SPAM
A Rossana, do
Wumanity, começou, há alguns dias, uma campanha violenta contra o
spam. Nem preciso dizer que a apoio em gênero, número e grau; mas confesso que, há tempos, perdi o ânimo para esta luta, que considero perdida. Hoje, por exemplo, havia 1093 novas msgs me esperando aqui no Globo; delas, pelo menos 800 são spam -- imaginem só o que é este meu pobre email, não só publicado no jornal como exibido on-line desde que
O Globo entrou no ar...!
De qualquer forma, como este é um assunto que estaremos abordando na próxima edição do
Info etc., andei pesquisando os arquivos do jornal para ver quantas vezes escrevi sobre Spam, em que circunstâncias, etc. Aqui vão dois desses artigos:
Misérias do spam
(08.01.2001)
Li em algum lugar (desculpem, guardei os números mas não a fonte -- grave falha que só posso atribuir ao mau uso de antiga tecnologia chamada papel & lápis) que o internauta típico que recebe hoje três spams por dia, estará, em 2003, recebendo 40 spams diariamente... Em termos de horas de trabalho, isso custará aos cofres de quem arca com a manutenção do referido internauta US$ 400 por ano, contra os atuais US$ 55.
Não me perguntem como essas pesquisas e projeções são feitas; mas, a se crer nelas, temos um futuro complicado pela frente! Quem acha que há exagero da minha parte em reclamar tanto de spam, não sabe o que é abrir a mailbox e perder duas ou três horas lendo e apagando porcarias. Ou, possivelmente, não sabe o que é fazer isso -- e, ao mesmo tempo, tentar levar uma vida normal, em que parte do dia transcorre ao largo do computador. A minha esperança é que até 2003 alguém já tenha inventado um bom e definitivo remédio para o spam. Até lá, o máximo que se pode fazer é afinar os filtros dos programas de e-mail. E reclamar, reclamar, reclamar.
Às vezes a gente tem surpresas engraçadas. Numa dessas reclamadas, encaminhada a um provedor na Polônia, recebi a seguinte resposta:
"Sua mensagem foi recebida e registrada como número 10077. Este caso será considerado de acordo com nossos procedimentos habituais. O invasor será alertado por carta. Depois da segunda ocorrência, seu acesso telefônico à Internet será bloqueado. Se você pedir ao departamento de polícia da sua localidade que investigue o episódio, teremos prazer em colaborar, enviando todas as informações de que dispomos".
Em outras palavras, a Telekomunikacja Polska trata spammers e hackers da mesma forma! É meio radical mas, pensando bem...
E, já que estamos nisso: alguns spams fazem referência a uma suposta "lei" que permitiria o envio de mensagens não solicitadas. Não acreditem. Isto é uma enganação que, ironicamente, faz referência à legislação americana que, em alguns municípios dos Estados Unidos, pune os spammers com multas de até US$ 500 por msg enviada.
As origens do spam
(6.11.2000)
Vários leitores me fizeram a mesma pergunta na semana passada: por que spam? De onde vem essa palavra? Bom. Há alguma divergência em relação a isso, mas de modo geral aceita-se que o uso de spam para definir mensagens de correio eletrônico não-solicitadas vem ou de uma carne enlatada americana meio parecida com presuntada, ou de um sketch do Monty Python em que este spam-carne-enlatada é o principal personagem.
Os que favorecem a etimologia da carne enlatada explicam porque o spam é a metáfora ideal para as mensagens que ninguém quer:
1) Spam é horrível;
2) É impossível fazer algo decente com Spam;
3) Spam não tem o menor valor nutritivo, embora seja extremamente calórico.
O site oficial do
Spam merece uma visita: é ótimo! Lá, obviamente, o spam comestível é apresentado como a oitava maravilha do mundo ocidental -- mas a empresa que o fabrica é surpreendentemente bem-humorada (Do FAQ: "Muita gente - sobretudo os comediantes -- gozam vocês. Isso não magoa os seus sentimentos?" "O Spam não vive numa casa de vidro. Ele vem em latas"). Não há referência explícita ao spam eletrônico, mas é óbvio que a Holmer Foods não é boba nem nada, e está tirando bom proveito da súbita popularidade do seu produto. Basta ver a quantidade de itens à venda na página, de camisetas com a estampa da lata a snowglobes com latinhas de Spam, brincos, quadros, bonequinhos...
Para explicar a etimologia Python, é preciso primeiro lembrar que, nos tempos da Internet a vapor, quando os principais termos que usamos hoje estavam sendo inventados, o Monty Python era o grupo favorito de nove entre dez usuários (o décimo não tinha o menor senso de humor). Depois, é preciso descrever o sketch:
Um casal entra num café e escolhe uma mesa; numa outra, um grupo de vikings se diverte. O marido pergunta à garçonete o que há para comer, e ela responde:
-- Bom, temos ovos com bacon; ovos com lingüiça e bacon; ovos com spam; ovos, bacon e spam; ovos, bacon, linguiça e spam; spam, bacon, linguiça e spam; spam, ovos, spam, spam, bacon e spam; spam, spam, linguiça, spam...
E por aí vai, terminando com esta maravilha:
-- Lagosta à Termidor com crevettes em molho mornay, servida à provençal com vieiras e aubergines, e guarnecida com patê de trufas, conhaque e um ovo frito por cima, com spam.
Enquanto isso, os vikings cantam "Spam spam spam, lindo spam..." e a mulher reclama, aos gritos, dizendo que odeia spam.
Não é o sketch mais engraçado do Monty Python, mas como é lógico que o spam entra aí como uma palavra maluca e inconseqüente, que só está enchendo linguiça... O script completo do sketch está
aqui.
A palavra em si, "spam", foi inventada por Kenneth Daigneau, que venceu o concurso lançado por Jay C. Hormel para encontrar um nome adequado para a sua criação, em 1937.