28.2.05







Update fotográfico: Bia, Laura e Mami no não-aniversário, no Sítio.

Parabéns, Mami!

Hoje Mamãe faz quase-aniversário: ela é de 29 de fevereiro. Pois aí do alto desta torre de observação, que fica acima das árvores da floresta, mentalizei um desejo para todas as felicidades que ela merece: Mamãe é o máximo!

Muitos beijos, Mami.

Já terminei de fazer as malas e estou a caminho... :-)


Fotos

Arrumei a ordem das fotos, e consegui fazer um show de slides com algumas fotos do Canal; também há um showzinho do casal apaixonado.

Romance panamenho



Sexo selvagem!!!

Taí, vocês não podem se queixar: agora, neste blog, há mesmo de tudo!

É só clicar AQUI para ver um lindo casal panamenho no auge da paixão...

27.2.05



Duas ou três coisas que já sei daqui

Sexta à noite, a Samsung encerrou o encontro em grande estilo, nas ruínas da antiga Ciudad de Panamá: um cenário dramático e muito bonito, com uma temperatura perfeita para o (delicioso) jantar ao ar livre, lua cheia no céu, música, boa comida e bebida a rodo.

Pontualidade e método podem não ser o forte dos panamenhos, mas festa é com eles mesmos. O resultado foi uma das noites mais legais que já vivi em encontros desse tipo. Só para dar uma idéia: a certa altura, um dos coreanos se animou, subiu no palco e cantou La Bamba. E arrasou!!!

Meus colegas jornalistas foram embora sábado de manhã, bem tristes, e eu fui à luta.

A essa altura já li dois ou três pequenos guias de viagem. A escolha de coisas a se fazer no Panamá é impressionante: o país é uma surpresa das mais agradáveis.

Imaginem:

  • 80 quilômetros separam o Atlântico do Pacífico. Pode-se nadar um mar de manhã e mergulhar no outro à tarde;

  • Há o Canal -- que eu, pelo menos, poderia ficar admirando dias a fio sem me aborrecer;

  • Há um trem que se pode pegar pela manhã para passar o dia em Colón, na outra ponta do Canal, no Atlântico. Este trem acompanha o Canal, e é lindo;

  • Colón, dizem, é um charme. Uma cidade portuária que já viu melhores dias, com hotéis majestosos ao lado de pensões de quinta, bares suspeitos, intenso movimento de cargueiros, a segunda maior Zona Franca do mundo, guardas corruptos, contrabandistas... em suma, um sonho! Nós já vimos este filme e lemos este livro muitas e muitas vezes;

  • Estamos, não se esqueçam, num país caribenho. Isso significa águas quentes e cristalinas, corais, áreas de mergulho fenomenais, praias de todos os tipos e tamanhos;

  • Aqui fica uma das florestas tropicais mais bem cuidadas do mundo. O Canal depende da chuva para funcionar e, enquanto a floresta existir, existirão chuvas. Há incontáveis opções de passeios ecológicos;

  • Há ilhas belíssimas a uma ou duas horas de barco;

  • A Cidade do Panamá, em si mesma, é tudo de bom. Além das ruínas, distração para uma tarde ou manhã, há o Casco Viejo. Explico umas e outro: em fevereiro de 1619, Henry Morgan, um dos corsários da Rainha Elizabeth, atacou e saqueou a cidade. O que ele não destruiu, os habitantes incendiaram, para não entregar mole o outro ao bandido.

    Não adiantou nada, já que ele voltou carregado de riquezas; os poucos que escaparam acharam mais prudente reconstruir num ponto mais protegido, o hoje chamado Casco Viejo. Lá cresceu a cidade colonial, que é o que se pode imaginar de bonito, com árvores antigas e construções lindíssimas.

    A área está hoje meio abandonada. Digo "meio" literalmente: parte está caindo aos pedaços, como Havana ou o Pelourinho antes da reforma, e a outra, já restaurada, mostra como o conjunto vai ficar daqui a alguns anos.

    Não sei se por causa dos franceses e depois dos americanos que vieram fazer o Canal, o Casco Viejo me lembra demais New Orleans. É outro lugar onde eu poderia passar dias e dias batendo perna e explorando ruas, casas, praças, cantinhos;

  • Há também o lado novo da cidade, onde brotam edifícos como cogumelos em dia de chuva. Tudo lavagem de dinheiro, porque não há atividade econômica que justifique tantas construções -- há 20% de desempregados numa população de três milhões -- e a quantidade de edifícios e casas vazios é enorme, mas o fato é que há um lado moderno e dinâmico que se mostra nos shoppings, nos barzinhos -- a vida noturna é animadíssima -- e nos cassinos.

    O clima é muito agradável, e a comida nem se fala. Como o país ainda é relativamente inexplorado do ponto de vista turístico, hotéis e restaurantes não são caros, ainda que tudo seja pago em dólar. A moeda local, o Balboa, é um dinheiro-fantasma: existe apenas em moedinhas, e olhe lá. Não há cédulas. Assim, embora em todos os locais os preços estejam em Balboas, o que se usa mesmo são as verdinhas.

    Go figure.

    Os panamenhos são umas simpatias. São descansados, gentis e festeiros, e todos, mas todos que encontrei, mostram-se genuinamente empenhados em passar uma boa imagem da cidade e do país.

    Ajuda muito ser do Brasil, campeão de popularidade das Américas, mas a verdade é que o povo, coitado, tem perfeita noção do estrago que faz a corrupção generalizada na idéia que a gente tem do Panamá, e tenta, à sua maneira, compensar com pequenos gestos e cortesias. Nas lojas os comerciantes nos instruem a respeito das corridas de táxi, nos táxis os motoristas alertam para os custos dos restaurantes, nos restaurantes os garçons comentam os preços das lojas.

    Por exemplo, a corrida do hotel ao shopping deu U$ 1,25 e dei U$ 2 ao motorista; na lojinha onde comprei o gato de palha, a dona me perguntou o hotel em que estava hospedada e recomendou:

    -- Não dê mais de um dólar ao taxista!

    Ficou indignada quando soube que dei 75 centavos de gorjeta para um cara que teve a ousadia de cobrar 25 centavos a mais.

    Enquanto isso, há dois anos a politicalha local construiu um viaduto por sabe-se lá quantos milhões de dólares superfaturados, que ameaça cair e está interditado, atrapalhando o tráfego.

    Isso numa terra onde, ainda no início do século passado, foi executada uma das maiores obras de engenharia de todos os tempos, e onde existe uma ponte -- a das Américas -- que é de tirar o chapéu.

    O Panamá, digo.

    Que, por sinal, vem do Equador.

    Mas isso já são outros quinhentos.

    Depois eu conto da Zona do Canal, da Garça Ladra e da minha aventura de logo mais: optei por ir à floresta, claro, onde um teleférico carrega a gente por cima das copas das árvores.

    Bom domingo, galera!








  • Compras!

    O Panamá tem um artesanato rico, variado e original. A gente quer comprar tudo, porque tudo é muito bonito!

    As peças mais típicas chamam-se "molas", e são esses bordados recortados de várias cores, como o porquinho que comprei. São feitas por índios Kuna e, considerando-se a quantidade de trabalho, custam bem barato.

    Há molas de todos os feitios e tamanhos, de painéis gigantescos para parede, como se fossem tapeçarias (a mais de mil dólares), a recortes miudinhos (por cinco, como numa das fotos do Flickr); elas enfeitam bolsas, vestidos, camisetas.

    A arte é considerada Patrimônio Cultural pela Unesco, e há protestos no país porque alguns vizinhos andam copiando a técnica e vendendo como se sua fôra.

    Portanto, fica o alerta: molas legítimas, só as panamenhas. Não aceitem imitações!

    O gatinho, que achei a coisa mais esquisita e simpática, é de um tipo de trançado de palha tão denso que fica rígido e pode adquirir diferentes formas. Existem pratos, jarras e máscaras feitos assim; o meu gato é, imaginem, uma bolsa!

    Lá em casa, porém, vai virar decoração.

    Finalmente, os sapinhos. Estes pertencem a uma das artes que mais me fascinou, o entalhe em tagua. A tagua é uma semente branca, dura, conhecida como "marfim vegetal"; parecem umas castanhas do pará grandes, mais ou menos como um ovo.

    As peças têm, em geral, o tamanho dos netsukes japoneses. Representam quase sempre bichos: cobras, lagartos, tartarugas, onças, insetos. O preço varia, é claro, conforme a sofisticação da esculturinha.

    Há algumas tão inacreditavelmente entalhadas e pintadas, tão originais em concepção e execução, que chegam a custar U$ 300.

    Os preços dos meus tesouros estão nas fotos: é só ver com o mouse.

    Não fiz excelentes compras?!

    26.2.05



    Ah, sim:

    Antes eu tinha dito meio de farra, e dois ou três de vocês manifestaram interesse; agora é oficial.

    Eu só precisava ver se (e como) me adaptava à Panasonic.

    Estou vendendo a Kodak DX6490 por R$ 1.200,00. A câmera está excelente, só não digo novinha porque, como todo mundo aqui sabe, ela já trabalhou um bocado.

    Dou um cartão de 128Mb junto.

    Emails para cronai@well.com.

    Em tempo: estou aproveitando a banda larga para subir o backup das fotos para o Fotki. Nesse bolo há de tudo, nada está organizado ou editado, e a previsão do software é de seis horas de upload (são quase 160 fotos). Além do material do Canal e dos ônibus, há umas fotinhas do evento e das ruínas à noite.

    Mas repito: está uma bagunça que só, sem trato nenhum na maioria das fotos...

    A windy day at the Canal...







    Povo, tem umas fotinhas do Canal no Flickr! Estão desarrumadas, mais tarde arrumo tudo, mas agora vou ao Casco Viejo, parte antiga da ciudad.

    Beijos, queridos!

    Bom fim-de-semana para todos!

    PS: O cabelo não ficou bom mesmo não, mas também não chega a tanto... rs

    O negócio é: como venta neste Canal!!!

    25.2.05



    A man, a plan, a canal: Panama

    Gente, eu fui ao Canal!!!

    É simplesmente sensacional, uma obra de tal engenho que a gente fica besta ali parada, olhando, pensando como pode uma pessoa imaginar um sistema tão bem bolado e, sobretudo, meter os peitos na empreitada monumental -- ainda mais àquela altura (princípios do Século XIX).

    Parte do grupo foi naqueles ônibus birutas que existem aqui, outra parte em confortáveis ônibus de turismo, com ar refrigerado e todos os confortos.

    Adivinhem em qual parte eu estava... :-)

    Agora tou voando, tenho 15 minutos para tomar banho, me vestir e estar lá embaixo: vamos jantar na parte velha da cidade.

    Até mais!


    Ah, sim...

    Consegui ficar até segunda!

    Apareceu um lugarzinho solitário no vôo -- era tudo o que eu precisava, e lá vou eu. Isto é, cá fico eu.

    Não faria o menor sentido voltar... amanhã!!! E a agenda de hoje está novamente caregadíssima.

    Então, fica assim: hoje à tarde dou outra fugida com os amigos, provavelmente para ver o Canal. Amanhã a Samsung oferece um tour pela cidade, que nós brasileiros perderíamos, já que o avião para SP sai às 11h15; mas pelo menos esta brasileira vai aproveitar a oportunidade.

    À tarde, dependendo do tempo, vou passear na praia ou bater perna pela cidade.

    E, no domingo, estou pensando em fazer um passeio de dia inteiro a uma reserva florestal, que fica meio longe da Cidade do Panamá.

    Enfim: algo assim.

    Enquanto isso, fiquei com saudades de "I love Paris", que baixei e agora ouço com Ella Fitzgerald (peguei outras gravações também, mas a Ella, a meu ver, é imbatível).

    I love Paris.

    Muito.

    Curioso isso, né: como a gente fala em viagem quando está viajando! Mais ou menos como quando, almoçando ou jantando com amigos, comendo do bom e do melhor, a gente fica relembrando outros banquetes.

    Adoro essa minha vida... :-)))

    On a cab to Armador




    Um táxi para Armador

    Deu-se então que, a uma certa altura, Cora, Catia e Júlio, três denodados jornalistas brasileiros, resolveram partir para a aventura: eis que tinham três horas inteiras totalmente livres antes do jantar!

    A foto foi feita a caminho de Armador, aquela marina que aparece numa das fotos aéreas; reparem que estradinha maneira foi construída no mar até lá!

    Passamos o tempo tomando cerveja (eles) e comendo sorvete (eu), conversando e vendo a cidade mudando de cor ao pôr-do-sol, lá longe.

    O tempo está perfeito, tão bom que a gripe desistiu de mim.

    (Ainda assim, Lucas e Suely, continuo tomando o xarope: vocês são umas gracinhas, a patrulha mais carinhosa e do bem dos sete mares... :-))

    Continuo sem ter visto muita coisa, além desta pequena fuga -- mas estou apaixonada pelos ônibus panamenhos, que são uma viagem. Das antigas, no sentido alternativo de "trip": confiram!

    Tem umas poucas fotinhas no Flickr.

    Amanhã espero ter mais coisas para contar.

    Hoje o dia foi de trabalho, mas bem legal, porque o pessoal da Samsung nos mostrou umas câmeras de video/foto digitais lindinhas, home theaters do barulho e uma televisão de plasma de 80" que é um sonho.

    Detalhe engraçado: ganhamos uma camisa e uma pólo Samsung para usar, se quiséssemos. Acho que, como eu, todo mundo achou super prática a idéia, de modo que parecíamos um bando de colegiais uniformizados, ou convidados de um camarote discreto.

    O que, pensando bem, nem está tão longe da realidade...

    24.2.05



    Shrek

    Já não se fazem contos
    de fadas como antigamente


    Passei os últimos dias de molho, com a Mãe de Todas as Gripes. Foram longos dias espichada na rede, sem ânimo para ler, fotografar, brincar com os gatos ou o computador; no máximo conseguia folhear revistas para ver as figurinhas, e olhe lá. De umas tantas páginas me sorriram o Príncipe Charles e sua Camila, por outras tantas passaram Ronaldinho e a Cicarelli, batidos, como se tentassem driblar o mico monumental em que se transformou a festa cafona do seu não-casamento.

    Apesar da gripe, sorri de volta para Charles e Camila. Honestamente? Acho bonita essa história, e fico feliz por eles. Não tenho a obsessão dos ingleses pela família real, ça va sans dire , mas acho aquilo lá muito divertido, uma espécie de ?Big Brother? permanente, com a vantagem de que a gente só ouve falar neles uma vez por mês, se tanto, e mesmo assim fica conhecendo todos os personagens.

    Não chego a perder o sono por isso, mas volta e meia me pego com pena deste pobre Charles, nascido e criado para ser rei, e que, até agora, passado mais de meio século, ainda não foi nada, nada, nada, nem fez outra coisa na vida a não ser esperar, esperar, esperar...

    A senhora sua mãe, sabemos todos, vai muito bem, obrigada -- e, ao que consta, não demonstra qualquer vontade de abdicar e passar a bola adiante.

    Sim, é lógico que o príncipe tem uma vida de luxo e conforto que nenhum de nós sequer sonha; sim, é claro que coitado mesmo é quem nasce nos grotões da miséria mais negra, destinado a morrer sem qualquer luz ou possibilidade; sim, é óbvio que há problemas muito mais sérios e reais (sem duplo sentido!) ali na esquina; mas, ainda assim, não consigo deixar de ter dó deste pobre privilegiado que, em uma ou duas horas, sem mexer um só dedinho, ganha o que eu levo o ano inteiro para ganhar; que nunca precisou se aborrecer com a infiltração permanente no corredor nem comunicar à Telemar que um telefone inoperante precisa de conserto.

    Minha impressão é que, no fundo, tudo o que ele queria é que o deixassem em paz com seus cavalos, criticando a arquitetura contemporânea e conversando com as plantas. Em vez disso, teve que se curvar às conveniências da corte, abrir mão da namorada de juventude e casar com uma garota histérica e bulímica, que adorava vida social e era a queridinha das massas.

    No entanto, basta olhar para ele e para Camila para ver -- sem maldade, please ! -- que foram feitos um para o outro.

    Não sei se Diana casou sem saber do papel de Camila na vida de Charles. Acho quase impossível, porque num mundinho daquele tamanho, mesmo sem contar com os holofotes da mídia, todos sabem de tudo. Também acho muito difícil acreditar que, por mais jovem que fosse, ela tivesse se casado sem saber no que estava se metendo. Naquela época, mais do que hoje, um casamento real ainda estava mais para assunto de segurança nacional do que para desenho da Disney.

    Suponho que o que a tenha deixado tão infeliz tenha sido a total impossibilidade de conquistar o marido, algo muito frustrante para qualquer pessoa um pouquinho mais romântica, mas certamente intolerável para uma mulher estonteante e carismática, que tinha o mundo inteiro a seus pés.

    A tragédia de Diana já foi exaustivamente discutida por todos; mas sempre achei muito mais interessante, do ponto de vista dramático, a infelicidade do príncipe, obrigado a conviver com aquela criatura celestial que lhe dava nos nervos.

    * * *

    Em tempo: alguém duvida que, se Camila fosse uma beldade, este casamento já não teria acontecido há anos, na mais santa paz?

    * * *

    Já Ronaldinho -- que, ao contrário do príncipe Charles, vive, de fato, uma vida de rei -- pagou caro por brincar de casamento no Castelo de Caras. O jogador modesto e simpático, de quem todo mundo gostava, revelou um lado novo-rico tão cheio de detalhes antipáticos -- a começar pela noiva -- que chega a ser difícil imaginar maior gol contra. Sobretudo quando se pensa que, enquanto a Cicarelli armava o barraco milionário, o outro Ronaldinho reunia um time de craques para ajudar as vítimas da tsunami.

    Anda muito mal assessorado, o rapaz. É perfeitamente compreensível que não quisesse um batalhão de jornalistas na festa, mas, se não tivesse proibido os convidados de levar câmeras e celulares, a essa altura estaríamos todos comentando os detalhes da decoração, o vestido da noiva e aquela p**** de lustre que ameaçava cair o tempo todo, em vez de nos concentrarmos nos 15 minutos de fama da linda penetra.

    Nessa história patética, cheia de personagens e atitudes ridículas, o Mico Preto ficou com os patrocinadores da Cicarelli, que foram dormir com a princesa e acordaram com a bruxa.

    (O Globo, Segundo Caderno, 24.2.2005)

    Flying to Panama






    ¿Hola, que tal?

    Olá, pessoas!

    Cheguei sã e salva hoje à tarde à Ciudad de Panama -- que, por enquanto, só entrevi de janelas, primeiro a do avião, depois a do ônibus.

    Do que vi, gostei.

    Imensa revoada de pássaros na saída do aeroporto; uma coisa meio caribenha, meio nordestina: nas cores, no clima, no jeito legal das pessoas. O espanhol que eles falam, porém, é incompreensível. Mais difícil mesmo só o nosso portunhol para eles. Não entendem nem quando a gente diz ¿Hola, que tal?

    O hotel é bom, mas muito frio e impessoal. Um daqueles mega-complexos feitos para abrigar exatamente o que está acontecendo aqui, uma convenção com centenas de pessoas: a Samsung trouxe 400 revendedores, analistas de mercado e jornalistas, de todos os cantos das Américas e Caribe.

    O mix é sensacional. Já encontrei gente de Caracas, da Guatemala, de Trinidad, para não falar nos brasileiros.

    A agenda está apertadíssima, e comecei negociações para ficar um dia ou dois a mais. Pelo programa, volto sábado de manhã, com apenas uma tarde livre no meio das apresentações.

    O pior é que amanhã tem um café da manhã pros jornalistas às oito da matina.

    É sempre assim: eles nos tratam na palma da mão, mas arrancam o couro...

    Frase do dia, pinçada na revistinha de bordo da Copa, uma das poucas companhias aéreas que conheço que não se curvou ao besteirol americano e ainda usa talheres de verdade, decentes, no serviço:

    "Panamá, puente del mundo, corazón del universo."

    Taí: definitivamente, não se pode acusá-los de pensar pequeno.

    P.S. -- Há fotinhas aéreas no Flickr; basta clicar na foto acima para ver. As nuvens estavam lindas pelo caminho.

    23.2.05



    Tchauzinho!

    Só deu tempo de abrir o terminal aqui da Varig, em Sampa, e... pronto, estão chamando o meu vôo pro Panamá.

    Mando notícias de lá.

    Fui!

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia



    Novos sonhos digitais

    Começou ontem, em Orlando, a PMA 2005, tradicional feira de fotografia que atualmente -- nem preciso dizer -- é a grande vitrine do que há de novo em imagem digital. Voltada a profissionais e revendedores (como a antiga Comdex em relação aos computadores) a PMA atrai, cada vez mais, a atenção de amadores e entusiastas, curiosos em saber qual será seu próximo objeto de desejo.

    Agora que a questão dos megapixels já está mais ou menos equacionada, e que os usuários já descobriram que nem só de quantidade de pontinhos vive a foto digital, as câmeras estão mais interessantes do que nunca.

    Os fabricantes esmeram-se em apresentar novidades, cuidam do design, da velocidade entre os cliques e, principalmente, da qualidade das lentes -- que serão sempre a parte mais importante do aparelho.

    Ficou impossível responder à velha pergunta: "Qual é a melhor câmera digital?" Cada vez mais diferentes entre si, elas vêm sendo projetadas para se adaptar à imensa quantidade de usuários, seu poder de compra, seus estilos de vida, suas necessidades de imagem.

    Há uma câmera perfeita nos sonhos de cada fotógrafo mas, mesmo assim, para alcançar este ideal, ainda é preciso recorrer a duas ou mais câmeras na vida real. As super zoom são fenomenais, por exemplo, mas grandinhas; as ultra-compactas são ótimas para carregar na bolsa, mas não enxergam tão longe... e por aí vai.

    Parece excessivo ter mais de uma câmera digital, mas esta é uma realidade à qual as pessoas que se dedicam seriamente ao hobby vão, aos poucos, se habituando -- para a alegria da indústria.

    Assim como nos tempos do filme era normal ter dois corpos e várias lentes, ter diversas digitais também será comum com o tempo -- e, sobretudo, com a queda de preços. Uma coisa é certa: nunca se adquiriram tantos megapixels por tão pouco.

    A Concord conseguiu quebrar a barreira dos US$ 100, e apresenta a ultra-compacta 5042, primeira câmera digital de 5 mp a US$ 99.

    Na área das câmeras para amadores e entusiastas, uma das grandes tendências da PMA 2005 são zooms poderosos ou, pelo menos, mais generosos do que os míseros 3x até aqui padrão, e conseqüentes estabilizadores de imagem. Esta tecnologia, já empregada há tempos em filmadoras, começa a chegar com muito sucesso às digitais.

    (Aqui no blog vocês viram um exemplo disso na foto da Lua. Se não fosse o estabilizador da Lumix, eu nunca conseguiria fazer aquela foto sem tripé, como fiz. Tenho a mão até firme, mas nem tanto...)

    Outra tendência importante, parecida com a que domina o mundo dos celulares: câmeras fashion, miudinhas, bonitas, produzidas em cores diferentes -- de preferência para combinar com os iPods minis, imbatíveis aijesus do mundo hi-tech.

    Aqui ao lado, nas fotos, uma pequena amostra das novidades:

    1) Apresentada na CES, em Las Vegas, a EasyShare-One da Kodak é verdadeiramente revolucionária. Tem memória interna de 256Mb e conexão wi-fi através de um cartão opcional. Nela se podem guardar muitas fotos, como num álbum digital, e enviar o que se quiser pela rede.

    2) Com zoom 4x óptico, 4 megapixels, 20 diferentes modos de exposição, capacidade de fazer filminhos sonoros e 180 gramas, a Canon A520 é um brinquedinho simpático com desempenho de gente grande. Uma ótima câmera para quem está começando e quer descobrir a foto digital.

    3) A ultra-compacta Sony DSC-T33, de 5 megapixels, com zoom 3 x óptico, joga todas as suas cartas no design limpo e elegante.

    4) Figurinha difícil, a Caplio RV1 da Ricoh estará à venda basicamente na Europa e Ásia. Pequena, rápida e com ótima bateria, tem lente de 28mm, em comparação com os 35mm habituais. Uma pequena grande-angular cheia de qualidades!

    5) A Exilim Pro EX-P505 é descendente direta das Exilims fininhas da Casio. Continua compacta (ma non troppo), tem zoom óptico 5x e 5 megapixels, mas o seu grande forte é fazer vídeos em MPEG 4 VGA, ou seja, 640 x 480, em ótima resolução.

    6) O barato desta Pentax Optio de 5 mp, zoom 3x óptico está em duas letrinhas: WP. Significam Water Proof, à prova d'água, o que faz desta pequena maravilha a companhia ideal para as férias.

    (O Globo, Info etc., 21.2.2005)

    Prometo os links todos assim que tiver um tempinho; agora vou fazer a mala -- que acabei não fazendo -- e descansar um pouco antes de sair daqui, de madrugada, para pegar o vôo da 8h para SP, no Galeão.

    O pior é que o vôo pro Panamá sai às 13h30, se não me engano: um horário tão decente...

    Postarei fotos e notícias do Panamá assim que for possível. Vai ser muito interessante fazer esta viagem para um país a respeito do qual sei tão pouco.

    Fiquem bem, todos!

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    22.2.05

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    The cutest gift!




    The cutest gift!




    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Tati estuda a linda capivara de madeira que um leitor mandou de presente

    Happiness is a 12x zoom





    Nada como uma boa lente!

    Eu já ia dormir quando me lembrei de ter visto uma lua linda lá fora; cheguei na sala a tempo de vê-la se pondo por trás das montanhas e das torres do Sumaré.

    Clicando na foto, vocês vão dar no Flickr, onde há uma pequena seqüência.

    Minha próxima compra é um bom tripé.

    A Lua que me aguarde.


    Breve notícia de um bipe gripado

    Correria!

    Fui ao Centro, levar o passaporte e o certificado da vacina contra febre amarela, que tomei na Gávea, para registro no Ministério da Saúde; mas cheguei às 16h30, e eles só trabalham até às 16hs.

    O pessoal que ainda estava lá foi muito simpático, e garantiu que é possível fazer isso no aeroporto, antes do embarque.

    Isso me deixou mais tranqüila, e fui para o jornal, deixar a coluna da próxima quinta-feira pronta. Esta semana, excepcionalmente, ela não será ilustrada com foto feita por mim, mas sim com material da Reuters.

    Confesso que estava ligeiramente aflita, porque achei que viajava amanhã; mas descobri que não, que só viajo na quarta, dia 23.

    Destino: Panamá.

    De acordo com a programação, volto três dias depois, mas vou fazer o possível para mudar isso e ficar lá pelo menos um ou dois dias a mais. Por tudo o que estou lendo, o país é maravilhoso, e tem uma das maiores reservas ambientais da América Central.

    O chato é que ainda estou gripada.

    A febre passou, mas continuo numa moleza só, e com uma tosse digna de terceiro ato da Traviatta.

    Vou me poupar um pouquinho e, hoje, não vou ao jornal. Vou ficar em casa, fazendo uma coisa inteiramente exótica pelos meus padrões: arrumar a mala com calma, um dia inteiro antes da viagem.

    Tou ficando folgada, eu... :-)

    20.2.05

    More carnaval





    Mais carnaval... e chega!

    Consegui terminar a seleção de fotos de carnaval e subi para a Flickr como outro showzinho de slides.

    Na verdade, essas fotos são anteriores às do primeiro set. Aquelas fiz durante o Desfile das Campeãs, de uma frisa no camarote da Nova Schin, quer dizer, estava no chão, ao lado das escolas. As que subi agora foram feitas no domigo (camarote da Brahma) e na segunda (camarote da Vivo).

    De todos os lugares, o melhor é a frisa, naturalmente; mas aí, em compensação, falta uma visão de conjunto da escola e uma visão melhor dos carros.

    A Brahma é um lugar fenomenal como ponto de observação, pela altura, proximidade da avenida e altura no Sambódromo -- para quem consegue um pedaço de janela. Isso, porém, é quase impossível. Tenho a impressão de que tem gente que dorme lá dentro para pegar lugar.

    Depois de muita luta, consegui ficar na segunda fila; mas era uma dificuldade, com gente agitando braços e bandeirinhas na minha frente. De dez fotos, uma saía razoável, e ainda assim graças ao zoom da Lumix.

    No ano que vem preciso me lembrar de me credenciar a tempo, para ter trânsito livre e fotografar da avenida.





    A saga de Odin

    230 dias separam essas duas fotos.

    Eric Snowdeal IV, que a família chama de Odin, nasceu no dia 4 de julho. Um bebezinho prematuro, pouco maior do que a caneta posta ao seu lado para dar noção de tamanho.

    Seu primeiro mes de vida foi uma montanha russa emocional; ninguém sabia se ele ia ou não escapar dessa.

    Como se pode ver, escapou, e vai muito bem, obrigado.

    É uma linda história, que vem sendo registrada no Flickr foto a foto, dia a dia, por Eric Snowdeal III, um pai fora de série.

    19.2.05



    Marca Barbante II

    A marca é simplesmente pavorosa.

    É feia na forma, na escolha e na superposição das cores; a tipologia não podia ser mais banal e deselegante.

    O preço é uma piada de mau gosto com os contribuintes.

    Ela não é nem "memorizável" (como a da Coca-Cola) nem "cobiçável" (como a da Nike, que consegue triunfar até quando manchada por denúncias de trabalho escravo).

    A obrigação de uma marca de charme ou de qualidade é ser irresistível; ela tem que ser uma daquelas coisas que, se estiver impressa num cinzeiro ou num pratinho, faça com que você tenha uma vontade simplesmente irresistível de roubar o dito cinzeiro ou pratinho, para depois exibi-lo em casa com orgulho e prazer estético.

    Diante de marcas assim, jamais ocorre a qualquer pessoa a idéia de que a prima jeitosa até que faz umas coisinhas parecidas no Photoshop.

    Mas tudo isso é consideração paralela.

    O fato é que país não tem marca.

    País tem bandeira.




    Marca Barbante

    Eu ia escrever sobre isso mas o médico disse que devo evitar o estresse se quiser ficar boa da gripe até viajar.

    Por enquanto, portanto, tudo o que eu tenho a dizer é:

    ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!


    Viva!!!

    Estou muito feliz com esta notícia: o Alexandre Cruz Almeida, do Liberal Libertário Libertino, ganhou uma bolsa para estudar em New Orleans.

    Merece muito.

    Ele é talentoso, criativo, trabalhador e obstinado; sabe o que quer e vai chegar lá.

    Parabéns, querido Alexandre!

    Este blog, a autora, os gatos, a capivara e o tamanduá torcem por você.


    BLOG!




    The Gates


    No Fotolog, um ótimo grupo de fotos da instalação de Christo e Jeanne-Claude no Central Park, The Gates.

    A turma de Nova York está se esbaldando com a oportunidade, e produzindo uma quantidade de imagens interessantes.

    A foto acima é do Lightpainter, um dos meus floggers favoritas.






    Notícias do Tamanduá Bosco

    Olha ele de novo, que engraçadinho!

    Não se preocupem com a vassoura, é lógico que ninguém quer fazer mal a ele.

    É que, quando acha que vai ser atacado, ele fica de pé, pronto para revidar... e a Angela acha que essa talvez seja a forma mais simples de descobrir o sexo do bichinho.

    Ela escreve:
    "Vc vai ser a madrinha do nosso tamanduá-mirim (olhei na internet, essa é a raça dele... igualzinho).

    Ainda não descobri o sexo do anjo.

    Ele tem umas unhas bem afiadinhas. Apesar de ser dócil, quando se sente amedrontado fica de pé, nas patinhas, para atacar, ou seja, dar o famoso abraço de tamanduá. Só que o bichinho é muito miudinho, o abraço não deve ser apertado, mas as unhas... sei não... Um exame ginecológico pode me custar bons arranhões!

    Não sei como ele entra e sai daqui de casa.

    Só aparece de noite, por volta das 22h30; circula livremente, na dele, a gente só de longe... Depois desce lá para o jardim, e some no mato.

    O João está apaixonado pelo bichinho, parece uma criança com algodão doce.

    Agora estou entendendo seu amor pela capivara!"
    É lógico que aceitei, no ato, o honroso posto de madrinha do mimoso bichinho. Como já estou bem melhor da gripe, talvez dê um pulo lá amanhã ou depois, para um plantão básico de tamanduá.

    Mas não é só o João não; eu também já estou apaixonada, e olha que, até agora, só vi o animalzinho em fotos.

    QUE FOFO!!!

    18.2.05




    Emergência felina!

    Pessoal, essa linda ninhada foi abandonada na porta da Zaíra, aqui no Rio. São gentis, saudáveis e brincalhões, e precisam muito de um lar.

    Aos interessados: mandem um email para ela.

    Não são irresistíveis, esses quadrupinhos?

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Mas como?! Vai sair?! Depois de tudo o que fizemos por vc nos ultimos dias?!








    Pára tudo!

    Geeeeeeeeeeeeeeente!!!

    Olha que coisa mais bonitinha!!!

    Um lindo, perfeito e autêntico tamanduá aparece todas as noites na casa do João e da Angela Bosco, e lá fica a comer formigas.

    Não é o máximo?!

    Em pleno Rio de Janeiro, ali na Gávea.

    Convenhamos: tem outra cidade igual no mundo?!

    Aaaaaaaaaaaangelaaaaaaaaaaaaa!!!

    Quero ir jantar com vocês!!!

    17.2.05



    GMail

    Na remotíssima possibilidade de alguém ainda não ter o GMail, aviso: recebi 50 convites!

    Se alguém quiser, nome e email aí nos comentarios, por favor.


    Simpatia é quase amor

    Recebi hoje dois telefonemas da Telemar: o de um supervisor do departamento de atendimento e o de uma das assessoras de imprensa.

    Os dois foram extremamente simpáticos.

    Vocês dirão, "Ora, Cora..." -- mas não é bem assim, não.

    Em geral, aliás, é o contrário.

    Vou dar um exemplo radical. Quando desanquei a bolsa Vuitton e seu preço indecoroso, a resposta elegante e diplomaticamente correta teria sido uma cartinha sentida e cordial, explicando porque as Vuitton são tão superiores e mais caras, com um convite para visita à loja e cafezinho com o gerente.

    Isso, é lógico, me deixaria meio desarmada.

    Eu teria agradecido o convite, ficaria chateada comigo mesma por ter sido agressiva com gente tão cortês e talvez até mudasse de opinião a respeito do valor das bolsas se a carta fosse tão bem escrita e argumentada quanto a que me enviou um amigo que trabalha nas altas esferas financeiras (e que, aliás, não tem nada a ver com a Vuitton).

    De qualquer forma, ainda que isso não acontecesse, eu certamente passaria a olhar para a marca com alguma simpatia.

    Em vez disso, o que fez a diretoria da casa? Mandou para o jornal uma das cartas mais grosseiras que já vi, confirmando de vez não só a minha antipatia pela marca, como a de muita gente que leu a famigerada carta no jornal.

    Cheguei a receber mensagens de desagravo de alguns leitores!

    Entre tantas cartas, em tantos anos de jornal, esta história acabou ficando na minha cabeça como exemplo típico do que é a falsa elegância.

    Pois a Telemar, à qual estamos todos presos aqui no Rio por falta de opção na telefonia fixa, não tinha a menor necessidade de ser simpática; mas foi.

    Isso muda alguma coisa?

    Na verdade não, mas um gesto simpático é sempre um gesto simpático; melhor do que gesto nenhum e, sobretudo, melhor do que um gesto antipático.

    Registro, pois, a atitude gentil da Telemar.

    Eu preferiria que o telefone e o Velox tivessem sido consertados logo, mas aí também era querer demais, né?

    Em tempo: aproveitei a maré de bom entendimento para encaminhar à assessoria todas as reclamações que me foram enviadas para o jornal. Se algum de vocês tiver alguma pendência com eles, mande ver...

    No mais, acho que quem matou a charada da "comunicação de inoperância" foi o Ricardo Andrade, nos comentários do post abaixo. Ele escreveu o seguinte:
    Cora, a vida inteligente do 'call center' da Telemar é a existência do próprio.

    Explico: com o call center como anteparo entre a Telemar e o seu assinante, ela ganha prazos preciosos por deixar de cumprir com suas metas estabelecidas pela Anatel e não é punida.

    Assim, com 'pobres moças' treinadas como máquinas, surgem registros bizarros como 'registro de informação de inoperância do telefone'. Esse registro não existe oficialmente e a Telemar não é punida (pois existe um prazo bem apertado para consertar aparelhos residenciais) e pode consertar seu aparelho quando quiser, entendeu? (Ricardo Andrade)
    Faz todo o sentido.

    E agora vou pra casa, que ainda estou tossindo feito sei lá o quê.




    Diálogo com a Telemar: nas raias da loucura

    Teclo 104. A Telemar informa: este telefone mudou para 103 . Teclo 103. Boa tarde. Bem-vindo à Telemar 31. Se você já é cliente Telemar, tecle pausadamente o DDD da cidade, mais o número do telefone que deseja consultar . Não me consulto com telefones nem desejo fazê-lo, mas quero me queixar do telefone lá de casa, que está mudo. Aceito o português arrevesado do call center e teclo pausadamente 021 e o número do telefone. O número digitado foi DDD 21 telefone 2-5-2-1-0-*-*-*. Para confirmar tecle 3. Teclo 3. Dificuldade de acesso à internet ou conserto de telefone, tecle 2. Teclo 2. Música insuportável.

    -- Boa tarde. Com quem falo?

    -- Com Cora Rónai.

    -- Qual o telefone e a localidade?

    -- Aqueles que eu teclei pausadamente no começo desta ligação.

    -- Correto, senhora, mas qual o telefone e a localidade?

    -- Se essa informação não entra no sistema, para que vocês pedem que a gente tecle, ainda por cima pausadamente?

    -- Correto, senhora, mas qual o telefone e a localidade?

    -- Eu quero falar com uma pessoa. Você pode me chamar um gerente, por favor?

    -- Senhora, hoje é feriado, não há ninguém da gerência aqui. A senhora podia me informar o telefone e a localidade?

    Informo, resignada. Informo também o número do registro da queixa.

    -- Um momento, senhora.

    Música insuportável. Música insuportável.

    -- Senhora, vou estar fazendo um pedido de conserto...

    -- Não precisa, já fiz. Já passei o número do registro para você, inclusive.

    -- Correto, senhora. Vou estar fazendo um pedido de conserto referente ao seu registro.

    -- Peraí : quer dizer que só agora vocês vão cuidar para que o telefone seja consertado?!

    -- Correto, senhora. O registro que a senhora me forneceu é referente a uma informação de inoperância.

    Respiro fundo e teclo pausadamente até dez nas minhas teclas mentais. Tento me lembrar que, do outro lado da linha, há uma pobre moça que, possivelmente, nem trabalha para a Telemar, mas sim para um call center terceirizado que, ainda ontem, atendia a clientes com dúvidas sobre frangos congelados, repelente antiácaro ou algo do gênero.

    -- Vamos ver se eu entendi. Quer dizer que ligar para vocês e dizer que o telefone não está funcionando não basta, não é suficiente?

    -- Senhora, a senhora precisa fazer um pedido de conserto. O registro de inoperância que a senhora me forneceu refere-se apenas a uma queixa registrada há cinco dias a respeito de um telefone que não funciona, mas não consta pedido de conserto.

    -- Mas para que é que eu ia me dar ao trabalho de ligar e informar que o telefone não funciona?! Só para desabafar com alguém?!

    -- Senhora, no seu registro não consta pedido de conserto.

    -- Mas foram vocês que estragaram a linha! Assim que o telefone ficou mudo, me disseram que a Telemar estava fazendo reparos na área e que tudo voltaria ao normal dentro de poucas horas. Não voltou. Liguei de novo. Prometeram para o dia seguinte. E nada! Desde então ligo para a Telemar todos os dias, várias vezes por dia. Não ligo tanto assim nem para a minha mãe!

    -- Correto, senhora, mas no número de registro que a senhora me forneceu consta apenas a informação de inoperância.

    -- Mas o que é que vocês acham que eu ia fazer com um telefone que não funciona?!

    -- Entendo, senhora, mas não há pedido de conserto registrado, apenas uma informação de inoperância.

    Esqueci que, do outro lado da linha, havia uma pobre moça que, possivelmente, trabalha numa empresa de atendimento terceirizada e blablablá, e soltei os cachorros contra a Telemar. Os gatos me olharam de banda, e a Bia veio ver o que estava acontecendo. Vinha de celular na mão, entretida numa conversa aparentemente amistosa.

    -- O que foi, mãe?

    -- Estou tentando explicar para a Telemar a diferença entre um telefone operante e um telefone inoperante, mas é inútil.

    -- Ah, que coincidência! Estou falando com eles também, e eles estão dizendo que vêm consertar o telefone daqui a pouco.

    -- Então resolve daí, que eu desisto.

    Desliguei o celular à beira de um ataque de nervos; a Bia ainda falou alguns minutos no dela, como se estivesse conversando com uma pessoa de verdade.

    Meia hora depois tocou o interfone. Era a Telemar. Achei impossível que fosse o pedido da Bia; mas era. Dez minutos depois, o telefone estava funcionando às mil maravilhas, como se tivesse passado o carnaval esperto e falante, como qualquer outro telefone.

    O que é que ela fez que eu não fiz? Comparamos nossas técnicas de solicitação de serviço. Ambas havíamos nos portado com calma e cortesia; eu só explodi na última ligação. Ambas ligamos para o 103, e teclamos -- pausadamente -- o mesmo DDD e número de telefone. A única diferença aparente é que eu disse que o telefone não estava funcionando, ao passo que ela simplesmente pediu que viessem consertá-lo.

    Pelo visto, para que a Telemar entre em ação, não basta que um telefone esteja precisando ser consertado.

    Ele tem que querer ser consertado.

    (O Globo, Segundo Caderno, 17.2.2005)

    Carnaval, Rio





    Fotos de carnaval

    Aproveitando a volta do Velox, subi um slideshow de fotos de carnaval pro Flickr.

    Para ver, clique aqui.

    E agora, cama: estou melhorando, mas ainda estou tossindo e ainda estou meio lesa, não dá para facilitar.

    Boa noite, gente!

    16.2.05



    Sensacional: vida em Marte!



    A polêmica no OI

    O Observatório da Imprensa publica entrevista com o Perin, um dos editores executivos do Globo, sobre a polêmica da primeira página. Bom fecho para o debate.

    untitled



    Calúnia!

    Du Moscovis está correndo risco de ser processado pelos governadores acasalados. Acontece que ele, Du, disse ter se inspirado nos dois para compor o seu personagem, Reginaldo, em "Senhora do Destino".

    De uma notinha do Terra, gentilmente enviada pela Bia Badaud:
    A Assessoria de Comunicação Social do Estado afirmou que Rosinha e Garotinho vão processar o ator pela declaração.

    "Eles (Rosinha e Garotinho) ficaram indignados porque não são políticos corruptos, assassinos e tampouco seqüestradores", disse o coordenador Guedes Freitas.
    Tou com o coordenador.

    Rosinha e Garotinho não são seqüestradores!


    De um leitor do Blue Bus

    "Cada deputado federal recebe um salário de R$ 12,847,20; verba de gabinete para contrataçao de pessoal (mínimo de 5 e máximo de 20 funcionarios) no valor de R$ 35,000,00; verba indenizatória do exercício parlamentar de R$ 12 mil, desde que apresentadas as respectivas notas fiscais; quota telefônica e de correio no valor de R$ 4,278,55 e de auxílio moradia de R$ 3 mil; 4 passagens por mês, BSB/cidade/BSB pela Gol. Já somei tudo - R$ 69,045,75. Vai aumentar o salário pra quanto mesmo?"

    untitled



    Boletim médico

    Hoje acordei um pouco melhor, mas ainda
    estou com febre, tossindo, muito mole e desconcentrada. A melhor coisa
    é que a garganta não dói mais.

    Vou continuar de molho, porque tenho a impressão de que, nesse ritmo,
    amanhã estou boa, ou quase.

    Vocês têm sido uns amores!

    Muito obrigada pelas receitas e pelo carinho. Estou tomando MUITO
    líquido (nem preciso pensar nisso, acho que a febre dá sede por si só)
    e mal saio da rede; li o jornal aos pouquinhos, mas a única coisa que
    consigo fazer mesmo é cochilar, acordar, cochilar, acordar...

    ARGHHHHHHHHHHH!!!

    Também tenho pensado muito em que tecnologia sensacional é uma rede,
    não esta, hi-tech, mas aquela, de pano.

    Como todo mundo que usa rede de curtição, aqui no Rio, eu também não
    sabia usar uma rede direito; deitava ao comprido, o que acaba com as
    costas de qualquer criatura em dois tempos.

    Um dia, minha amiga Iva, de Rondônia, dormiu aqui em casa, e preferiu
    usar a rede. Perguntei se ela não amanhecia moída, e ela me explicou
    que não, de jeito nenhum; e me ensinou o pulo do gato.
    Basta deitar de través, que a rede se amolda ao corpo da gente.

    Depois disso, nunca mais me espichei no sofá para ler; vou direto para
    a rede. Que é, também, a melhor coisa para quem está nessa moleza.

    Ficar na cama seria um horror, muito terceiro ato da Traviatta; já a
    rede tem um jeito light de ser que ajuda a melhorar o astral.

    Sei que o mundo está complicado, que eu deveria escrever posts
    indignados contra o assassinato da freira americana e a não-reação do
    governo aos outros casos de assassinatos na Amazônia, e contra a
    eleição deste indizível Severino para a mesa da Câmara, mas a gripe
    pôs Tico e Teco fora de combate.

    Vou voltar pra rede; vocês continuam a tocar o blog?

    Muito obrigada! :-)

    Ah, sim: a Bia pergunta se alguém já foi barrado em casamento,
    ou conhece alguém que passou por este perrengue.

    15.2.05



    Leitura obrigatória

    (Off-topic total -- Continuo um lixo; não consegui ir trabalhar, não consegui ler ou ver televisão, nada, nada, nada. Passei o dia na rede -- aquela, cor-de-laranja, que fica na sala -- mais dormindo do que acordada, com febre, dor no corpo todo, tosse e uma torneira no nariz. Ó céus, ó vida...)



    Aleluia, irmãos!!!

    A boa notícia

    Depois de uma manhã inteira de esforço e dedicação, um funcionário Velox conseguiu pôr a minha linha para funcionar novamente.

    Os problemas de conexão, segundo entendi, decorriam de desconfiguração lá, na Telemar, como eu supunha desde o início.

    Independentemente do que tenha sido, porém, o fato é que me sinto de novo parte do mundo conectado. Ufa!

    A má notícia

    Quem está caída agora sou eu. Peguei a Mãe de Todas as Gripes, estou com um febrão e uma fraqueza só; ontem fui dormir às 23h30, dái vocês podem avaliar a gravidade do caso.

    Não sei se debito a gripe ao carnaval, à vacina contra febre amarela ou a ambos.

    Se eu ficar meio sumidinha daqui não liguem, por favor.

    Sintam-se em casa e continuem o papo à vontade. Tem cafezinho na garrafa térmica e água na geladeira; os copos -- quatro dos seis mil subtraídos à Brahma (*); completei a coleção no Desfile das Campeãs -- estão ali no cantinho.

    (*) As caldeiretas com desenhos de Ziraldo, Jaguar, Ique e Millôr foram o sucesso do camarote da Brahma. Das dez mil à disposição dos bacanas, mil quebraram. Mas só sobraram três mil para contar a história.

    Os vips levaram seis mil. (Ancelmo Góis)
    Admira é que tenham sobrado tantos: esses copinhos simplesmente pediam para ser roubados... :-)

    14.2.05



    Tristeza corporativa

    A saída de Carly Fiorina da HP deixa o mundo corporativo mais sem graça. Era muito interessante acompanhar seu desempenho, e comparar seu estilo exuberante e marqueteiro com o da discreta Anne Mulcahy, da Xerox: as duas faziam a dobradinha feminina mais poderosa do mundo hi-tech, tradicionalmente dominado por homens.

    Fiorina nunca teve medo de bater de frente com a diretoria; na época da compra da Compaq, lutou com unhas e dentes pela idéia de que as duas companhias tinham tudo a ver, algo difícil de perceber e até hoje não assimilado por muita gente. Os resultados duvidosos dessa compra, aliados à sua famosa incapacidade de delegar funções, levaram ao fim do casamento de cinco anos com a HP.

    A empresa está compreensivelmente tensa e sem direção aparente, e especula-se sobre a possibilidade de que venha a se dividir em pelo menos duas unidades.

    Alegrias editoriais I

    Depois de um ano catastrófico, em que perdeu a editora e ganhou dívidas astronômicas, o bravo Heinar Maracy, nome popularíssimo nos círculos do Mac e do design, conseguiu juntar forças, reunir os amigos e, mais uma vez, volta a fazer uma revista de Mac no Brasil.

    Na semana que vem, a nova versão da querida Macmania chega às bancas, a tempo de comemorar 12 anos de vida. A revista está mais gordinha do que os últimos números lançados ano passado e vem com um CD-ROM especial, que roda tanto em Mac quanto em Windows, com um apanhado da produção artística macmaníaca brasileira. Tem músicas, vídeos, fontes, ilustrações, histórias em quadrinhos e poemas feitos por leitores e amigos da casa como Laerte, Adão Iturrusgarai, Elesbão e Haroldinho, André Abujamra e Augusto de Campos, entre outros.

    Alegrias editoriais II

    Boa notícia: o livro "Como fazer CDs de alta qualidade", de André Machado e Aroaldo Veneu, que ensina o caminho das pedras para a gravação de CDs, foi o campeão de vendas da divisão de tecnologia da editora Campus em 2004.

    Como prefaciadora coruja, lembro que o livro, que é mesmo ótimo e merecedor do sucesso alcançado, nasceu de uma reportagem do André que foi ao ar aqui no Info Etc., em 9 de fevereiro do ano passado.

    Tristezas do MMS

    Os usuários de MMS da Oi estão desconsolados. Há mais de uma semana não conseguem mandar figurinhas dos seus celulares. Ninguém merece: justo no carnaval!

    Tristezas do Velox

    Certas sutilezas do atendimento ao usuário Velox escapam à minha compreensão. Quando se liga para lá, a gravação pede que se digite o número da linha telefônica; mas assim que um atendente finalmente nos resgata daquele ruído insuportável que eles acham que é música, a primeira coisa que pede é, novamente, o número que acabamos de dar.

    Quando dou meu número a qualquer supermercado ou empresa de rádio táxi que use com freqüência, a pessoa do outro lado imediatamente identifica a minha conta, e desfia mais informações a meu respeito do que eu mesma sei. No atendimento do Velox, porém, a ignorância é sempre a mesma: total.

    Seria razoável supor que a cada número estivesse conectada uma ficha com as características da configuração da máquina daquele específico usuário: PC com Windows XT, router 3Com, essas coisas. Mas nem essa associação absolutamente elementar a Velox consegue fazer. Assim, cada vez que liga para lá, o pobre usuário é obrigado a desfiar o mesmo rol de informações básicas e burocráticas.

    Apesar disso, sendo a sonhadora que sou, fico imaginando um serviço em que, além dos dados da máquina, constasse também uma cotação para o nível de entendimento do usuário: digamos, uma estrela para quem aaté agora não se acertou com o computador porque acha que o mouse é um pedal, duas para quem já sabe qual das luzinhas é o led do DSL e por aí vai.

    Não faz sentido que, cada vez que uma criatura razoavelmente familiarizada com o equipamento ligue para lá, tenha que partir daquele zero tatibitate com atendentes treinados para lidar com criancinhas do maternal.

    Num mundo de fato perfeito, porém, nada disso seria necessário, já que o Velox funcionaria...


    (O Globo, Info etc., 14.2.2005)


    As voltas que o mundo dá

    Sou totalmente contra o desenvolvimento de armas nucleares, mas gostaria de entender por que os Estados Unidos acham que podem ter bombas nucleares e o resto do mundo não.

    O que dá ao único país que já usou efetivamente armas nucleares o direito de reclamar quando os outros se armam?!

    Não tenho nenhuma simpatia pela Coréia do Norte, mas também não vejo como condenar um país por avisar aos EUA que se cuidem, sobretudo depois de ter sido alinhado no "Eixo do Mal" pelo sutil George W. Bush.

    Que coisa.

    Nunca pensei que, um dia, eu chegaria a temer pelo Irã por não ter uma bomba atômica.

    12.2.05



    Crônica do jovem Hughes, ou das
    desvantagens de não morrer aos 30

    O que é que Howard Hughes, Che Guevara e James Dean têm em comum? Simples: os três são ícones firmemente arraigados no nosso imaginário. A diferença é que Che e James Dean morreram jovens e logo viraram material para posters e camisetas, ao passo que Hughes, que talvez tivesse condições de lhes fazer companhia nas paredes e no peito de milhões de adolescentes, viveu demais, e morreu velho e maluco. Às vezes, sobreviver no tempo da própria vida prejudica a sobrevivência no tempo rarefeito do inconsciente coletivo; vide, por exemplo, Marilyn Monroe e Brigitte Bardot.

    Em lugar de cineasta e aviador audaz, Howard Hughes cristalizou-se na eternidade como retrato supremo dos males do capitalismo, primeiro nome que vem à mente quando se repete, pela enésima vez, que dinheiro não traz a felicidade.

    Até assistir ao filme de Martin Scorsese, era este o Hughes de que eu tinha notícia: o milionário mau, recluso, obsessivo e paranóico, com medo de micróbios, que não cortava o cabelo e as unhas e não fazia a barba, não saía do quarto nem via a luz do sol.

    De repente, eis que surge na tela uma versão radicalmente nova deste homem. Sempre milionário, mas jovem e audacioso, apostando altíssimo nas suas idéias e ideais, um ás da aviação, um revolucionário versado nas manhas da política e da corrupção, capaz de dar a volta num senador sem escrúpulos e num concorrente indigesto, com Jane Russell, Katharine Hepburn e Ava Gardner a tiracolo.

    Depois da surpresa inicial de descobrir que, um dia, Howard Hughes também foi jovem, vem a segunda surpresa: Leonardo diCaprio, que nunca me convenceu como ator, está ótimo na sua pele. É bonito demais para o papel, mas este "problema" não chega a afetar a atuação, até porque, na verdade, o esquecido Howard Hughes jovem poderia ser representado por praticamente qualquer ator branco, magro e de bigodinho.

    Tarefa consideravelmente mais complicada enfrentam Cate Blanchet, que faz Katharine Hepburn, e Kate Beckinsale, que faz Ava Gardner. Temos referências visuais demais das duas antigas atrizes para que qualquer das duas que as representam consiga ser convincente. Cate, a Blanchet, tem sido mais elogiada do que Kate, a Beckinsale, mas para mim é mais fácil acreditar na sua Ava do que na Kate da Cate.

    * * *


    O filme, em si, é um Grande Espetáculo: reconstituição minuciosa e primorosa de época, trilha sonora sensacional, profusão de cenas empolgantes. Tudo acentuado um pouco além do realismo, como, digamos, um som ligeiramente acima do normal. A idéia, imagino, é dar ao espectador a sensação de que ele não está assistindo a um filme, mas que está dentro do filme. E não qualquer filme, mas um filme da época em que se passa ?O aviador?.

    O efeito é acentuado pelas cores, pelo enquadramento e pelo comportamento dos atores, que poderiam ter saído direto dos anos 40. O único problema é que, ao invés de nos aproximar do filme e dos personagens, este tratamento nos afasta. Seria curioso voltar no tempo e ver como uma platéia de então se sentiria diante do filme; mas hoje, o que deveria ser intimidade acaba se traduzindo em distanciamento e frieza.

    Como numa típica fita dos anos 40, também, Scorsese opta por não aborrecer excessivamente o espectador com o lado sombrio de Hughes. Seria impossível contar a sua história sem aludir à loucura, mas tudo termina antes do mergulho final no abismo. O público percebe que ali está um homem com sérios problemas mentais, mas não chega a entrar no terror absoluto da doença. Afinal, pela estética em tela, está no cinema para se divertir, não para sofrer.

    É claro que ?O aviador? não tem este nome à toa. Para quem gosta de aviões históricos, poucos filmes se comparam a este. As cenas de vôo são longas e magníficas. Na mais romântica, Hughes sobrevoa Hollywood à noite com Katharine Hepburn; na mais espetacular, cai com o XF-11, levando de roldão um quarteirão inteiro de Beverly Hills.

    A quem tiver curiosidade de saber o que aconteceu aos moradores das casas atingidas, informo: morreu um cachorro, mas todos os humanos escaparam. O detalhe, que não está no filme, pode ser encontrado no livro de Charles Higham, que o inspirou.

    (O Globo, Segundo Caderno, 13.2.2005)


    Shrek

    Estava vendo o Príncipe Charles com a sua Camila, anunciando o casamento. Taí, acho bonita essa história, e fico feliz por eles.

    Imaginem o que é a vida deste pobre coitado, que nasceu e foi criado para ser rei, mas que tem uma mãe que não larga o trono por nada -- e que, a julgar pelo histórico familiar, ainda vai passar muitos e muitos anos como rainha?!

    No fundo, tudo o que ele queria é que o deixassem em paz com seus cavalos, tocando violoncelo e conversando com as plantas; em vez disso, teve que abrir mão da namorada de juventude e casar com uma garota histérica e bulímica, que adorava vida social e era a queridinha das massas.

    Basta olhar para ele e para Camila para ver -- sem maldade, please! -- que foram feitos um para o outro.

    Não sei se Diana casou sem saber da existência de Camila. Acho quase impossível, porque num mundinho daquele tamanho, mesmo sem contar com os holofotes da mídia, todos sabem de tudo.

    Também acho muito difícil acreditar que ela casou sem saber no que estava se metendo. Naquela época, mais do que hoje, um casamento real ainda era um assunto de estado, cheio de contratos e cláusulas, definido por juristas e conselheiros de toda a espécie.

    Imagino que o que a tenha deixado tão infeliz tenha sido a total impossibilidade de conquistá-lo, muito frustrante para qualquer pessoa um pouquinho mais romântica, mas certamente intolerável para uma mulher que tinha o mundo a seus pés.

    A infelicidade de Diana foi exaustivamente discutida pelo mundo inteiro; mas sempre achei muito mais interessante, do ponto de vista dramático, a infelicidade do príncipe, obrigado a conviver com aquela criatura celestial que lhe dava nos nervos.


    Consulta

    Pessoal, alguém sabe onde se pode tomar vacina contra febre amarela sem ser no Galeão? Algum lugar aqui pela Zona Sul, ou lá no Centro?

    É que vou pro Panamá no fim do mês... :-)

    No mais: continuo sem Velox, pode isso?!

    Hoje nem chega a ser problema, porque estou morta e ainda preciso descansar antes de ir pro desfile das campeãs, logo mais; e amanhã, é claro, vou precisar me refazer da esbórnia.

    Só não sei como vai ser a partir de segunda, quando o ano começa de verdade.

    Ah: tem mais cartas no cartas à redação, inclusive o bloquinho das que saíram hoje no Globo.


    Cartas à redação

    Ontem foi um dia brabo! A polêmica a respeito da primeira página rendeu dezenas de cartas à redação, emails simpáticos de amigos e colegas e telefonemas de todo o tipo.

    Além disso, era fechamento do Info e, na madrugada anterior, eu fiquei acordada até de manhã escrevendo uma crítica comprida do "Aviador".

    Ainda estou me conectando via dial-up em casa; no jornal, a internet passou o dia inteiramente travada.

    Separei as cartas que chegaram diretamente para mim e publiquei aqui; amnhã ou segunda vou pedir ao pessoal da seção de cartas que dê um forward do monte de emails que estão lá, para que eu possa postar o dossiê completo.

    11.2.05





    Mais uma do Segmund. Adorei -- até porque ele tirou muuuuuuuitos quilinhos da vossa cronista... :-)


    A notícia que dá primeira página

    Meu colega e amigo Ascânio Seleme, que fecha a primeira página e que escolheu a foto da Luma para o domingo, publica hoje um artigo a respeito desta escolha. Está lá no site do Globo, mas como precisa registro -- que nem todo mundo tem -- e como a gente discutiu o tema aqui, dou um cut&paste para facilitar:
    "O leitor pode muito bem imaginar como os jornalistas constroem a primeira página de um jornal diário. É muito simples. Em primeiro lugar, tem que haver notícia. De posse das principais informações do dia, os editores buscam as mais importantes para compor a capa do jornal. Decididas quais são as que merecem a primeira, deve-se estabelecer uma hierarquia entre elas: qual a principal, aquela que vai virar manchete; qual a imagem mais importante do dia, que repercutirá nas bancas e dará mais uma informação ao leitor; como arranjar as demais notícias de maneira a comportar o conteúdo com impacto, conjunto e graça na página mais nobre do jornal.

    Na capa do domingo passado, primeiro dia de desfile das escolas de samba, a manchete só podia ser de carnaval. O GLOBO tinha uma excelente história de carnaval, um relatório que mostrava as contradições entre as notas e os comentários dos jurados das escolas de samba em 2004. E o jornal dispunha também da foto, a foto síntese do carnaval da Sapucaí, que começaria a eletrizar a cidade naquele domingo. Era a foto da Luma de Oliveira, a rainha das rainhas das escolas de samba. Foi Luma quem transformou as rainhas de bateria em instituição do carnaval.

    Alguma dúvida? Para nós, os editores, a foto era aquela. Luma parecia uma pin-up, um desenho retocado, sem defeito. Como O GLOBO mantém um ambiente aberto, democrático, onde todos opinam e têm voz, a colunista e editora Cora Rónai, ao saber que estávamos dando a foto da Luma, protestou. Ela julgava um absurdo darmos na capa do domingão uma mulher "mentirosa e manipuladora". Cora concordava que Luma tinha tudo a ver com o carnaval, que era mesmo representante legítima da festa, mas discordava organicamente da sua presença na primeira página do jornal. Argumentou que Luma fora acusada de presenciar o espancamento de um fotógrafo num resort e nada fez para impedir. E quem agia assim com um colega nosso não merecia nossa primeira página.

    Contra-argumentamos lembrando a Cora que o assunto em pauta era o carnaval, não a defesa dos jornalistas. Não podemos fazer jornal pensando em defender uma ou outra categoria, mesmo que seja a nossa. Fazemos jornal, não panfleto. Que se Luma mentira, como de fato mentira no episódio daquela falsa gravidez, isso nada tinha a ver com a questão em pauta. A notícia era o carnaval e a Luma era a melhor imagem do carnaval que dispúnhamos.

    Cora finalmente insistiu que devíamos dar ouvidos a ela porque falava como "perfeita representante das donas de casa da Zona Sul do Rio". Bom, aí não houve mais o que discutir, caímos na gargalhada, Cora inclusive, e encerramos a conversa.

    Já tinha até mesmo me esquecido do assunto quando me surpreendi com a coluna da Cora no Segundo Caderno de ontem. Concordo com ela que voto vencido não é convencido. E é obrigação dela expor idéias, dar opiniões. Para isso Cora tem uma coluna semanal. O que se espera dela é isso mesmo: idéias. Entendi, contudo, que o tom foi um pouco além dos bons modos que pautou nosso debate durante o fechamento daquela edição dominical. Cora disse que ao promovermos Luma estávamos "tripudiando da nossa profissão e apresentando ao leitor uma escala de valores lastimável". Ora, Cora. Atribuo esses termos a um arroubo juvenil. Ela sabe muito bem que os seus colegas jamais tripudiariam da sua profissão nem apresentariam ao leitor valores morais menores.

    Se fôssemos negar a Luma a primeira página pelas razões expostas por Cora, teríamos que afugentar da capa outros tantos personagens do nosso cotidiano. Notícia tem que ser publicada. E esse é o principal critério na escolha do que vai para a primeira: ser notícia. E Luma é notícia no carnaval como Romário é no futebol e Bush é no mundo.

    O editor pode até não gostar de Luma, Romário e Bush, mas não pode negar a eles espaço no noticiário por razões alheias à notícia. (Ascânio Seleme)"
    Fico chateada comigo mesma por ter magoado os colegas, que são, além de jornalistas competentes, pessoas muito queridas. Peço desculpas pela falta de jeito, porque acho que talvez pudesse ter dito o que disse com outras palavras, que não ferissem os seus sentimentos.

    Apesar disso, continuo mantendo minha opinião. Não acho que se deva negar espaço a Luma no noticiário, mas definitivamente não vejo por quê homenageá-la com um pôster daquele tamanho na capa.

    (De resto, também não vejo por quê dar tanta importância para o Romário, mas isso já é outra história; e do Bush, infelizmente, não temos mesmo como fugir.)

    Os rapazes acham graça quando me defino como representante das donas de casa da Zona Sul do Rio, e eu percebo a graça, que está na pitada de exagero; mas, no fundo, este é o meu fio-terra, e é isso, exatamente, que eu sou -- uma carioca de classe média, com a alma e o DNA da minha geração.

    Espero nunca perder esta identidade, porque nela está a essência da minha relação com os leitores e leitoras, de quem tanto gosto.


    Mapas!

    Isso é mesmo novo, ou só eu é que ainda não conhecia?


    Enquanto isso, na mailbox do ministro...

    Exmo. Sr. Dr. Márcio Thomaz Bastos,
    Ministro da Justiça,

    Hoje é o 50º dia da Operação Holocausto.

    Finalmente o ano está começando, segundo diz o humor popular. Para nós, do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, 2005 já vai alto e prosseguimos em nossa arenga cívica de protestos diários.

    Como o tempo passa! Está chegando o dia que o Delegado Dr. Deuler da Rocha Gonçalves Júnior estabeleceu como prazo, com seu recém adquirido poder legiferante, para pormos os olhos e as mãos nos autos do Inquérito de nr. 133/2004, aquele que investiga 150 pessoas envolvidas em malfeitorias variadas, detidas na rinha Clube Privê Cinco Estrelas no dia 21 de outubro passado.

    Obter o inquérito parecia à primeira vista coisa simples, já que é um direito legal assegurado a todo advogado, mas à medida que o tempo passa parece-nos inatingível. Que pena! Logo a nós, protetores da fauna, definidos como responsáveis por tutelar os animais pelo Decreto 24.645/34, este direito é negado.

    Sr. Ministro, algum malentendido está ocorrendo. Como V. Exa. é advogado criminalista com larga experiência em defender ricaços envolvidos em estrepolias, ousamos pedir-lhe um aconselhamento.

    Trata-se do seguinte: quarta-feira passada, dia 2 de feveiro, nossa advogada esteve na Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico -- DELEMAPH e pediu para ver os autos do polêmico inquérito, que se encontraria aninhado sob as asas do Delegado Dr. Deuler da Rocha Gonçalves Júnior.

    Ao fazer o pedido ao Dr. Deuler, a advogada ouviu deste a resposta de que seria melhor que ela pedisse para vê-lo quando "fosse encaminhado à justiça". No dia seguinte, quinta-feira, a advogada voltou, com um pedido por escrito para ver o misterioso documento.

    Dr. Deuler determinou que a advogada protocolasse a petição e em cinco dias úteis ele iria resolver se entregaria o inquérito. Humildes, aceitamos o prazo imposto e começamos felizes a contagem regressiva até o dia estipulado para a obtenção da peça: a próxima terça-feira, 15 de fevereiro. Nem é necessário dizer que terça-feira próxima estaremos na DELEMAPH.

    Pensamos até em fazer uma pesquisa junto à opinião pública, algo do tipo: "Você acha que o Dr. Deuler entregará o Inquérito de nr. 133/2004 na próxima terça-feira, prazo que ele, com seu novel poder legiferante, determinou? Clique 'sim' ou 'não' ".

    Seria até divertido, Sr. Ministro, se outro fato intrigante não tivesse ocorrido paralelamente. A advogada Dra. Leda Leal da Costa, Vice-presidente da entidade carioca Defensores dos Animais, esteve também na DELEMAPH na segunda-feira, 31 de janeiro. Foi recebida pelo escrivão Sr. Coelho e em seguida surgiu o Dr. Deuler.

    Quando a Dra. Leda pediu para ver a enigmática peça inquisitorial, foi informada pelo escrivão, na presença do Dr. Deuler, que não seria possível vê-la, uma vez que "tinha sido encaminhada para a justiça".

    Deve haver algum malentendido: dia 31 de janeiro o escrivão Sr. Coelho informa à Dra. Leda que o inquérito não poderia ser mostrado "porque tinha seguido para a justiça". Dia 3 de fevereiro o Dr. Deuler sugere à advogada do FNPDA que aguarde para ver o inquérito "quando este for para a justiça".

    Aliás, não entendemos por que o inquérito haveria de seguir para a justiça. Em primeiro lugar, está parado, portanto longe de concluso. Em segundo lugar, uma vez terminado o inquérito e feito o relatório pelo delegado que o presidiu, ele é encaminhado ao Ministério Público, que o analisa para posteriores providências, entre elas oferecer a denúncia ao juiz.

    Qual conselho V. Exa. nos daria, se estivesse advogando? Procurar o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, talvez? Afinal, alguma infração há de estar sendo cometida.

    Como este assunto está sendo acompanhado com interesse por muitos destinatários, Sr. Ministro, permita V. Exa. que forneçamos o telefone do escrivão Sr. Coelho a todos. Assim, quem puder nos ajudar, por favor, telefone à Polícia Federal no Rio de Janeiro, pedindo notícias do inquérito. O número é 021 3213-1666. Assim, quem sabe, Dr. Deuler descobre se a misteriosíssima peça emplumou-se, bateu asas e voou do ninho.

    Esta metáfora tem a ver com um elogio/crítica que desejamos fazer, com relação à arte plumária indígena. Lemos no Jornal do Brasil de 5 de fevereiro de 2005 que uma equipe de policiais federais, sob a coordenação do Delegado Paulo de Tarso Teixeira, apreendeu em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, aproximadamente 150 peças feitas com partes de animais silvestres, como cocares, braceletes e colares com dentes de macacos e de onças e penas de papagaios.

    "Para a PF, foi um dos maiores golpes no tráfico internacional de animais silvestres já realizados." (...) "O material seria vendido nos Estados Unidos por R$ 1,3 milhão e pertence à antropóloga Rosita Pereira Heredia, de 43 anos, que mora nos EUA. Ela decidiu colaborar com a investigação conjunta da PF com a Fish and Wildlife Service (FWLS), agência que cuida de crimes ambientais." (...) "Rosita Pereira Heredia está sendo processada desde 1998 nos EUA pela FWLS. A antropóloga é acusada de vender ao então diretor do Museu de Arte Smithsonian, Lawrence Small, artesanato indígena no valor de US$ 460 mil (R$ 1,1 milhão)." (...) "-- É a maior coleção de arte plumária ilegal da história" -- diz o delegado Jorge Pontes, Chefe da Divisão de Crimes Ambientais da PF.

    Desejamos cumprimentar a Polícia Federal por esta diligência que é parte da Operação Pindorama.

    Desejamos fazer duas observações finais: achamos que já é hora de se fechar o cerco não só a enfeites indígenas ilegais com partes de animais, mas proibir-se a venda de qualquer enfeite indígena feito com partes de animais silvestres. Afinal, ou o índio vive como índio em sua reserva, alimentando-se da caça e da coleta de vegetais, ou caça macacos, onças, papagaios e araras, alguns até em extinção, para manufaturar ornamentos a serem comercializados em lojas no Brasil e até no exterior -- e então não é índio. Isto para nós configura caça profissional e como tal é ilegal. Hipocrisia: extinção já.

    Por fim, queremos lembrar ao Dr. Deuler que assim como a Polícia Federal apreendeu as peças feitas com penas e dentes de animais silvestres, assim também as rinhas de galos devem ser estouradas e investigadas. Afinal papagaios, araras, galos de briga, todos têm direito à tutela do Estado.

    Ana Maria Pinheiro
    Vice-presidente
    Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal
    A persistência e determinação da Ana Maria só são comparáveis ao descaso e à covardia do ministro que, até hoje, apesar de estar recebendo um email diferente todo santo dia, até agora não se dignou a responder um só deles.

    Por favor, vamos colaborar na briga: basta ligar para a Polícia Federal, aqui no Rio -- 021 3213-1666 -- e pedir notícias do inquérito 133/2004.

    Provavelmente alguém vai dizer uns desaforos do lado de lá, mas quem sabe assim se tocam que há cidadãos atentos neste país...

    9.2.05





    Capivara, Luma, escolas:
    fragmentos de carnaval

    São três dias de folia e brincadeira...
    para não falar em questões mais sérias


    Quando acordei no domingo e vi aquele céu claro, tão limpinho depois de um tempo aparentemente interminável de chuva, agradeci a Quem de Direito -- e, como o resto da cidade, fiquei na torcida. Gosto de carnaval até debaixo d'água, mas convenhamos que, a seco -- pelo menos meteorologicamente falando -- tudo fica melhor, da farra inocente dos bloquinhos modestos à apoteose da Sapucaí. Ó, Aí de Cima: valeu!

    * * *

    -- Há um começo de movimento de retorno às marchinhas sim, -- confirmou Eduardo Dusek. Nós nos encontramos à noite, na ida para o Sambódromo, e conversamos sobre isso. No dia seguinte, de tarde, a estréia do bloco Capivara Ensaboada confirmou a tendência. Repetida algumas vezes entre antigos sucessos, a Marcha da Capivara "pegou" entre os foliões, que, tarde da noite, voltavam para casa cantando a musa:

    A roedora foi parar lá na Baixada
    Ai meu Deus que tremenda solidão
    Prender a bicha assim não é legal
    Solta a capivara nesse carnaval.

    * * *

    Já outra musa, a Luma, foi motivo de polêmica com os colegas que fecham a primeira página. Ninguém discute a beleza da Luma ou da foto que saiu na capa de domingo mas, pelo menos na minha cabeça, esses não são os únicos critérios que devem orientar a escolha da principal foto da primeira página de domingo do meu jornal. Digo "meu jornal" não apenas como jornalista da casa, mas também como leitora apaixonada do Globo.

    Ninguém tem nada a ver com o que acontece entre a Luma, o ex-marido, o bombeiro e o soldado, mas promover alguém que mente patologicamente e que manipula a imprensa como ela faz -- inclusive fisicamente, que o diga o fotógrafo da "Caras" -- é tripudiar da nossa profissão e apresentar ao leitor uma escala de valores lastimável.

    Uma foto da Luma na primeira página do jornal equivale, para mim, ao seguinte recado:

    "Se você tiver uma bunda suficientemente bonita pode fazer o quiser, que para nós não tem importância. Pode mentir e desmentir tudo o que mentiu à vontade, pode até achar ótimo ver gente apanhando, que nós relevamos. A única coisa que conta é ser gostosa."

    Expus meus argumentos e os colegas ficaram até ligeiramente abalados -- mas não o suficiente para trocar a foto:

    -- Ah, é carnaval, e ela é a cara do carnaval.

    Fui voto vencido, mas não convencido.

    Luma só é a cara do carnaval porque a imprensa decidiu que ela é a cara do carnaval; ora, uma vez que ficou decidido que ela é a cara do carnaval, ela passa, automaticamente, a ser a cara do carnaval. Mal comparando, como os bicheiros homenageados na avenida -- todos eles, também, a cara do carnaval.

    Algo me diz que, dando continuidade à tradição iniciada no ano passado, no carnaval que vem devo voltar ao assunto. Até que apareça uma nova "cara do carnaval", continuaremos assim: os rapazes da primeira página dando a Luma em destaque lá, e eu dando um ataque de nervos aqui. *suspiro*

    * * *

    Mistério: por que é que a escola que tem as cores mais bonitas faz questão de ir contra o seu verde e rosa, tão carregados de tradição?

    Desfilando sem as suas cores, a Mangueira simplesmente não é a Mangueira, é uma escola qualquer. E que enredo desengonçado! Dava dó ver os componentes fantasiados de torre de transmissão, fazendo aquele esforço todo para sambar sem romper os fios que os uniam. Aliás, com aquela quantidade de torres e cabos, dona Dilma do Lula nunca mais precisaria explicar nada a ninguém. O que fica difícil de explicar é como escolas tarimbadas como Mangueira e Portela insistem em dar tantos tiros nos próprios pés.

    Já a Viradouro, que não agradou a alguns especialistas, foi cativante do começo ao fim, com carros criativos e bem acabados, fantasias de bom-gosto e um samba ótimo de cantar. O desfile visto pelo setor 1, onde eu estava, foi lindo e cheio de surpresas, perfeito apesar do carro quebrado a reboque. A escola saiu de lá campeã, e assim ficou no meu coração até a entrada triunfal da Imperatriz, que lavou a alma de um sambódromo traumatizado pelo triste espetáculo da Portela.

    Fala-se muito dos carnavais "tecnicamente corretos" da grande Rosa Magalhães, como se isso fosse uma espécie de defeito. Pois se é, eu bem que gostaria que todas as escolas sofressem disso. A Imperatriz se renova a cada ano, não recicla idéias, não apela para o grotesco ou para a vulgaridade. A despeito de todas as novidades apresentadas pela Unidos da Tijuca, que de fato está criando um estilo próprio, a minha grande viagem fiz, este ano, nas asas dos seus cisnes inesquecíveis.

    (O Globo, Segundo Caderno, 10.2.2005)


    Lindo!



    Apuração

    Socorro. Tenho que ir pro jornal e não consigo me afastar da TV. Estou achando muito injustas as notas dadas à Viradouro.

    Update: Não adianta, eu nunca me afino com a comissão julgadora. Imperatriz em quarto? Viradouro em oitavo?

    Fala sério... :-(

    Aliás, para mim, entre Beija-Flor e Unidos, a Unidos deu de dez.

    Bahia


    Cheguei muito cansada do jornal. Ontem passei o dia escrevendo e editando fotos, em vez de sair para pular carnaval, como deve ser.

    Por falar em carnaval: no outro dia postei uma série de fotos de Porto Seguro no Flickr.

    Estão bem bonitinhas... :-)





    Ontem à noite, na redação, o Jorginho, um dos campeões da Editoria Rio, fez esta foto minha e do Alexandre Sassaki, editor de fotografia do jornal. Em geral não gosto de ser fotografada, mas fiquei feliz: tenho muito orgulho em ser amiga e colega dessas duas feras.

    8.2.05





    Foi um rio que passou...

    Não sou portelense, mas quase chorei quando vi esta águia indo embora, com a Velha Guarda logo ali atrás. Apesar de saber que atraso no desfile é mortal, juntei-me ao coro que xingava a diretoria da escola: nunca fui ao Maracanã, mas acho que deve ser assim, a arquibancada toda gritando fillhadaputa!!! em uníssono.

    Como, impedir logo a Velha Guarda de desfilar?!

    Ficaram malucos?!

    Depois de muita confusão, a diretoria (e a águia) voltaram atrás, e o carro e a Velha Guarda foram para a avenida -- às carreiras, em clima de velório, mas aplaudidos pelas arquibancadas.

    Foi muito triste.


    Que horror!

    Andréa Lambert, que cuida de tantos gatinhos do Rio, me mandou uma notícia que saiu no Dia. Depois, quando a gente diz que quem maltrata animais também maltrata humanos, acham que é exagero...
    Segurança foi executado após brigar por gato

    O segurança Marcos Antônio Ramos da Silva, 37 anos, que trabalhava para o vereador de São João de Meriti Carlos Roberto Rodrigues, o Bebeto (PMDB), foi morto domingo após uma briga por causa de um gato num bar do município. Segundo o irmão da vítima, Múcio Luiz, um homem chutou o animal, Marcos gritou para ele parar e acabou atingido por 13 tiros. O segurança foi enterrado ontem no Cemitério de Vila Rosali.

    Oi Multimidia

    Oi Multimidia

    Para mim, a Viradouro fez o desfile mais lindo do ano. Vai ser dificil fazer melhor. E' campea!