31.5.10

Estou louca pra ver...

Isso lá é dia que se apresente?!

BlackBerry no reino das tentações





Uma vez publicamos uma grande matéria no velho ”infoetc” sobre os smartphones, que começavam a conquistar público cada vez maior no Brasil. Ficou bonita e completa – tinha dados, preços e avaliação dos celulares, com fotos e o que mais fosse relevante à informação. Pois na própria segunda-feira em que circulou a edição, recebemos um telefonema muito sentido do assessor da Nextel, perguntando por que não havíamos falado sobre nenhum dos seus aparelhos. Expliquei que Nextel era um mundo à parte, uma espécie diferente de animal – e continuo pensando assim.

Isso foi antes de 2007, porque também não falamos sobre o Blackberry, que ainda não havia chegado ao país. E esta semana, brincando com dois simpáticos representantes da espécie – um Curve lilás engraçadinho e um Bold preto clássico – me lembrei da antiga matéria e me peguei pensando se incluiria os BBs num apanhado geral de smartphones, ou se daria um destaque separado para eles. Afinal, eles também são um universo paralelo na comunicação móvel, com seus teclados que convidam mais a digitar do que a discar, e os planos especiais de que precisam, complementares à conta habitual de voz, para que possam funcionar em toda a sua glória.

Não consegui chegar a uma conclusão definitiva, até porque, com o tempo, as diferenças entre os BlackBerries e o resto da tribo diminuiram muito. Sua grande vantagem, que era ter todos os emails recém-chegados à permanente disposição do usuário, deixou de ser exclusiva com a popularização de aparelhos com vocação internet, como os Androids e o iPhone.

Ao mesmo tempo, suas arestas corporativas foram bastante atenuadas. A Rim percebeu que mesmo no coração do mais feroz executivo pode bater um coração sensível, e dotou os aparelhinhos de ótimas telas, games interessantes, capacidade multimedia, lindas fotos para fundo de tela e câmeras que melhoram a olhos vistos. A do Curve ainda é uma pinhole que deixa a desejar, mas a do Bold, em boas condições de luz, já se porta razoavelmente bem, e pode até gravar vídeos (as fotos acimas foram feitas com ele).

O Bold é, por sinal, um aparelho interessante, mesmo para quem não professa o credo Blackberry. É rápido, tem uma tela excelente e um teclado fácil de usar. Como o resto da família, administra muito bem o uso de bateria.

Comparar o Curve com o Bold é injusto com o primeiro, bem mais barato. Dentro do que se propõe, o Curve tem excelente desempenho. Já o Bold, mais sofisticado sob todos os aspectos, tem, sobre o irmão miúdo, a vantagem de oferecer GPS, vídeo, gravador de voz, Blackberry Maps.

Os Blackberries continuam sendo, essencialmente, máquinas de trabalho. Não existe nada igual para quem depende de email e precisa ter um aparelho 100% confiável. Apesar disso, eles começam a ser, também, máquinas tentadoras. Nunca pensei que um dia eu usaria este termo em relação a eles, mas aí está.

Minha dúvida: mudaram os BlackBerries ou mudei eu?


(O Globo, Revista Digital, 31.05.2010)

29.5.10

Um drama, de verdade

Escreve a minha comadre Matilda, madrinha da gatinha homônima:
"Ô meus santos todos, minhas santinhas, minha gente, povo da minha vida:

Estou desesperada, com a alma em frangalhos, lavada e enxaguada na dor pungente e lancinante, perdi, quer dizer, o "mofo deu" (o cacófato é verdadeiro e expressivo e eu endosso) em todos os meus livros, salvei uns dez por cento, todos meus livros de poetas, meu coração sangra, os poetas, meus versinhos de ler por toda vida, deu um vazamento no andar de cima e litros de água durante a noite e foram, morreram todos, a parede está preta de mofo e de luto, meu coração também, meu nariz quase sangra de alergia ao mofo, minha barriga se conforta com uma panela de brigadeiro, mas minha alma nunca mais será a mesma, sei que não...

Meus livrinhos morreram, conseguem captar isso? Nunca mais os verei ou terei eles de novo, foram comprados em outra fase da vida, quando podia, enfim, tragédias podem ter muitas faces, perder livros é uma delas..."

Matilda, eu sei que nunca vai ser a mesma coisa, mas olha só -- você não quer fazer uma lista do que se perdeu, ou pelo menos do que você mais sente falta? É que buscando daqui, buscando dali, pode ser que a gente consiga repor uns livrinhos procê.

O que fazer com macacos?

Escreve a Ana Luiza:
"Cora e amigos,

Moro no JB e tenho recebido a "visita" de vários macacos prego, alguns bem grandinhos. Ontem, eles entraram e reviraram gavetas e armários em busca de biscoitos. Hoje, ficaram só no jardim. Fiquei com pena porque pareciam famintos e dei várias bananas.
Moro aqui há 30 anos e isso nunca havia acontecido. Será que está havendo alguma coisa na mata que esteja forçando-os a descer e invadir as casas?

O que posso fazer para ajudá-los sem expor a minha casa e família?"

Pessoas, agradeço se alguém tiver resposta e puder dar alguma sugestão pra Ana Luiza. Eu não tenho a menor idéia do que fazer com esses peludos...

Shiraz

Fina companhia

Bom cenário prum almocim de sábado

Bom dia!

28.5.10

A pantera redonda

Fashion Rio



Quem passa pela Rodrigues Alves vê essa entrada entre os armazéns



Exposição fotógrafica com as calçadas de pedra portuguesa, do coleguinha Bruno Veiga



Algumas empresas, como a Oi, deram uma virada radical nos seus lounges. Antigamente tinham DJ e serviam bebida alcóolica, e ninguém conseguia entrar de tanta gente. Hoje servem refrigerantes, sucos e comidinhas, e oferecem atrações como sossego e computadores.



No lounge da Nivea você monta o seu mix de frutas secas e castanhas, e come jujuba e M&M. Amo!



Não há uma única folha de alface à vista em todo o evento. Acho que elas devem ser proibidas de sair dos bastidores. Em compensação, olha o que tem na sala de imprensa: sonho e brigadeiro. Não estou reclamando não!



Novo modelo da Melissa, customizável: a gente tira quantas rodelinhas quiser e transforma em sandália, sapatilha, o que der na telha. Chega às lojas em agosto.

27.5.10

Mara Mac

Fashion Rio rides again!

Suipa: cão danado, todos a ele



Há um grande mal-estar entre os protetores e amigos de animais desde que apareceram nos jornais as primeiras denúncias contra a Suipa. Não são segredo para ninguém a super-lotação da instituição e a sua absoluta falta de organização administrativa, mas as denuncias de corrupção pegaram muita gente de surpresa. Todo mundo está andando na ponta dos pés e falando baixinho, mesmo porque criticar é fácil. Difícil mesmo é pegar no batente e ocupar um espaço que, há tempos, deveria ter sido ocupado pelo estado, que em relação aos quadrúpedes consegue ser ainda mais omisso do que em relação aos bípedes (se é que isso é possível).

A Suipa, para quem não sabe, é uma instituição particular, de utilidade pública e sem fins lucrativos, que há 67 anos se ocupa de animais abandonados. Ela é mantida pelos associados, e não recebe qualquer verba municipal, estadual ou federal; seus diretores e conselheiros fiscais são associados que trabalham voluntariamente, sem receber salário. Apesar disso, é considerada órgão público pela maioria das pessoas, inclusive por incontáveis juízes que, decidindo contra a permanência de animais aqui ou ali, automaticamente os encaminham para lá – sem procurar saber de onde virá o dinheiro para sustentá-los e, mais importante, se há ou não espaço para acolhê-los.

* * *

No mesmo jornal que, na segunda-feira, trouxe a notícia sobre a investigação do Ministério Público, a coluna Gente Boa publicava uma notinha a respeito dos pingüins do zoológico, mortos por cães de rua que os alcançaram por baixo da cerca. Para onde o zoológico mandou os cães? Ganha um pacote de ração quem responder “Para a Suipa”.

Ora, faz sentido uma fundação especializada em animais, ligada à prefeitura, encaminhar cães para uma instituição particular cujos problemas de super-lotação são notórios? Na minha cabeça, não faz – mas pode ser que as esclarecidas cabeças dos vereadores, que agora uivam como lobos pedindo CPI para a Suipa, equacionem isso melhor.

* * *

Dizem as notícias que 99% dos bichos que vão para a Suipa morrem. Considerando que apenas 1% de todos eles consegue adoção, fico com a impressão de que faltaram duas informações importantes aí, a saber: em quanto tempo, e em que condições. Porque, como é sabido, o indice de mortalidade dos seres vivos é de 100%. Não estou aqui para defender a Suipa; só estou pensando em voz alta.

* * *

Fui associada da Suipa por muito tempo e, há alguns anos, deixei de ser, por discordar da forma como é administrada. Vejo uma grande diferença entre um abrigo de animais e um depósito, e não concordo nem com a prática sistemática de super-lotação, nem com as exigências descabidas para adoção que ela faz. Vários amigos decentes e de bom coração que quiseram adotar animais por lá desistiram diante das dificuldades.

Sei que muita gente mal-intencionada procura animais com os piores motivos, mas é preciso ter critério e bom-senso, sobretudo diante das condições que os coitadinhos enfrentam lá dentro.

Ainda assim, fico com um pé atrás quando, de repente, meio mundo corre para fazer justiça contra uma instituição que, em última instância, só existe por causa da irresponsabilidade com que se abandonam animais nesta cidade, e por omissão da prefeitura e do governo do estado, que deviam cuidar desses animais, mas não cuidam.

* * *

O governo do estado, por exemplo, pretende gastar R$ 180 milhões em publicidade. Esta é uma informação particularmente difícil de engolir nessa época do ano, quando comemoramos o Dia da Liberdade de Impostos, ou o fim dos meses que passamos trabalhando única e exclusivamente para dar dinheiro aos que nos tratam como os otários que somos.

Se a publicidade do governo fosse honesta e voltada para o bem da população, ela deveria incluir, forçosamente, uma campanha regular de conscientização sobre o trato dos animais. Cães e gatos devem ser castrados, devem ser adotados de forma responsável e não podem ser abandonados.

O que parece óbvio para tantos de nós evidentemente não é verdade universal. Muita gente tem pena de castrar seus animais, mas não sente o menor remorso em abandonar os filhotes indesejados bem longe de casa. Sem uma campanha educativa eficiente, este comportamento continuará se repetindo até o fim dos tempos, causando sofrimento e morte de milhões de animais inocentes.

* * *

Independentemente das denuncias de corrupção, é certo que a Suipa está precisando de um bom sacode. As condições em que lá vivem os bichos e trabalham os humanos são insustentáveis; onde cabe um não cabem cinco, dez ou vinte. Ter um terreno a mais, velha reivindicação da instituição, não vai resolver nada – apenas vai ampliar as dimensões do drama. Administrar um abrigo daquele tamanho, que mexe com aquela verba, não é tarefa para amadores, por bem intencionados que sejam.

* * *

Mas, mais do que a Suipa, todos os cariocas merecem uma chamada, a começar pelas autoridades, que só se lembram dos bichos para matá-los ou isolá-los em ambientes hostis e super-lotados, sem condições de acolhe-los com um mínimo de dignidade. A solução para o problema dos bichos abandonados não é fechá-los em depósitos, longe das vistas de todos; é evitar, em primeiro lugar, que sejam abandonados. Se a população fosse mais educada e mais responsável, a Suipa sequer precisaria existir.


(O Globo, Segundo Caderno, 27.05.2010)

25.5.10

A mata dos micos (vista de um apartamento vazio)

Allecx

Olha a minha casinha logo ali...

Memórias de um incansável



Durante seis meses, a primeira coisa que Sergio Britto fez ao acordar foi sentar à escrivaninha e pôr suas memórias no papel. Foram várias canetas Bic (ele não datilografa nem usa computador), muitas idas e vindas, correções e revisões. O processo foi acompanhado de perto, praticamente passo a passo, por Michelle Strzoda, a editora da Tinta Negra Bazar Editorial, que um dia bateu à sua porta com uma idéia na cebaça e um contrato na mão.

-- Foi um pedido inesperado, -- diz Sérgio, autor de “Fábrica de Ilusão”, publicado em 1996. – Eu já tinha contado alguma coisa no livro anterior, o que escreveria agora? A Michelle sugeriu que eu escrevesse na primeira pessoa, e assim que comecei, senti que poderia fazer o livro. As lembranças estavam todas lá, o texto veio com facilidade.

Michelle foi digitadora, pesquisadora, psicóloga. Cada etapa do trabalho foi discutida em detalhes entre os dois, até ambos, igualmente exigentes, se darem por satisfeitos. O resultado, “O teatro e eu”, chega às livrarias nessa quarta, dia 26, com lançamento na Travessa de Ipanema. O autor, que aos 87 anos teria todo direito a sossegar e se recolher depois de terminada a tarefa, nem pensa nisso. Ao contrário, pretende atirar-se com gosto à roda-viva das viagens, lançamentos e entrevistas: na próxima segunda, dia 31, já tem outro compromisso marcado com o público, este na Livraria Cultura, em São Paulo.

“O teatro e eu” começa com mais “eu” do que “teatro”. Sergio Britto fala dos pais e da família, da descoberta da homossexualidade, dos primeiros amores.

“Para mim, se dizer bissexual é como esconder o homossexualismo que você não quer admitir, -- escreve. – Sempre me senti homem o bastante para assumir opções e atitudes na minha vida.”

Depois de uma tentativa de suicídio singularmente despida de drama, que terminou, de pulsos enfaixados, num baile carnaval, tudo passa a segundo plano. É quando ele recebe o convite para participar do Teatro Universitário – e começa a longa e bem sucedida carreira que, neste 2010, completa 65 anos.

“Eu compreendo que no aprendizado do ator existem várias fases: numa primeira, você pensa saber tudo e não sabe que não sabe tudo, nem mesmo sabe muito; numa segunda, você percebe o que não sabe; numa terceira fase, você começa a saber o que ainda precisa aprender e, às vezes, percebe também que existem coisas que não vai saber nunca, uma percepção terrível de suas limitações. Já passei por todas essas fases. Hoje, tenho a pretensão de saber quase tudo, mas nem por isso me sinto capaz de enfrentar qualquer texto, qualquer tipo de espetáculo. Esse saber me indica as limitações com as quais, como ator, ainda posso esbarrar.”

Comento com Sérgio Britto que seu livro será uma referência fundamental para quem quiser saber o que se fez em teatro no Brasil na segunda metade do século XX:

-- Quando a gente tem a sorte de envelhecer bem a gente vira uma espécie de ícone, -- observa, divertido. – Você acha que o livro daria uma peça?

Boa pergunta. As 416 páginas de “O teatro e eu” estão recheadas de observações sobre atores, atrizes, técnicos, autores – toda a densa humanidade que nos conta histórias sobre o palco desfila por lá, com suas angústias, suas dificuldades, suas alegrias. Há choques de egos e desavenças, aplausos e vaias. Fico pensando como seria possível encenar isso, mas a tarefa me parece totalmente impossível, não só pelo tamanho do elenco como pela falta de um fio condutor.

Mas aí, talvez, esteja a peça possível: velho ator, cercado de livros, DVDs e antigos programas, conta para os amigos como foi a sua vida. Afinal, este é o tom do livro que, apesar de divido em capítulos, foge de uma ordem cronológica rígida:

“Estou contando tudo na maior confusão, é que minha história é toda de idas e vindas, progressos e retrocessos.”

E isso, reparem só, está na página... 18!

E mais: “Escrevo minhas memórias pouco depois de ter completado 86 anos”, -- diz Sérgio, bem adiante. -- “Estamos, querendo ou não, no século XXI. E quem é esse ator com pretensões e ambições cada vez maiores? Vocês que já me leram até aqui sabem quem sou eu, mas ainda assim creio que me explicar mais para vocês vai me ajudar muito a me explicar para mim mesmo.”

Em certos momentos do livro, o autor chega a desaparecer por trás do seu trabalho. No capítulo dedicado ao teleteatro, por exemplo, a referência a peça após peça, elenco após elenco, tem um efeito estranhamente hipnótico, como um mantra repetido centenas de vezes. Ali, além dessa longa lista, não há aparentemente nada. Mas este nada, quem diria, conta tudo. As palavras têm seus truques, e Sérgio Britto está certo quando escreve que sabemos quem ele é. Na medida em que é possível saber quem é o outro, sabemos sim – e é impossível deixar de sentir certa vertigem diante do tanto que ele viu e fez ao longo dos anos.

A lista do teleteatro é material precioso. Ali está não só um retrato muito nítido da cena teatral brasileira, como o princípio da televisão no país, aquele momento em que o hardware já tinha sido inventando, mas ninguém sabia ao certo que software – vale dizer que programação -- rodar naquilo.

“O prefixo ‘Smile’, música de Chaplin para o filme ‘Luzes da cidade’, marcava toda segunda-feira o início do nosso programa. A verdade é que o início do programa é que não tinha hora tão certa assim. Diziam que o Grande Teatro começava às dez. Naquela época, o horário da televisão não era tão rigoroso como é hoje em dia. Era às dez, mas às vezes começava às nove e meia. Houve dias em que começou quase a uma da manhã. Fizemos 386 peças, quase nove anos no ar.”

Dá para imaginar isso? 386 peças?! Não há obra importante do repertório mundial que não tenha sido apresentada por aquela intrépida truque, que incluía, além de Sérgio, seu criador e diretor, tantos nomes que se tornaram grifes verdadeiras da arte. Do elenco fixo participavam Fernanda Montenegro, Nathália Thimberg, Zilka Salaberry, Ítalo Rossi. Sergio alternava a direção com Flávio Rangel e Fernando Torres. Infelizmente, tudo desapareceu: sobre as fitas da Tupi e, posteriormente, da TV Rio, foram gravadas e regravadas outras coisa. Já os 16 espetáculos realizados na Globo foram vítimas de um incêndio.

A memória prodigiosa de Sérgio Britto passeia pelos anos do TBC, do Maria Della Costa, do Teatro de Arena, dos Teatros dos 12, dos Sete e dos Quatro; como se estivesse conversando conosco (e na verdade está), ele se lembra de viagens e de espetáculos que assistiu no exterior, de filmes e de óperas. O retrato que fica, virada a última página, é, acima de tudo, o de um trabalhador incansável, que nem sonha em pendurar as chuteiras. Agora mesmo prepara-se para ensaiar “Recordar é viver”, de Hélio Sussekind, com direção de Eduardo Tolentino. E com algumas vantagens em relação ao passado:

“Não preciso buscar nas minhas memórias sentimentos parecidos com o dos personagens de cada texto. A memória na minha idade é muito presente, atuante, me perguntando que personagem novo é esse. Como é: frustrado? Sei o que é frustração, não preciso nem buscar imagens na memória. Frustração amorosa? Sei, sei demais. Frustração artística? Qual o ator com 65 anos de carreira que não sabe o que é isso?”

“Não sabíamos nada, hoje pensamos saber. Sabemos? Sabemos sim, estamos mais sábios em nossas vidas e na percepção da morte que se aproxima. E nos sentimos fortes ainda na luta pela vida.”


(O Globo, Segundo Caderno, 25.05.2010)

24.5.10

A Pipoquinha porteira

La vamos nos: 852 paginas...

Outro teste

Ah, sim...



O Pacman do Google continua no ar!

MMS: vida de caranguejo



Na semana passada, falei de uns pequenos tesouros com que tenho brincado – o Nokia N97 Mini, os Motorolas Dext e Milestone, o Blackberry lilás e bonitinho que parece um brinquedo. Todos são aparelhos cheios de qualidades e de potencial. Infelizmente, para que seus recursos possam ser plenamente aproveitados, dependem das operadoras de telefonia celular – e é aí que a porca torce o rabo.

No momento, por mais que tente, não consigo fazer algo simplíssimo, que fazia ainda outro dia sem qualquer dificuldade. Atualizar o blog com fotos, em tempo real, virou uma dificuldade sem precedentes; parece que, em vez de andar para a frente, a prestação de serviços das operadoras anda para trás.

Tenho dois simcards que uso regularmente, um da Claro, outro da Vivo. O da Claro mora no N97, o da Vivo no Milestone. A escolha não é aleatória. Prefiro o N97 como câmera, e preciso dele para enviar MMS. O Milestone, em compensação, é uma excelente ferramenta para acessar a internet, coisa que a Vivo faz, de fato, muito bem.

Bom – de uns tempos para cá, a minha conexão Claro simplesmente se recusa a enviar MMS. No começo isso acontecia randomicamente. De cada três imagens enviadas, uma, se tanto, seguia para o seu destino, embora o celular informasse que todas haviam, sim, sido enviadas. Agora nenhuma chega mais. Cheguei a duvidar da competência do telefone (o N97), e troquei os simcards. Também não consegui enviar nada pelo Milestone.

Tentei, na seqüência, usar a Vivo como transmissora de imagens. Fracasso ainda maior.

Vocês vão perguntar: mas há maior fracasso no mundo MMS do que não conseguir enviar a foto? Por incrível que pareça, há sim. A Vivo também não consegue transmiti-la – mas, para piorar a situação, transmite, sem qualquer problema, um letreiro enorme, amarelo: “Conteudo enviado do meu celular Vivo”.

Tem mais. O texto original, enviado pelo usuário e não pelo celular, sai inteiramente sujo, conforme vocês podem ver na foto. Para culminar, assim que chega ao Blogger, esta verdadeira onda de poluição simplesmente tira o resto do conteúdo do ar. Se alguém acessar o blog depois que uma mensagem Vivo for enviada, nada encontrará lá além do post esdrúxulo que informa que algo (que não se vê) foi enviado de um celular Vivo.

O que fazer?

Colegas blogueiros recomendam enviar fotos pelo Gmail. É assim que têm conseguido driblar a incompetência das operadoras. Mas isso, sinceramente, não é solução. O MMS – Multimedia Message System – foi desenvolvido para facilitar o envio de mensagens que vão além do texto. O custo é menor e a praticidade muito maior.

De qualquer forma, se fosse apenas este retrocesso, eu nem me incomodava tanto. Acontece que nem emails tenho conseguido enviar pela Claro. Pela Vivo, de cada dois enviados, chega um – embora a conta seja sempre inteira e redondinha.

Já fui usuária de Tim e de Oi. A Tim era ótima – mas não pegava dentro da minha casa. E a Oi, que pegava, não pegava, por sua vez, na metade dos cantos por onde eu andava.
Meu próximo passo será comprar uns pombos-correio e treinar os gatos no uso do Blogger.

Talvez seja difícil administrar os bichos num primeiro momento, mas será com certeza mais fácil do que resolver os problemas com as operadoras.


(O Globo, Revista Digital, 24.05.2010)

20.5.10

Chegaram vários feijões do Acre!

Enviado do meu celular

É crime, é insuportável... e daí?



Férias na Itália. Tínhamos um carro, uma pequena coleção de guias de viagem e dias lindos. Planejávamos o ir e vir sem grandes cuidados, mas calculando sempre, na medida do possível, chegar à próxima localidade enquanto ainda estivesse claro. Um dia, distraídos pelas muitas cidadezinhas e vistas do caminho, perdemos o horário. Passados tantos anos, já nem me lembro de onde paramos, mas não me esqueço da fome que sentimos: às dez da noite, os restaurantes ainda abertos não aceitavam mais clientes.

Fizemos uma longa busca infrutífera xingando a moeda forte, as leis trabalhistas e os sindicatos que tornavam proibitiva a contratação de funcionários depois de determinado horário. Quando regressamos ao hotel, ainda cuspindo marimbondo, o gerente pôs os pingos nos ii: não era por causa dos motivos da nossa indignação que os restaurantes fechavam cedo, mas por causa da lei do silêncio. Nos pequenos prédios e casas vizinhos aos estabelecimentos comerciais moravam pessoas físicas, que tinham o direito de dormir. Depois da lição de civismo, botamos a viola no saco e terminamos a noite com as porcarias pouco nutritivas do frigobar.

Foi impossível deixar de pensar nisso numa semana marcada por dois atos de covardia praticados por energúmenos que, não contentes em impedir o sono dos justos, ainda se julgam no direito de agredi-los por se queixarem. Vocês viram, não é? Em Brasília, um militar foi atacado por um bando de marginais porque ousou reclamar da zorra que faziam no posto em frente à sua casa; em Niterói, o asqueroso vereador Luiz Carlos Gallo caiu de socos em cima do apavorado porteiro do seu edifício e da síndica de 61 anos, depois de reclamações contra o barulho de uma festa infantil (!). Não chamo o vereador de asqueroso por simples implicância; chamo porque foi a única descrição que encontrei para a desagradabilíssima figura que estampou os jornais.

Tenho pena do porteiro, da síndica e de todos os vizinhos obrigados a conviver com tal criatura, para não falar nas crianças que participaram da festinha e receberam tão mau exemplo.

O pior é que, embora extremos, esses casos sequer chegam a surpreender. Na cultura da boçalidade que assola o país, ser delinqüente é mais do que comum; é o padrão estimulado por autoridades e bacanas, dia e noite, sete dias por semana. Incomum, lamentavelmente, é encontrar quem ainda tenha capacidade de reagir e de lutar pelo que é direito. A atitude não compensa. Além do risco de enfrentar os canalhas que se julgam donos do pedaço, não adianta nada. No caso, parece que paz e sossego são apenas aspirações da sociedade, e não estão na pauta do governo.

Vejam o caso da leitora que me escreveu em desespero de causa, e que nem ao menos pediu anonimato; eu é que não tenho coragem de expô-la à sanha da vizinhança, embora torça para que alguma autoridade do bem, se é que isso existe, tome as suas dores e as devidas providências.

“Moro na Rua Sá Ferreira, em Copacabana, e o bloco dos fundos do meu prédio dá para Rua Saint Romain, que durante muitos anos teve lindas mansões. Com o passar dos anos, essas mansões foram subdivididas em diversos cômodos, e suas garagens tornaram-se oficinas e bares. Na garagem do número 108, foi aberto, há coisa de um ano, um bar chamado Recanto do Vinho. Fica em frente a meu apartamento e não sei se o problema maior é o inferno em que estou vivo dentro de minha própria casa ou o descaso e a falta de compromisso das autoridades, com quem já falei até pessoalmente.

Não posso mais receber amigos, assistir televisão, falar ao telefone ou ler um livro. Em quase 300 m2, fico confinada num quarto com a porta fechada e o ar condicionado ligado, desde o momento em que o bar é aberto e a música ativada. Isso se estende muitas vezes durante sete, oito, até onze horas consecutivas e ininterruptas.

Escrevi para a Ouvidoria da Secretaria de Ordem Pública e tenho cópia de pelo menos 18 registros, mas a Ouvidoria da Secretaria de Ordem Pública é surda! Fui a reuniões da Associação de Moradores da Rua Sá Ferreira e estive com o Secretario Bethlem em uma reunião na Faculdade Estácio de Sá, onde pedi providências com relação ao bar. Na ocasião, entreguei a ele cópias de todos os registros das reclamações que fiz à Ouvidoria. Expliquei o que está acontecendo e, na frente de um auditório lotado, ele se comprometeu a repassar o material ao seu substituto, Sr. Alexandre Vieira, para que fossem tomadas as devidas providências, numa ação conjunta com a UPP instalada no Pavão-Pavãozinho.

Adiantou? Que nada. Mesmo depois disso, o bar, que é ilegal e não tem alvará, continua aberto. Ainda escrevi algumas vezes para a “Ouvidoria Surda”, bem como para a Presidente da Associação de Moradores, mas cansei. Como disse antes, não sei o que é pior – se o que venho passando ou o desrespeito com que sou tratada como cidadã.

Meus vizinhos, salvo raríssimas exceções, não se manifestam, considerando a localização do problema. Aprendi com meu saudoso professor Darcy Ribeiro, porém, que nada é pior do que o sentimento de impotência, de não poder fazer nada. Como ele, nunca deixarei de me indignar com o que não é correto.”

Em tempo: “Perturbação do trabalho ou do sossego alheios” é crime, de acordo com o art. 42 do Decreto-Lei 3688/41 (Lei das contravenções penais).


(O Globo, Segundo Caderno, 20.05.2010)

19.5.10

Fashion Rio do B







Hoje tentei mandar as fotos por email, como me sugeriram aqui nos comentários, mas o resultado foi o mesmo: nada. Amanhã vou trocar o telefone para ver se é algum problema dele, muito embora isso não me pareça possível.

Fui ao -- lindo! -- desfile da Santa Iphigênia, no Espaço Tom Jobim (Jardim Botânico): roupas bonitas, românticas e muito femininas.

Há vários desfiles acontecendo essa semana, cada um num lugar mais interessante, já que agora temos, a rigor, duas semanas semanas de moda: a Fashion Business, que está indo ao ar agora, e a Fashion Rio, que vai ao ar semana que vem.

Não sei se o Rio tem espaço para tanto, mas para quem não precisa saltitar pela cidade correndo atrás dos desfiles todos, acaba sendo bem divertido ver tanta coisa acontecendo...

E não é que as crônicas têm a sua utilidade?

Um comentário que me deixou muito contente:
"Outro dia fui ao banco (Santander) e a moça que me atendeu, muito simpática e sorridente, acenou-me com um tal de "Din Din" que, logo vi, era mais um dos tais "títulos de capitalização", a respeito dos quais você tanto nos alertou.

Daí perguntei se ela lia "O Globo".

Ela riu meio sem graça e disse que todos os clientes falavam da sua crônica e que não adiantava insistir que ninguém mais comprava o tal de "Din Din"."

(Patricia M.M.)

Por coincidência, na mailbox do jornal, recebi este email:
"Em sua coluna no Segundo Caderno d'O Globo de 4 de março de 2010, dei boas gargalhadas, me sentindo uma "anta absoluta".

Saiba então que me propus a um Titulo de Capitalização do Bradesco, ontem cancelado, de cujas dez parcelas de R$ 30 só receberei R$ 226,98, e SÓ DAQUI A DOIS MESES!

Em suma, veja a anta que sou: emprestei a um banqueiro R$ 300 por quase um ano, e lhe paguei R$ 73,02 para guardar meu suado dinheirinho, que nem ao menos posso usar no momento, porque o banqueiro precisa ficar com ele por mais uns tempos.

É mole?

É constitucional?

É o Brasil um pais de todos, mesmo?"

(Darcy Siqueira)

18.5.10

Globo Repórter dos bichos

Ah, sim: para quem não viu o sensacional Globo Repórter com os bichos, na semana passada, aí vai (ainda que atrasado) o link pro site.

Não deixem de ver!

Longe desse insensato mundo







Essas são três das muitas fotos que andei fazendo nos últimos dias com o N97 Mini. A idéia, como sempre, era ir subindo coisinhas diferentes ao longo do dia; mas eis que, com toda a sofisticação dos serviços de telefonia, não consigo mandar um mísero MMS pro blog -- coisa que, como vocês sabem, faço há anos, e de todos os lugares, inclusive do sertão indiano.

A Vivo, que roda no meu Motorola Milestone, não só é incapaz de mandar uma foto como, ainda por cima, desconfigura o blog; a Claro, que está rodando no N97M, aparentemente manda as mensagens, só que elas nunca chegam -- ainda que apareçam nas contas no fim do mês.

Resultado: blog parado ao longo do dia.

Desculpem qualquer coisa.

Estou pensando no que posso fazer para resolver este perrengue; aceito sugestões.

17.5.10

N97 mini: o barão da cocada preta








Às vezes, a minha mesa parece uma espécie de paraíso hi-tech. Agora, por exemplo: do canto esquerdo me olha o magnífico Motorola Milestone, o aparelho que tenho usado como internet de bolso; a seu lado está o Dext; um pouco à direita o Blackberry Curve lavanda (que parece um brinquedinho); e, logo ali, o Nokia N95 falecido, que ainda não tive coragem de arquivar no meu mini-museu de novas antiguidades. Na gaveta estão o iPhone 3GS e o Nokia N97, que sofreu um acidente de percurso e está com a tela detonada. Ao alcance da mão está o Nokia N97 mini, que abriga o simcard que eu uso.

Quer dizer que o N97 mini é o rei de toda essa cocada preta? É – e não é. O aparelho tem um acabamento caprichadíssimo e é ótimo de pegar. Prefiro-o ao N97 sob vários aspectos: o sistema operacional ficou mais estável, o touch screen, ainda que continue sendo o mesmo resistivo, está mais sensível ao toque, pequenos ajustes aqui e ali melhoraram a “user experience” como um todo e o tamanho, ligeiramente reduzido, faz diferença. Por outro lado, a câmera perdeu a cobertura que tinha, e a bateria é menor. Há diferenças também no teclado, que não tem mais o touch pad do lado esquerdo, substituído por teclas de direção no lado direito. Isso não chega a ser sério, já que o conjunto continua sendo muito bom de usar.

É na comparação com os Motorolas que o N97 mini sofre mais. Não pelo design ou pelo acabamento, que são ótimos, mas por que, a essa altura, o Symbian, seu sistema operacional, parece velho diante do Android e do iPhone. Esta aparência é enganadora, pois na verdade ele continua sendo o mais sólido dos três sistemas, o que mais zela pela privacidade do usuário e, disparado, o que mais habilidosamente lida com multitasking, coisa que o iPhone desconhece. O Symbian é também o que permite a melhor (ainda que não a mais fácil) personalização dos aparelhos. É pena que a sua “embalagem”, por assim dizer, esteja defasada. Isso vale particularmente para o gerenciamento da câmera, que podia estar mais sofisticado.

Para quem vem do mundo Symbian, longe de ser um problema, o look da interface do N97 mini é uma vantagem – ali estão os comandos que já conhecemos de cor e que nos são familiares. Como no N97, foram feitas algumas modificações para acomodar o touch screen, mas nada que comprometa a familiaridade do usuário.

Até ser apresentada ao N97 mini, eu estava usando ora o Motorola Dext, ora o Milestone. Os dois são lindos aparelhos, ainda que um pouco grandes demais; o Dext, mais barato e rodando uma versão já antiga do Android, a Cupcake, tem o melhor teclado que encontrei até hoje num celular, e é muito bom de pegar. Infelizmente a câmera do Dext é um enfeite mais ou menos inútil, já que seus resultados deixam a desejar. A do Milestone é melhor, mas também não se compara à do N97 mini, que dá um show.

Outro problema que parece bobo e pequeno, mas não é, especialmente para quem usa o celular como câmera: nem Dext nem Milestone têm furo para se passar uma correia de pulso. Desde que a Apple decretou que ninguém precisa disso num celular, a vida dos usuários ficou mais complicada. Esqueçam assaltantes; uma mão suada aqui, um esbarrão ali e pronto, lá se vai o aparelho. O N97 mini, como o resto da série N, prefere segurança a frescura, e continua oferecendo o utilíssimo buraco.

Na semana que vem, a gente continua este papo.


(O Globo, Revista Digital, 17.05.2010)