30.11.06

Boa noite!




Denúncia sobre a Defesa Civil do Rio de Janeiro

Recebi por email. É uma história triste e muito revoltante pelo descaso com que os animais continuam sendo tratados na nossa cidade:
Na última segunda-feira, dia 27 de novembro, o meu gato Lóki entrou dentro de um carro de um vizinho em Botafogo. Este vizinho saiu com o carro para fazer um trabalho no Círculo Militar, na Praia Vermelha, à tarde. Quando voltou para o carro e andou por uns duzentos metros ouviu barulho na parte da frente do carro e parou para verificar. O gato estava assustado e machucado. Ele o cutucou com o celular, e ele saiu correndo para dentro de uma lanchonete.

O gato estava ferido e agressivo. Ele correu por toda a lanchonete, por cima do balcão, derrubando coisas e assustando funcionários e clientes. O gerente ligou para 193 solicitando ajuda. Para isso forneceu seu nome, endereço e telefone.

Meia-hora mais tarde, por volta das 17h, chega uma viatura da Defesa Civil com dois bombeiros, sendo um deles um sargento. Ninguém da lanchonete se lembra dos nomes ou do número da viatura. Estes bombeiros dominaram o gatinho, o colocaram numa caixa apropriada para animais e partiram. Desde então, o gato não foi visto novamente.

No dia seguinte, terça-feira à tarde, depois de ver um dos cartazes que espalhamos pela vizinhança, o nosso vizinho veio nos contar da história com o gato. Na mesma hora, fomos à Praia Vermelha. Procuramos por todo lado e acabamos na lanchonete onde todos se lembravam do ocorrido e narraram para nós o episódio.

Desde então, ligamos para o quartel do Humaitá -- que atende prioritariamente o bairro da Urca --, Catete e Copacabana. No Humaitá e Catete, informaram que não há nenhum registro de ocorrência. O de Copacabana se recusou a fornecer qualquer informação. Em várias destas ligações para os quartéis e centros de comandos ouvimos risos e ironias.

Um deles perguntou se era trote.

Nesta quarta-feira, ligamos para a Central de Operações. Novamente a mesma resposta: nenhuma ocorrência na Praia Vermelha foi registrada pelo Corpo de Bombeiros. Fomos pessoalmente ao quartel do Humaitá onde obtivemos a promessa de que todos os registros, que são em papel, seriam verificados. Deveríamos ligar para lá até as 17hs para ter uma resposta. Às 16h45, ninguém mais atendia na Seção de Operações do quartel do Humaitá.

Durante todo o dia, ligamos para a Suipa, para o Instituto Municipal Veterinário Jorge Vaistman e para a Sozed. Nenhuma desta instituições recebeu o gato com as descrições dadas. Sempre que ligamos para o telefone do Controle de Zoonoses fornecido pelo 102 não conseguimos que a ligação seja completada.

A essa altura, não temos mais esperanças que o gato esteja vivo. Queremos saber como um animal, sob custódia da Defesa Civil, foi retirado de um lugar e levado para um não-definido e ninguém sabe informar nada. Não há registros de nada.

Este fato isolado é deprimente, mas devemos pensar na Corporação como um todo. Os processos estão falhos? A população pode sofrer mais com isso? Será que a vida de alguém já foi posta em perigo por causa destes processos?

Uma foto do Lóki pode ser vista aqui.

Ele foi abandonado quando filhote no Campo de Santanna. Adotamos ele com três meses e o amamos muito por dois anos e meio. Torço para ninguém mais sinta o que sentimos agora.

Obrigada, e boa sorte para todos nós.

Simone Villas Boas

Seqüências Parisienses

Fernandinha Veríssimo ligou empolgada: seu professor e orientador de tese, em Paris, agora tem blog.

Luiz Felipe de Alencastro, o novo blogueiro, define-se como "professor brasileiro que reside e trabalha em Paris, nascido em Itajaí, Santa Catarina, onde também aprendeu a nadar. Pratica um modo de reflexão ensinado por seu guru que atende pelo nome de Capivara ou "Carpíncho"."

Nem preciso dizer que simpatizei de cara com ele, né? Afinal, temos o mesmo guru...

Utilidade pública

Veio num release que eu já ia apagando, quando lembrei que logo logo estaremos todos às voltas com a árdua tarefa de abrir garrafas de fim-de-ano::
1) Ao servir um espumante a temperatura é muito importante, pois esse fator pode favorecer a apreciação de aromas e sabores. A melhor maneira de esfriá-los é colocar a garrafa no balde, com metade água e o preencher o restante com gelo, deixando por 30 minutos, para alcançar o resfriamento uniforme. A garrafa pode ser acondicionada em uma geladeira, mas o freezer deve ser evitado. Outro cuidado que se deve ter vem na hora de abrir a garrafa.

2) O estouro da rolha sempre é associado à alegria de uma comemoração. Mas é bom saber que isso não é o melhor para o espumante. A ruidosa explosão da rolha leva embora, em segundos, o que a natureza demorou anos para colocar na garrafa. Para retirar a rolha corretamente a primeira coisa a fazer é remover a parte superior da cápsula, usando a pequena "fita" que auxilia na abertura. A seguir, deve-se retirar o arame (gaiola) e por fim a rolha, afrouxando-a apenas com o movimento de rotação. Para evitar o estouro, basta segurar a rolha com o dedo polegar, para que a abertura seja discreta e não haja dispersão do gás carbônico.
Nunca soube disso, mas como é o povo da Chandon quem diz, deve ser verdade.

Tim-tim!

Esse veio de longe




Busão





Um país fora dos trilhos

Herança maldita, de verdade, foi a de JK,
que condenou o Brasil ao atraso perpétuo



Quando acordei na segunda-feira, havia uma árvore no meio da sala. Era a árvore de Natal da Lagoa, que sempre é inaugurada em frente à minha casa. Ao contrário de tantos vizinhos, que detestam os nós que ela dá no trânsito, sou fã da árvore, e sua observadora atenta. Acompanho a montagem, fico de tocaia para ver os primeiros testes de luz e até já a visitei por dentro. Mas esse ano passou tão rápido que, quando me dei conta, ela já ia pelo meio; logo em seguida me caiu sobre a cabeça a miséria de um cartão de crédito desencaminhado, e me esqueci completamente dela, que crescia, imagino, a olhos vistos -- desde que, é claro, os olhos tivessem paz para ver. De modo que levei um susto; ou, para ser mais precisa, dois sustos. O primeiro, com o tempo:

-- Mas já?!

O segundo, com a árvore, mesmo:

-- Nossa, coitada, está horrível!

E assim, com a triste sensação de ver minha árvore querida tão mal-ajambrada com aquelas bolas enormes, fui embora para São Paulo.

* * *

Aqui começa o segundo capítulo da crônica de hoje. Adoro a Ponte Aérea, adoro aeroporto e tudo o que diga respeito a viagens; mas, pela primeira vez na vida, fui para o Santos Dumont não só contrariada, como ligeiramente apreensiva. Não tenho medo algum de avião, mas não posso dizer a mesma coisa de controladores de vôo estafados, mal pagos e sobrecarregados de trabalho. Mais medo ainda me dão as "autoridades" deste país que, a exemplo do Guia Genial dos Povos, nunca sabem de nada e são perpetuamente apanhadas de surpresa nas suas supostas "áreas de competência".

Sim, é fato, o problema do tráfego aéreo não começou ontem. Nem ante-ontem. Mas para que é que se tem governo, digam-me, se não para sanar essas coisas?! Será que quatro anos não são suficientes para se descobrir que há algo no ar além dos aviões de carreira -- correndo perigo?! É muito simples atribuir tudo o que vai mal neste país ao governo Fernando Henrique, ao imperialismo, à Coroa Portuguesa. Onde estava El Rei D. João VI que não cuidou da formação de controladores de vôo?!

* * *

No Santos Dumont há uma réplica do 14bis enfeitando o saguão. Olhei para ela longa e demoradamente: meu vôo atrasou uma hora, coisinha à toa para o ministro Waldir Pires, que certamente há de ter muitas horas livres para tratar o tempo com tal displicência. Folheei revistas na livraria, resisti a jóias, gadgets e chocolates, dei telefonemas.

Do momento em que saí de casa ao momento em que cheguei ao hotel passaram-se quase cinco horas, período mais do que suficiente para deplorar a falta de visão do visionário Juscelino Kubistchek, que acabou com os trens no Brasil e condenou o país ao atraso perpétuo.

Estradas esburacadas, aeroportos em colapso -- imaginem quantos aborrecimentos não poderíamos evitar se, como qualquer país civilizado, tivéssemos uma boa malha ferroviária? E quantas pessoas que hoje não têm condições de viajar não poderiam fazê-lo se tivessem a alternativa da estrada de ferro? Isso, claro, sem mencionar o encanto do ir e vir: ainda me lembro de subir a serra de trem quando criança, e essa lembrança, associada às experiências de tantas viagens nos países dos outros, me aperta o coração.

Também me parece incompreensível que, num país de águas, com uma das mais lindas costas oceânicas do mundo, as viagens de navio não encontrem um meio termo viável entre o luxo dos transatlânticos milionários e a precariedade das embarcações que, vira e mexe, repetem a eterna tragédia dos naufrágios fluviais.

Refazer o que se perdeu, no entanto, dá trabalho e não faz vista. Tapar buracos sem licitação e fazer obras faraônicas em aeroportos é sempre mais fácil e vistoso do que repensar seriamente o transporte e cuidar das pessoas -- tanto das que viajam quanto das que têm o delicado ofício de zelar pela segurança alheia. Gente, neste país, só conta na hora de votar. E de pagar impostos.

* * *

Nesse animado estado de espírito fui e voltei, com direito à dança das cadeiras no avião de volta: antes do embarque, fomos informados que a numeração dos assentos não valia mais, e que a escolha era livre. Taí um estranho conceito de liberdade...

Assim que o avião começou a descer, contudo, a visão do Rio afastou as nuvens da minha alma. Ao subir o Corte de Cantagalo eu já era uma pessoa feliz -- e fiquei radiante quando, lá do alto, vi a árvore toda iluminada.

Pois não é que ficou linda?!

Parei para admirá-la na portaria, enquanto o Zé me contava dos maravilhosos testes de luz a que assistira na noite anterior; e, mal entrei em casa, corri para pegar a câmera e fazer uma foto para vocês.

Mas... pois é. Voltei do escritório para a sala bem a tempo de ver a última luzinha se apagando, e o pequeno barco, que levava os técnicos, se afastando na direção dos pedalinhos. Fico devendo.


(O Globo, Segundo Caderno, 30.11.2006)

Todos brigam, ninguém tem razão

O quiproquó armado em torno do nome da estação do metrô da Praça Eugênio Jardim é um festival de besteiras do começo ao fim.

O governo estadual resolveu chamá-la de Estação Cantagalo, imagino que por causa do Corte de Cantagalo, logo ali; mas alega que a população desconhece o nome da praça, o que, convenhamos, é rematada tolice, já que a estação servirá a uma região cujos habitantes estão carecas de saber onde vivem.

Se a turma da Rosinha não conhece o nome dos logradouros públicos, só lamento -- embora não estranhe, dada a absoluta falta de apego do governo à cidade.

Estação Cantagalo é muito mais bonito como sonoridade, mas é errado geograficamente. A estação está em plena Praça Eugênio Jardim, ao passo que o Cantagalo propriamente dito fica pra lá do túnel, em Ipanema. Além disso, as estaçõs Saens Peña e Cardeal Arcoverde levam o nome de suas respectivas praças.

Bom. Nisso vai a Amacopa, a Associação de Moradores e Amigos de Copacabana, faz um abaixo-assinado pedindo o nome Eugênio Jardim, e me sai com a seguinte pérola:
"Todos nós devemos, sempre que possível, enaltecer os bons exemplos, para que nossos filhos e para que a própria sociedade tenha modelos a seguir. (....) Todos nós devemos evitar toda e qualquer possibilidade de -- inadvertidamente ou não -- enfatizar ou evidenciar, os maus exemplos, passíveis de alusões ou associações, ao crime, a contravenção e a delinqüência, o que infelizmente, a denominação "Cantagalo" tem hoje, com o narcotráfico."
Estou para ver argumentação mais obtusa, precária e preconceituosa!

A estação não deve (ou não deveria) se chamar Cantagalo pelo simples fato de que não fica no Cantagalo, e sim na Eugênio Jardim. Ponto.

Diante disso, é claro que a comunidade do Cantagalo sentiu-se ofendida e, agora, a Secretaria de Direitos Humanos ameaça processar a Amacopa por calúnia, injúria, difamação, racismo e sei lá que mais.

Só não processa pelo mau português do texto porque assassinar o vernáculo, infelizmente, não é crime.

Durma-se com um barulho desses...

28.11.06

Cities on the Move

Este é o nome de um concurso da Nokia realizado entre jornalistas latino-americanos, do qual me convidaram a participar. Cada um de nós recebeu um N80 emprestado, para fazer até um máximo de oito fotos, ou três fotos e um vídeo, um texto de até 1500 caracteres e um tema pré-determinado.

O meu tema foi Nossa Cultura; a reportagenzinha está aqui. O diabo é que eu teria pelo menos mais 1500 caracteres para escrever a respeito do assunto... para não falar nas fotos! ;-)

Gostei muito da câmera deste celular mas, sobretudo, adorei suas ferramentas de edição. Como ele trabalha com até 3.2 Megapixels, as imagens que produz podem muito bem ser aproveitadas, com todas as firulas, em ótimas fotos 10 x 15.

O Comandante informa: mais 15 minutos...




O Comandante informa: mais 15 minutos...




Tédio geral




Ainda bem que eu trouxe um bom livro!




Continuamos parados...




Lá vamos nós (acho)




Tá difícil...




No aeroporto




Agora chegamos lá!




Eu podia ter dormido mais duas horas!




Isso ainda vai demorar...




Café da manhã light




Bom dia...




No hotel




E atenção, atenção!

Como este blog acredita piamente que, melhor que um disso, só dois disso, hoje é aniversário da Monica Langer!!!

YESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS!!!

Hip, hip, hurra!!!

Mais vivas!!!

Mais parabéns!!!

Mais festa!!!

26.11.06

Pipoca, no serviço




Amigos




Keaton no seu cômodo favorito




Efeitos do K800i




Boa idéia!

Escreveu o Ribondi:
Estilo cinematográfico a gente aprende a apreciar, feito qualquer outra coisa na vida.

Hollywood tem fórmulas permanentes para agradar a quem for ao cinema. Não exige esforços, já entendemos os símbolos, as mexidas de câmera, os cortes, o ritmo da ação. Nada precisa ser inventado.

Cinema brasileiro ainda é incipiente, ainda se descobre. Mas temos filmes brasileiros genais, sim senhor.

Alguns, na minha opinião:

Limite
Barro Humano
Janelas da Alma
Cidade de Deus
Nunca Fomos Tão Felizes
Edu, Coração de Ouro
Casa de Areia

Paro aqui. Ou fico a noite toda. Mas aprecie certos filmes nacionais como quem aprecia um vinho raro, de paladar mais pro Pinot que pro Cabernet. Que a gente precisa aprender a degustar.
Pois, ótima idéia! Sobre o vinho não sei, que não bebo (ninguém é perfeito) mas, em relação aos filmes -- assim a nível de conceito, sabem como é? -- estou de acordo. E adoro brincar de listas. Alguns dos meus favoritos, pelo menos neste momento (que isso muda a toda hora):

Casa de Areia
Tudo Bem
Estrada da Vida
Durval Discos
Deus é Brasileiro
Memórias do Cárcere
Pequeno Dicionário Amoroso
Eu Tu Eles
Cabra Marcado para Morrer
Sargento Getúlio
E...

Vários outros, provavelmente, de que não estou me lembrando agora.

Quais os de vocês?

A vizinhança já tá que tá...




25.11.06

Noite alta céu risonho




O Céu de Suely

O Bonequinho está olhando, não exatamente para a tela, mas para dentro de si mesmo. Está embatucado. A questão é que, até agora, passados dois dias desde que foi ao cinema, ainda não conseguiu decidir se gostou ou não do "Céu de Suely?". Ficou extasiado com a belíssima fotografia de Walter Carvalho, empolgadíssimo com o trabalho do elenco (sobretudo da extraordinária protagonista Hermila Guedes) e verdadeiramente comovido com a delicadeza do tratamento dado às personagens; mas olhou diversas vezes para o relógio ao longo da projeção e teve a bizarra sensação de viajar de volta aos tempos da nouvelle vague, uma onda que -- ufa! -- passou quando a maioria dos espectadores de hoje não era nem nascida.

Contada numa mesa de botequim, a trama é até interessante: perdida na sua cidade do interior, à qual volta depois de uma temporada em São Paulo, Hermila, jovem mãe abandonada pelo marido, decide rifar-se para pagar uma passagem que a leve ao ponto mais distante possível daquele nada. No filme, a proposta assume a dimensão de uma vida menor numa cidade mínima, ou seja, algo extremamente tedioso. O realismo que Karin Aïnouz consegue imprimir ao filme é, simultaneamente, a sua força e o seu fardo -- e o drama do Bonequinho embatucado.

A vida é mesmo, no mais das vezes, um lento passar de horas; o interior é mesmo uma grande espera, até quando os jegues já foram substituídos por moto-táxis; e a falta de qualquer perspectiva é mesmo uma massa de tédio sufocante. A respeito disso já se manifestou muita gente boa, de Tchekov a Alan Resnais, passando por Jane Austen e Bergman -- guardadas sempre, claro, as devidas proporções.

A questão com a qual o Bonequinho se debate é: será que precisamos, de fato, de mais uma constatação disso? Será que, depois de oito horas de expediente, o cidadão que vai ao cinema para escapar da vida ainda quer uma overdose de monotonia? Este Bonequinho, em particular, tem suas dúvidas. Apesar de detestar com fervor os chamados "filmes de ação", ultimamente anda ressabiado também com aqueles em que, no fundo, nada acontece.

Pelo sim pelo não, recomenda a cada um que, após consulta a seus próprios botões, dê uma chance ao filme, feito com apuro e ternura. O talento do diretor é inquestionável; o Brasil que retrata aperta o coração, tão pequenas são as suas necessidades (e oportunidades).

Quanto mais não seja, "O céu de Suely" tem a singular vantagem de apresentar ao público algo absolutamente inédito: a nouvelle vague sertaneja. O Bonequinho aprecia o esforço, reconhece os muitos méritos do filme, mas torce, do fundo do coração, para que essa onda não pegue. Um exemplar da espécie já está de ótimo tamanho.


(O Globo, Segundo Caderno, 25.11.2006)

23.11.06

Xexéo dá uma entrevista





O massacre da auto-estima

Quando o padrão estético universal é desumano, a simples condição humana é garantia de infelicidade


A morte de duas jovens por anorexia, numa única semana, deveria ter acendido uma luz vermelha geral que, francamente, já era para estar acesa há décadas; mas salvo um artigo aqui e outro ali, mais as protocolares declarações de agências de modelos e organizadores de desfiles de modas, nada aconteceu -- nem podia acontecer, posto que a indústria da moda não é a única responsável pela monstruosa deformação estética dos nossos sentidos e da nossa sensibilidade.

Todos aqueles que, de alguma maneira, ajudam a criar os padrões de beleza -- entre eles a publicidade, a indústria do entretenimento, as revistas e os jornais -- têm sua parcela de culpa e, a menos que o mundo passe por uma verdadeira revolução cultural, o que acho altamente improvável, milhões de meninas e de mulheres continuarão a se martirizar em nome de uma "beleza" inatingível.

A morte é apenas a ponta mais visível de um iceberg de infelicidade crônica e de um massacre sem precedentes da auto-estima feminina.

Do alto desses tempos supostamente "civilizados", olhamos com desdém para as torturas a que eram, ou ainda são, submetidas as mulheres em sociedades antigas e/ou "primitivas": os espartilhos vitorianos e os pés deformados da China foram apropriadamente lembrados há dias, aqui mesmo no GLOBO, na página sete, por Leonardo Drummond -- que não se esqueceu de contrapô-los às atuais costelas cirurgicamente removidas, que tanta gente considera uma forma "normal" de afinar a silhueta.

A isso se poderia acrescentar um vasto catálogo de horrores contemporâneos, das argolas que continuam a esticar os pescoços das mulheres de Burma às pernas serradas e espichadas das chinesas que, com isso, ficam mais altas e "atraentes", tanto para os homens quanto para o mercado de trabalho.

É fácil percebermos que há algo errado em pessoas de resto normais, e eventualmente bonitas, que se submetem a cirurgias em que seus ossos são removidos ou serrados por razões puramente estéticas; chega a ser difícil acreditar que isso aconteça aqui, agora, num mundo cientificamente esclarecido. Mas a maioria das dietas a que se submetem tantas mulheres insatisfeitas com seus corpos e os remédios que tomam para se manterem magras não são menos prejudiciais do que os procedimentos cirúrgicos que nos horrorizam; nem é menos profundo o grau de infelicidade que as move a comportamentos tão destrutivos.

Muito pior do que o que se vê no corpo é o que vai pela alma, e que não se vê.

Esta trágica infelicidade não se restringe mais a umas poucas pessoas, mas se espalha, como praga, por toda a sociedade. Num mundo cada vez mais obeso, a imagem da beleza é, paradoxalmente, cada vez mais esquálida. A própria idéia do que é beleza, aliás, anda tão inequivocamente atrelada a pele e ossos que já não se concebe beleza acima do peso "ideal". Isso seria compreensível, até certo ponto, em termos de saúde -- se este magro "bonito" não estivesse muito, mas muito além do que a imensa maioria das mulheres pode alcançar naturalmente. E não fosse doentio.

* * *

Reparem: é tão perversa a estética contemporânea que, se uma moça de traços bonitos tiver 1,80m de altura e pesar 50 quilos, pode dar sorte e acabar sendo fotografada pelo Mario Testino para a capa da "Vogue"; mas a feiosinha pobre, coitada, com a mesma altura e o mesmo peso, vira, quando muito, foto do Sebastião Salgado -- e periga ir para a capa da "Time", em ensaio sobre a fome e a miséria. Ambas serão igualmente convincentes.

* * *

Desde que o mundo é mundo, nós, mulheres, somos vítimas da ditadura da beleza. Era de se esperar que, com os movimentos sociais e a independência que adquirimos ao longo do século passado, estivéssemos livres para, finalmente!, conviver em paz com nossos corpos; mas, ao contrário, nunca estivemos expostas a tal bombardeio de imagens artificiais e tipos físicos inexistentes.

A verdade é que nunca houve época em que o ideal de beleza estivesse tão afastado da realidade e dos padrões locais. No Brasil, por exemplo, onde as louras são minoria, gerações de menininhas moreninhas e baixinhas cresceram tendo como exemplo máximo de beleza e sucesso uma loura longilínea cercada de sublourinhas igualmente longilíneas. Se isso não é um passaporte carimbado para a frustração, não sei o que é.

* * *

Um dia eu estava atravessando uma rua em Barcelona quando um outdoor me chamou a atenção. Era uma propaganda de roupas esportivas e, nele, uma mulher de top e shortinho fazia uma flexão para o lado. Levei um tempo até descobrir o que havia de "errado": a moça da foto, como qualquer pessoa no mundo, tinha dobrinhas na pele no lado para o qual se curvava. Aqui, as dobrinhas teriam sido imediatamente apagadas no Photoshop -- e as mulheres que vissem o cartaz, como vêem tantos outros cartazes o tempo todo, ficariam arrasadas por serem... ora, humanas.

Que fazer? Não olhem para mim, não tenho a resposta; só tenho perguntas, e a perplexidade de ter gasto tanto tempo da minha vida preocupada com a aparência. Afinal, sou uma baixinha com peso de gente que precisou viver mais de 50 anos para, enfim, (quase) se aceitar como é.


(O Globo, Segundo Caderno, 23.11.2006)

22.11.06

Cirque du Soleil! Amanhã! Duas entradas!

Heliana avisa:
É o seguinte, a nossa colega de blog a Boa Idéia/Neria me pediu pra ver se alguém quer comprar os tickets que ela tem pra amanhã, matiné do Cirque du Soleil.

Houve um imprevisto e ela não poderá ir.

Os tickets, são dois, foram R$ 240 cada.

Bang-bang

O Tom e eu estávamos comendo ali no Frontera, no outro dia, quando começou o tiroteio no Cantagalo. Foi meio surreal, porque a decoração do restaurante, quase na esquina da Teixeira de Melo, ou seja, ao lado da subida do morro, é meio viagem, meio faroeste: muita madeira, cartazes antigos, essas coisas que lembram mundos exóticos e remotos.

Houve uma certa correria na rua e, quando finalmente achei o celular na bolsa, os garçons estavam justamente fechando as portas. Como eles conhecem o pedaço melhor do que eu, e como o celular dificilmente renderia boas fotos nas circunstâncias, fiquei na minha e terminamos de jantar na santa paz.

Depois seguimos na direção oposta, rumo à 14a, que era meu destino, onde fui registrar a engronga do cartão de crédito com meus amigos Prates e Cupelo, os heróis que recuperaram a Pipoca em julho do ano passado.

Quando estávamos na delegacia fazendo um resumo dos fatos para a Renata, colega deles novinha, bonita e muito simpática, apareceu um PM todo armado. Vinha calmo e tranqüilo, jogou um beijo pra Renatinha e foi pegar um café.

Perguntamos como estavam as coisas lá pras bandas da General Osório e ele disse que nem dava pra subir, que os caras estavam disparando para todos os lados e que até granada tinham explodido.

-- Perdemos a granada! -- exclamou o Tom.

Foi uma conversa casual, mais ou menos como se estivéssemos falando a respeito da chuva ou da ressaca em Copacabana.

O mais louco nisso tudo é que em nenhum momento da noite houve qualquer sinal de tensão ou de alarme; nem no restaurante, onde os garçons fecharam as portas mais por precaução do que por medo, nem enquanto íamos a pé subindo a Visconde de Pirajá ao som do tiroteio, muito menos na delegacia conversando a respeito do assunto com os policiais.

Enfim, uma noite como outra qualquer na Muy Leal e Heróica.

Imperdível: Pikyto no Alma Carioca!

No túnel, deserto




21.11.06

Puxa... :-(

Acabo de saber que morreu Robert Altman, um dos diretores de quem eu mais gostava, não só pelo trabalho mas também pela personalidade.

Minha lista de "Dez filmes favoritos" muda o tempo todo, mas três são imexíveis: Amarcord (Fellini), La Nuit de Varennes (Scola) e Nashville, para mim uma das obra-primas do cinema americano.

Ele estava com 81 anos e, há cinco, dirigiu outro filme de primeiríssima grandeza, Gosford Park. Seu último filme, A Prairie Home Companion ("A última noite", em português), ainda em cartaz, é uma espécie de Nashville revisitado -- nada de especial, mas mesmo um Altman nada especial é, para mim, mil vezes melhor do que 99,9% do que se vê por aí.

Bom diiiiiiia...!




20.11.06

Luísa Cortesão: o máximo.

Fala, Ribondi!

"Cada um tem o cirque du soleil que merece.

Hoje, às cinco da manhã, eu estava na triunfal portaria do Circo Broadway, conversando com Robert, que, além de diretor artístico e dono, é herdeiro de uma linhagem de 150 anos de artes circenses.

Pedi para dar uma volta. Beleza, um circo vazio, com os poleiros silenciosos. Dei uma volta. O máximo que encontrei, do que procurava, foram quatro cachorrinhos domésticos e uma perequita muito esperta que, no que me viu, empoleirou-se no meu dedo indicador.

-- A gente tinha urso, leão, camelo. Doamos tudo para o zoológico. Tava ficando politicamente incorreto.

Mas coisa impressionante que aprendi é que o globo da morte é arte tipicamente brasileira. Globeiro (gostaram da palavra?) nacional vale ouro no exterior e pode ficar bem de vida em Las Vegas ou em Tóquio.

A mágoa: se deram isenção de impostos para o Cirque du Soleil, por que não para eles?

Circo brasileiro tem que pagar os violentos e absurdos impostos de uma empresa; alugar área para abrir a lona (uma fortuna em certas cidades); pagar outdoor e anúncio em jornal; pagar para puxar água; instalar sanitários.

Já que é arte nacional, que exporta talentos, e vive nas condições que, sabemos, vivem muitos dos artistas brasileiros, o Gilberto Gil devia olhar a coisa com carinho extremado. Não só carinho. Com tino. Com a racionalidade de quem investe em patrimônio.

E, antes que me esqueça, viva o circo."
Eu não estive no Circo Broadway, mas assino embaixo.

Incrível, fantástico, extraordinário!!!

A Laura me ligou dizendo que acaba de receber um telefonema adivinhem de quem?

Da enfermeira de Rio Verde, Goiás, que lhe aplicou a primeira das vacinas anti-rábicas, para saber se ela estava tomando a série direitinho e lembrá-la da última aplicação.

O Brasil sempre surpreende.

Circo do Sol: final III




Circo do Sol: final II




Circo do Sol: final I




19.11.06

É proibido fotografar aqui dentro




Os lugares são ÓTIMOS!




Circo do Sol




Se alguém perguntar por mim...

diz que fui por aí, levando um computador debaixo do braço...


Pois é. Ando meio sumida dos posts e ultra-sumida dos comentários, mas andei (e ando) com problemas de computador. A fonte do desktop morreu, foi trocada, mas ele anda precisando de uma revisão geral que preciso fazer urgentemente -- está cheio de ziguiziras que me impedem de trabalhar direito.

O notebook vai muito bem obrigado mas, por outro lado, anda sem conexão ultimamente: minha plaquinha maravilhosa está doente.

O que tenho feito de atualização e de comentários tem sido via celular, mas isso, além de ser quebra-galho para eventualidades, é brincadeira que custa caro demais, sobretudo para quem está às voltas com misérias de cartão de crédito.

Durante a semana vi alguns comentários de gente que escreve pouco por aqui, ou que apareceu pela primeira ou fez encomendas (vou fazer uma foto nova da Capi, Vivi, pode deixar!); se não respondi não foi por má vontade, mas por falta de condições mesmo.

Desculpem nossa falha técnica!

No Centro