27.2.05



Duas ou três coisas que já sei daqui

Sexta à noite, a Samsung encerrou o encontro em grande estilo, nas ruínas da antiga Ciudad de Panamá: um cenário dramático e muito bonito, com uma temperatura perfeita para o (delicioso) jantar ao ar livre, lua cheia no céu, música, boa comida e bebida a rodo.

Pontualidade e método podem não ser o forte dos panamenhos, mas festa é com eles mesmos. O resultado foi uma das noites mais legais que já vivi em encontros desse tipo. Só para dar uma idéia: a certa altura, um dos coreanos se animou, subiu no palco e cantou La Bamba. E arrasou!!!

Meus colegas jornalistas foram embora sábado de manhã, bem tristes, e eu fui à luta.

A essa altura já li dois ou três pequenos guias de viagem. A escolha de coisas a se fazer no Panamá é impressionante: o país é uma surpresa das mais agradáveis.

Imaginem:

  • 80 quilômetros separam o Atlântico do Pacífico. Pode-se nadar um mar de manhã e mergulhar no outro à tarde;

  • Há o Canal -- que eu, pelo menos, poderia ficar admirando dias a fio sem me aborrecer;

  • Há um trem que se pode pegar pela manhã para passar o dia em Colón, na outra ponta do Canal, no Atlântico. Este trem acompanha o Canal, e é lindo;

  • Colón, dizem, é um charme. Uma cidade portuária que já viu melhores dias, com hotéis majestosos ao lado de pensões de quinta, bares suspeitos, intenso movimento de cargueiros, a segunda maior Zona Franca do mundo, guardas corruptos, contrabandistas... em suma, um sonho! Nós já vimos este filme e lemos este livro muitas e muitas vezes;

  • Estamos, não se esqueçam, num país caribenho. Isso significa águas quentes e cristalinas, corais, áreas de mergulho fenomenais, praias de todos os tipos e tamanhos;

  • Aqui fica uma das florestas tropicais mais bem cuidadas do mundo. O Canal depende da chuva para funcionar e, enquanto a floresta existir, existirão chuvas. Há incontáveis opções de passeios ecológicos;

  • Há ilhas belíssimas a uma ou duas horas de barco;

  • A Cidade do Panamá, em si mesma, é tudo de bom. Além das ruínas, distração para uma tarde ou manhã, há o Casco Viejo. Explico umas e outro: em fevereiro de 1619, Henry Morgan, um dos corsários da Rainha Elizabeth, atacou e saqueou a cidade. O que ele não destruiu, os habitantes incendiaram, para não entregar mole o outro ao bandido.

    Não adiantou nada, já que ele voltou carregado de riquezas; os poucos que escaparam acharam mais prudente reconstruir num ponto mais protegido, o hoje chamado Casco Viejo. Lá cresceu a cidade colonial, que é o que se pode imaginar de bonito, com árvores antigas e construções lindíssimas.

    A área está hoje meio abandonada. Digo "meio" literalmente: parte está caindo aos pedaços, como Havana ou o Pelourinho antes da reforma, e a outra, já restaurada, mostra como o conjunto vai ficar daqui a alguns anos.

    Não sei se por causa dos franceses e depois dos americanos que vieram fazer o Canal, o Casco Viejo me lembra demais New Orleans. É outro lugar onde eu poderia passar dias e dias batendo perna e explorando ruas, casas, praças, cantinhos;

  • Há também o lado novo da cidade, onde brotam edifícos como cogumelos em dia de chuva. Tudo lavagem de dinheiro, porque não há atividade econômica que justifique tantas construções -- há 20% de desempregados numa população de três milhões -- e a quantidade de edifícios e casas vazios é enorme, mas o fato é que há um lado moderno e dinâmico que se mostra nos shoppings, nos barzinhos -- a vida noturna é animadíssima -- e nos cassinos.

    O clima é muito agradável, e a comida nem se fala. Como o país ainda é relativamente inexplorado do ponto de vista turístico, hotéis e restaurantes não são caros, ainda que tudo seja pago em dólar. A moeda local, o Balboa, é um dinheiro-fantasma: existe apenas em moedinhas, e olhe lá. Não há cédulas. Assim, embora em todos os locais os preços estejam em Balboas, o que se usa mesmo são as verdinhas.

    Go figure.

    Os panamenhos são umas simpatias. São descansados, gentis e festeiros, e todos, mas todos que encontrei, mostram-se genuinamente empenhados em passar uma boa imagem da cidade e do país.

    Ajuda muito ser do Brasil, campeão de popularidade das Américas, mas a verdade é que o povo, coitado, tem perfeita noção do estrago que faz a corrupção generalizada na idéia que a gente tem do Panamá, e tenta, à sua maneira, compensar com pequenos gestos e cortesias. Nas lojas os comerciantes nos instruem a respeito das corridas de táxi, nos táxis os motoristas alertam para os custos dos restaurantes, nos restaurantes os garçons comentam os preços das lojas.

    Por exemplo, a corrida do hotel ao shopping deu U$ 1,25 e dei U$ 2 ao motorista; na lojinha onde comprei o gato de palha, a dona me perguntou o hotel em que estava hospedada e recomendou:

    -- Não dê mais de um dólar ao taxista!

    Ficou indignada quando soube que dei 75 centavos de gorjeta para um cara que teve a ousadia de cobrar 25 centavos a mais.

    Enquanto isso, há dois anos a politicalha local construiu um viaduto por sabe-se lá quantos milhões de dólares superfaturados, que ameaça cair e está interditado, atrapalhando o tráfego.

    Isso numa terra onde, ainda no início do século passado, foi executada uma das maiores obras de engenharia de todos os tempos, e onde existe uma ponte -- a das Américas -- que é de tirar o chapéu.

    O Panamá, digo.

    Que, por sinal, vem do Equador.

    Mas isso já são outros quinhentos.

    Depois eu conto da Zona do Canal, da Garça Ladra e da minha aventura de logo mais: optei por ir à floresta, claro, onde um teleférico carrega a gente por cima das copas das árvores.

    Bom domingo, galera!
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