31.8.04



O dente unido jamais será vencido...

Acabo de ver no Toplinks: há, nos Estados Unidos, um movimento de Usuários de Bluetooth Contra Bush.

Adorei a idéia!

30.8.04



Ufa.

Só para ficar registrado: hoje eu dei uma volta de bicicleta na Lagoa e fiz uma aula de spinning. Ah, e quase vi a capivasca! Quando passei por lá ela estava dando adeus e indo embora...


Injustiça

As Olimpíadas podiam ter ido dormir sem a inacreditável falha de segurança que permitiu o ataque ao maratonista brasileiro. Não entendo nada de maratona, mas acho uma tremenda injustiça que o Wanderlei Lima tenha ficado com o bronze.

Ou se cancelava o raio da prova ou se descontavam os segundos perdidos (o que ainda seria pouco; imaginem o estrago causado pelo susto) ou qualquer outra coisa, mas essa solução de dar uma medalha especial ao nosso herói é simplesmente ridícula.

No mínimo ele devia ter recebido uma medalha de ouro junto com o "vencedor".




29.8.04

Texto de Tom Taborda, especial para o blog



(Des)amor aos animais


Tom Taborda
(Especial para o internETC.)


Sim, sabemos que o amor aos animais, sobretudo aos bichinhos de estimação, faz um enorme bem à saúde física e psicológica dos seus donos. Sim, sabemos que demonstrar amor pelos demais seres vivos é prova e prática de melhor estado de espírito e de uma alma mais elevada, capaz de amar.

No entanto, preparem-se: afirmo que a maioria -? repito -- a maioria dos que possuem animais de estimação amam na verdade a projeção de si próprios nos bichinhos. Não amam os animais pelo que são e suas necessidades, mas pelo que projetam neles.

Nada me deixava mais desconcertado, quando levava meus gatos aos veterinários, que perceber o indisfarçado e tateante empenho do profissional em tentar adivinhar quais as minhas carências e expectativas. Ou seja, o que me satisfaria no tratamento. Muitas vezes, tive que deixar bem claro que fizesse seja lá o que fosse necessário para tratar o animal. Nem que receitasse, por exemplo, uma dieta de baratas, por mais revoltante que me parecesse: não era para mim, mas para meu gato.

Pense bem: a maioria dos produtos das pet shops é desenhada justamente para suprir as necessidades e prioridades dos donos dos animais e não destes. Assim, temos snacks sabor artificial bacon, pois o bípede que o compra provavelmente saliva ao pensar no toucinho, independente do fato que bacon não seria nada saudável para um cão. É quase como se os bípedes pensassem, dissessem e agissem: ?amo você, meu gatinho, contanto que não seja um gato, mas o quê eu quero que seja?. E tasca um vestidinho, real ou simulado, em cima.

Se ração para gatos fosse realmente para gatos, teríamos nos sabores ?camundongo?, ?barata? ou ?pombo?. Todos os bons manuais de donos de gatos descrevem o correto procedimento quando um gato nos trouxer um rato ou inseto morto: aceite com deferência e jogue fora depois, disfarçadamente. Nunca demonstre nojo ou, muito menos, brigue com o animal. Afinal de contas, ele é um felino, com todos os seus instintos. No entanto, no minúsculo universo de amantes de gatos que freqüentam o blog da Cora, a maioria posicionou-se revoltada com tais ?presentinhos?. Não amam um gato sendo... gato.

Amar de verdade os animais, a rigor, seria amar pelo que são, cuidando das necessidades e prioridades deles. Mas na prática, como eu disse, a maioria dos donos de animais projeta neles suas necessidades e prioridades. Suas carências.

Pensando bem, esta é uma (má) característica generalizada do ser humano: pouquíssimos pais, mães, parentes, irmãos, amigos e colegas sabem apreciar e valorizar aquilo que é ?felicidade? para o outro. Poucos amigos e amigas sabem compartilhar a felicidade quando o outro está amando, por exemplo, ou contente com uma mudança de cidade.

A grande maioria pensa em si mesmo, ou projeta -- ou impõe (dependendo da hierarquia) -- aquilo que acredita ser o melhor para o outro. Não amamos o outro ou o animal pelo que é, mas pelo que gostaríamos que fosse. Amar de verdade, no entanto, seria intuir e desfrutar o bem-estar do outro.

Os pobres animais de estimação apenas melhor se encaixam, sem revoltas ou bate-boca, no papel de alvo-de-projeção das carências dos seus bípedes. Coisa que filhos ou amigos nem sempre aceitam passivamente. No final das contas, não deixa de ser comovente o grau de abnegação e sacrifício dos bichinhos em nosso benefício: muitas vezes sacrificam sua própria animalidade (para não dizer saúde), só para que tenhamos a ilusão de saber amar, e durmamos tranqüilos, psicologicamente auto-reconfortados.

28.8.04

Pobre JB!



JB agonizante

Ontem foi um dia horrível para os jornalistas, sobretudo os jornalistas cariocas. O JB, que já estava pra lá de capenga, demitiu 64 pessoas. A Editoria de Economia foi simplesmente varrida do mapa; a idéia de Nelson Tanure, dono do JB e da Gazeta Mercantil, é que o material produzido pela Gazeta passe a ser utilizado no JB -- como se não houvesse uma diferença abissal entre os dois jornais. A Editoria de Esportes será detonada assim que terminarem as Olimpíadas.

Dora Kramer, a meu ver a maior estrela do JB, também está saindo do jornal, onde fica até o fim do mês. Ela não foi vítima do passaralho, mas acha que o JB de hoje tem muito pouco a ver com o de 1984, quando foi trabalhar lá. Indeed.

Ainda volto a este assunto, que me deixou muito abatida. Pelos colegas demitidos, é lógico, pelo triste fim que está tendo o jornal que eu tanto amei mas, sobretudo, pela situação cada vez mais crítica do nosso mercado de trabalho.

Humanos, todos...



Bípedes imperfeitos

Um grupo de mulheres indignadas criou um blog para denunciar canalhas de plantão nos sites de relacionamento. É uma espécie de Procon sentimental, que parte de uma boa idéia. Na prática, porém, a teoria tem suas complicações, a primeira delas sendo, claro, a mais óbvia: como distinguir alertas importantes de denúncias geradas por rejeições perfeitamente normais?

As autoras do blog me mandaram um email lá pro jornal assim que puseram o site no ar; hoje voltei lá para ver como está evoluindo a coisa. Alguns homens atacados entraram reclamando, algumas mulheres entraram defendendo alguns dos homens atacados, alguns nicks saíram da lista negra.

Parece que, bem ou mal, o povo está se entendendo por lá. Entre mortos e feridos salvam-se quase todos -- menos a língua portuguesa, massacrada de alto a baixo, sem dó nem piedade.

É impressionante como se escreve mal neste país -- mas isso, claro, são outros 500.

De todos os barracos e perrengues, o que achei mais engraçado foi o post de um camarada que veio agradecer os resultados milagrosos de uma queixa contra ele. Fui atrás da queixa:
Venho denunciar a pessoa que se intitula ****. Insinuante, educado, gentil, cheiroso, invariavelmente nos leva ao piano bar do Rio´s no Aterro ou no Alcaparra na Praia do Flamengo... não mede despesas... Consegue nos levar ao apartamento dele em Copacabana, onde nos sentimos mais seguras ainda, pois fica provado que é livre, desimpedido e com razoaveis recursos.

No sexo é maravilhoso, é carinhoso, nos satisfaz plenamente, não sei se ingere algum remédio ou substância, no meu caso teve uma 2ª vez...

Mas aí vem a decepção! Ele some! Não atende telefonemas! Quando é pego ao telefone dá desculpas! Isso faz nossa auto estima descer até o chão!

Antes fosse grosseiro... mas nunca o é... Na realidade achamos que encontramos o homem ideal, mas estamos diante de um farsante! Um homem que nos leva a ter vergonha de sermos mulheres!

Me senti como um pedaço de carne que estava pendurada num açougue!

Cuidado! Creio ser o mais perigoso do homens de meia idade!

Saiam fora!

Estou rindo até agora. Se isso não foi ele mesmo quem escreveu, o mundo está muito esquisito...

26.8.04



Comentários

Há algo errado com os comentários, que estão fora do ar. O Blogger oferece uma opção de comentários "nativa" que acabo de habilitar como quebra-galho; vamos ver se funciona...

Por outro lado, os anunciozinhos do Google parecem ter tomado juízo: pela primeira vez em semanas estou vendo algo além dos genéricos Google. Mandei email para eles há algum tempo reclamando, e me disseram que era assim mesmo, mas que estava esquisito estava.

Update: o sistema de comentários precaríssimo do Blogger está no ar. Funciona assim: você clica aí embaixo, ele abre o template do blog inteiro novamente (!) mas mostrando apenas o post que se deseja comentar. Para voltar pra cá, é só fechar o semi-blog aberto.

Não acredito que o sistema seja tão ruim!

Deve ter algo que não entendi, um macete qualquer que me escapou, mas agora estou com pressa e não posso estudar isso direito. Há algum usuário que já passou por isso na casa?

Update: como todo mundo já percebeu, os comentários estão de volta. Grande Fábio! Muito obrigada! Sem você, este blog não seria o mesmo.




Eu preferia estar lendo:
agruras de uma vida nova


Tudo começou quando eu estava de férias em Riccione, acompanhando o Campeonato Mundial de Masters de Natação. Humilhada pela disposição e pela resistência da Mamãe e das suas amigas, um grupo de imbatíveis sereias vintage, decidi que não podia continuar com a minha vida de nerd, perpetuamente colada ao computador. Até porque, em Riccione, o hotel não tinha computador. Em compensação, tinha bicicletas, que os hóspedes podiam usar à vontade. De modo que lá fiquei pedalando, enquanto as sereias se encarregavam de conquistar medalhas para o Brasil.

Dez dias depois, quando segui para Veneza, estava com tal preparo físico que nem reclamei quando soube que meu quarto ficava no terceiro andar. Não posso dizer que subir e descer escadas tenha virado segunda natureza para mim, mas, no fim da temporada, eu já conseguia chegar ao quarto sem que a trilha sonora de "Carruagens de fogo" me viesse automaticamente à lembrança.

Diante de tão notável progresso, resolvi manter o ritmo na volta para casa. Tirei a bicicleta da garagem e me matriculei numa academia, disposta a encontrar algum exercício que combinasse comigo. As amigas que freqüentam a academia vieram em meu auxílio:

-- Há uma aula de alongamento ótima que você faz praticamente deitada no chão!

Parecia perfeito -- mas só parecia. Descobri músculos que eu nem sabia que existiam, e logo cheguei à conclusão de que a vida era bem mais suportável na ignorância anterior.

-- Por que você não faz Pilates? A aula é ótima e fácil, há senhoras de 80 anos que fazem Pilates direto, todos os dias.

Fui à aula e constatei que era verdade, que há mesmo; mas, depois do campeonato em Riccione, eu devia ter apreendido que certas senhoras de 80 anos são capazes de coisas que nem duas de 40 fazem.

-- Tenta yôga : o professor das quartas e sextas é tudo de bom...

Yôga?! Como assim, yôga?! Sou do tempo da yóga com acento agudo, e não consigo me imaginar fazendo yôga com circunflexo. Mas o fato é que as possibilidades de encontrar um exercício compatível com meu estado de espírito diminuíam rapidamente. Antes que alguém me recomendasse golf sem e, perguntei à Bia o que ela sugeria.

-- Que pergunta, mãe! Spinning, é claro.

Para quem não sabe o que é spinning, explico: é uma aula coletiva de bicicleta ergométrica, em que várias pessoas pedalam simultânea e freneticamente. Elas obedecem às instruções do professor que, lá na frente, alterna ordens desumanas com palavras de estímulo, na esperança de ser ouvido acima do volume ensurdecedor do som bate-estaca.

Pensem numa daquelas galés de desenho animado ou de filme histórico, com um capataz estalando o chicote nas costas dos remadores ao ritmo dos tambores de selvagens exóticos, e vocês terão uma idéia bastante aproximada do que é o spinning.

Nem preciso contar as conseqüências funestas da primeira aula; mas uma colega me empurrou até a segunda, um dos professores me arrastou até a terceira e, à quarta, fui de livre e espontânea vontade. Hoje, dez aulas depois, posso afirmar, com absoluto conhecimento de causa: spinning é um horror! As amigas da academia tentam me estimular e garantem que logo me acostumo.

-- Você já não está se sentindo superbem depois de fazer uma aula?

Honestamente? Não, não mesmo. Já não fico mais dolorida, mas os únicos sentimentos que o spinning me desperta -- como, aliás, qualquer exercício -- são um tédio inenarrável e um cansaço miserável. E, vá lá, uma grande paz na consciência, que compensa o resto. Mas que resto!

-- Não estou conseguindo ajustar este banco, está todo escorregadio, cheio de óleo.

-- Óleo?! Isso não é óleo, não, é suor.

Aaaaaaaaaaaaaaaaargh.

* * *

Oquêi, estou sendo injusta. O spinning não é tão tenebroso assim. Os professores são simpáticos e atenciosos e, honra seja feita, se não fosse justamente a sensação de estar nas galés, eu nunca faria exercício tão puxado. Hoje, a maior dificuldade que encontro no spinning é ir até a academia -- sob todos os pontos de vista. É que vou de bicicleta.

Andar de bicicleta em Riccione era moleza. Imaginem que ciclovia, na Europa, é uma pista exclusiva para bicicletas! bicicletas! Enquanto o Brasil não importa este conceito revolucionário, vou me virando como posso. É duro, mas tenho feito progressos.

No começo, achava quase impossível dar uma volta na Lagoa. Ficava perturbadíssima quando cruzava com bípedes ou quadrúpedes, e descia da bicicleta sempre que passava por alguém. Não mais. Depois de dois meses de dedicado esforço, já sei desviar de cachorro, já ultrapasso corredores e já aprendi até a andar devagar o suficiente para seguir grupos de pessoas passeando de braços dados, famílias dispersivas e carrinhos de bebê emparelhados.

Sobretudo, aprendi que tocar a sineta na ciclovia não pega bem: os pedestres ficam muito contrariados.


(O Globo, Segundo Caderno, 26.8.04)



Repostando: convite

Publiquei na semana passada; é hoje, logo mais...

Acabo de receber uma pilha de convites para distribuir aos amigos. É que a Comissão Permanente das Mulheres Advogadas, da OAB/RJ, acha que mereço ser homenageada como uma das mulheres cariocas que se destacaram ao longo do ano.

Eu me senti muito honrada com a distinção, é lógico, mas fico sem graça de mandar convites para os amigos; acho que fica parecendo intimação, tipo "Olhe lá, estou sendo homenageada, não me falte!". Por outro lado, não quero ser estraga festa e não avisar a ninguém: afinal, o gesto das advogadas é uma prova de simpatia e de carinho.

Então faço o convite aqui, geral, para todo mundo. Assim fico tranqüila por retribuir a atenção da Comissão, ninguém se sente obrigado a ir e todos ficaremos felizes -- a Comissão, eu, os que forem e os que não forem.

A cerimônia, em honra ao Dia Internacional da Mulher, vai ao ar no próximo dia 26 de agosto, às 17hs, na Av. Marechal Câmara 150, no plenário do quarto andar.

25.8.04




Iu-huuuuuuu!!!

Lembram da promoção do site do azeite espanhol, que prometia livros de receitas para os 200 primeiros internautas a responderem ao quiz?

Pois o meu livro chegou hoje!

É lindo, muito bem editado e impresso, um luxo só.

Fiquei toda feliz... :-D

Ah, por falar nisso: ontem, quando eu estava brincando com as webcams de Veneza (agora há um link para uma delas na barra da esquerda, bem embaixo) achei uma coleção de 130 receitas típicas do Veneto, com alguns dos meus pratos favoritos, do Fegatto alla Veneziana à Sarde in Saor.

Para quem gosta de cozinhar e fala italiano, é uma ótima fonte de delícias.

24.8.04



O sentido da História

Escrevi este texto como colaboração para o blog do Noblat; a data é virtual, 24 de agosto de 1954.

Se o impacto dos suicídios pudesse ser medido pela escala Richter, o gesto do ex- presidente Getúlio Vargas certamente ultrapassaria os 6.8 pontos do terremoto verificado às 5h51m de hoje em Stillwater, EUA. Não há nada na memória recente do Brasil que se compare ao abalo que, neste momento, sacode o país.

Ainda que seja difícil avaliar no calor da hora e no epicentro da tragédia a magnitude da sua repercussão, é inquestionável que o suicídio de Getúlio é, desde já, um dos pontos de maior destaque da História do Brasil. Uma história que -- para nossa possível felicidade -- carece de bons elementos dramáticos.

A despeito de qualquer opinião que dele se faça, cumpre reconhecer que o ex-presidente teve, como poucos, o sentido dessa História. Seu último gesto reveste-se de tal carga emocional que, daqui para a frente, será impossível avaliar com serenidade qualquer aspecto da sua herança.

O suicídio não deu fim apenas à sua vida, mas também à objetividade da memória coletiva. Assim, a notícia que ouvimos cedo no rádio e que logo estaremos lendo nos jornais continuará ecoando ao longo dos anos, repetida -- e reinterpretada -- em centenas de livros, peças de teatro, filmes e novelas de rádio, para sempre gravada no imaginário popular.

Não será de admirar se, daqui a 50 anos, os brasileiros ainda estiverem falando deste 24 de agosto de 1954 como se fosse hoje.


Agora, em 24 de agosto de 2004, acho lamentável, sinceramente, que isso seja assim. Acho patético que se estejam erguendo memoriais para o Vargas, inclusive aqui no Rio -- como se já não houvessem suficientes bustos e monumentos, e ruas, avenidas e praças Getúlio Vargas espalhados pelo país.

A única coisa que me consola é olhar para a Argentina, e ver que a coisa podia ser bem pior.


Por falar em Fal...

Ô raio de mulher que escreve bem! Roubei de :
PAFT

De vez em quando o passado, que tava quietinho no canto dele, vem até onde vc está, dá um tapa na sua cara e sai, antes que vc possa esboçar reação. Ui.


Maratona histórica



Maratona histórica

Vocês vão achar que eu estou me repetindo, mas... não percam o Noblat! O que ele está fazendo é simplesmente espetacular: 24 horas de blog, relembrando passo a passo os acontecimentos de 24 de agosto de 1954. Um show de criatividade, pesquisa, bom texto e, ça va sans dire, resistência.

Até eu, que sou do ramo (noturno!), estou impressionada com os horários dos posts.

Olhem que fiquei acompanhando a maratona até às quatro, fui dormir, acordei, tomei café, li o jornal, brinquei com os gatos -- e ele lá, sem deixar a peteca cair.

Sensacional.

A área de comentários é um espetáculo à parte. Há uma turma de habitués que me lembrou o povo da Fal -- um traz cafezinho, o outro conta piada, sabem como é -- que manda muito bem; Palmério Dória, outra coruja jornalística, passou horas numa ótima tabelinha, dando interessantes informações de bastidores.

O diabo mesmo é aquele sistema do Blig, que já tirou do ar tudo o que aconteceu antes das 8h45. Melhor seguir o link lá de cima (AQUI, de novo) que vai direto para o arquivo.

Em tempo: eu não gosto de Getúlio Vargas.


Blig? Bleargh...

Está o máximo a máquina do tempo do Noblat, realmente muito interessante! Nào deixem de ir .

Mas acabei de perceber uma coisa ridícula do Blig, que é onde mora aquele ótimo blog: o formulário da caixa de comentários só permite fazer links para... outros bligs! Pode?!

Acho patéticas essas tentativas de segurar usuários dentro de portais, sistemas, curraizinhos. Será que o povo que cria esses mecanismos não percebe que a internet é (ou deveria ser) justamente o contrário disso?!

23.8.04

Mais convites do GMail!



Mais convites do GMail!

Nada como a concorrência, né? Tenho sete convites pro GMail! Aos interessados: nome, sobrenome e email aqui nos comentários, tá?

Viagem no tempo



Viagem no tempo

Daqui a 15 horas Getúlio se matará com um tiro no coração
Este é o título de um post que o Ricardo Noblat publicou no seu sensacional blog -- onde, a partir da meia-noite de hoje, começa uma fenomenal viagem no tempo. Não percam! Algo me diz que este vai ser um dos grandes momentos da internetBR.

Aqui está o post do Noblat, na íntegra, só para atiçar a curiosidade de vocês:
Vai ser assim a partir da meia-noite: faremos de conta que esta terça-feira é a terça-feira 24 de agosto de 1954. E que o presidente da República se chama Getúlio Vargas. E que ele está sendo pressionado por generais, almirantes e brigadeiros para renunciar ao cargo. À medida em que os fatos forem se sucedendo, eles aqui serão postados mais ou menos na hora em que ocorreram. Getúlio encerrará uma reunião de emergência com seus ministros em torno das 4 da madrugada. Em seguida irá dormir. E dali a mais duas ou três horas será acordado pelo irmão. Dará o tiro no peito por volta das 8h ? vocês ficarão sabendo detalhes disso 20 ou 30 minutos depois. E assim por diante.

Lá pelas 10h, quando manifestações de protesto estarão sendo registradas por todo o país, começarão a ser postados aos poucos depoimentos e artigos como se tivessem sido escritos logo depois do suicídio de Vargas. A situação econômica do país, por exemplo, será analisada pelo economista Raul Veloso. O jornalista Jânio de Freitas, então repórter do Diário Carioca, contará o que viu ao longo da madrugada de plantão na porta do Palácio do Catete. Millor Fernandes narrará seu encontro com uma amiga pouco antes de saber que Getúlio se matara. O Diretor de O Estado de S. Paulo, Ruy Mesquita, lembrará que estava no Rio e que se reconciliara com Carlos Lacerda.

Pedro Simon era um estudante de 17 anos. E como tal refletirá sobre o impacto da morte de Getúlio no Rio Grande do Sul. O ministro José Viegas, da Defesa, revelará como a morte de Getúlio o livrou da prisão. Em entrevista ao blog, um menino de 10 anos de nome Cristovam Buarque contará o que se passou em sua casa no Recife. E muitas outras pessoas, famosas hoje ou não, também falarão.
Quem quiser poderá ouvir o então deputado Afonso Arinos, da UDN, discursando na Câmara em 13 de agosto de 1954 exigindo a renúncia de Getúlio. Foi um discurso que entrou para a História. E também 10 músicas e comerciais de rádio que fizeram sucesso em 1954.

Então, o que é que vocês ainda estão fazendo aqui?!

Todo mundo !

Update: o Andre Decourt, que sabe tudo a respeito do Rio de Janeiro e tem uma coleção de fotos da pesada, também está postando uma série especial sobre o 24.08.54 no Fotolog.

À beira de um ataque de nervos



À beira de um ataque de nervos

Há três semanas, minha vizinha de porta, que mora sozinha com uma cadelinha linda chamada Carolina, fez as malas, deu tchau e foi se abrigar alhures. Eu, com uma estrutura doméstica ligeiramente mais complicada, não posso fazer a mesma coisa. Infelizmente.

É que, no dia seguinte à partida dela, entrou em cena um time de operários, que está pondo a casa abaixo. Isto é: há três semanas eu sou acordada às oito da manhã (volta e meia tendo ido dormir às quatro) pelo mavioso som das marretas detonando as paredes.

Hoje a turma chegou ao quarto, de parede colada com o meu. O barulho é insuportável; é como se a turma estivesse trabalhando aqui em casa.

Não há borrachinha de ouvido que dê jeito.

Estou com uma dor de cabeça monstruosa e um humor de cão (opinião dos gatos).

ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

Eu ODEIO obra!!!

Usuários x Telemar x Fácil Internet



Usuários x Telemar x Fácil Internet



E, mais uma vez, os usuários de internet estão às turras com a Telemar. O motivo da indignação é, desta vez, a rescisão unilateral do seu contrato com a Fácil Internet, único provedor gratuito que constava da grade do Velox. A Fácil alega que a medida é retaliação contra um processo que move contra a Telemar em Minas Gerais, tentando garantir a manutenção da gratuidade de provedor ADSL para o usuário ? que, na verdade, já paga pelo serviço recebido na conta da Velox, e não deveria ter a obrigação de pagar, além disso, também a um provedor. Num comunicado oficial, a Telemar alegou irregularidades no contrato para justificar a rescisão, e disse que foi impossível negociar com a Fácil Internet ? que, por sua vez, garante jamais ter sido procurada pela Telemar nesse sentido.

* * *

A triangulação banda larga/provedor/usuário é uma das questões mais enroladas da tradicionalmente enrolada área das telecomunicações brasileiras. Acontece que as empresas que detém os meios de transmissão de banda larga estão proibidas, por lei, de oferecer o serviço diretamente a pessoas físicas. Isso é feito pelos provedores de serviço, cuja única tarefa, no caso, é autenticar os usuários, ou seja, manter seus cadastros, logins e senhas em ordem.

Este modelo bizarro existe porque, na época em que se decidiu como seriam os serviços de banda larga no país, existiam centenas de pequenos provedores que, supunha-se, seriam varridos do mapa caso se desse carta branca às gigantes detentoras dos meios de transmissão. Criou-se para os provedores, assim, a ingrata função de intermediários.

O tempo passou, a banda larga não se alastrou com a velocidade prevista mas, ainda assim, a maioria dos pequenos foi varrida do mapa do mesmo jeito. Muitos comprados pelos grandes provedores, outros simplesmente engolidos por eles ou pelos tempos bicudos. De qualquer forma, sobrou ? como sempre sobra ? para o usuário, que hoje tem que pagar pela banda larga e pelo provedor que está na porta.

O que a Fácil Internet propõe na ação contra a Telemar é que o Velox passe a pagar pelos serviços dos provedores, em lugar dos usuários ? já que, no seu entendimento, os provedores prestam serviços aos donos da banda larga, e não aos usuários. Faz sentido. Mal comparando, é como se, para ir a uma casa noturna, você ? e não o dono do estabelecimento ? tivesse que pagar ao leão-de-chácara, que decide se você pode ou não entrar. Ou como se, para usar eletricidade em casa, você tivesse que pagar, além da conta da Light, uma taxa mensal de serviço para fabricantes de tomadas e interruptores. É claro que a maioria dos provedores oferece, além do acesso, uma série de outros serviços e conteúdos ? mas o usuário deveria ter liberdade de decidir se quer ou não esses serviços.

A questão dá panos para as mangas. Usuários de banda larga de vários estados já entraram na justiça contra o pagamento a provedores e ganharam a causa. A Associação Brasileira de Usuários de Acesso Rápido (abusar.org) mantém um excelente site dedicado aos vários abacaxis do setor. Detalhes do caso Telemar x Fácil em barraco.notlong.com.

(O Globo, Info etc., 23.8.2004)

Walla!



Walla!

É, parece que estamos mesmo na era do gigabyte básico, novo patamar dos serviços de webmail: assim como o GMail, o Walla!, que entrou no ar no fim de julho, também nasceu oferecendo 1Gb de espaço grátis para os usuários.

Na época, mobilizada pelo seqüestro da Pipoca e contente com o GMail, não prestei maior atenção ao lançamento. Ontem, porém, o Sérgio Torres fez um comentário tão positivo a seu respeito que não resisti e abri uma conta.

Pois está me parecendo ótimo -- melhor, aliás, do que o GMail. É mais bonito, mais intuitivo e mais flexível, e o filtro anti-spam carrega o lixo (e algumas mensagens boas, diga-se) para uma pasta separada, automaticamente. Bem legal!

O Walla! está aberto para a geral, é um sistema pronto (ao contrário do GMail, ainda em beta) e não precisa de convite.

É só chegar, se registrar e sair usando.




Mandou bem

Comentário da Telinha:
ai.

realmente, escrever blog tá virando exercício para budista. não se pode escrever uma opinião sem um exército contra e outro a favor.

sim, gatos caçam ratos desde o início dos tempos. sim, é importante cuidar das pessoas desamparadas. sim, é importante cuidar dos animais desamparados. sim, até ratos têm direito a uma vida digna e uma morte indolor. e sim, isso tudo pode conviver em harmonia.

infelizmente o que eu leio nos comentários deste blog é que a grande maioria das pessoas só concebe o mundo do jeito delas.

a tolerância, pelo visto, é o artigo mais raro da blogosfera.

21.8.04







Pipoca

Quem só conhece a Pipoca das fotos diurnas pode ficar com a impressão de que ela é uma perfeita lady. À noite, quando todos os gatos são pardos, ela continua branquinha; mas o seu lado selvagem vem à tona.

Pois este blog tem o prazer de comunicar aos amigos que a gatinha mais paparicada deste lado da Lagoa já se recuperou completamente do seqüestro, e voltou a ser o tigre em miniatura das madrugadas da Epitácio Pessoa.

A prova disso foi dada ontem, quando ela caçou DOIS ratos, para inenarrável orgulho de todos nós. Como costuma fazer com os bichos que caça, brincou bastante com os coitados, depois arrancou fora as cabeças e deixou o resto na porta da garagem, como presente para os seus bípedes.


(As fotos foram feitas à noite, na garagem, logo que ela voltou para casa, quando ainda estava sem a coleira)


GMail

Parece que ter um endereço no gmail.com, onde só se entra com convite e há 1Gb limpinho à espera do freguês, é o que há de bom no momento.

No GMail Swap, pessoas oferecem as coisas mais curiosas em troca de uma conta: eu gostei particularmente da proposta de um cara que promete tocar o concerto de Haydn para trompete pelo telefone, mas como ele mora nos Estados Unidos, eu ia sair num prejuízo louco. Também gostei da proposta da moça canadense que oferece a adoção de um bicho à escolha no zoológico da cidade dela, mas alguém chegou antes de mim.

De modo que, mais uma vez, aqui vão três contas de GMail para vocês. Elas serão distribuídas pela ordem de pedido aqui nos comentários, OK?

20.8.04

Antes e depois



Antes e depois...

Achei lá na Helenice este interessante discurso do Lula. Antes das eleições, ele dizia o seguinte:

Nosso partido cumpre o que promete.
Só os néscios podem crer que
Não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
A honestidade e a transparência são fundamentais
Para alcançar nossos ideais.
Mostraremos que é grande estupidez crer que
As máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
A justiça social será alvo de nossa ação...
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
Se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
Se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
Nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
Os recursos econômicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.

Agora, continua dizendo a mesma coisa... mas a gente precisa ler de baixo para cima.


Eu quero!!!



Eu quero!!!

O Tom Taborda, que tem um faro incrível para novidades, acaba de descobrir o meu mais novo sonho de consumo.

Vejam que brinquedo maravilhoso...

Ponte aérea



Ponte aérea

Ontem, quando fui a São Paulo, levei um susto. Saí de casa às 8h30, horário que definitivamente não é o meu forte, peguei um Santos Dumont sem teto e só consegui embarcar às 10h30.

Nem preciso dizer que estava mais morta do que viva.

Estava tão feia a coisa pro meu lado que recusei o lanche -- comida de avião! aquela coisa que tanto amo! -- e dormi durante o vôo todo; quando acordei, o avião já estava se ajeitando num daqueles tubos que saem direto no aeroporto.

Fiquei em estado de choque: estávamos em Guarulhos?! Era só o que me faltava...!!!

Mas não era Guarulhos. Era Congonhas, mesmo: as obras ficaram prontas. O aeroporto está chique a mais não poder, cheio de mármores lustrosos e portões de embarque. Muito mais moderno e mais prático, claro, sobretudo nos dias de chuva.

Fiz várias fotos de telefone deste novo look; algumas ficaram até bonitinhas.

Só que, como boa romântica do Caribe, começo a ter uma saudade enorme dos velhos aeroportos como o nosso Santos Dumont, em que a gente anda pela pista e sobe no avião de escadinha.

O bom e velho estilo Casablanca, com os dias contados.

* suspiro *

19.8.04

Joguinho!





Joguinho!

Dica da Florisbela: uma maldade só...

Tem que clicar no Yeti para derrubar o pinguim, e depois clicar de novo para arremessá-lo.

Detalhe: o Ribondi já fez 325ms!!!

18.8.04









Capivara para inglês ver:
uma tarde na Lagoa


Macho reaparece e cumprimenta as visitas, mas
fêmea anda sumida, preocupando os fãs



Vi a sombra suspeita ainda da bicicleta: menos que uma sombra, um deslocamento de água, como se um grupo de círculos concêntricos, depois de adquirir vida própria, tivesse decidido passear pela Lagoa. A tarde estava linda. As folhinhas novas das amendoeiras brilhavam na contra-luz, enquanto os Dois Irmãos e a Pedra da Gávea iam perdendo o relevo e se fundindo no mesmo bloco de sombra. Minha idéia inicial era ir até a colônia de pesca, onde mora uma garça azul que há meses tento fotografar direito; mas aquela ondulação da água, tão familiar, me fez saltar da bicicleta rapidinho. Quando tirei a câmera da bolsa, a cabeça retangular, de orelhas pequeninas, já estava de fora. Um casal de ingleses, ao meu lado, se espantou: o que diabos era aquilo?!

Resisti à tentação de dizer que era o Monstro do Lago Ness gozando merecidas férias no Rio, e expliquei que era uma capivara. Capybara, na língua deles; mas era óbvio que não conseguiam ligar o nome à pessoa. Nunca tinham ouvido falar no bicho e, nem preciso dizer, jamais tinham tido o prazer de ser formalmente apresentados a um indivíduo da espécie. Quando a capivara saiu da água, gorda e lustrosa, ficaram empolgadíssimos.

-- Que lindo! É uma espécie de porco?

-- Não, é um roedor, o maior roedor do mundo -- respondi, cheia de orgulho. -- Comum em toda a América do Sul, mas encontrado sobretudo no Brasil, embora os uruguaios o chamem de carpincho e achem que é uma especialidade local.

-- Onde mais podemos vê-lo por aqui? -- perguntou o inglês.

-- Hummm... não sei, talvez no zoológico.

-- Ah, são nativas dessa lagoa?

-- Não, não exatamente.

Era uma longa história, mas uma longa história que adoro contar, ainda que em inglês. De modo que repeti mais uma vez a saga das capivaras da Lagoa, explicando, de quebra, que, a esta altura, as duas eram animais célebres, que não só já haviam saído em jornal, como estrelado um curta-metragem. Pois lá estávamos os três, embevecidos, fotografando e trocando impressões a respeito da nossa popstar quadrúpede, quando apareceu uma americana empurrando um carrinho de bebê. Ela deu um grito de alegria quando viu a capivara.

-- Por favor, será que vocês podem me dizer que bicho é esse?

-- Uma capivara! -- responderam os ingleses em uníssono, felizes com a cultura recém-adquirida. -- É um roedor. O maior roedor do mundo. Comum em toda a América do Sul...

-- Ahá! -- cortou a americana. -- Eu sabia! Vi centenas de capivaras no Pantanal, mas no outro dia, quando encontrei esta aqui pela primeira vez e contei para o meu marido, ele não acreditou. Disse que eu provavelmente estava confundido com outro animal, porque não existem capivaras urbanas.

Ato contínuo, pegou o celular e ligou para o marido descrente -- que, depois dessa, jamais vai duvidar de novo da existência de bichos exóticos em locais inesperados. Sobretudo se, à noite, assistiu ao Jornal Nacional, com algumas das cenas de baleia e arraias mais lindas dos últimos tempos.

A capivara não demonstrava nenhum constrangimento com a nossa presença, e nenhuma pressa de ir embora. Olhava para a gente com o característico olhar altaneiro das capivaras, comia capim e rolava na terra. Depois nos deu as costas, voltou para água e nadou, calma e elegantemente, até o Parque do Cantagalo. Fui seguindo o percurso da margem, e notei que alguns peixes saltaram da água à sua passagem. Eu nunca tinha reparado nisso antes.

O sol ia se pondo quando ela saiu da água novamente. Dessa vez, várias pessoas interromperam a caminhada para observá-la. Algumas, íntimas, conheciam seus hábitos em detalhes. Várias já encontraram também a fêmea, que é maior, mais escura e mora em frente ao Vasco mas, neste momento, existe certa inquietação em relação ao seu paradeiro, já que não é vista há algum tempo. Se alguém tiver notícias ou fotos recentes, por favor avise.

Quanto ao macho, esperou a noite cair para abandonar seu fã-clube. Brincou um pouco com um coco e deu uma corrida num bem-te-vi antes de mergulhar, silenciosamente. Quando os círculos concêntricos reapareceram na superfície da água, logo seguidos pela cabeça engraçada, ele ia longe, na direção dos prédios chiques da pedreira. Nós bípedes sorrimos uns para os outros, nos despedimos e tomamos o rumo de casa em estado de graça, felicíssimos com o encontro inesperado.

* * *


Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, aquele estado elegante, culto e supostamente civilizado, os bichos acabam de ser vítimas de um golpe legislativo particularmente sinistro. Em nome da "liberdade de culto", o deputado Edson Portilho propôs -- e o governador Germano Rigotto aprovou -- uma ligeira alteração do Código Estadual de Proteção aos Animais; de forma que a lei, que antes proibia a crueldade contra os animais, agora permite, explicitamente, que os gaúchos os sacrifiquem à vontade em "cultos e liturgias das religiões de matriz africana".

Taí: numa hora dessas, tudo o que eu queria era um culto ou liturgia, de qualquer matriz, que exigisse o sacrifício ritual de políticos.


(O Globo, Segundo Caderno, 19.8.04)

ONG do bem



ONG do bem

Até o sequestro da Pipoca, eu não prestava atenção na polícia -- ou, se prestava, era para criticar, como faz quase todo mundo. A questão é que, para a minha geração, que passou pela ditadura militar, polícia é uma coisa da qual se quer distância.

Depois da acompanhar o trabalho dos inspetores que descobriram o paradeiro da gatinha, fiquei amiga deles -- e fui, através dessa amizade, descobrindo uma série de policiais excelentes, do melhor nível.

Há uma nova geração aí que, sinceramente, traz algum alento à gente; é uma geração de rapazes e moças idealistas e dedicados que, apesar da suprema humilhação de trabalhar com o atual secretário de segurança, não esmorecem e fazem o melhor que podem.

Descobrir este lado bacana da polícia foi uma grande e grata surpresa. A gente às vezes acha que, aqui no Rio, tudo está perdido; mas, quando eu penso nesta banda boa da polícia, tenho esperanças.

Pois hoje está nascendo uma ONG chamada "Viva a Polícia". Ela está sendo criada para apoiar o policial civil, federal, militar e rodoviário, o bombeiro e o guarda municipal. A idéia básica é defender os seus direitos e os de seus familiares, e resgatar a confiança da população no seu trabalho.

Esta última parte não vai ser fácil. O filme da polícia está muito queimado, e os bons, como acontece, pagam pelos maus.

De qualquer forma, serão criadas comissões para avaliar cada atribuição, defender direitos, cobrar deveres, ministrar cursos, fiscalizar e, muito importante, aparecer na mídia mostrando o outro lado da polícia, aquele que quase nunca aparece já que boa notícia, em geral, não é notícia.

A "Viva a Polícia" também pretende protestar sempre que as "autoridades" disserem coisas como a última pérola do senhor secretário, que declarou ao Dia que "os policiais são esquizofrênicos".

Em suma: taí uma ONG que vai ter muito, mas muito trabalho -- mas que conta, desde já, com o meu maior apoio.

Até porque, sinceramente, estou cheia de ONGs que só sabem defender bandidos.

Copacabana sob as lentes de seus moradores





Andre Decourt convida

Acabo de receber este convite do Andre Decourt, sem favor o maior expert em Rio de Janeiro que conheço. O horário não é lá essas maravilhas, mas a exposição estou certa que é...

Momento Olímpico



Momento Olímpico

Bruno Bozzeto, o sensacional animador italiano, está de volta. O tema, como não podia deixar de ser... bem, confiram!

É muito engraçado.

16.8.04

Capivara!





Capivara!

Hoje à tarde, quando saí para dar uma volta de bicicleta, vi uma sombra se mexendo na água; alguma dúvida de quem era? Quando tirei a máquina da bolsa, a sombra já estava de cabeça de fora...

Passei quase uma hora observando a capivara. Há muito tempo não rolava um encontro desses na minha vida: Cora, capivara e... câmera!!!

Postei algumas fotos aqui, mas tem mais; aos poucos eu subo o resto.

Crescei e Multiply-vos



Crescei e Multiply-vos!


E, quando a gente achava que o Orkut estava vivendo os seus quinze minutos de fama, lá veio o Multiply, correndo por fora, arrebatando corações, mentes e muitas e muitas e muitas horas do povo conectado. A própria colunista que vos tc está se divertindo com o novo brinquedo, e gastando parcela considerável do seu tempo destrinchando as mil e uma utilidades da nova novidade: afinal, o Multiply reúne num mesmo pacote tudo o que um internauta atualizado precisa para ser feliz.

Crie uma conta no Multiply e você será, automaticamente, o orgulhoso proprietário de um blog, um fotolog, uma agenda para manter os compromissos em dia, uma lista de contatos, um livro de receitas, um espaço para desenvolver o seu espírito crítico e resenhar filmes, livros, CDs e o que mais quiser, e last but not least, uma espécie de Mercado Livre particular, um pequeno bazar onde poderá negociar o que quiser, de figurinhas do Homem Aranha a apartamento em Florianópolis (da última vez que chequei, as figurinhas já haviam sido vendidas, o apê ainda não).

O Multiply não é uma cópia ou, sequer, uma evolução do Orkut. É outro conceito de software de comunidades, a meu ver bem melhor, até porque resolve o grande problema (ou o grande vazio?) do Orkut: o do recado. Quando você entra no Orkut, vê quais dos seus amigos andaram por lá, mas não tem idéia do que fizeram ou estão fazendo. As páginas pessoais são estáticas; falta um espaço de expressão individual mais concreto, como, digamos, um blog ou um fotolog.

O Multiply é menos intuitivo, mas muito mais útil. Não é uma ferramenta de encontrar gente tão boa quanto o Orkut, e seu sistema de comunidades (ou grupos de discussão) é mais complexo, mas, por outro lado, ele permite que, ao achar seus amigos, você ache também as fotos e opiniões desses amigos -- e o que mais houver nas suas páginas, de receitas a quinquilharias a preço de ocasião.

Ninguém precisa de convite para entrar no Multiply, que oferece o generoso espaço de um gigabyte para a armazenagem dos tais textos, fotos, receitas, críticas e mensagens, um endereço fácil de achar -- eu, por exemplo, estou em cronai.multiply.com -- e, pelo menos até aqui, uma navegação e um desempenho bem melhores do que os do Orkut, que têm deixado a desejar.

Outra coisa prática oferecida pelo Multiply é a possibilidade de importar as listas de contatos do Orkut e do Friendster, o que significa que ninguém precisa começar tudo de novo ao entrar no sistema. As opiniões dos usuários que tiveram paciência para dar a olhada mais atenta que o Multiply exige para um bom rendimento têm sido praticamente unânimes: está na hora de cometer Orkuticídio...


Um utilíssimo filhote do Informática etc.

Como converter a sua rica coleção de LPs, fitas cassete e MP3 em CDs de alta qualidade? A pergunta, que foi base de uma reportagem aqui no caderninho, acabou rendendo um livro e tanto, obra do nosso André Machado, jornalista de larga experiência na área, e do físico Aroaldo Veneu, um dos pioneiros na técnica de transposição de musicas de mídia analógica para digital e criador do método LPemCD. Como fazer CDs de alta qualidade (Editora Campus/Elsevier, 312 páginas, R$ 45), que acaba de chegar às livrarias, é um guia passo a passo para a confecção de CDs: lá estão todos os macetes que você sempre quis saber mas nunca teve paciência de procurar na internet, explicados de forma clara, simples e bem humorada. De quebra, o livro traz uma versão trial do Nero, um excelente software para criação de CDs.

(O Globo, Info etc., 16.8.2004)

Comunidades fotográficas



Comunidades fotográficas


Quer exibir suas fotos online? Pois nem só de Fotolog vive o mundo. Vejam quantas comunidades fotográficas interessantes existem na rede...

15.8.04

Mais filminhos!



Mais filminhos!

Blog não é só cultura, é também diversão e arte: a sugestão do dia é uma série de filminhos curtos, muito bons, que você pode assistir de graça no conforto do seu próprio micro.

Todos são cria da Fim de Semana Pictures, produtora de brinquedo que o meu orkut-amigo Bruno Pinaud criou para se divertir nas horas vagas.

Um dos super-curtas, Mindinho, já ganhou até menção honrosa em festival; mas acho que o meu favorito é Motoboy. Digo "acho" porque é difícil escolher, são todos muito simpáticos.

Confiram!

14.8.04

Filmete



Filmete

Janjão mandou: bem bonitinho, mas só tem graça para quem fala inglês (e, de preferência, curte Woodie Guthrie).

13.8.04

Promoção legal!



Promoção legal!

A Casa do Azeite Espanhol, que mantém o ótimo site do azeite, está fazendo uma promoção bacaninha: os primeiros 200 internautas que acertarem as dez questões de um quiz sobre as Olimpíadas ganham o livro Molhos com Azeite de Oliva Espanhol, uma coleção de 365 receitas: uma para cada dia do ano.

É só clicar aqui, fazer o cadastro e responder às perguntas, que são facinhas e têm até cola. Eu já garanti o meu exemplar... :-)

Absurdo



Absurdo

Acabo de ler que a delegação de atletas americanos foi vaiada por parte da platéia que assistia à abertura dos jogos olímpicos. Mas o ser humano não falha, mesmo!

Coitados desses rapazes e moças, que como os seus colegas de outros países, estão lá para participar de uma festa pacífica. O que é que eles têm a ver com os desmandos do Bush?!

Confundir povo e governo é dose, sinceramente.

Sexta-feira 13



Sexta-feira 13

A cantora Ivete Sangalo é uma moça supersticiosa. Acha que gatos pretos dão azar. E diz:

-- Se eu ver um gato preto, mando matar.

Eu também sou supersticiosa, mas acho que o que dá azar mesmo é contribuir para a sobrevivência de gente burra, insensível e covarde.

Ir a show de Ivete Sangalo, comprar CD de Ivete Sangalo ou ouvir Ivete Sangalo, por exemplo, são três coisas que dão um azar miserável, daqueles que nem banho de sal grosso limpa.

12.8.04

Emergência felina!




Emergência felina!

Essas duas gatinhas, que estão no no CCZ de Santa Cruz, no Largo do Bodegão, precisam encontrar lares urgentemente. As duas têm cerca de um ano e serão doadas já esterilizadas. Informações com Rosely, no 9962-1526.

Então tá



Então tá

Penas mais brandas para crimes hediondos; penas mais pesadas para pirataria.

* sigh *

Help!





Help!

Pessoal, estou com um problema: uma infiltração no corredor que já foi "consertada" três vezes ao longo dos dois últimos anos. Não tenho mais confiança em nenhum dos bombeiros que "cuidaram" do caso.

Pergunto: alguém aqui do Rio conhece um bombeiro que realmente entenda do assunto?

Fico doente só em pensar em mais um quebra-quebra inútil...

Isso sim, é boa notícia



Isso sim, é boa notícia

Acaba de nascer, mas já está entre os meus sites favoritos: O Eco, feito por uma turma da melhor qualidade -- Marcos Sá Correa, Kiko Nascimento Brito e Sérgio Abranches, entre outros -- que resolveu abrir espaço para o meio-ambiente.

Pela sua própria definição, O Eco "se interessa particularmente pelas pessoas que falem pelos bichos, as plantas e outras criaturas que não tem voz na política e nos meios de comunicação".

Não é tudo o que a gente queria?

Fale com o motorista apenas o essencial





Fale com o motorista apenas o essencial


Mas -- o que não é essencial entre
as quatro portas de um taxi carioca?



Não, apesar daquele dia lindo lá fora, as coisas não estavam indo nada bem. De manhã, a namorada havia telefonado e dito que estava de mudança para Curitiba, transferida pela empresa.

— Profissionalmente é bom para ela, com certeza. Mas como é que eu fico? Tudo bem, não é como se ela estivesse indo para outro país, mas é muito chato. Quando a gente namora, quer a pessoa ali, pertinho.

Concordei com ele. Namorar à distância é um horror. E se ele fosse junto?

— Ah, é muito difícil! Primeiro porque eu adoro o Rio, nasci aqui, cresci aqui, não consigo me imaginar vivendo em outro lugar. Depois porque a gente está namorando há pouco tempo, entende? Se fosse uma relação mais antiga, mais estabilizada... Mas se eu for para Curitiba agora vira casamento. Eu me divorciei há dois anos, não quero casar de novo, passar por tudo de novo, quero dar mais um tempo. O pior é que eu gosto muito dela, muito mesmo. Tenho a sensação de que as coisas poderiam dar certo entre nós dois, mas não assim, no grito... Sinceramente, estou tão angustiado com esta situação que até liguei para a minha terapeuta. Parei com a terapia no ano passado, mas hoje tive que ligar. Não estou sabendo lidar com isso direito, não mesmo... Olha, estou achando este trânsito ruim demais, a senhora não prefere pegar o Santa Bárbara?

Já tive conversas de todos os tipos com motoristas de táxi, mas esta foi a primeira vez que um deles veio discutindo a terapia comigo pelo túnel.

* * *

Andar de táxi no Rio é uma aventura sociológica surpreendente. A crise empurrou para a praça uma quantidade de profissionais liberais que, há poucos anos, estavam empregados em grandes empresas ou tinham seus próprios negócios; não sei se alguém já fez a estatística, mas acho que o Rio deve ser, hoje, uma das cidades com maior percentagem de taxistas com nível superior no mundo. Esses profissionais educados, superqualificados para a atual profissão, estão tirando o lugar daqueles motoristas mal-intencionados que, ainda outro dia, eram o terror dos passageiros. Eles sobrevivem, é claro, mas refugiaram-se nas zonas menos favorecidas, em algumas áreas de risco e, principalmente, no imaginário popular; a verdade é que, em termos de táxi, somos, atualmente, uma das cidades mais civilizadas do planeta. E, certamente, a que tem a melhor relação custo-benefício.

* * *

Assim que começou a guerra do Iraque peguei um (bom) motorista das antigas. Um senhor paraibano, simpático, que mantinha o sotaque nordestino apesar de ter vindo para o Rio há mais de 30 anos, e que me explicou que Saddam Hussein, àquela altura ainda fugitivo, era, mal comparando, uma espécie de Lampião das Arábias.

— Os meus avós eram muito pobres, viviam numa rocinha no sertão — disse ele. — Um dia, Lampião apareceu com uns cabras. A senhora sabe o que é um cabra?

— Sei, é claro.

— Ah, isso é porque a senhora é jornalista. Aqui no Rio, muita gente não sabe, não. Mas então, como eu ia dizendo, Lampião chegou, cumprimentou o pessoal de casa e perguntou se podia almoçar. Meus avós não tinham comida que desse nem para eles, mas quem é que ia dizer a Lampião que não podia almoçar? Assim minha avó matou a última galinha, que guardava pelos ovos, preparou e serviu com farinha. Quando perguntou se estava bom, Lampião disse que sim, que estava muito bom; mas um dos cabras disse que ficaria melhor com sal. Não é que a minha avó, no nervoso da hora, tinha se esquecido de salgar a galinha? Na mesma hora Lampião chamou um menino que estava por lá, mandou na venda buscar um litro de sal e fez o cabra que reclamou comer o litro inteiro, sem água nem nada, para reparar a desfeita. Dizem que ele morreu disso, mas não sei se é verdade, a senhora sabe como é: as pessoas gostam de exagerar nas histórias. O que eu sei é que, até o fim da vida, a minha avó e o meu avô ficaram com o maior respeito por Lampião. Não queriam outra visita daquelas por nada nesse mundo, mas respeitavam demais. Pois, então, acho que é isso que acontece com o Saddam, o povo respeita.

Quando cheguei ao jornal, paguei apenas pela corrida. Injustiça. Com uma conversa daquelas, o motorista tinha todo o direito de cobrar couvert artístico.

* * *

Os jogos ainda nem começaram, mas, sinceramente, não agüento mais ouvir falar em Olimpíada. Nada contra os atletas, é claro, que aqui treinam freqüentemente em condições adversas e lá vão dar o melhor de si; mas tudo contra essa overdose de especiais triviais, flashes sem brilho, ufanismo sem critério. Não há espírito olímpico que sobreviva a massificação tão acachapante e comercialização tão desenfreada; é como se o único objetivo de todo o esforço individual e coletivo fosse apenas vender mais um par de tênis. Argh!

* * *

O Rio de Janeiro é uma cidade tão estranha, mas tão estranha, que a melhor festa que a Zona Sul vê há tempos — o aniversário de 40 anos do Cláudio Gomes — aconteceu no sábado passado... em Niterói! Vai entender.


(O Globo, Segundo Caderno, 12.8.04)

11.8.04

Convite



Convite

Acabo de receber uma pilha de convites para distribuir aos amigos. É que a Comissão Permanente das Mulheres Advogadas, da OAB/RJ, acha que mereço ser homenageada como uma das mulheres cariocas que se destacaram ao longo do ano.

Eu me senti muito honrada com a distinção, é lógico, mas fico sem graça de mandar convites para os amigos; acho que fica parecendo intimação, tipo "Olhe lá, estou sendo homenageada, não me falte!". Por outro lado, não quero ser estraga festa e não avisar a ninguém: afinal, o gesto das advogadas é uma prova de simpatia e de carinho.

Então faço o convite aqui, geral, para todo mundo. Assim fico tranqüila por retribuir a atenção da Comissão, ninguém se sente obrigado a ir e todos ficaremos felizes -- a Comissão, eu, os que forem e os que não forem.

A cerimônia, em honra ao Dia Internacional da Mulher, vai ao ar no próximo dia 26 de agosto, às 17hs, na Av. Marechal Câmara 150, no plenário do quarto andar.

9.8.04

Pequenas felicidades quadrúpedes





Pequenas felicidades quadrúpedes

Minha casa é uma casa temática. Há fotos de gatos em porta retratos, esculturinhas de gatos dos mais variados tamanhos feitas em todos os materiais imagináveis, uma coleção de maneki nekos, gatos diversos pintados em louças, enfeites e no colo de cada uma das matrioskas que eu trouxe de Moscou. Há naturalmente um gato de porcelana, como no tango, e um gato de bronze, placidamente deitado sobre uns livros, para prender a porta. Há também uma prateleira inteira numa das estantes, exclusivamente dedicada a livros sobre gatos. Da última vez que contei, eram mais de cem.

É lógico que não decidi que a minha casa ia ser assim. Todos esses gatos decorativos e imaginários foram se juntando aos poucos ao meu redor, mais ou menos como se juntaram os sete gatos de pelo e osso que hoje me dão o prazer da sua companhia. Muitos chegaram como presentes de Natal ou de aniversário, outros vieram de lembrança na bagagem dos amigos, alguns me conquistaram em viagens ou na lojinha da esquina. Gatos têm disso, mesmo quando não são de verdade.

De todas essas coisas felinas, grandes ou pequenas, poesia ou prosa, a que mais gosto, disparado, é um verso do Neruda:

“Tudo é imundo para o imaculado pé do gato.”

Nesta frase está, para mim, a essência da sua elegância. Nada está, jamais, à altura dos seus pés delicados, das patas que tudo testam antes de pousar, cheias de cuidados – da grama do jardim ao mármore da mesa, do tapete oriental de 600 nós por centímetro quadrado ao capacho da entrada, passando pelo sofá (bege), pelas almofadas (brancas) e, lógico, pela cama recém-arrumada que se dignam a dividir com a gente.

Às vezes, porque nem eles conseguem ser perfeitos, toda esta precisão acaba numa cena cômica. Poucas criaturas têm tanto senso do ridículo quanto os gatos, e é muito engraçado ver como tentam se convencer – e nos convencer – de que nada demais aconteceu. Conviver com eles é uma constante lição de observação e um encanto permanente; é, também, um aprendizado de bem querer, em que o grande segredo é o respeito às diferenças individuais.

Ao contrário do que imaginam as pessoas que não os conhecem, os gatos são extremamente amorosos e dedicados. Apenas não são subservientes -- no que, aliás, estão cobertos de razão. Subserviência não é uma boa base para nenhuma relação.

Adoro a sua companhia, e me sinto honrada por me distinguirem com seu carinho, sua amizade e sua fenomenal intuição: estou convencida de que aqueles bigodes todos são antenas para captar vibrações. Quando percebem que estou triste, juntam-se ao meu redor e fazem o que podem para me alegrar; quando acham que já dei atenção demais ao computador, plantam-se em frente à tela ou dão pequenos puxões na minha roupa, para que eu me lembre de que há coisas mais importantes para se olhar na casa. E há mesmo.

O melhor é que, apesar de lindos (e vaidosos), eles sabem que beleza não é fundamental; fundamental mesmo é delicadeza, essa qualidade tão em falta na vida humana.

(Revista Cláudia, agosto de 2004)

Novo brinquedo



Novo brinquedo

Como seria de se esperar, há uma enorme quantidade de Orkuts genéricos na rede. O mais interessante me parece ser o Multiply, que resolve o que é, a meu ver, um dos problemas básicos do Orkut: o recado.

Quando você entra no Orkut, vê quais amigos entraram por último, mas não tem idéia do que estão fazendo por lá. As páginas pessoais são estáticas, não mudam; falta um espaço individual mais concreto, como, digamos, um blog.

Pois o Multiply reúne algumas das características do Orkut, junta com outras do Blogger e salpica umas pitadas de Fotolog. A partir das páginas pessoais se tem acesso a diários, fotos, críticas (de filmes, livros, restaurantes, o que for) e até receitas. É um conceito bem interessante.

Mal conheço o sistema, mas que ele leva jeito, lá isso leva. Como diz a Cris Carriconde, é mais uma coisa que não vamos ter tempo para fazer...


As ‘fotinhas’ conquistam
novos territórios



As pequenas imagens feitas com telefones celulares, que eu gosto de chamar de “fotinhas” (apesar de saber que o diminutivo de foto é fotinho, como volta e meia me lembram os leitores) começam, finalmente, a ganhar espaços sérios. Na quarta-feira passada, a Reuters divulgou a cena da prisão de um suspeito de terrorismo em Londres, clicada por um vizinho que observava a cena da janela — de telefone em punho. A foto, bastante tratada para redução de pixels, foi publicada por diversos jornais no dia seguinte, entre os quais O GLOBO.

Que eu me lembre, esta foi a primeira vez que uma agência noticiosa divulgou uma foto de celular no que se chama, em jargão, de “hard news”, ou seja, aquela notícia quente, de primeiro caderno — e não em reportagens relativas à tecnologia em si. A televisão, mais complacente com imagens menos-que-perfeitas, já faz uso, há algum tempo, de vídeos captados por celular; na BBC, eles são corriqueiros na cobertura de conflitos ou acidentes em locais remotos. Faz sentido: é sempre melhor ter uma imagem, por fraquinha que seja, do que ter apenas a voz do repórter ao telefone. Afinal, com todos os seus “defeitos”, as imagens do homem pisando na lua pela primeira vez estão entre os ícones visuais de maior impacto do século passado.

Ao mesmo tempo, do lado do mundo que se diverte, a Nokia informa que, no sonarsound São Paulo, versão brasileira do espetacular sònar de Barcelona, haverá uma mostra chamada Life goes mobile, que fará parte da segunda edição do Nokia Trends. Nela os artistas usarão tecnologia móvel como parte das obras. Não só celulares, mas também seus acessórios, como, por exemplo, o Image Frame, uma moldura conectada na qual se visualizam imagens que chegam pela internet. A idéia básica é ampliar as fronteiras de atuação e de aceitação das novas plataformas. O que impede uma imagenzinha de celular de fazer parte de um conjunto artístico, ou de ser, ela própria, devidamente considerada arte? Tudo é questão de costume, de referência e, em última instância, de olhar: tanto o de quem faz, quanto o de quem vê.

* * *

Começa amanhã, em São Paulo, a PhotoImageBrazil (assim, em inglês, tudo junto) 2004, dirigida a lojistas e profissionais de fotografia, mas feita sob medida para fãs de câmeras digitais. Com os principais fabricantes entre os mais de cem expositores, a feira mostra o que vai chegar ao mercado até o fim do ano. Ou seja: é uma oportunidade e tanto para namorar a próxima máquina. Mas lá também, apesar da concorrência das câmeras “de verdade” com cada vez mais features e megapixels, as fotinhas estarão em destaque, no Forum de convergência tecnológica, que acontece no dia 12. De 10 a 12 de agosto, a feira, que se realiza no Centro de Exposições Imigrantes, das 14hs às 21hs, é aberta exclusivamente para profissionais. O público em geral entra, grátis, no dia 13.

* * *

Com um currículo invejável, mas desempregado há dois anos, Harding Leite, expert em telecomunicações, embarcou ontem para a China, depois de oito meses de estudos intensivos de mandarim. Vai passar pelo menos três meses lá, sozinho, tentando a sorte na marra. Está deixando a mulher e os dois filhos aqui, e a sua saga seria semelhante a tantas outras se, antes de ir, ele não tivesse lançado uma sólida âncora online, o website chinadireto.com.br, onde oferece os seus serviços e onde, assim que chegar a Pequim, se poderão acompanhar as suas aventuras. Harding é, mal comparando, uma espécie de Amyr Klink do “espetáculo do crescimento” — que ele, escaldado, prefere procurar onde está, realmente, acontecendo. Boa sorte, viajante!

(O Globo, Info etc., 9.8.04)

7.8.04






E olha só quem estava me esperando hoje à noite, em cima de um carro branco... :-)

Update: Eu me esqueci de dizer, esta é uma foto de celular, tratada no Photoshop.

6.8.04



*sigh*

Ainda estou no jornal. Passei o dia atrapalhada com a porcaria de um pop-up pornô que se instalou na minha máquina e não sai de jeito nenhum. Sou macaca velha nessas coisas e quase nunca abro emails suspeitos, mas neste caí direto; o problema é que o assunto da mensagem era "Gatinhas".

Argh, que ódio!!!!


Gmail

Acabo de ver no Gmail que posso convidar cinco amigos para abrirem contas lá. Alguém quer? O Gmail é o correio eletrônico do Google, que estou usando e achando bom.

Ontem, aliás, estava pensando no meu sistema de email. A questão é que não abro mão da conta na Well, que tenho desde os tempos em que a internet tinha (relativamente) poucos usuários. Naquela época, ter uma conta na Well significava um certo estado de espírito, uma visão do mundo que era tudo o que, digamos, uma conta AOL não era. Hoje a Well é irrelevante e está tecnologicamente defasada, mas tenho carinho por ela.

De lá faço forward pro Pobox -- que me atraiu há coisa de dois anos com um filtro antispam bastante bom. Hoje há filtros melhores (entre eles o do Gmail), mas como pago o serviço por ano e ainda tenho uns meses sobrando, vou deixando como está.

Do Pobox, enfim, faço forward para o Gmail e para o ISM, meu provedor favorito. O ISM tem um sistema de webmail bom, mas o do Gmail é melhor. Assim, lá do jornal, vejo a minha correspondência pessoal pelo Gmail; já em casa, baixo tudo do ISM para o Eudora, e pronto.

Afinal, para que fazer de forma simples o que pode ser tão complicado?


Enquanto isso, no Centro...

Ontem tive que ir ao Forum e parei para comer uma empadinha no Avenida Central. Uma menina pequena, de uns cinco, seis anos, abordou uma moça que fazia um lanche ao meu lado. A moça ofereceu uma empadinha, a menina não quis; só queria vender mariolas.

-- Onde está a sua mãe? -- perguntou a moça.

-- Ali -- respondeu a menina, sem apontar para direção alguma.

A moça tentou descobrir, em vão, onde, exatamente, era "ali"; depois perguntou por que a menina estava vendendo, em vez da mãe. A menina disse que a mãe não podia andar. Por que? Porque tinha quebrado a perna. A moça insistiu. Como foi que quebrou? Quando? Estava engessada? A menina respondia com monossílabos ininteligíveis e insistia, por sua vez, para que a moça comprasse as mariolas.

Depois de vários minutos de interrogatório seguro mas sensível, a moça concordou em comprar -- desde que fosse da mão da mãe. Onde estava a mãe? A menina recusou-se mais uma vez a mostrar a mãe e foi embora, oferecer a mercadoria a fregueses menos atentos.

Cumprimentei a moça e perguntei se ela era professora ou trabalhava com crianças de rua.

-- Que nada, -- disse ela. -- Sou apenas uma mãe revoltada.



=^..^=

Felizmente a Família Gato não acompanha o blog, ou teríamos cenas de ciúmes terríveis com o Caso Pipoca!

Aliás, é curioso como eles "conhecem" a Pipoca (que nunca viram). Quando chegamos em casa depois de brincar com ela, mal cheiram as nossas mãos; ao passo que, se tivermos feito carinho em algum outro bicho, ficam horas tentando decifrar com quem foi que os traímos.

A mesma coisa acontece com a Pipoca. Ela aceita a Família Gato, mas fica extremamente bolada com cheiros de bichos desconhecidos.

Por falar em Pipoca: ela ainda está meio desconfiada da humanidade, e mal sai de perto do prédio (para sossego geral de todos). A ponta do rabo, mordida por algum bicho na casa dos sequestradores, está quase sarada.

Ainda assim, acho que, no momento, o único problema grave da vidinha dela é a coleira, que continua estranhando...

5.8.04



Orkut... rápido?! SIM!!!

Incrível, fantástico, extraordinário: o Orkut pode ficar rápido! Basta mudar o nome do país, de Brasil para qualquer outro. Escolhi Saint Vincent and the Grenadines, e voilá: estou conseguindo navegar, não digo à velocidade da luz, mas bem rapidinho...

Agradeço a dica ao Alexandre Carvalho, que por sua vez a recebeu do Centro Acadêmico da Engenharia da computação da Universidade Estadual de Campinas.



Pelo direito de ir e vir e, sobretudo,
pelo direito de parar no meio


A foto, que saiu aqui mesmo no GLOBO, pouco antes das minhas férias, mostrava o banco de uma praça no Leblon. Ou, melhor dizendo, restos do que, um dia, foi um banco: uma estrutura de ferro vazia, da qual haviam sido arrancadas todas as ripas de madeira. Não liguei muito na hora mas, com o tempo, a imagem foi me incomodando cada vez mais — nem tanto pelo vandalismo retratado, que poderia acontecer em qualquer lugar, quanto pela inutilidade do banco, mesmo quando inteirinho e perfeito. E, nem preciso dizer, pelas melancólicas implicações de tal inutilidade.

Afinal, de que adianta um banco de praça se ninguém tem mais paz para sentar-se nele? Quem vai ser louco de ler jornal, namorar, conversar com amigo ou simplesmente dar um tempo para pensar na vida, num banco de praça, numa cidade desgovernada como a nossa? De que adianta um banco puramente ornamental, como são, em princípio, todos os bancos de praça do Rio de Janeiro? O selvagem que arrancou as ripas do banco da foto estava, ainda que involuntariamente, prestando um serviço de utilidade pública: vai que um turista desavisado acreditasse que ele estava lá para ser usado...

* * *

O pior é que a imagem do banco inutilizado continuou me assombrando ao longo das férias. Onde quer que houvesse uma praça e um banco — ou seja, por toda parte — eu me lembrava, com um aperto no coração, do nosso banco desmantelado. Em Riccione, onde as famílias alemãs em férias saíam para aproveitar a brisa do fim da tarde; em Veneza, onde as mães conversavam sossegadas enquanto as crianças corriam soltas por todos os lados; em Barcelona, onde há tantos casais apaixonados quanto turistas exaustos; enfim, em todos esses lugares, o malfadado banco me voltava à mente, e eu sentia uma tristeza enorme pela minha cidade, mais bonita do que qualquer outra cidade, mas onde ninguém passeia mais, ninguém mais joga conversa fora na rua ou namora na praça, sem ter a sensação (muito correta) de estar correndo um grave risco de vida.

Converso com amigos que também viajaram recentemente e descubro que o sentimento (ressentimento?) é geral. Antigamente voltávamos da Europa falando de exposições, concertos, modas. Houve até uma época, não muito remota, em que falávamos das compras, imaginem. Parece incrível, mas sou testemunha: nós, brasileiros, privilegiados ma non troppo, conseguíamos viajar e, ao mesmo tempo, fazer compras. Em moeda forte!

Mas isso é outra história. Hoje, exceção feita a correspondentes de guerra, nossas impressões de viagem são singelas e semelhantes. A globalização e a internet acabaram com o impacto das novas novidades; o que nos atrai, o que mais nos chama a atenção é, justamente, o que antes tínhamos em comum com os lugares que visitamos. Assim, não nos cansamos de comentar que coisa extraordinária é andar pela rua com tranqüilidade, que maravilha é passear olhando vitrines, que delícia indescritível é sentar num banco de praça — qualquer praça — e se deixar ficar, vendo o movimento. Que perfeição é a praça!

Famílias inteiras aparecem ao entardecer, para uma caminhada antes do jantar; amigos jogam xadrez; vizinhos chegam do trabalho e fazem uma social antes de subir para casa. Crianças brincam à vontade, cachorros trazem seus donos para a rua e, aqui e acolá, um gato confere o seu território. Não se ouvem tiros, não há assaltos, a polícia não anda com fuzis e metralhadoras à vista. Ninguém cai morto só assim, de bala perdida ou pura maldade.

Passei um bom tempo das minhas férias curtindo as praças de Veneza e Barcelona, encantada de ver esta coisa aparentemente natural: o cidadão em pleno usufruto da sua cidade. Não precisaria ter ido tão longe para isso. Montevidéu, logo ali na esquina, está cheia de praças, que os uruguaios usam contentes, de cuia e bomba na mão; em Buenos Aires, apesar de todas as crises, os portenhos continuam aproveitando os seus lindos espaços públicos. Eles podem até ter perdido para a gente no futebol, mas ganham, de goleada, em qualidade de vida — mesmo quando não têm um peso no bolso. Entre outras coisas, eles têm a grande vantagem de ter um governo que ama a sua cidade.

* * *

Não sei quando perdemos o Rio. Não sei quando deixamos de combinar encontros uns com os outros na pracinha, quando deixamos de parar na esquina para uma conversa sossegada, quando confinamos as crianças aos shoppings e aos playgrounds — duas áreas tão distantes da nossa alma latina que, até hoje, continuam com nome em inglês. Não sei quando a cidade deixou de ser a extensão das nossas casas para se tornar esta terra de ninguém, em que vivemos cada vez mais assustados e cada vez menos.

Toda a demagogia do casal que aí está será inútil enquanto não reconquistarmos o Rio, o nosso direito de ir e vir e, sobretudo, o nosso direito de parar no meio, entre o ir e o vir -- para poder ver, com calma, como a cidade continua maravilhosa.

(O Globo, Segundo Caderno, 5.8.04 -- No jornal, o título desta crônica foi Memórias de viagem e de um banco quebrado)

Este é o post número 3.000 do internETC.


Cadê os meus amigos?!

Algo estranho está acontecendo no Orkut: os meus amigos sumiram todos...

4.8.04




=^..^=

Boa notícia: Pipoca (que agora usa uma coleirinha vermelha) voltou, finalmente, a falar comigo! Quando saí de manhã para dar uma volta de bicicleta, com todo o tempo do mundo, ainda me ignorava solenemente; mas à tarde, quando saí atrasadíssima para o jornal, me olhou das pedrinhas onde tanto gosta de ficar e miou alto, exigindo atenção.

Foi a primeira vez que me dirigiu a palavra desde que voltou para casa. Fiquei tão feliz que, atrasada ou não, fui lá conversar um pouquinho. Ela fez o número completo: se esfregou na minha perna, virou de barriga pra cima, arranhou o tapete... uma coisa linda de ver!

De manhã, por acaso, fiz umas fotos dela, meio escondida debaixo das plantas. Estavamos nisso, olhando uma para a outra, quando, de repente, ela ficou em posição de alerta e zás!, correu pra cima de um passarinho que eu nem tinha visto.

Felizmente está fora de forma, e o passarinho escapou. Pipoca ficou muito sem graça, despistou, mordiscou a grama e foi rolar na terra do jardim, como se jamais tivesse tido outra intenção...


Chamem o Maluf!

Mandar dólar para fora do Brasil, como sabe quem acompanha o noticiário, é o que há de mais fácil. Sobretudo quando é muito dólar. Mas receber os suados caraminguás dos anunciozinhos do Google virou um pesadelo para vários webmasters brasileiros: a Receita Federal resolveu reter os envelopes do Fedex, exigindo "explicações".

Estão nessa situação ridícula o Alma Carioca, o Ueba e a Macmania, entre sei lá quantos outros.

Merecem.

Quem manda tentar ganhar a vida honestamente?!












"O foco é um conceito pequeno-burguês"

Henri Cartier-Bresson, 22.8.1908-2.8.2004

E, claro:





3.8.04





É o bicho!

O filhote de tigre, hoje com dois meses, foi adotado por esta simpática cadelinha. Não tenho a menor idéia do que a tigresinha estava fazendo em Villeneuve-d'Asq, na França, mas gostei do nome que lhe deram: Cora... :-)

Quem descobriu esta notícia (da AFP) foi o Ricky Goodwin. Valeu, querido!

2.8.04





Aliiiiiiiiicia!!!

Hoje a ruivinha da família completa um ano!

No ano passado ficamos todos na torcida, aqui em casa, para que ela nascesse no dia do meu aniversário; mas a Alicia é ainda mais descansada que a avó, e só chegou para a festa dois dias depois... :-)

Parabéns, bonitinha!

E parabéns, Paulinho e Kelyndra: vocês são os meus heróis.


A vida depois da morte

Está na moda dizer que o Orkut é uma bobagem, um repositório de vaidades em que o que conta é ter muitos amigos e muitas estrelinhas, mas onde pouca ou nenhuma interação emotiva acontece entre as pessoas; que o Orkut seria apenas um desfilar de egos, uma geladeira de almas, que só se encontram, de verdade, nas mesas de botequim.

Pois a página Orkut do Fernando Villela, o Fervil, transformado em triste estatística na semana passada, ao ser morto durante uma tentativa de assalto, mostra o oposto disso — e dá o que pensar.

Por ter tido uma intensa vida online, Fervil deixou de presente para sua família e para seus amigos um espaço de encontro e de desabafo, um ponto para onde podemos conduzir a dor e perceber que nossa perplexidade é compartilhada. Deixou também muito material de reflexão para aqueles que, como ele, não se cansam de estudar, curtir e admirar a internet e a conectividade.

No Orkut e, em menor escala, no blog do Fervil, amigos, conhecidos e até desconhecidos, solidários na revolta, estão extravasando sentimentos que, no mundo “real”, apenas encontrariam eco nos breves instantes de uma missa ou, digamos, numa eventual passeata contra a falta de segurança no Rio; mas essas situações exigem uma presença física que a distância nem sempre permite. Eis que entra em cena a internet, desempenhando a função fundamental de reunir e amparar pessoas que compartilham a mesma tristeza e a mesma indignação.

Sei, por experiência própria, como é importante ter com quem dividir as perdas. Quando Paulo Francis morreu, eu estava longe do Brasil, longe de telefones viáveis e cercada por estrangeiros que não tinham a menor idéia de quem ele era. Gentis, eles tentaram me consolar da morte do amigo — mas a verdade é que só se encontra conforto entre quem divide a mesma dor. A angústia solitária que senti naqueles dias é, até hoje, uma das piores lembranças da minha vida.

* * *

Muita gente se esquece que, na internet, há gente em todas as pontas. A superfície da tela é fria, mas os sentimentos que nela se manifestam nem sempre o são. Na página Orkut do Fervil, amigos de todos os cantos têm expressado sentimentos semelhantes. Nos rastros da passagem dos que lá estiveram antes encontram a prova de que não estão sozinhos, e que outras pessoas espalhadas pela web entendem perfeitamente como se sentem. Isso faz bem.

Além dos que se manifestam, tenho certeza de que há muitos mais que apenas lêem o que os outros escrevem e que permanecem “calados”; como estou certa de que voltam repetidamente ao blog em que o último post foi escrito poucas horas antes da morte do Fervil apenas para estar lá, para ter mais um pequeno contato com o amigo desaparecido e com a sua lembrança.

* * *

“Nunca experimentei antes a sensação de entrar no blogue de alguém que acabou de morrer”, observou o jornalista Cesar Valente na área de comentários do meu blog, sob um link que leva ao blog do Fervil . “É como entrar no quarto ou na casa de alguém recentemente falecido: as coisas estão ali, do jeito que foram deixadas. E no caso do Fervil (a quem não conhecia), o post sobre os planos de mergulhar, explorar novos mundos, organizar as prioridades, dá uma triste medida da nossa precária existência.”

A sensação que o Cesar descreve é mesmo estranha mas, naturalmente, será cada vez mais comum com o passar do tempo. Alguns blogs órfãos de seus criadores continuam vivos, atualizados por amigos ou familiares como memória e lembrança; outros permanecem congelados no ciberespaço, lembrando, ainda assim, que por ali passou uma vez uma pessoa, com seus sonhos, seus ideais e suas bobagens triviais de pessoa.

No Orkut, a experiência comunitária dilui o estranhamento e aumenta a sensação do encontro. Nos recados do Fervil há até comunicados sobre as missas e chamadas para a comunidade orkutiana “Fervil Vive”.

“Não conheci Fervil, mas estava conversando com um amigo no msn na hora que ele recebeu o telefonema com a notícia”, escreveu Luciana. “Na hora foi um choque, mas pior foi chegar aqui e ver a quantidade de amigos que ele tem. A quantidade de gente que está sofrendo desde que soube o que aconteceu. Para mim, esse caso foi indignação, revolta. Para os amigos e familiares, que o amam, é dor, muita dor. Não podemos deixar que isso seja mais um número nas estatísticas de violência! O que podemos fazer? Não sei. No momento, só podemos desabafar, e é isso que estou fazendo.”



(O Globo, Info etc., 2.8.04)


Nossos comerciais

A renda dos anunciozinhos do Google, que parecia tão promissora assim que instalei o sistema, é bem desanimadora, e anda em queda livre desde abril, quando foi àqueles espetaculares U$ 120,40. Em maio o blog faturou U$ 22,48, em junho U$ 10,50 e agora, em julho, U$ 9,19.