Um dia, no distante ano de 1993, cheguei à conclusão de que não queria mais escrever mais sobre tecnologia. A única coisa que acontecia na área eram upgrades periódicos dos programas que se usavam então. A própria internet, apesar de divertida, era fechada e não estava ao alcance de todos. Eu trocava emails com meia dúzia de amigos, participava do fórum rec.pets.cats na Usenet e jogava MUDs, mas cada vez que escrevia sobre essas coisas obscuras recebia cartas de reclamações dos leitores, que em geral não tinham acesso àquilo.
Procurei o chefe da redação, e pedi para mudar de área: a sensação que eu tinha é que, se tivesse que escrever sobre mais um upgrade do Word Perfect ou do Lotus, cortaria os pulsos. Ele compreendeu a situação, mas me pediu para segurar as pontas por mais alguns meses.
E aí começou o ano de 1994, que trouxe consigo os primeiros servidores www brasileiros. A web -- que é, de fato, a internet como a conhecemos hoje – mudou tudo. A área voltou a ficar vibrante e interessantíssima. Havia tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que era impossível dar conta de tudo. Voltei à sala do chefe da redação e disse que tinha mudado de idéia, que amava tecnologia e que não queria escrever sobre outra coisa na vida.
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Ao longo dos dois últimos anos, voltei a sentir a velha sensação dos idos de 93. Os desktops (e notebooks, em menor grau) chegaram mais ou menos aonde tinham que chegar. Viraram objetos do cotidiano, tão comuns quanto fogões ou geladeiras. Todos nós precisamos de fogões e de geladeiras, mas quanto tempo se pode passar escrevendo a seu respeito?A área dos smartphones continuava relativamente interessante, cheia de lançamentos, mas, com o tempo, todos ficaram muito parecidos entre si – ou eram touch-screens como o iPhone, ou variantes de modelos com teclado, à la Nokia. O tempo dos aparelhos conceituais, que a gente até sabia que não iam dar certo, mas apontavam novas direções muito estimulantes, acabou.
O fortalecimento do Android voltou a dar um gás ao setor, mas, mesmo assim, desde o iPhone não apareceu nenhum aparelho que chacoalhasse a praça. Os HTC foram uma ótima novidade e o Samsung Galaxy S virou um merecido sonho de consumo, mas, de certa forma, o que se vê em termos de hardware é mais do mesmo. Basta dizer que meu celular favorito, a despeito do software ultrapassado, continua sendo o Nokia N95, um produto de 2007. Pessoalmente, acho que a indústria ainda não conseguiu ultrapassá-lo como conjunto de obra.
Pois estava eu novamente pronta a jogar a toalha, quando apareceram os tablets, e mudaram tudo mais uma vez. O Kindle não vai matar os livros de papel, mas nos trouxe uma forma radicalmente nova de leitura. O iPad não vai matar os notebooks, mas também nos apresentou um jeito inédito de interação com a máquina. O Samsung Galaxy Tab ainda dá um passo além, juntando televisão e telefone ao pacote, num tamanho que cabe na bolsa, e voilá – estamos diante de um mundo inesperado, que dá seus primeiros passos. A era do tablet mal está começando, e já é uma alegria.
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As comunidades sociais, o grande fenômeno do momento, não são exatamente novidade para quem viveu a internet desde o começo. A rede sempre foi um grande ponto de encontro e, mesmo antes da web, as comunidades da Usenet (que funcionavam à base de letrinhas verdes sobre fundo preto) reuniam gente de toda a parte.O que o Facebook e o Twitter têm de diferente, mais do que as interfaces fáceis de usar, é o fato de terem nascido num momento em que praticamente toda a humanidade letrada está conectada e, consequentemente, o número de usuários, que gera fatos inéditos como o efeito dominó das revoluções da rua árabe.
Este é, claro, um mundo fascinante, que vai gerar assunto ainda por muitos e muitos anos.