31.8.09

Longe deste insensato mundo

"No domingo ganhei coragem e escrevi um post no blogue. Era um “aviso à navegação”, ficou online às 19h03. “No dia 3 de Agosto entro em retiro. A pedido do meu jornal, vou estar uma semana afastada de parte do meu mundo. Vou servir de cobaia”, começava. “Quem quiser falar comigo tem que me ligar para o 351-210111271. Quem quiser comunicar comigo tem de me escrever uma carta, como antigamente, para Jornal PÚBLICO, Rua Viriato, 13, 1069-315 Lisboa, Portugal. Nada de e-mails, por favor. Eu não os vou ler, a caixa do correio vai entupir e alguns certamente nunca chegarão ao seu destino. O blogue vai ficar parado. Não vou aprovar comentários. Oooooh! Por favor, não me abandonem. Eu volto. Não sei em que condições, mas volto.”


Isabel Coutinho, colunista do jornal português "O Público", passou uma semana totalmente off-line, sem acessar a internet ou usar celular.

Teve coragem. Eu não sei se conseguiria passar sete dias -- sete dias!!! -- sem qualquer espécie de conexão.

O relatório desta experiência radical está no seu blog, Ciberescritas, que recomendo a todos, na íntegra. A moça escreve lindamente. E em português, ainda por cima!

Barraco: o fiasco de Xuxa no Twitter



A semana passada não foi feliz para Xuxa (@xuxameneghel), mas foi muito divertida para os usuários do Twitter. Depois de uma meteórica carreira detonada por críticas e gozações, ela bateu a porta metafórica do seu espaço:

"Fui vcs não merecem falar nem comigo nem com meu anjo".

Pronto: a frase virou meme e está sendo repetida em todas as circunstâncias e de todas as maneiras. O anjo com quem não merecemos falar é Sasha, que num dos intervalos das filmagens de "Xuxa e o mistério de Feiurinha", mandou um recado para os fãs:

"Sou eu Sasha. Estou aqui filmando e vai ser um ótimo filme. Tenho que ir… Vou fazer uma sena com a cobra".

Tudo errado, não só com a pontuação e a ortografia, mas, sobretudo, com a exposição gratuita de uma criança de dez anos num site onde a primeira linha das regras de uso estabelece que o serviço é vedado a menores de 13 anos. As centenas de correções, algumas até gentis, a maioria nem tanto, foram a gota que faltava para a rainha dos baixinhos explodir:

"pra quem não sabe minha filha foi alfabetizada em inglês, vou pensar muito em colocar ela pra falar com vcs, ela não merece ouvir certas m…"

Acostumada com uma tela onde ninguém responde do outro lado, isolada do mundo real por camadas de seguranças, assessores e fãs incondicionais, Xuxa teve, no Twitter, o desprazer de descobrir que não é universalmente idolatrada, enquanto fãs alfabetizados talvez tenham tido o choque de descobrir a falta de intimidade da musa com a língua portuguesa. Ou, de resto, com qualquer outra língua: "gracias a todos argentinos pela linda energia besos mio y de sashita". Para os demais tuiteiros, porém, tudo foi uma grande piada, a começar pelo "jeitinho" de Xuxa, que só teclava aos gritos:

"NÃO FIQUEM TRISTE POR EU NÃO RESPONDER TUDO EU FICO DOIDINHA , VOU APRENDER AOS POUCOS TÁ"

"EU NÃO ESTOU GRITANDO, NEM QUERO SER MAL EDUCADA, GALERA. SEMPRE QUE ESCREVO NO COMPUTADOR, ESCREVO ASSIM É O MEU JEITINHO!"

Não entendo como, até hoje, nenhuma das pessoas que a cercam não teve a gentileza de explicar a Xuxa como o seu "jeitinho" é grosseiro no contexto da rede; mas isso, pelo menos, ela aprendeu no Twitter. Depois de JEITINHO virar outra palavra chave, respondeu ao fã Anderson_Psor, que teve seus 15 segundos de fama:

"eu adoro esse jeitinho , mas falaram tanta coisa feia q tô eu aqui de igual prá igual"

Estava.

Menos de um mês depois de estrear no Twitter, Xuxa bateu em retirada. Foi embora, mas não foi esquecida -- correram até boatos de que queria fechar o Twitter, e o You Tube ferve, até hoje, com filmes sobre o episódio.


(O Globo, Revista Digital, 31.8.2009)

27.8.09

O iPhone 3GS




Outro filminho fantástico!

Eta solzinho bom!





La Maison en Petites Cubes from dorsumi on Vimeo.


(Valeu a dica, Rz!)

Ted Kennedy

Não, não se preocupem, não vou escrever sobre ele; o homem mal morreu e já estou com overdose de obituário.

É só um link curioso, a homenagem da revista Architectural Digest, mostrando a visita que fez ao senador, AQUI.

Sinceramente? Achei a casa cenográfica, e igual a um catálogo da Neiman Marcus. A única coisa que revela sobre os moradores é que são americanos e podres de ricos.

O som das cidades



Achei a idéia melhor do que a música; mas há muito para explorar e se divertir.

Clique AQUI.

O mangarito e outros mistérios



E lá ia um troglodita todo contente pela floresta quando viu um vistoso cogumelo debaixo de uma árvore. Catou, comeu e cataploft, caiu duro lá na frente. Quando os outros trogloditas o encontraram, se é que encontraram, já devia estar meio devorado pelos bichos. E, mesmo que não estivesse, não existindo CSI na época, seria muito difícil ligar causa e efeito; de modo que muitos e muitos trogloditas continuaram comendo cogumelos e caindo duros quando catavam os errados. Era de se esperar que o ser humano tivesse desistido dos cogumelos há séculos, se não milênios.

Enquanto os trogloditas do primeiro parágrafo faziam roleta russa com fungos, trogloditas do outro lado do mundo se divertiam com uma espécie sinistra de baiacu que atende por fugu. Este é um peixe tão letal, mas tão letal, que é a única iguaria que, por questões de segurança, o imperador do Japão é proibido de comer. Para ser servido em restaurantes, deve ser tratado por especialistas que fazem cursos de até dois anos e que, mui apropriadamente, diplomam-se comendo o que prepararam. Apesar de tudo o que se sabe sobre o fugu, e apesar de o mar estar cheio de sardinhas gostosas e inofensivas, há japoneses morrendo de fugu até hoje.

Caso igualmente estranho é o da maniçoba, prato típico do Pará, feito com folhas de mandioca que devem ser cozidas durante oito dias, até perderem o veneno. Fico imaginando como é que se chegou a essa conclusão. Um primeiro índio comeu a primeira folha crua, e paf; um segundo índio cozinhou a folha, e paf; um terceiro índio cozinhou a folha por dois dias, e paf... Será que, a essa altura, já não estava claro que não servia para comer? Quantas pessoas não se envenenaram até ficar estabelecido que, fervendo o raio da planta durante uma semana, ela não apresentaria mais perigo? Isso, é bom lembrar, numa terra de fartura, onde basta esticar a mão para colher as frutas mais deliciosas.

Esta atração fatal e insistente da humanidade pela gastronomia de risco me fascina. Jamais tocarei num pedaço de fugu que seja mas, cada vez que abro um vidrinho de champignons, sinto-me grata aos milhares de bípedes que abreviaram sua existência terrestre em prol da nossa segurança. Diante de certos risotti ai funghi, aliás, sinto até vontade de mandar celebrar missas por suas almas. Quanto à maniçoba, já comi e até gostei, embora não entenda a teimosia de se ter levado aquilo adiante a tão alto custo.

Não são apenas os mistérios fatais que me espantam. O café, por exemplo: se o que aprendi na escola estava certo, foi descoberto porque, um dia, alguém percebeu que as cabras ficavam espertas quando comiam suas frutinhas. Pois comeram-se as frutinhas e nada aconteceu. Puseram-se então as frutinhas para secar, descararam-se os coquinhos resultantes, torraram-se os grãos que estavam dentro dos coquinhos, moeram-se os grãos, ferveu-se o pó... Que gente tinhosa!

E o chocolate? Qual de nós urbanóides jamais ligaria o nome à pessoa se visse um fruto de cacau de um lado e um Sonho de Valsa do outro? Visitei as ruínas de muitas construções astecas no México e fiquei encantada, mas um povo que descobre que das sementes de uma fruta dura e sem graça extrai-se a maravilha dos deuses nem precisava ter deixado tais monumentos para provar o seu valor.

* * *

Tudo isso me voltou à cabeça quando a Roberta Sudbrack me apresentou aos mangaritos. Vínhamos teclando sobre esses ilustres desconhecidos, e ela atiçou a minha curiosidade. Fui ao restaurante experimentá-los. O mangarito é um tubérculozinho do tamanho de uma trufa, e assim, à primeira vista, não tem nada de especial. É mais uma daquelas coisas que, se dependessem de criaturas como eu, jamais virariam comida. A sorte é que há no mundo pessoas que observam cabras, insistem nos cogumelos, moem sementes e exploram tubérculos insignificantes.

Nas mãos da Roberta, os mangaritos se transformaram no recheio de um ravióli que, por cima, trouxe pequenas lascas, como micro batatas portuguesas, e um crocante das cascas. Emocionante! Minha única dúvida é que, tendo sido preparados por quem foram, não sei se o mérito é deles ou dela, única pessoa que consegue fazer com que eu goste de quiabo. Tão bom quanto comê-los é ouvir a Roberta falar a seu respeito, porque aí se vai além da gastronomia:

-- Os mangaritos estão em extinção, são difíceis de encontrar. A primeira caixa levou meses para chegar! Corri com ela para a cozinha na maior emoção, e comecei a experimentar de todos os jeitos, cortei, fritei, cozinhei... Quando assei a casca e aquele cheiro maravilhoso se espalhou, foi uma felicidade no ar, parecia sobremesa.

Ela não sabe, mas essa nossa conversa foi uma grande revelação antropológica para mim. Diante de alguém capaz de se entusiasmar de tal maneira por uns trocinhos pelos quais eu não teria dado nada, entendi, de repente, o que levou os bípedes nossos ancestrais a tentar extrair, através dos milênios, o sabor das fontes mais inesperadas. Quando alguém como a Roberta olha para uma pedra perguntando “Que gosto terá isso?”, a pedra que se cuide.

Ah, sim: para conhecer os mangaritos e ler a história do seu João Lino Vieira, que os está salvando sozinho da extinção, leiam o blog mangarito.notlong.com. Não deixem de ler os comentários, comoventes. Foram escritos, em sua maioria, por gente do interior, que morre de saudades dos mangaritos e quer comprar sementes e mudas para começar uma pequena lavoura nostálgica.


(O Globo, Segundo Caderno, 27.8.2009)

24.8.09

iPhone: brincando em cima daquilo








Ainda não inventaram celular com design tão lindo quanto o do iPhone, e não há como negar o impacto que ele teve em toda a indústria. A tela é deslumbrante e, entre seus concorrentes, não há nada igual ou sequer parecido para ver fotos e acessar a internet. Apesar disso, se eu o usasse para trabalhar, chegaria ao fim do dia à beira de um ataque de nervos. Como beleza não põe mesa, ele deixa a desejar como telefone e como câmera, e como tudo o que se precise fazer a sério com um celular. Sobretudo, deixa a desejar no quesito bateria, que ainda não foi satisfatoriamente resolvido por nenhum dos super celulares, smartphones ou não. A diferença é que, no pior dos casos, para os outros se pode ter uma bateria extra.

De qualquer forma, como Deus é bom e gosta de mim, fico com o melhor de cada mundo. Uso um smartphone de verdade como telefone, agenda, câmera e ferramenta de trabalho, e tenho um iPhone como internet de bolso. Meu plano tem o mínimo possível de minutos de voz, mas acesso ilimitado, o que não me deixa dependente de wi-fi. Às vezes, dou uma peneirada na Appstore para ver as novidades. Baixei um anti-mosquito grátis que ainda não tive oportunidade de testar mas no qual ponho fé, porque já vi sistemas parecidos em outros aparelhos, e um programa irmão do Home, o fantástico filme do Yann Arthus-Bertrand.

Corri por mil e uma utilidades mais ou menos inúteis e parei, com mais atenção, nas 53 páginas da área de fotografia. Cada página tem 20 aplicativos. Logo...

Não achei muita coisa nova. A tendência, como sempre, é se ter mais do mesmo e, para dizer a verdade, um mesmo chato, feio e bobo. Não, isso não é xingamento. É apenas a descrição mais apropriada para a quantidade de ofertas de gracinhas sem graça que o pobre usuário terá de percorrer até descobrir algo que valha a pena. No caminho, mil variantes para mudar carinhas, inserir balõezinhos e sinaizinhos nas fotinhas, figurinhas cuti-cuti para dar um realce, moldurinhas horripilantes, bichinhos e estrelinhas. É o paraíso dos miguxos.

Quem tiver paciência para enfrentar tudo isso pode encontrar coisas divertidas. O Panolab, por exemplo, que faz as melhores panorâmicas desde que o iPhone nasceu, continua gratuito. Tem um irmão Pro que custa pouco, mas nem assim compensa o gasto, porque as diferenças são irrelevantes considerando-se a câmera a que se destinam. Há um Zoom grátis que também é razoável, e várias coleções de filtros que, a rigor, fazem a mesma coisa: criam fotos em PB, sépia e negativo e, eventualmente, dão uma mexida nas cores. Como boa parte não custa nada, vale baixar alguns e ver com qual a gente se entende melhor.

Para quem preferir cortar caminho e gastar um dólar, recomendo o 101+ Effects, que conheci originalmente como 101 Filters. É o mais flexível e variado e, por incrível que pareça, dá conta até de uns efeitos bastante originais. As fotos que ilustram essa matéria foram tratadas com ele, embora o original tenha sido capturado com o Sony Ericsson K790.


(O Globo, Revista Digital, 24.8.2009)

23.8.09



Hoje é aniversário da Laura!

Nem vou falar muito, caso contrário corro o risco de me atrasar pra festa.

Só tenho uma coisa a dizer: Viva!!!

Ah, e há dois dias foi o aniversário da Jaqueline Martins!

Viva!!! também.
Esse negócio de acessar internet por celular é muito bom e muito muderno, mas na hora de atualizar o blog o que vale mesmo é o bom e velho desktop.

Parabéns Laurinha!

Parabéns, Jaque!

21.8.09

Cidade Maravilhosa!



O dia foi cinza e frio, e o noticiário anda tão ruim que às vezes a gente esquece. Pois a foto em 360 graus do Ayrton está aí para lembrar: basta clicar AQUI.

20.8.09

Millôrzinho




Os campeões mundiais do tiro no pé



Imagine o seguinte: você é um daqueles agentes de imigração dos Estados Unidos que ficam no balcão carimbando os passaportes de quem entra no país. O seu trabalho é perguntar aos alienígenas que visitam o país o que vieram fazer, onde vão se hospedar e quanto tempo pretendem ficar. Você checa se os vistos estão dentro do prazo de validade, se os retratos guardam um mínimo de semelhança com o exausto passageiro à sua frente e se há, no computador da TSA, alguma observação referente àquela criatura. Você sabe que, graças à sua inteligência e conhecimento dos seres humanos, seus compatriotas dormem mais seguros à noite: nenhum terrorista ou imigrante ilegal escapará à sua perspicácia.

Você tem super poderes e pode decidir quem entra no país ou quem vai para “interrogatórios adicionais”, onde outros agentes igualmente bem preparados vão tirar um sarro dos viajantes. Não há nada que eles possam fazer se vocês decidirem prendê-los ou mandá-los de volta para casa, sem uma palavra de explicação. A coisa toda é uma espécie de “No limite”, com a diferença de que é para valer.

Um dia, aparece à sua frente um sujeito vindo de Mumbai. O camarada, que causa frisson entre os demais da fila, fala inglês perfeito e tem um passaporte da grossura de um catálogo telefônico, cheio de carimbos de todas as partes do mundo. Esteve pela última vez nos Estados Unidos há poucas semanas. Quando você pergunta o que ele faz e o que o traz, ele responde que é ator de cinema, e que veio para um show. Você olha para o sujeito, que não tem a menor cara de ator – nem louro ele é! -- olha para o passaporte e olha para o computador, onde pisca um alerta: Khan! Khan! Khan!

E aí, o que é que você faz? Leva em conta o jeitão despachado do cara, o passaporte mega carimbado e a agitação que ele causa entre os compatriotas, ou aposta no perigo que é um Khan, o verdadeiro Silva dos muçulmanos? A sua mente trabalha febrilmente: o que representam um passaporte em dia, um visto em perfeita ordem, centenas de viagens comprovadas e um bando de fãs diante da onisciência do computador? Interrogatório nele! Alguns dos seus colegas até garantem que o conhecem, mas nada mudará a sua decisão. Você pode, você manda. Yes, you Khan.

Parece piada, mas o fato é que só depois da intervenção de diplomatas indianos o ator Sharukh Kahn pode, finalmente, deixar o aeroporto de Newark. A essa altura, o Twitter fervia, as emissoras indianas rugiam e alguns milhões de muçulmanos protestavam, em polvorosa. Isso foi na sexta à tarde. Na segunda, o incidente já era tópico na biografia de Khan na Wikipédia. Na terça, o Google relacionava 2.308 artigos sobre o assunto, que conseguiu derrubar a gripe suína das manchetes em todos os países onde Bollywood é popular -- e que, diga-se, já não morrem de amores pelos EUA. Escrevo na madrugada de quarta e o caso continua rendendo.

É impossível explicar a popularidade de Sharukh Khan para quem não conhece o cinema indiano. Feioso de um jeito engraçado, simpático e absurdamente carismático, ele é considerado o rei absoluto de Bollywood. Só perde em fama para Amitabh Bachchan, mas, aos 66 anos, Bachchan tem 23 anos de dianteira. Aos 43, Sharukh fez mais de 70 filmes, entre eles o clássico “Dilwale Dulhania Le Jayenge”, que está em cartaz há 14 anos em Mumbai. Vocês leram certo: catorze anos! A relação dos indianos com o cinema é ligeiramente obsessiva, e com os seus atores, então, nem se fala. Khan é reverenciado como um deus e, no ano passado, foi considerado um dos 50 homens mais influentes do mundo pela revista americana “Newsweek”.

Há artigos e opiniões para todos os gostos nos debates que continuam acesos na internet. Para além da fúria dos fãs, há, sobretudo nos EUA, quem ache ótimo que uma super celebridade receba tratamento de mortal comum. Quem defende este ponto-de-vista sustenta que a TSA estava fazendo direito o seu trabalho, já que segurança vem em primeiro lugar.

O primeiro problema que vejo nisso é a contradição que essa opinião encerra. Agentes que levam duas horas para chegar à conclusão de que um dos homens mais famosos do mundo é ele mesmo não estão preparados para as funções que exercem. Se consultassem o Google, levariam apenas 0,31 segundo para encontrar 4.310.000 referências a ele. Além disso, não há quem mereça o tratamento que a TSA dispensa aos detidos.

O segundo problema é a noção de que submeter passageiros à tortura que se tornou viajar para os EUA tem alguma coisa a ver com segurança, quando a maioria dos procedimentos é apenas a face mais visível da cultura do medo difundida por Bush. Cheguei a ler opiniões defendendo “normas de segurança” que impediram o senador Ted Kennedy de embarcar em quatro diferentes ocasiões, apesar de ter sido sempre reconhecido, por ter um homônimo numa lista negra. Isso não é “norma de segurança”, é burrice aguda.

O mais grave de tudo, porém, é que há, sim, um sério viés de discriminação racial, social e religiosa por trás das detenções da TSA. Se não nos faltam casos de brasileiros deportados nos próprios aviões em que chegam, imaginem o que não acontece com a população do sudeste asiático. Está tão feia a coisa que em breve chega ao cinema: o diretor Karan Johar está dando os retoques finais num filme sobre a discriminação racial que sofrem os indianos muçulmanos nos Estados Unidos.

O título do filme é “Meu nome é Khan”, e ganha uma samosa quem adivinhar quem é o protagonista.


(O Globo, Segundo Caderno, 20.8.2009)

17.8.09

Mandou bem!

E a melhor frase do dia no Twitter foi mesmo a do Danilo, do Let's Blogar:

José Sarney poderia sair com elegância, como fez Getulio Vargas ao deixar o governo em 1954.

Wallpapers para todos os gostos

AQUI, uma coleção de 50 sites diferentes especializados em... wallpapers!

Perfeito para quem está querendo mudar a cara da telinha.

Twitter: sopa de letrinhas



www.tw2t.com/lNk? bit.ly/128uEV? su.pr/17nYsG? migre.me/4TXV? O que significam todos esses códigos que, de repente, deram de brotar mais do que cogumelo em dia de chuva? Simples: todos são abreviaturas de endereços web que, de outra maneira, ficariam enormes. Há muito tempo – na verdade, desde os tempos do saudoso Info etc. que deu origem a esta revista – nós já usávamos alguns serviços pioneiros, como o notlong.com, não só por uma questão estética, como de praticidade: supondo que o leitor fosse digitar a sugestão de site, ficava mais fácil teclar http://muybien.notlong.com, por exemplo, do que http://matadorpulse.com/mexicans-fed-up-with-banks-burn-credit-cards-in-street-protest/. Ao contrário dos seus sucessores, o notlong.com, que continua vivo e bem, permite que se escolha a abreviatura. Para redigitação isso é ótimo, já que se podem usar palavras fáceis de guardar.

O Twitter, porém, com a sua limitação de 140 caracteres, mudou completamente a paisagem. O que a maioria dos usuários quer, hoje, é uma URL minúscula, que não devore metade do espaço disponível para texto. Ninguém precisa memorizá-la, porque será lida online e alcançada através de cliques. Alguns serviços chegaram ao máximo da concisão, como o tinyarro.ws, irmão cabeça do super bem sucedido tinyurl.com. A mesma URL sobre os mexicanos revoltados que usa, normalmente, 53 caracteres, pode ser reduzida a onze: www.➡.ws/䌁홦. Para quem achar esse resultado esquisito demais, sempre resta o www.x.se, sueco, que faz uma dúzia redondinha: www.x.se/5wv.

Há dezenas, se não centenas desses redutores. Muitos oferecem serviços adicionais, como senhas ou contadores de cliques. É virtualmente impossível contá-los até porque os seus índices de mortalidade são quase tão grandes quanto os de natalidade: a maioria naufraga na falta de manutenção e em dificuldades técnicas. O favorito dos usuários é, cada vez mais, o bit.ly, padrão do Twitter, que foi bem desenvolvido, funciona às mil maravilhas e oferece o que se chama em marquetês de “valor agregado”. Quem se registra no bit.ly passa a ter estatísticas sobre os cliques, quantos foram e de onde vieram e, muito útil, conta com uma lista das suas abreviaturas prévias. Dou um exemplo pessoal: transformei a URL do meu blog – http://cora.blogspot.com -- em bit.ly/128uEV. Como isso ficou registrado na minha conta, não preciso correr atrás de novas sopas de letrinhas sempre que quero tuitá-lo.

Esclarecendo duas outras perguntas que me têm sido feitas com certa freqüência, sobre o que significam os caracteres @ e # no Twitter. Ambos têm, como propósito, facilitar a indexação. A arroba, colada ao nome, designa usuário. Se alguém me tuitar escrevendo apenas cronai, nunca saberei disso; se usar @cronai, contudo, o tuite me será devidamente encaminhado. Já o jogo-da-velha é uma etiqueta (hashtag) que vem dos tempos do IRC, velho chat a vapor. Quando alguém usa # diante de uma palavra num tuite faz com que ele passe a pertencer a todo um conjunto, como um grupo em qualquer outra comunidade. Fica bem fácil, assim, descobrir quais são os temas que estão bombando. No momento, uma das hashtags mais populares entre os tuiteiros brasileiros é #forasarney.

Dá-lhe, Twitter!


(O Globo, Revista Digital, 17.8.2009)

Uma aula de História



É uma entrevista comprida, está em inglês, mas vale muito a pena ouvir.

16.8.09

Serão os blogs uma espécie em extinção?

As várias formas de comunicação oferecidas pela internet são elementos em constante mutação. Esses elementos se sobrepõem uns aos outros e até convivem durante um bom tempo, mas a evolução natural do meio faz com que, aos poucos, a "paisagem" da rede se transforme.

O email, por exemplo, já é uma ferramenta no mínimo gasta, para não dizer ultrapassada. Vai desaparecer? Duvido, mas será cada vez menos relevante.

Parte considerável do movimento dos blogs tem migrado para as redes sociais, sobretudo o Facebook, que não tem a "amarra" de 140 caracteres do Twitter, permite comentários, brincadeiras e a inserção, na mesma página, de imagens e videos.

Pensando bem, o Facebook nada mais é do que um gigantesco blog, escrito simultaneamente a milhões de mãos.

O Twitter, por sua vez, definido como microblog, está mais para quadro de avisos, de onde se apontam os textos, filmes e fotos que chamaram a atenção dos usuários. É, porém, imbatível para informações curtas e rápidas.

Um não anula o outro, pelo contrário: no Twitter a gente dá um alô apressado, no Facebook a gente senta para conversar.

O crescimento das redes vem sendo apontado como o fim dos blogs.

Ainda que não concorde com essa previsão, não tenho dúvidas de que, com a popularização do Twitter, do Facebook, do Flickr e de tantas ferramentas semelhantes, os blogs mudarão de estilo e de jeito de ser.

É provável que passem a funcionar como bases complementares das redes sociais ou, eventualmente, repositórios do "conjunto de obra" dos seus autores. Imagino que, cada vez mais, passem a exercer o papel que antes cabia aos websites pessoais, sendo consultados para saber com quem estamos falando.

Manter um blog complexo, com posts diários e várias caixas postais movimentadas, é uma trabalheira insana; manter um blog assim e, ao mesmo tempo, ter presença notável nas redes sociais, chega às raias da impossibilidade física.

Twitter e Facebook têm, para os blogueiros sérios, a vantagem do tempo parcial. Não são ocupações que tomam as 24 horas do dia e são, ainda assim, formidáveis canais de comunicação, capazes de atingir um número substancialmente maior de leitores.

Para quem está acostumado a acompanhar um ou outro blog e a trocar idéias com os demais habitués dos comentários, a mudança será sentida num primeiro momento. Em vez dos pequenos blogtequins com meia dúzia de especialidades, passarão a frequentar um grande Lamas virtual, um vasto espaço onde todo mundo se encontra e onde o cardápio é o mais variado possível.

O fim de um grande blog

Pedro Dória fechou as portas do seu blogtequim, que, durante sete anos, foi um dos espaços mais interessantes da internetBR.

Foi derrubado pela falta de tempo, mas é claro que não some da rede: ele é editor chefe do Estadão Online, e uma das pessoas que, a meu ver, melhor sabe lidar com o que, um dia, já foi chique chamar de ciberespaço.

No táxi




14.8.09

Momento sertanejo



Vi no Facebook, e lembrei de "Estrada da vida", de 1980, grande filme de Nelson Pereira dos Santos.

Gosto demais dessa música!




Alfred Hitchcock teria feito 110 anos ontem.

Encontrei essa montagem de cameos no Facebook e achei ótima, exceto pela música. E, antes que alguém me esfole, informo: adoro o Requiem de Mozart, mas o filminho teria ficado melhor com algo mais leve. A ironia de Hitchcock, sublinhada pelas apariçõezinhas divertidas, não combina com tanta solenidade.

Mas isso é detalhe e nem vem muito ao caso: o que vale é o video, vejam só.

13.8.09

Adiós, gatito...

Aquele gatinho preto em Flash que morava aqui no blog, na barra da esquerda, foi -- espero que temporariamente -- removido.

É que ficava hospedado num site denunciado pelo Chrome como perigoso em termos de segurança.

Vou tentar encontrar um irmão seguro dele para pôr no lugar; eu já estava acostumada com aquele bichinho engraçadinho.

“O império do sol” redux




Shanghai era uma festa nos anos 30. Europeus e americanos passavam os dias bebendo e as noites na farra. O dinheiro era farto e as oportunidades infindáveis. A vida era ao mesmo tempo feérica e lânguida, cercada de luxos e de serviçais. Jogava-se bridge, golfe e pólo, apreciavam-se shows de acrobacia aérea e, nos fins-de-semana de tempo bom, caravanas de carros chiques seguiam para a praia ou para o campo.

Pelo caminho, entre as concessões estrangeiras, cruzavam-se as ruas da cidade, ocupadas por multidões de chineses miseráveis. Das calçadas emanava um perpétuo cheiro de esgoto e de frituras. Caminhões da prefeitura recolhiam, sem cerimônia, os mortos do dia anterior, vítimas de epidemias ou da fome. De cima da ponte ou dos ferries que cruzavam o rio Nantao, outros incontáveis cadáveres flutuavam ao sabor da corrente e das marolas dos barcos. Suas famílias, pobres demais para comprar caixões, os enfeitavam com flores de papel e os lançavam às águas.

Criança ainda, JG Ballard aceitava este mosaico incongruente e cruel sem pensar muito. Aquele era o mundo que o cercava, a única realidade que conhecia. Não era infeliz, mas só descobriu algo próximo à felicidade mais tarde, quando a guerra começou, os japoneses tomaram a cidade e os estrangeiros foram enviados para campos de prisioneiros. Lá as famílias tinham que dividir espaços exíguos e, pela primeira vez, o menino, que passava o tempo com os empregados na casa enorme, pode conviver com os pais.

Não é de admirar que, ao se tornar adulto e escritor, Ballard tenha enveredado por um tipo peculiar e agressivo de ficção científica. Depois de viver aquela realidade, o que é que ele poderia inventar, além de uma versão surrealista – e não raro profética -- do mundo? Sua visão mórbida e pessimista influenciou, de forma radical, toda a imaginação posterior do futuro; sem ele, não teríamos nem “Blade runner” nem “Matrix”, para ficar apenas em exemplos emblemáticos.

De todos os romances e contos que escreveu, só dois foram transformados em filme: “Crash”, de David Cronenberg, que seus fãs mais ardorosos desprezam (mas que o próprio Ballard achava genial) e “O império do sol”, para mim a obra-prima de Steven Spielberg. “O império do sol” é, por acaso, um Ballard atípico. Nele, em vez de olhar para o futuro, o autor olha para o passado, e recupera, com alguns toques de ficção, as memórias da infância. Apesar das circunstâncias trágicas, há ali uma luminosidade e uma ternura indisfarçáveis que, no lançamento, em 1984, trouxeram para os leitores uma dimensão inesperada do escritor. Foi esquisito. A turma hardcore da sci-fi detestou; e a legião de novos leitores conquistada pelo filme ficou em estado de choque ao buscar o resto da sua literatura.

Tenho, em particular, uma ótima lembrança deste livro, publicado bem na época em que enjoei de ficção científica. Ele me permitiu guardar um espaço especial no coração para o velho Ballard, cuja morte, em abril deste ano, lamentei profundamente.

* * *

Em 2006, ao descobrir que estava com câncer, JG Ballard resolveu, mais uma vez, olhar pelo retrovisor. O resultado, que publicou ainda com vida na Inglaterra, chama-se “Milagres da vida”, e acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras. É um livro pequeno, de 245 páginas, e é encantador. Há muitas histórias interessantes, que revelam o pensador inquieto e admirável, mas o melhor está na primeira parte, praticamente uma versão condensada de “O império do sol”. A questão é que, sem o artifício da ficção e com a pressa de quem sabe que não tem muito tempo, o autor é direto e conciso, deixando de lado os artifícios da escrita e liberando a fala do homem.

Nenhum período histórico assistiu a mudanças tão profundas quanto o século passado, e Ballard foi testemunha atenta dessas mudanças, seja na formalidade dos costumes, na distância entre pais e filhos ou na alma de um império onde o sol, enfim, começou se pôr. A sua descrição da alienação dos ingleses de Shanghai é assustadora: basta dizer que, tendo nascido na China e lá vivido toda a infância e adolescência, ele nunca chegou a aprender chinês. Não era necessário. A vida que a aristocracia cristã levava em Constantinopla em 1453 não deve ter sido muito diferente.

É no campo de estrangeiros de Lunghua, curiosamente, que aquela gente estranha passa a viver de uma forma, se não natural, pelo menos mais próxima à normalidade. A barreira da idade e das classes sociais desaparece, e adultos e crianças, que antes mal se dirigiam a palavra, passam a conversar entre si. A comida é escassa, o conforto inexiste, mas peças de teatro, palestras e uma escola são improvisadas, na criação de uma nova cidade, um favelão onde todos se dão conta de que nada é mais parecido com um ser humano do que outro ser humano.

Quando pisa na Inglaterra pela primeira vez, terminada a guerra, o menino que não falava chinês descobre que tem muito pouco em comum com o país auto-referente e acabrunhado a que sua família se refere como “pátria”. A essa altura, porém, tomada pelos comunistas, a velha Shanghai, isolada do mundo, já não existia mais. A única volta possível era através das memórias. Sorte nossa que JG Ballard ainda pode dividi-las conosco e nos levar na viagem.


(O Globo, Segundo Caderno, 13.8.2009)

12.8.09

Ah, sim: isso também!





Eu me esqueci de fotografar algumas coisas: o pâté de campagne, os pães de queijo com Gruyère (que desmanchavam na boca!), o consomé de brioche e aspargos, o queijo da Serra da Canastra com a broa de milho.

Para não falar no pão -- o pão comum, aquele do pão pão queijo queijo -- do qual eu poderia viver para sempre.

É que vêm aquelas coisas deliciosas e eu me deixo levar pela empolgação.

O problema é que uma coisa é fazer uma refeição; outra, completamente diferente, é comer o que a Roberta Sudbrack inventa e prepara. Uma coisa é matar a fome, só assim; outra é viver uma experiência gastronômica de sonho, inusitada, cheia de surpresas.

Eu amo a Roberta.

Sou fã de gente que é gente de verdade, e que é boa no que faz; o detalhe é que ela não é apenas boa. É a melhor, THE BEST, e estamos conversados. Não sobra pra chef nenhum de lugar algum que eu conheça.

Pode-se comer igualmente bem em alguns poucos restaurantes cheios de estrelas nas capitais do mundo, mas não se pode comer melhor.

Uma delícia de sobremesa...




Costelinha de porco




Os famosos mangaritos (crus)




Os mangaritos preparados




Parganismo!




Um pombo!




Preloaders



Sabem aquelas aberturas de sites em Flash que, em geral, costumam ser chatíssimas? Pois AQUI há uma coleção linda delas...

11.8.09

Muito interessante!



O New York Times publicou um infográfico interativo sobre o tempo ou, mais precisamente, sobre como as pessoas usam o tempo nos Estados Unidos.

É das coisas mais interessantes que já vi e, ainda que se possa duvidar de pesquisas e estatísticas (e eu sempre duvido) vale pela verdadeira aula de uso da internet.

10.8.09

Momento celebridade




Pré-estréia de Tempos de Paz, no Oi Casagrande: o filme é comovente, maravilhoso.

Tom e os perrengues da vida

O Tom escreve, meio de brincadeira, mas no fundo muito passado:
"Vou mudar-me para Lisboa.

Pois é: não apenas os portugueses têm BandaLarga 24Mbps a 20 Euros/mês, conexão de100Mbps a 60 Euros/mês, como a partir de setembro eles terão BandaLarga a 1Gbps(1000Mbps)!

Segundo um dos comentaristas no gizmodo, no Japão, 1Gbps custa US$ 55/mês.

Pago R$ 200/mês pelo Velox 8Mbps!"
Pois é.

Enquanto isso, nós continuamos com um serviço péssimo a um custo ridículo.

A estatística deve existir por aí em algum lugar, mas a gente nem precisa ver: em termos de relação custo x benefício, a internet BR é lanterninha mundial.

Susan Boyle, a diva



Produção, locação, bom fotógrafo e atitude: voilá!

O ensaio é da Harper's Bazaar que vai pras bancas em setembro.

Twitter: o dia em que a terra parou



E de repente, não mais que de repente, o Twitter saiu do ar.

Isso foi na manhã de quinta-feira, mas só tive notícia do acontecido à tarde, quando tudo já estava – mais ou menos – controlado. Viver na contramão tem suas vantagens, além da natural predisposição para a observação de pássaros noturnos, que já me trouxe tantas alegrias.

Outro aspecto positivo é descobrir novidades e pessoas do outro lado do mundo. Ao longo dos anos, acumulei uma quantidade de conhecidos online em diversos países asiáticos. É por isso que não estranho quando, em “Caminho das Índias”, o povo se telefona a qualquer hora, como se essa qualquer hora fosse a mesma lá e cá; para mim, é.

Pegando a rebarba do ataque quando, afinal, fui para o computador, vi que foi feia a coisa. Vício é vício e, como qualquer comunidade online, o Twitter alimenta-se da compulsão dos usuários. A hashtag mais popular do dia foi #whentwitterwasdown, que marcou as tuitadas que o povo deu sobre a crise de abstinência sentida por conta do DDoS.

A verdade é que, apesar do ar de nova novidade e da utilidade como noticiário instantâneo, o Twitter é, no fundo, um sistema de chat mais sofisticado (e, por causa da concisão dos tuites, menos cansativo; mas isso são outros quinhentos). Chats são sempre viciantes: o ser humano é um animal que se comunica e que adora contar histórias, e ver a rodinha de sempre sumir num erro 404 pode ser desesperador.

* * *

Mudando de assunto mas ficando no mesmo, há algum tempo observo que, apesar da quantidade sempre crescente de usuários, a tendência no Twitter, assim como nos velhos chats, é “falarmos” sempre com o mesmo círculo de pessoas – basicamente, aquele que tem um horário parecido com o nosso.

No Facebook a equação está mais bem resolvida porque ele não segue o padrão de um sistema de chat, mas de um fórum de discussões.

Cada um tem seus prós e contras. É mais divertido assistir ao Jornal Nacional na companhia dos tuiteiros, por exemplo, porque os comentários vêm em cima do lance; mas é muito melhor trocar idéias com a turma do Facebook, onde os tópicos têm sobrevida maior.

Assistir ao escabroso espetáculo encenado pelos senadores Renan Calheiros e Tasso Jereissati acompanhando as gozações e exclamações de nojo dos tuiteiros ofereceu um certo consolo a quem já não agüenta mais tudo isso que aí está. Sofrer em conjunto é compartilhar a miséria.

Perguntei que título teria o filme do Senado: "Tudo por um cargo"? "Piranhas Federais"? "O ataque dos senadores selvagens"? Pipocaram sugestões; mas a minha favorita foi a do Fábio Pimenta (@Pimenta_Fabio): “Suinado Federal”.

Eles merecem!


(O Globo, Revista Digital, 10.8.2009)

7.8.09

Favela Gato




Anglo-parlantes, cuidado!

Joguinho de palavras absolutamente viciante AQUI.

Enquanto isso, na beira da estrada...


Propaganda do Fantasy Motel

Que lindo isso: 04h05m06s 07/08/09

Enquanto isso, em Times Square...



E vocês achando que "Caminho das Índias" é só aqui!

Esse flash mob fake foi um comercial para promover "Bollywood Hero", minissérie da IFC.

A música é do filme Om Shanti Om; aliás, é uma coreografia curiosa e muito bem trabalhada em termos de computação gráfica, em que atores de hoje contracenam com atores do passado, em cenas de filmes famosos.

Como seria de esperar, teve um usuário doido do You Tube se deu ao trabalho de contrapor umas e outras. Se alguém quiser saber o nome dos velhos hits -- alô, Lilian Marçal! :-) -- é só passar o mouse nas cenas antigas.

6.8.09

Que céu!




O borogodó do bodó



Contei, semana passada, uma aventura gastronômica amazonense: traçar um bodó assado com farinha. Não haveria nada demais nisso se o bodó não fosse um peixe feio e fedorento de dar medo. Leitores mais familiarizados com a criatura escreveram para trocar lembranças, matar saudades dos sabores da Amazônia, dar receitas, esclarecer alguns pontos e obscurecer outros. Renan Silva, por exemplo, é íntimo do bodó, e o que ele escreveu é muito interessante:

“O que você descreve é, na realidade, o acari-bodó, um tipo de peixe cascudo só encontrado nessa região, e que, por suas características pré-históricas (crânio achatado, escamas que formam carapaça, capacidade de respirar fora d'água em períodos de seca), nem merecia ser comido, o coitado.

É da família dos "Plecostomus", nome que referencia seu tipo de boca que atua como um sugador, permitindo que ele se alimente de vegetação e algas no fundo dos rios, bem como se fixe a superfícies tais como vidros de aquários.

Já que você é viciada em livros como eu, recomendo a leitura de "Your inner fish - A Journey into the 3.5 billion-year history of the human body", onde poderá constatar que nós, humanos, temos em algum ponto um ancestral comum com o primo bodó. Veja especialmente as páginas referentes ao fóssil "Tiktaalik" e aos peixes da família dos "Ostracodermos". Na Wikipedia há também diversas páginas referentes ao acari-bodó e seus congêneres, inclusive com fotos.

No mais, deixemos o pobre bodó em paz. Já não basta comermos o Pirarucu, outro fóssil vivo?”

Encomendei o livro, é claro, e fiquei me sentindo muito culpada com o que o Renan escreveu; além de comer um “primo” assado, ajudei a diminuir a quantidade dos poucos fósseis vivos que ainda existem. Mas quem me deixou arrasada mesmo foi a Márcia Amaral, que tem aquário e adora peixes, no sentido emocional, e não culinário, da palavra:

“Você comeu um peixe da familia dos peixes-gato, ou cascudos. Aliás, eu morri de pena de ver os pobres cascudinhos ali mortos... Eles são peixes espertos, e tão simpáticos! Podem ser treinados e ficam mansinhos. O cascudo tem seu tamanho regulado pelo tamanho do aquário. Lá no centro da cidade tem um aquário imenso onde vive um cascudo de mais de um metro. Eu mesma já tive cascudos de mais de dez centímetros.

Tinha um, simpaticíssimo, que vinha pegar o stick de comidinha na minha mão. Ele ficava esperando na frente do aquário e, quando eu punha a mão com o stick na água, vinha correndo e puxava o stick. Ia comer escondidinho.”

Quer dizer: o bicho é um fóssil vivo, é esperto, simpático e mansinho, e ainda atende por peixe-gato? Ainda bem que não me contaram nada disso em Parintins, se não eu teria me desmanchado em lágrimas. Coitados dos bodós!

Por outro lado, o Marcelo BM me deu certo alívio retroativo ao descobrir na página do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia uma entrevista com o pesquisador Fábio Tonissi Moroni, que desmente a informação de que o bodó se decompõe rápido por se alimentar de fezes. Segundo o pesquisador, que há pouco tempo defendeu tese exatamente sobre isso, esta é uma crendice popular sem qualquer comprovação científica.

De acordo com o professor Moroni, o bodó, que não é encontrado em nenhum outro lugar do país, é personagem de toda espécie de mitos, e ótimo assunto para puxar conversa com ribeirinhos. Ele conta que, para algumas vertentes da tradição indígena, o bodó vira sapo ao sair da água e perder a cauda -- o que não deixa de ser mais um atestado do seu peculiaríssimo aspecto.

O professor confirma o que o Renan escreveu e o que ouvi em Parintins, que o bodó é típico da região amazônica, e que não se pode encontrá-lo em nenhum outro canto. Mas, mistério dos mistérios, várias pessoas me contaram que é muito apreciado em outras partes do país.

“O peixe que você degustou lá na Amazônia também faz parte da culinária daqui, pertinho de você, no Noroeste Fluminense”, escreveu Camilo de Lellis (com quem faz eco Nicomedes Martins). “Conhecido por aqui como cascudo ou caximbau, vive nos rios Muriaé, em Itaperuna, e Pomba, em Pádua, e se alimenta do limo das pedras. É servido frito ou em moquecas (molho de tomate, pimentão e cebola), acompanhando de pirão e arroz branco, por R$ 25, em média. Também se encontra no São Francisco, porém tem mais sangue, não sendo tão saboroso e com a carne tão branquinha como os daqui. Portanto, quando vier a Itaperuna, peça moqueca de cascudo ou cascudo frito. Mas com a cabeça, porque senão podem te servir um similar, que é o cambotá (peixe-voador).”

Rafael Coelho, que nasceu em Guapimirim, no pé da serra de Teresópolis, logo ali, escreveu um email que, a bem dizer, merece o nome de carta. É longo, bonito e nostálgico, e fala da sua infância – no outro dia, tem apenas 23 anos – quando passava as tardes pescando nos rios. Os bodós, que chama de cascudos, eram os mais fáceis de pegar. Ficavam pelas pedras, bestando e comendo o limo, e deixavam-se agarrar com as mãos. Pela cabeça do Rafael, é bom que se diga, nunca passou a idéia de comê-los. Eram pegos e soltos, ou levados para os aquários. No auge da paixão pelo hobby, chegou a ter 14 de uma vez só (“demorei a entender que o lugar certo para os peixes viverem era o rio”) e, lendo sobre o bodó, sentiu saudade dos tempos em que a vida era mansa e descomplicada.


(O Globo, Segundo Caderno, 6.8.2009)

5.8.09

Livros (brasileiros) em inglês

Pessoas, preciso de um help. Um amigo escritor d'além mar, que não sabe nada de Brasil ou literatura brasileira, me pediu sugestões de ficção e história geral brasileiras, em inglês.

Taí uma coisa com a qual não tenho nenhuma familiaridade.

É fácil descobrir o que foi traduzido; mas como saber o que foi bem traduzido?

Aceito palpites, sugestões e indicações -- e, como sempre, antecipadamente agradeço.

Pizza no iPhone



Vi no Blue Bus e achei engraçadinho, mas continuo achando mais fácil ligar e pedir meia mozzarella, meia portuguesa.