oferecida pela internet. A prefeitura de Nova York, que sabe das coisas, está com um website extremamente funcional, com todas as informações de que alguém possa precisar por lá.

O Journal ter circulado normalmente, aliás, foi um feito de bravura: sua redação ficava exatamente em frente ao WTC e teve que ser evacuada em meio à confusão. A redação está funcionando provisoriamente em Nova Jersey, e os repórteres estão mandando as matérias de casa, mas a edição de quarta foi fechada mesmo da casa do secretário de redação Byron Calame.

14.9.01

Maluquice saudável


A vida nos Estados Unidos começa, definitivamente, a voltar ao normal: já tem gente fazendo estatística do volume de doações para a Cruz Vermelha arrecadado pela Amazon.com. Ufa!
Marrelógico que eu li, né, Joaquim?! Se leio sempre... ;-)

Fita autêntica


Desde hoje cedo estou recebendo e-mails alarmados dizendo que a cena dos palestinos celebrando o atentado, mostrada à exaustão em todos os canais, é uma fita da época da Guerra do Golfo, reaproveitada agora pela CNN. Como todo hoax, este também já deu a volta ao mundo. Eason Jordan, editor-chefe de noticiário da CNN (minha tradução para o cargo de Chief News Executive), diz que a simples sugestão de que a emissora pudesse fazer isso é ridícula, e destituída de qualquer fundamento. O vídeo, diz ele, foi feito na terça-feira, em Jerusalem, por uma equipe da Reuters, e inclui comentários de um dos palestinos elogiando Osama Bin Laden -- que, na época da Guerra do Golfo, é bom lembrar, ainda não estava no mapa. Os jornalistas que filmaram as celebrações, acrescenta Jordan, foram ameaçados pelas autoridades palestinas.
Adendo, em 15.09.01: Acabo de assistir a uma longa matéria da BBC sobre a situação no Oriente Médio. A correspondente pergunta a um dos palestinos o que ele achou do atentado nos EUA, e ele responde: "É uma pena que não tenha matado mais deles". O pior é que, como sabemos, esta não chega a ser uma resposta surpreendente.

Si non è vero...


Essa historinha vem sendo muito repetida nos últimos dias. Não sei se é verdadeira, mas é tão boa que, se não é, tinha que ser ("Se a lenda é melhor do que a realidade, publique-se a lenda!" -- e agora, quem foi que [provavelmente NÃO] disse isso?). Contam que, uma vez, alguém perguntou ao Mahatma Gandhi o que ele achava da civilização ocidental. Respondeu ele: "Seria uma boa idéia..."

Deu no Tutty Vasquez!




O que mais assusta em George Bush é aquela cara de bobo que ele faz para dizer que não tem medo de nada! Um homem assim é capaz de qualquer bobagem por pura idiotice!

Do fundo do coração da web


Com a mesma velocidade com que se mobilizou para transmitir as terríveis notícias da tragédia americana — através de e-mails, mensagens nos fóruns de discussão, home-pages criadas às pressas — a internet se mobiliza, agora, para ajudar no que pode. Há uma corrente do bem como nunca se viu dando voltas ao redor do planeta, da imediata e maravilhosa reação da Amazon.com — que, já no dia 11, redirecionava a sua formidável máquina de vendas para arrecadações para a Cruz Vermelha — à não menos rápida, ainda que questionável, atitude da X10, que substituiu o texto dos irritantes pop-ups que anunciam a sua webcam por toda a rede por uma mensagem de solidariedade às vítimas.

Muitas empresas alteraram as páginas de entrada dos seus websites. A Apple criou um link para a Cruz Vermelha; a IBM se oferece para ajudar no que pode e oferece links e números de telefone para os seus serviços de emergência; a eBay substituiu as tradicionais chamadas de leilões pelo endereço de dois fundos de auxílio às vítimas e seus familiares, e um link para doações instantâneas. Como a Amazon.com, a eBay tem um gigantesco know-how para processar transações eletrônicas, e está pondo esta habilidade à disposição de quem quer contribuir.

As empresas de mídia criaram, como seria de esperar, centenas de páginas com informações, orientação e links, seja para quem quer contribuir, seja para quem precisa de ajuda. As sediadas em Nova York, como a Tribune Co. e o New York Times, criaram os seus próprios fundos para arrecadar doações dos leitores, e pelo menos uma, a Cahners, já tem um fundo de ajuda às famílias de dois de seus funcionários que morreram no atentado.

Os exemplos são, literalmente, incontáveis. O MyPoints, portal de compras que dá pontos aos usuários (e que, recentemente, foi comprado pela United Airlines) criou um mecanismo para doação de pontos para a Cruz Vermelha; o Lycos, ferramenta de busca, lançou uma campanha especial e aponta links para todas instituições, centros de informação e demais pontos relevantes da rede.

Quanto aos internautas, eles têm correspondido à altura. Só no site da Amazon já haviam sido recolhidos, até a noite de ontem, mais de US$ 3,5 milhões de dólares, doados por mais de 100 mil pessoas do mundo inteiro.

O Globo, 14.09.2001

Adendo, às 16h20: Já são US$ 4.791.771, doados por 130.385 pessoas.

Giuliani, o herói


A sempre excelente Dorritt Harazim, no no.com.br:

"Giuliani se faz visível o tempo todo, onde necessário e sem demagogia. Concede quatro ou cinco entrevistas coletivas por dia, todas pertinentes, informativas e em locais diversos da tragédia. Tem pleno conhecimento de tudo o que está acontecendo sob seu comando. Sua fala tem sido direta, clara e honesta. Transmite calma, mesmo quando o que tem para comunicar é horrendo. Acerta no tom, na forma, no conteúdo. Tornou-se, ao longo desses três primeiros dias de choque, a voz na qual os novaiorquinos passaram a confiar."

É isso mesmo. Eu também tenho observado Giuliani com a maior admiração ao longo desses dias. Ele é tudo o que George Bush não é: inteligente, confiável, um verdadeiro estadista. Tinha tudo para terminar o governo de forma patética, transformado em objeto de ridículo por causa das suas confusões amorosas, e em vez disso vai entrar para a História consagrado, como homem público de estatura moral inquestionável.

Quem me chamou a atenção para o artigo da Dorritt foi, justamente, um daqueles jornalistas de nascença de que eu falava ontem: o Cris Dias, outro dos maravilhosos blogueiros brazucas em Nova York.

Uma boa - aliás, ótima! - idéia


Steve Kirsch, o camarada que criou o Infoseek (na foto, com seu carro de estimação), propõe, no seu website, que os aviões se tornem tão pouco atraentes para seqüestradores quanto os bancos se tornaram para os assaltantes de bancos desde que foram instalados nos caixas botões de emergência que trancam as portas do cofre e da agência e ligam um alarme na polícia. No caso dos aviões, tais botões, conectados aos sistemas GPS, "trancariam" as aeronaves assim que fossem acionados, estabelecendo uma rota de vôo imutável até o aeroporto mais próximo. Elas só se "destrancariam" durante o procedimento de pouso. Na minha cabeça, isso faz muito mais sentido do que todas as propostas malucas que estão rolando por aí: agentes em cada vôo, revistas radicais, proibição de se transportar bagagem de mão... Está na cara que nada disso vai funcionar.

Aliás, nos últimos dias tenho pensado demais naquela cena clássica de "Apertem os cintos, o piloto sumiu!", em que o pessoal da segurança deixa terroristas armados até os dentes embarcarem numa boa, mas se atira em cima duma velhinha inofensiva. E dizer que parecia piada.

Enquanto isso, na Inglaterra, estão tirando o Flight Simulator das lojas. Não se sabe ainda o que vai acontecer com o sofá da sala.

Desculpas, sim... ma non troppo


Com uma oferta de software grátis em troca de apenas um link para a Cruz Vermelha, Nicholas Longo, CEO da Coffee Cup Software, mandou, ontem, uma nova mensagem aos usuários dos seus produtos. Foi ele quem, há dois dias, escreveu isso:

We would like to also say on record that if any country is found responsible for these attacks, we call for that country's complete destruction and annihilation.

Eu achei que só eu tinha ficado indignada mas, pelo visto, colou mal mesmo.
Eis a nova mensagem:

In my last e-mail I was angry. Now I am angry and saddened.
My thoughts were emotional, not political or commercial.
I will stand by my conviction that those responsible should not walk with us on this planet. I will though take back the word 'annihilate', this was anger speaking from someone that has now cried for the victims of this attack.
This may surprise some people...... I am only human.


[OOHHH... Mas taí, humano? Eu me confesso surpresa, sim.]

Just as President Bush almost cried on CNN today, that does not make him less of a President. I as a CEO have the right to be angry, and to vent my emotion. This does not make me any less of a CEO or human. It makes me more of one.

Nick-



Não senti lá muita firmeza, mas antes assim.
Outra coisa: ser CEO tá com essa bola toda, tá?
É tão mais importante assim do que ser simplesmente um human?
Caramba.
I'm impressed.

E o Gary Condit, hein?

13.9.01

A imprensa inglesa está, como sempre, dando um show. Da cobertura nota dez da BBC aos artigos de opinião do Guardian e do Daily Telegraph, a gente vê que o pessoal está fazendo uma coisa rara nesses dias confusos: pensando.

Outra européia que está se saindo muito bem é a RAI, italiana. Os comentaristas e especialistas convidados têm sido invariavelmente bem escolhidos, falam direito e com bom conhecimento de causa -- não se esqueçam que os italianos conviveram anos a fio com as Brigadas Vermelhas, e têm, conseqüentemente, um bom know-how de combate ao terrorismo.


Depois de postar a nota logo abaixo desta, me lembrei que, há tempos, eu já havia escrito um texto sobre ser jornalista, na onda de outra grande comoção mundial (guardadas, é lógico, as devidas proporções): a morte da princesa Diana. Na época, fiquei indignada com a condenação geral aos papparazzi, rapazes trabalhadores que, como diz a Bia (minha filha; também jornalista), podiam estar matando, podiam estar roubando mas, em vez disso, estavam lá tentando fazer umas fotos, à mercê de um playboy irresponsável e seu motorista bêbado. Este texto, que fez quatro anos ontem, está reproduzido aqui.

Notícia à flor da pele


A Lia, que faz um blog muito bom, está contente com a reação da imprensa ao papel desempenhado pelos blogs durante os últimos acontecimentos. Como blogueira (inda que principiante) também estou -- foi, sim, dado um bom destaque aos blogs, e não só no Globo, onde trabalho, porque aí seria fácil, né? mas também nos grandes portais. O fato é que estamos vivendo uma época única, de mudança de paradigma, em que a notícia deixa de ser mercadoria exclusiva dos veículos "oficiais", e passa a ser o que sempre foi, desde tempos imemoriais -- a manifestação das vozes (por vezes dissonantes) de bípedes que querem transmitir as suas emoções e experiências aos outros bípedes, seus semelhantes. Algo que deixa de ser exclusivamente fechado (como, p.e., em All News That's Fit To Print. Quanta arrogância! Quem sabe o que é fit?!) e passa também a circular livremente, de boca em boca, de blog em blog.

(Quer dizer que os blogs vão substituir os jornais? Os noticiários de rádio e TV? Não, é claro que não vão. Mas, com a internet, pela primeira vez, desde que a humanidade deixou para trás as pequenas cidades em que todo mundo se conhecia, o cidadão comum --pelo menos, o que já tem acesso à rede -- pode se fazer ouvir onde quer que seja. Assim como o rádio não acabou com os jornais, nem a TV acabou com o rádio e os jornais, a internet também não vai acabar com ninguém; vai apenas se juntar ao fluxo de informações já existente, não apenas contribuindo para engrossar o caldo mas, principalmente, para mudar a receita.)

Me desculpe a garotada que freqüenta as faculdades de comunicação, mas eu -- que nunca me formei em coisa alguma, e sempre fui contra a obrigatoriedade do diploma de comunicação para exercício da profissão -- acho que jornalista a gente é de nascença, ou não é. O que se vai acrescentar a isso depois é o domínio das técnicas do ofício -- mas isso, sinceramente, é o de menos.

A Deb, do alto dos seus 19 anos, provou ser muito mais jornalista do que muito colega de diploma e carteirinha. Também, por exemplo, aquelas meninas mostradas pelo Jornal Nacional, que estavam quietas em Nova York e saíram correndo com suas câmeras para o WTC assim que souberam dos atentados -- elas são essencialmente "jornalistas" e, ainda que tenham prometido às mães que vão se cuidar mais, não vão não, não tem jeito. Quando um jornalista sabe que há alguma confusão rolando perto de onde ele está, sai correndo para lá. Está no sangue.

Desnecessário dizer o quanto me orgulho de pertencer a este grupo estranho.




(thnxs!)

Lá, na hora


A HP do Blogger dá destaque ao The Fine Line, um blog radical maravilhoso, onde ainda tenho que passar mais tempo mas onde já descobri esta declaração fundamental:

It is the difference between intellectual resource and material resource which requires a rethinking of the economics of ideas. Ideas belong to a culture; they are not owned by an individual or corporation. Ideas increase in value with their abundance, not their scarcity. Ideas should be freely available as seeds for more ideas, and not bound and haggled over by lawyers and politicians.

Prometo tradução para breve -- eu sei, eu sei, já estou devendo a do Barlow também, não me esqueci não.

Bom. Mas não é porisso que o Blogger chama a atenção pro TFL, mas sim pelo depoimento do Bob, blogueiro/webmaster que foi testemunha não só ocular, como fotográfica e textual da História. É um documento impressionante, que devia ser leitura obrigatória para quem ainda não descobriu a que vieram os blogs.

Em tempo: o TFL é meio que irmãozinho visual deste InternETC., mas muuuito mais bem transado, sobretudo como combinação de cores... Sei não, mas acho que assim que eu arranjar um tempinho, e depois que as traduções que prometi a vocês estiverem feitas, este blog vai trocar de roupa.

12.9.01

Finalmente, um aspecto positivo!


Um efeito colateral inesperado deste horror todo: os filmes e séries de TV sobre atos terroristas, atentados e violência indiscriminada em geral que Hollywood nos despeja regularmente goela abaixo estão em banho-maria. Pelo menos duas mega-produções com lançamento já marcado foram temporariamente arquivadas: "Colateral Damage", do Schwarzenegger, que chegaria aos cinemas no dia 5 de outubro -- em que o prato principal é a explosão de um edifício em Los Angeles -- e "Big Trouble", de Tim Allen, em que um terrorista ameaça os passageiros de um avião com uma bomba. Meno male! Quem sabe agora os estúdios usam mais a imaginação e os sentimentos, e menos os efeitos especiais e a pancadaria.



Não é à toa que a gente gosta da Amazon.com...


A Amazon.com pôs o seu famoso clique -- responsável por algumas das compras de livros mais impensadas e impetuosas na vida de todos nós -- a serviço da Cruz Vermelha. Muito bacana! Clique aqui e você será levado direto para uma página onde poderá ver quanto já foi arrecadado e com quanto quer entrar pro mutirão. O default é US$ 10, mas você pode dar quanto quiser, de um dólar ao que permitirem as suas finanças. Pode ser pago no cartão de crédito (qualquer cartão) e, ao fim da operação, você sai aqui, na página da Cruz Vermelha. Acho importante lembrar que, ao contribuir para a Cruz Vermelha, a gente não está contribuindo só para ajudar as vítimas da tragédia americana, mas sim para ajudar o trabalho da organização no mundo todo. Quando estive lá, 28.967 pessoas já haviam doado US$ 773.762,50.

Adendo às 18h38: Reparem na eficiência desta idéia -- agora já são US$ 1.123.39,53, doados por 39.318 pessoas. Uma coisa que sempre desafia a minha compreensão nesse tipo de contabilidade são os centavos. Entendo que alguém que não seja americano nem more lá queira fazer uma doação de Z patacas ou Y cruzados, e que a conversão para dólar dê US$ X,YW. Mas por que esse povo não arredonda as contas?!

Outro adendo, às 21h21: O Marcos Sá Correa também escreveu sobre este belo gesto no no.com.
Roubei isso do Millôr.

Fiz esta foto num fim de tarde, em março deste ano, quando estive pela última vez no Windows on the World, o restaurante do 107 andar do World Trade Center. Ele tinha, mesmo, uma das vistas mais bonitas do mundo. Aos poucos começam a ser atualizados os sites da web que apontam para lá, e por toda a parte repetem-se as fotos terríveis do dia de ontem. Aqui, porém, ainda está sendo possível fazer um tour em realidade virtual pelas duas torres.

Bom, o Pedro Doria, do no.com, acertou na mosca, para variar... E, enquanto isso, em circular para os amigos intitulada "Remember the Reichstag", John Perry Barlow dá o alerta: a tragédia de ontem pode ser tudo o que os extremistas americanos precisavam para cercear de vez a já assaz cerceada liberdade de um país que, cada vez mais, ignora o verdadeiro significado da palavra liberdade.

"Não deixem que os terroristas ou (seus aliados naturais) fascistas triunfem, -- escreve ele. -- "Lembrem-se de que uma das metas do terrorismo é paralisar, de forma cada vez mais totalitária, o governo que ataca. Não vamos lhes dar essa satisfação. Nada temam. Vivam em liberdade".

Grande Barlow! O texto está em inglês. Eu sei, eu devia traduzir para vocês, mas já é tarde paca (vejam a hora da postagem!) e eu estou bem cansada, acreditem. Se sobrar um tempinho, faço a tradução logo mais, OK?

Ao povo, unido, jamais faltará informação



A internet enfrentou o seu primeiro grande teste em 31 de agosto de 1997, quando a princesa Diana morreu. Na ocasião, os grandes portais de notícias deram um show, ganhando disparado dos jornais, da televisão e mesmo do rádio na velocidade da transmissão de notícias.

O segundo grande teste da internet aconteceu ontem. Para quem acompanhou os dois fatos pela web, o contraste foi impressionante. Os mega-portais entraram em colapso, até porque ainda é técnica e humanamente impossível atender à demanda de uma rede que, dos menos de 20 milhões de usuários globais daquele 1997, passou para os mais de 400 milhões deste 2001 — todos, naturalmente, querendo saber das mesmas coisas ao mesmo tempo. Resultado: as notícias “oficiais”, digamos assim, só voltaram a fluir com certa normalidade passadas cerca de quatro horas dos atentados.

Mas a gigantesca, imensa internet — aquela, a verdadeira, composta de milhões de vozes espalhadas ao redor do mundo — deu uma das mais surpreendentes provas de vitalidade jamais vistas. As notícias que estavam indisponíveis nos portais voavam nas mensagens e listas que habitualmente desaguam nas mailboxes dos usuários; os blogs serviam simultaneamente à informação dos leitores e à manifestação de perplexidade dos autores; e a melhor e mais ágil cobertura de todas foi ao ar, previsivelmente para quem “mora” na rede, no slashdot.org, clássico boletim de geeks e nerds — no fundo, um grande blog coletivo — e um dos poucos websites preparados para enfrentar a inquietação universal do dia. Estranhamente, o Google, ferramenta favorita de busca na internet, que devia conhecer melhor a sua gente, preferiu ignorar o real poder da rede, recomendando aos que lá chegavam que buscassem notícias no rádio e na TV. Perdeu muitos pontos entre os internautas com esta atitude impensada.

A velocidade e competência com que se organizaram os blogs, porém, compensou o faux pas do Google. Listas de links para fotos, vídeos e notícias individuais brotaram feito cogumelos em dia de chuva, numa fabulosa rede de pasmo e solidariedade.

O GLOBO, 12.09.2001
"Ninguém escapa ao terror, -- escreveu o Millôr ontem, num artigo publicado à tarde na edição extra do JB, e na edição normal de hoje (houve edição de jornal normal, hoje, no mundo?) -- [Terror] que só tende a aumentar e se ampliar todos os dias, se ainda houver cotidianos."



11.9.01

Concordo com o que postou o Danilo esta tarde, às 2h50:


Todos os portais de notícias estão congestionados...
A cobertura que a Deb está fazendo em seu blog diretamente de Nova York está melhor que qualquer portal de notícias, são relatos reais de quem está vivendo de perto esta loucura...



Mas não foi só a Deb, embora ela tenha feito mesmo um trabalho sensacional. A ampla e variada cobertura dada pelos blogs mundiais aos atentados nos EUA deu de dez a zero na cobertura dos mega-portais de notícias, e demonstrou, de forma inequívoca, que a grande força da rede está nos seus usuários. É uma pena que justamente o Google não tenha percebido isso.
Há um link para este poema do Yehuda Amichai logo ali embaixo, mas o dia hoje não está facilitando o ir-e-vir entre links. A tradução é do Millôr.

Eu, que eu possa descansar em paz


Eu, que eu possa descansar em paz
Eu, que ainda estou vivo, digo;
Que eu possa ter paz no que tenho de vida.
Eu quero paz agora mesmo, enquanto ainda estou vivo.
Não quero esperar como aquele piedoso que almejava
Uma perna do trono de ouro do Paraíso. Quero uma cadeira
De quatro pernas, aqui mesmo, uma cadeira simples de madeira.
Quero o resto de minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
Combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo,
Minha cara de amante, minha cara de inimigo
Guerras com velhas armas paus e pedras, machado enferrujado, palavras,
Rasgão de faca cega, amor e ódio,
E guerra com armas de último forno metralha, míssil,
palavras, minas terrestres explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais
De que vida é guerra
Eu quero paz com todo meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz.

Palavras, palavras, palavras


Não li tudo o que foi escrito sobre o dia de hoje; ninguém jamais conseguirá ler os milhões de artigos, pensatas, posts e reportagens em que um mundo perplexo tenta entender-se a si mesmo (sem muito sucesso, diga-se de passagem). Mas do que li -- e só tenho lido sobre isso desde que acordei -- nada se compara ao comovente depoimento do Jon Katz, no /. No mesmo Slashdot, por sinal, está rolando a melhor cobertura online dos atentados, até porque, em toda a rede, pouca gente têm o know-how deles para manter os assuntos atualizados -- e, principalmente, os servidores funcionando.
A X10, aquela webcam que vem, há meses, infernizando a vida de todo mundo na rede com seus pop-ups onipresentes, avisa que suspendeu o "serviço" em solidariedade às vítimas dos atentados. Não sei o que é pior; se é fazer pop up descaradamente comercial, ou hipocritamente humanitário.

DISSE TUDO


Nemo Nox: "Manhã de poucas palavras. Mudou a paisagem física, mudou a paisagem política, mudou a paisagem humana."



A internet começa a voltar ao normal, se é que qualquer coisa pode voltar a ser normal a essa altura do campeonato. O /. está fazendo uma cobertura de gente grande.
14h23m: O Wall Street Journal acordou, e mudou a manchete (Terrorist Attacks Hit U.S. Cities). Digamos que essa ficha demorou a cair.

Assustador é pouco


Olhem o tipo de mensagem que já está circulando:

"Hello everyone,

This is Nicholas Longo, the CEO of CoffeeCup Software.
As you may have heard the World Trade Center and Pentagon
were attacked about 45 minutes ago.

The Team at CoffeeCup would like to send our heart felt
sorrow to those that perished in these attacks.

We would like to also say on record that if any country
is found responsible for these attacks, we call for that
country's complete destruction and annihilation.


Do not let terrorism which is designed to create fear
and stop production, halt your life or work.
Stay focused and do not stop what you are doing.

-May God bless us all and the decisions we must make.

Nick-"

E isso vem de gente pacífica, que faz software para a web...! Imaginem agora aqueles fanáticos do interior americano, beligerantes e arrogantes ao extremo, armados até os dentes contra os próprios vizinhos, ignorantes de qualquer coisa que não sejam os versículos da Bíblia e o número de cartuchos comportados pelos diversos tipos de automática.

O começo do fim do mundo?


Quem ainda não ligou a televisão, ligue já, de preferência na CNN, na Globonews ou (minha favorita) BBC.


Mas esqueçam a internet, intransitável.

O mundo inteiro está querendo maiores informações sobre os atentados terroristas nos Estados Unidos; a imprensa toda está, é claro, fazendo o que pode. E TODOS estão conectados simultaneamente.

Quem estiver interessado no processo que o governo americano move contra a Morgan Stanley, porém, pode tentar conexão com o Wall Street Journal, que ainda agora, 12h52 horário de Brasília, dá este empolgante caso como primeira manchete, abrindo apenas a segunda manchete, em prova cabal de que tudo na vida é relativo, para a notícia de maior impacto do milênio.

Não sei o que é mais assustador, se as imagens de Nova York, ou o presidente Bush vindo à televisão para dizer que esta é uma grande tragédia, pedir um minuto de silêncio, ficar calado menos de 30 segundos e ir embora. Pensem: o maior arsenal do mundo está nas mãos DESTE homem -- que, ainda por cima, agora tem motivos de sobra para usá-lo.

Gatos!!!




Este gato lindo veio do bigcatheads, site de um camarada ótimo de traço chamado Bruce Andrew Mckay. Se você gosta de gatos vá até lá, ele merece a visita. Se não gosta vá também. Repito: ele merece a visita. Esta ótima dica eu contrei aqui.

Cuidando do que é deles


A revista Forbes é, quem diria, uma excelente leitura online. A edição, feita por gente do ramo, vai além da simples reprodução do material impresso, e tem sempre novidades pro povo conectado. Agora mesmo está no ar uma sensacional ferramenta para ajudar as empresas que estão pensando em fazer upgrade dos seus sistemas Windows para o ainda-nem-chegado-XP a calcular o prejuízo. Muito bem bolado!

Where do you want to go today?


Vocês se lembram? Essa pergunta foi feita urbi et orbi pela Micro$oft, quando do lançamento do Windows 95, em pleno surto esquizofrênico de agência de viagens. Mas há uma trip muito mais interessante aqui.

Esta página faz parte do site de Milo Vermeulen, um holandês de 22 anos que vive em Wateringen, e que descobriu um verdadeiro blog de Colombo: quanto mais gente apontar para a página, maior ela se tornará, e mais interessante. É um achado, mas não supreende. Quem se der ao trabalho de olhar o resto do site do garoto vai ver que ele é muito bom de bola.

Rede de (in)segurança


Uma dica especial para angloparlantes paranóicos com os crescentes perigos da vida digital: há uma excelente página no sítio do CERT sobre segurança em redes domésticas. Preparem-se para uma leitura alentada -- a página parte do beabá ("o que é segurança de computadores?") e desce a minúcias muito bem explicadas sobre os ataques de vírus mais recentes. Um detalhe curioso: a moral da história, se bem entendi, é Faça backup!

Quer dizer: tanta tecnologia pra lá e pra cá e acabamos caindo sempre na mesma coisa... ?!

Em tempo: o CERT é um dos mais respeitados centros de estudos e troca de informações sobre segurança de redes.

10.9.01


Um dos meus poetas favoritos se chama Yehuda Amichai. O Millôr já traduziu vários poemas dele; dois, emocionantes, estão aqui.

Cruzes!




Vocês têm que concordar comigo: nunca houve um ilustrador de informática como o Cruz! O rapaz, que ilustra a coluna do grande C@T, entendeu tão bem o espírito da coisa que, quando sai de férias, os leitores reclamam. Aliás, quando volta das férias, eles reclamam também: há sempre alguns que não conseguem perceber a profundidade da representação iconográfica dos conceitos abstratos em tecnologia da informação que ele tenta transmitir, e escrevem cartas pra redação reclamando do que não lhes parece, propriamente, um modelo de ilustração para jornal familiar. Felizmente o número de mentes iluminadas que consegue captar a sua real mensagem é bem maior, como comprova este recém-criado fã-clube. É preciso fazer inscrição, mas os desenhos, conforme se pode ver pela amostra, valem o esforço.

(Agora, sinceramente, acho que o Cruz deve ser um caso único na imprensa mundial. Eu, pelo menos, não conheço outro desenhista que consiga criar polêmica ilustrando matérias sobre algorritmos e formatos de arquivos, e fico muito contente e orgulhosa em tê-lo nas páginas do caderninho.)