31.8.06

Isso é que é vida...





País sem educação
é país sem salvação

O óbvio deixou de ser ululante nos nossos tristes tempos de cafajestagem explícita


Um amigo me liga e avisa para ligar a televisão, onde está indo ao ar um programa sobre educação. Pego o bonde andando ma non troppo: jovens de classe média alta, majoritariamente brancos, visitam uma escola de jovens pobres, majoritariamente negros, que, por sua vez, visitam a escola dos outros. As duas ficam na mesma cidade. Ambas pertencem ao sistema público de educação, mas a diferença entre elas é abissal. De um lado, piscina olímpica, equipamentos esportivos de academia de luxo, computadores estalando de novos, um departamento de música com banda e orquestra, laboratórios de vários tipos e toda a espécie de disciplinas alternativas. Do outro, carteiras quebradas, uma piscina que não vê água há anos, paredes infiltradas. A garotada rica fica perplexa, sem saber como se pode aprender alguma coisa naquele pardieiro; a garotada pobre mal acredita no que vê. No auditório, a mãe de um dos meninos negros cai no choro, e é difícil não chorar com ela.

Não fosse pela excelência da escola rica, e pela presença de detectores de metais na entrada da escola pobre, a cena poderia se passar no Brasil; mas o sistema escolar em questão era o dos Estados Unidos, hoje mais segregado do que nunca, com índices de repetência e evasão jamais registrados. O programa era o da Oprah, que agradecia a Deus ter ido à escola há trinta anos, quando o sistema de ensino público ainda funcionava razoavelmente bem para todos.

A comparação entre as escolas, além de cortar o coração, levava a uma conclusão: dêem a uma criança boas condições de ensino, e ela estudará com prazer, certo? Não. No próximo bloco se via uma escola caprichada numa cidade do interior, em Indiana, onde apenas uma parcela ínfima dos jovens, praticamente todos brancos e de classe média, chega a se formar. A imensa maioria cai fora aos 16 anos. Por que? Porque é o que todos fazem; porque estudar é uma chatice; porque a vida espera lá fora. Brancos e negros, ricos e pobres, todos estão mais ou menos igualados no tédio -- e logo se igualam na desesperança e no desemprego.

Bill e Melinda Gates eram entrevistados. Sua fundação está empenhada em acordar a sociedade norte-americana para o fracasso do ensino e a calamidade que se pode antever para breve. Na sociedade industrial para a qual as escolas foram criadas havia espaço para quem não estudava; na sociedade pós-industrial em que vivemos, este espaço acabou. Bill Gates acha que o sistema de ensino deveria ser reformulado para que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades educacionais; para se adequar à vida real; e para despertar o interesse dos jovens. Nunca pensei que um dia eu fosse dizer isso a seu respeito, mas ele está coberto de razão.

* * *

Curiosamente, assisti a este programa no dia seguinte ao da sabatina do candidato Cristovam Buarque aqui no jornal. Além de gostar de Cristovam como pessoa, concordo inteiramente com a tecla em que vem batendo: ou o Brasil se salva pela educação, ou desiste de vez de ser um país decente e relevante. Por coincidência, a pergunta que lhe fiz tinha algo a ver com o ponto central do programa da Oprah: o que fazer para manter as crianças na escola?

Cristovam acha que se deve melhorar o ensino, naturalmente, e dar uma forcinha às famílias para que ajudem a manter os filhos na linha. Ele propõe uma poupança-escola que depositaria R$ 100 na conta de cada criança que passa de ano. É uma idéia; mas ando desiludida demais com os rumos do país, quiçá do mundo, para acreditar que possa dar certo.

Cada vez mais as famílias abdicam do seu papel na educação dos filhos -- seja por falta de tempo, falta de paciência ou pura falta de consciência. Quando se fala das camadas mais pobres, então, e de quem mais precisa de educação, sequer há famílias na equação; há mães adolescentes, cujas mães e avós as tiveram adolescentes, numa triste sucessão de vidas desperdiçadas.

A verdade é que há mais forças contra a escola, atualmente, do que a favor ? a começar pelo presidente, que ostenta a sua ignorância na lapela, como motivo de orgulho. Estudar envolve uma cota de disciplina e de perseverança que antigamente se justificava pela perspectiva de um bom emprego e de um lugar respeitável na sociedade; mas tudo isso saiu de moda.

No mundo da gratificação instantânea, disciplina e perseverança são para otários. Os ídolos da garotada são traficantes, Big Brothers, jogadores de futebol, celebridades em geral; ninguém precisa de diploma se tiver a manha, o corpo e os holofotes da mídia. Cérebro é opcional.

* * *

Como sair dessa? Honestamente, nem desconfio. É preciso mais do que um candidato solitário batendo, quixotescamente, na tecla da educação; é preciso um banho de cidadania no país inteiro, um banho de civilidade e, sobretudo, um banho de responsabilidade. Mas por onde se começa, quando a tônica dos tempos é a cafajestagem?


(O Globo, Segundo Caderno, 31.8.2006)

Help: emergência ridícula!

Povo, socorro! Preciso da ajuda de alguém versado em carrapatos.

Acontece que a minha barriga estava coçando horrivelmente há uns três dias; eu procurava qualquer sinal de mordida, qualquer coisa que justificasse a coceira, e nada.

Daí que hoje de manhã vi lá no fundo do umbigo uma coisinha preta. Pensei, "Caramba, será que cocei tanto que fiz uma ferida?" Peguei um cotonete e limpei aquilo.

Pois aquilo tinha pernas e andava.

E era um carrapato.

YIKES!!!!!!!!!!!!!!!

Bom. Sei que tinha que ter tirado com álcool ou ponta de cigarro aceso mas nem me passou pela cabeça que pudesse ser carrapato. Logo no umbigo?!

E o pior é que continua coçando demais.

Pergunto: agüento a coceira estoicamente ou preciso ir ao médico ver se o ferrão ficou lá? Ou basta pôr uma pomada ou umas plantas ou lá o que seja até passar a comichão? E, neste caso, o quê passar?

Encabulada e antecipadamente agradeço conselhos, dicas, sugestões, simpatias.

30.8.06

Corra Cora Corra!




A turma da Copa




Lucinha e Luís Fernando




Xexéo




Conferindo




O candidato




Tereza Cruvinel




Miriam




Clic clic




Olha o sapato da Miriam!




Clic clic clic




Eu adoro o Manolo!

26.8.06

O Bob e eu




Mandou bem

Escreve o Mario Kossatz, amigo da Laura:
Amigos,

Deve-se tomar enorme cuidado com as informações que voam por aqui na Internet. Outro dia recebi um email do avião presidencial do Lula, mostrando um absurdo de luxo -- só que qualquer olhada mais cuidadosa mostraria que o avião só poderia ser de algum miliardário ou sheik árabe.

Recebi também um email com um video de uma apresentação do Alexandre Garcia (muito boa por sinal, muito contundente, abordando a situação geral do país atualmente) alegando que esta apresentação teria sido a causa do seu desligamento da Globo -- só que o Alexandre Garcia não foi desligado da Globo.

Tenho sérias dúvidas se realmente o Cirque du Soleil recebeu alguma isenção de R$ 22 milhões, mas se recebeu, acho até que está certíssimo e parabéns para eles -- para fazer uma turnê pelo Brasil seria necessário pagar R$ 22 milhões de impostos??!!! Is

Ao invés de reclamar do que alguém deixou de pagar devíamos estar reclamando dos impostos que nós temos de pagar. O país vai mal e vai tão mal que fica difícil enxergar as raízes de tanta coisa errada.

O senador Marco Maciel escreveu um editorial muito bom nesta terça feira passada no JB. O Brasil precisa passar por uma reforma institucional.

Por onde começar? Eu acho que o grande vilão da história está no conjunto de nossas leis. As nossas leis são a grande fonte de tanta burocracia, de tantos órgãos de governo desnecessários ou inflados, de tanto desperdício e, finalmente, de tanta corrupção. O Brasil é movido a "criar dificuldade para vender facilidade", o que anda de mãos dadas com "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".

Isto é que é o problema.

Enquanto não resolvermos isto, a temperatura só vai aumentando. Lembram-se do Ministro da Desburocratização, o Hélio Beltrão? No fundo, tratava-se disto, numa escala menor. Precisamos de um mutirão de desregulamentação, de desmonte (ou ao menos de neutralização) do aparato burocrático, de limpeza das nossas leis, a começar pela nossa constituição.

Precisamos de menos leis e de leis melhores. Menos estado e melhor estado.

Abraço a todos, conhecidos e desconhecidos,

Mario Kossatz

Quanto a mim, vou indo: estou tomando o rumo da roça, literalmente.

Bom fim-de-semana para todos!

Hoje à tarde

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25.8.06

España para bixos-grilos





Mais música folk: desta vez, do outro lado da poça, na Espanha.

A cantora é Maria Salgado; a música, Solo por miedo, é de um CD com um título que é uma delícia, Siete Modos De Guisar Las Berenjenas.

Isso, apesar de eu detestar las berenjenas.

24.8.06

Ainda a exposição: foto Daniel De Plá






(Nelson Vasconcelos, a vossa blogueira e o pequeno Lucas)

Happy Hour





Ecos da semana

Os leitores se manifestam: ninguém agüenta mais

Escrever crônica é manter um diálogo constante com os leitores. Ainda que não se encontre tempo para responder a todas as mensagens recebidas -- e por isso, aliás, peço desculpas aos que tão gentilmente entram em contato comigo -- a leitura da crônica, de um lado, e a dos emails, do outro, não deixa de ser uma espécie de conversa. Através dessa troca de impressões, os leitores passam, com o tempo, a conhecer os cronistas e as suas maniass; ao passo que nós, cronistas, temos a possibilidade de saber para quem estamos falando, e até que ponto estamos correspondendo às expectativas dos que nos lêem. É comum, nessa correspondência, que as pessoas se refiram a nós como "formadores de opinião"; mas, a meu ver, a expressão se aplica apenas a uma pequena parcela do vasto universo que se encontra numa redação. No caso específico das crônicas, acho que "amplificadores de opinião" talvez seja uma definição mais acertada do ofício.

Digo isso porque, depois do desabafo que fiz semana passada, recebi uma quantidade consideravelmente maior de emails do que de hábito -- e a sua tônica era a coincidência de sentimentos entre o que foi publicado aqui e o que estava entalado no coração dos que me escreveram. Estamos todos igualmente amargurados, desiludidos, atordoados com a falência das instituições e a cara de pau dos políticos, que, a se acreditar no horário eleitoral, são santos que vivem em outro planeta. Estamos todos igualmente envergonhados do lamaçal ético no qual o país parece afundar cada vez mais, irreversivelmente:

"Sinto o mesmo que você", escreveu Francesca Santos. "Não consigo fazer de conta que nada está acontecendo... mas não encontro eco. Agora, que se tem liberdade para falar o que se quer, estão todos anestesiados. Saí irritadíssima do "Zuzu Angel". Tanto sacrifício em vão! A liberdade chegou, mas a sociedade está totalmente apática. Naquela época, tive que me amordaçar para não acabar sendo presa e, agora, estou vendo que vou ter que me desligar disso tudo para não adoecer. Sinto-me completamente impotente! Quem sofreu com a falta da liberdade de expressão devia saber o que é isso; no entanto, as pessoas "não estão nem aí". Tenho medo de um segundo governo Lula. No início deste mandato, ele tentou censurar a imprensa, lembra? Com a força da reeleição e a amizade com Chavez, Morales... não sei o que pode acontecer. Socorro! Também quero uma pílula azul."

"Lendo a sua coluna despertei para a minha maior carência, que acredito seja também do povo brasileiro: ter um verdadeiro líder!" observou Patrícia Algranti. "Alguém a quem respeitar e em quem acreditar. Ciente de que só podemos mudar o país elegendo bons candidatos, estou muito triste pois não tenho candidato. Não acredito mais em nenhum político. Existem milhares de livros escritos sobre liderança, cursos caríssimos a respeito e, no entanto, só conseguimos líderes políticos despreparados, desonestos, arrogantes e sem nenhum preparo psicológico para enfrentar um cargo público. Se para conseguirmos um bom emprego temos que passar por dinâmicas de grupo, testes de conhecimento técnico e psicotécnicos, diversas entrevistas, exames de saúde e análise da nossa "ficha cidadã" (SPC, SERASA, criminal, etc.), por que não exigir o mesmo do candidato, que tem muito mais responsabilidades?"

Esta é uma ótima pergunta, Patrícia, que com certeza muitos cidadãos honestos já se fizeram -- mas que, pelo visto, passa ao largo das "idéias geniais" dos poderosos. Fiquei particularmente sentida, porém, com cartas que recebi de leitores petistas. Ao contrário da maioria dos partidos, o PT sempre teve eleitores fiéis e uma militância aguerrida. Nisso estavam, simultaneamente, o que sempre achei sua principal qualidade (a fisionomia bem definida) e o seu principal defeito (a fé perigosamente próxima do fanatismo religioso):


"Desta vez, seu artigo me tocou fundo pois sinto exatamente o mesmo", escreveu Eduardo Horcades. "Há décadas, pois sou militante, desde 1965. Entrei para a faculdade em 66 (PUC-RIO) justamente no "esquentar" das coisas, sou filho de um militar assassinado pela ditadura, sócio atleta do PT -- não deste que está aí, mas daquele que fundamos, amamentamos, moldamos e admirávamos. Não deste que faz acordos com "niutões" e crivellas da vida. Não deste que só tem como objetivo o poder pelo poder e, muitas vezes, por algo mais. Isto posto, acredito que você pode avaliar como me sinto. Escrevo somente para dizer que seu artigo (crônica?) foi de primeira linha e expressou exatamente o que sinto. Exceto, quando diz que "quer uma pílula azul". Não, não quero perder a vontade de gritar não só "não venham aqui" mas muito, muito, muito mais. Quero e vou continuar gritando o mais alto que minha voz permitir."

* * *

Vale, aliás, um esclarecimento. Houve gente achando que a pílula azul à qual me referi fosse Viagra; mas já passei, há tempos, da idade em que sexo é solução para todos os problemas. A pílula azul e seu oposto, a pílula vermelha, são ícones de "Matrix". Quando começa a perceber coisas estranhas acontecendo a seu redor, Neo, o hacker, pode escolher entre a pílula azul, para voltar à paz da ignorância, ou a pílula vermelha, para encarar o tranco da realidade. Não vou contar qual ele escolhe; aluguem o filme, que é ótimo.


(Globo, Segundo Caderno, 24.8.2006)

Pipoca




Tutu




Do ponto de vista do Lucas... *suspiro*




Olívia Hime e Ruy Guerra




23.8.06

As Rónai






(Foto Lucas)

Com Frederico Mendes






(Foto Lucas)

Com Mamãe






(Foto Lucas)

Tom






(Foto Lucas)

Dedicatória






(Foto Lucas)

Vista aérea






(Foto Lucas)

Lindo!






(Foto Lucas)

Fala Foto by Lucas




Silêncio, gravando!




Mercedes, pro RJ TV




Lagoa




Entrevista pra Globonews