30.9.04

1 2 3 testando...

Na semana que vem, chega ao mercado o Treo 600, um misto de Palm, celular e camera digital.

Este Treo tem um pequeno teclado com o qual estou tentando me familiarizar. É uma máquina bem bonitinha...




Eleições:
o povo, unido, não tá nem aí



Um conhecido que está se candidatando à assembléia me telefonou, desconsolado. Não tem dinheiro, está amargurado com as campanhas milionárias que lhe sorriem em cada esquina e não se conforma com a proibição de espalhar cartazes, faixas e galhardetes pelas ruas. Foi, aliás, a única voz dissonante que ouvi no coro geral de louvor ao TRE pela preservação da limpeza física da cidade -- pelo menos isso, já que na limpeza moral não há quem dê jeito.

O moço é educado e civilizado e, até onde posso julgar, candidata-se por genuíno espírito público. Acha que a papelada que nos parece tão desnecessária e poluente ainda é a forma mais barata de publicidade, e que uma campanha clean como a que tivemos favorece os candidatos que têm mais recursos. Além do quê, diz ele, a cidade toda empapelada ganha um ar de festa. Observo que festa não precisa necessariamente ser sinônimo de sujeira, mas ele insiste:

-- Então você não está vendo? Essas são as eleições mais frias que já tivemos!

* * *

Na livraria me encontro, por acaso, com outra conhecida que também se candidata. É uma pessoa gentil e educada, e está apavorada com o que a espera, caso consiga vaga na gaiola de ouro. Tem ouvido coisas de arrepiar a respeito de uns inquilinos já instalados que, para o bem de todos e felicidade geral da cidade, deviam estar trancados numa boa gaiola não metafórica. A duas semanas das eleições, ela não consegue disfarçar o cansaço e mal esconde o desânimo. Apesar de valente e lutadora, acha que vai ser difícil realizar qualquer coisa com a meia dúzia de gatos pingados que chegarão à assembléia sem segundas intenções -- e, sobretudo, sem o apoio da população, que está, a seu ver, absolutamente apática:

-- Um vereador precisa do apoio do povo, mas a verdade é que ninguém quer saber de política, ninguém...

* * *

Já uma terceira amiga candidata, que provavelmente foi tigre na outra encarnação, está disposta a mudar o mundo a partir da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Percorreu a cidade de alto a baixo, chamou outros candidatos às falas, fez e aconteceu. Mas mesmo ela está impressionada com uma coisa: o horror do povo aos políticos. As pessoas não querem dar nem bom-dia aos candidatos, que dirá ouvir o que têm a dizer.

-- Todo mundo reclama do estado de coisas, mas quando alguém decide deixar a falação de lado e pôr mãos à obra, todo mundo some. Ninguém quer falar com político! O pessoal vê candidato se aproximando e foge correndo.

* * *

Meus amigos candidatos que me perdoem, mas a reação do povo é perfeitamente compreensível. Não estamos tendo as eleições mais frias de todos os tempos por falta de galhardetes ou de cartazes empastelando a cidade, mas sim por falta de vergonha na cara dos políticos que elegemos no passado. O povo não tem o menor interesse em ajudar os vereadores, porque os vereadores, salvo raríssimas exceções, não têm nenhum interesse em ajudar o povo. E ninguém quer mais ouvir conversa de político porque sabe, por experiência, que dar ouvidos a candidatos é pura perda de tempo.

Não devia ser assim, naturalmente, mas é. A população é constantemente instada a vigiar seus parlamentares, a cobrar posições de seus vereadores, a ficar de olho no que fazem os seus representantes. Ora, pobre população! Ela já se dá por muito satisfeita quando consegue se defender do que lhe armam os que deveriam agir em seu interesse. Quando afinal perde a paciência e solta o verbo, reclama no vazio. Suas palavras não encontram eco em canto algum, salvo, eventualmente, no jornal -- mas o mundo gira, a Lusitana roda e, no dia seguinte, as notícias são outras.

A política, esta nobre atividade humana, que numa das acepções do ?Aurélio? é definida como a ?arte de bem governar os povos?, anda tão desmoralizada aqui no Rio que chamar alguém de político é ofensa grave. Ainda assim, desejo, de coração, toda a sorte aos candidatos bem-intencionados, sejam eles meus amigos ou não, pois só através deles sairemos do atoleiro em que chafurda a cidade. Para que alguma coisa de fato mude, porém, eles vão precisar de mais do que boa sorte.

Eles vão precisar, como nós precisamos, de um sistema em que o poder não seja uma simples moeda de troca; eles vão precisar, como nós precisamos, de um governo saneado, sem corruptos, demagogos ou diminutivos, em que a gente possa escolher candidatos por gostar deles, e não por ter engulhos ao olhar para os outros. Caso contrário, acabarão tragados pela escumalha, como tantos antes deles.

Não, não se pode culpar a população carioca por estar indiferente. Ela enterrou a última utopia logo ali, ao lado da última quimera, nas eleições de 2002.


(O Globo, Segundo Caderno, 30.9.04)

29.9.04





O olho maior que a barriga,
o passo maior que a perna,
a dívida maior que o bolso

O Fotolog está na bacia das almas: tem dívidas superiores a U$ 70 mil, está sendo ameaçado de fechamento pelo provedor e pede, desesperadamente, a ajuda dos usuários.

Fiz uma contribuição de U$ 50 em memória dos velhos tempos e, pela primeira vez em mais de um mes, postei uma nova foto.

Isso não quer dizer que esteja voltando para lá. Eu adorava o Fotolog quando ele era, realmente, uma comunidade; quando, mal ou bem, havia um entrosamento entre os usuários e os administradores; quando postar era rápido, e tudo funcionava direitinho.

As coisas desandaram no momento em que a administração resolveu reunir o maior número de usuários no menor tempo possível. Resultado: aquele sistema veloz e bem azeitado, que conquistou todo mundo justamente pela eficiência, tornou-se uma máquina lenta e emperrada, em que a cada segundo dia algo enguiça.

A prova do seu extraordinário poder de sedução, porém, está no fato de que, apesar de tudo, os tais primeiros usuários continuam por lá. Mesmo desestimulados e sentindo-se desprestigiados pela administração, todos continuaram gravitando em torno da sua órbita.

Torço para que a empresa que surgiu no lugar da comunidade dê um jeito de sair dessa. Com todos os poréns, o ciberespaço vai ficar um lugar mais sem graça no dia em que o Fotolog for pro beleléu.

A verdade é que nunca houve um sistema como ele.

28.9.04



GMail: organizando a fila

Pessoal, acabo de enviar os dez convites para os dez primeiros da fila dos comentários anteriores a estes. Não deu para todos, mas, por outro lado, várias pessoas ofereceram convites.

Então, vamos tentar organizar a situação. Quem ainda tiver convites, por favor deixe um recadinho aqui com o email ao qual devem ser encaminhados os pedidos; os que estiverem querendo, mandem email direto pro pessoal que tem os convites, tá?


GMail

Será que alguém ainda quer? Tenho mais dez convites pro GMail! Quem quiser, por favor deixe nome, sobrenome e email aqui nos comentários...







Millôr define esquerda e direita

Não resisti e roubei pra cá:
"A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo que lhe ensinaram, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina." (Millôr)

27.9.04




Picasa grátis: o que era bom ficou melhor

Pouca gente notou, mas há coisa de duas semanas um anúncio passou a aparecer nos pés das páginas de resultados de buscas de imagens do Google. Estranho, muito estranho! Afinal, uma das características que levou o Google a conquistar tantos milhões de adeptos foi justamente a cara lavada, despida de comerciais. O banner, veiculado apenas na versão em inglês, chama a atenção para um software de indexação de figurinhas:

-- Você pode achar qualquer imagem que quiser na Web -- cutuca. -- E no seu computador?

Boa pergunta; mas a grande questão continuava sendo o banner em si. Como conseguira o Picasa chegar àquele espaço onde anunciante algum jamais estivera antes?!

Simples, muito simples. Em pleno auê do IPO, quando não se falava em nada Google a não ser no valor das ações, o Google comprou o Picasa. Na semana passada, antigos usuários do programa receberam um gentil email de Lars Perkins, ex-CEO da companhia e atual gerente geral da dobradinha Picasa-Google, falando a respeito da aquisição e informando que, daqui para a frente, o Picasa 1.6 está disponível para download gratuito no site www.picasa.com

A notícia é ótima para qualquer usuário que trabalhe com imagens -- sobretudo para os que, empolgados com suas câmeras digitais, acumulam TIFFs e JPEGs a uma velocidade inversamente proporcional ao tempo que têm para organizá-los.

Sócia de carteirinha deste clube, adotei o Picasa pouco depois de seu lançamento, em 2001. Ele é o melhor indexador de imagens que conheço no mundo PC e, com o passar do tempo, resolveu com bastante eficiência os bugs que atrapalhavam o desempenho das primeiras versões. A 1.6 ? cuja licença, irônicamente, renovei por US$ 29 há meros três meses ? está redondinha, funcionando às mil maravilhas.

* * *

O Picasa funciona assim: quando é instalado, pergunta ao usuário quais discos e diretórios deve varrer em busca de arquivos de imagens, que arrumará em pastas correspondentes àquelas em que se encontravam ou, na ausência delas, em simples ordem cronológica. Dependendo da quantidade de figurinhas dispersas, do tamanho dos discos e da velocidade da máquina, esta operação pode tomar certo tempo, ao fim do qual as pastas serão apresentadas como coleções de miniaturas na tela.

A varredura do Picasa é eficientíssima. Muita gente boa já se assustou com o que tinha na máquina e nem lembrava mais ou, em alguns casos, sequer sabia que tinha. Fotos perdidas das férias de 1996, figurinhas fofas que chegaram pelo email, pornôs que certamente foram instalados por algum vírus nefasto, os desenhos que as crianças fizeram com o Paintbrush ? está tudo lá.

* * *

Encontrar as imagens e organizá-las é só o primeiro passo. A partir daí, diversas coisas podem ser feitas com o Picasa, que tem, até, ferramentas básicas de edição, como corte e ajuste de cores. As fotos podem ser enviadas por email, agrupadas em slide-shows com música de fundo (escolha seu próprio MP3), impressas e assim por diante. O próprio Picasa pode se encarregar das novas imagens que chegam ao sistema depois da sua instalação, lendo-as direto da câmera, de cartões e de CDs, permitindo ao usuário dar o nome que quiser à pasta e às imagens que lá ficarão arquivadas. É muito, muito bom.

* * *

Tenho a impressão de que o que mais interessou ao Google, porém, foi um programa auxiliar do Picasa chamado Hello!, que une mensagem instantânea (como o Icq ou o Msn, por exemplo) com troca de fotos. Este programa vem sendo usado há algum tempo em associação com o Blogger (que também pertence ao Google) para postagem de fotos em blogs, e está tendo muito sucesso na função ? até porque resolve, sozinho, questões bastante cabeludas para principiantes, como o redimensionamento e o envio de imagens. Faz sentido para a máquina Google ter, sob sua asa, o maior número possível de ferramentas de publicação na web: a indexação passa a ser automática. E faz mais sentido ainda ter uma ferramenta de comunicação instantânea, como o Hello!, que pode vir a ser o complemento ideal para o GMail, seu popularíssimo sistema de email.

(O Globo, Info etc., 27.9.04)


Festival do Rio 2004
Olhos que não vêem

Tudo o que é sólido desmancha no ar


Anos 90: o Peru, depois do governo desastroso de Alan Garcia, cai nas mãos de Alberto Fujimori, visto como o salvador de uma pátria corroída pela hiperinflação, pela guerrilha, pela corrupção. Dez anos depois, é o próprio Fujimori quem sai pela porta dos fundos, envolvido, através de Vladimiro Montesinos, o poderoso chefe do serviço nacional de informações, num dos maiores escândalos políticos da América Latina.

A turbulência é geral. Quem estava por cima afunda, quem estava por baixo reaparece; as raposas felpudas bóiam ao sabor dos ventos, como sempre, enquanto o povo vai tocando sua vidinha, mais ou menos resignado com o fato de que todos os políticos são farinha do mesmo saco.

Este é o background para as várias histórias entrelaçadas de Olhos que não vêem, do peruano Francisco Lombardi (o diretor de "Pantaleão e as visitadoras": um filme sensível e interessante que, apesar de alguns chavões -- ou talvez até por causa deles -- funciona curiosamente como instantâneo não só do seu país, mas de toda a região. Nós já vimos este filme, metaforicamente falando, no Brasil, na Argentina, no Chile, no Uruguai; apesar da língua e da paisagem, estamos em casa com os militares, os corruptos, a violência e a pobreza. Somos todos íntimos do caos.

Durante a reviravolta da trama, um general perde o poder, um advogado corrupto perde a amizade dos juízes a quem subornava, dois velhos, vizinhos de leitos numa enfermaria, perdem e ganham discussões sobre a situação política, um apresentador de telejornal perde a cara imaculada e a alegria de viver, uma jovem perde a inocência, um casal de militantes perde, para começar, a estabilidade conjugal, e os para-militares que os atormentam perdem a pose e a liberdade.

A trajetória de todas essas personagens se cruza em algum momento, em diferentes graus de densidade dramática, tendo o hospital como centro nervoso. O roteiro é engenhoso e funciona muito bem; sua maior virtude é evitar maniqueísmos fáceis e dar dimensão humana mesmo aos vilões da história. Como todos os demais, eles também têm suas angústias, seus medos, suas fraquezas. Às vezes, quase simpatizamos com eles.

À margem do drama, mas por acaso do destino em pleno olho do furacão político, está o contínuo Gonzalo (Paul Vega), apaixonado por cinema e pela filha da dona da pensão -- que, naturalmente, o despreza por completo. Quando se concentra na história deste implausível e caricato personagem, o filme esbarra num acorde dissonante, que surpreende no primeiro momento mas depois não causa nada além do vago constrangimento que sentimos quando alguém repete uma piada sem graça.

Isso, porém, não chega a comprometer este ótimo filme. Afinal, a gente sabe: a essência da alma latina é assim mesmo, um torvelinho de paradoxos, depurada em doses igualmente exageradas de Gardel e Cantinflas.


(O Globo, Segundo Caderno, 28.9.04)


Festival do Rio 2004
Na cidade vazia

Vozes d'África


Assisti a este filme angolano sem ter idéia do que esperar. Ele não estava na minha lista, mas foi o único em que encontrei lugar a uma hora ainda razoavelmente decente.

É um pouco arrastado, podia ter uma direção mais esperta, mas é, indiscutivelmente, um filme que merece ser visto. Um grupo de crianças que ficaram órfãs com a guerra é trazido de Bié para Angola por uma freira; ao chegar ao aeroporto, o garoto N'dala escapa, e fica ao léu por Luanda -- enquanto a coitada da freira fica desesperada à sua procura.

A pobreza do país é chocante até para nós brasileiros, que temos know-how do assunto; mas há uma certa felicidade melancólica na música, uma ginga e uma manha que a gente conhece e que torna tudo muito doméstico. Não fosse o sotaque, muitas cenas poderiam ter sido gravadas no Rio ou em Salvador que a gente nunca ia perceber a diferença.

O ator mirim que faz N'dala é uma gracinha. Ele tem um jeito alegre e inocente que transmite, com rara eficiência, o ponto crucial do filme: a tragédia terrível da infância perdida.

Destaque para a trilha sonora, sensacional, e para o português de Angola, que é um espetáculo em si mesmo.

Dica: Na quinta-feira, às duas, última sessão de Um dia sem mexicanos. Vale a pena, é muito engraçado!


Adsense: o Fábio explica

O Fábio "The Man" Sampaio me mandou um email tão interessante sobre o funcionamento dos anunciozinhos, que pedi a ele licença para postar aqui.
Vc já deve saber disso mas, repetindo, o Adsense exibe os anuncios dependendo de onde o usuário final (visitante da pagina) está localizado, em um processo chamado IP "geotargeting". Até onde pude verificar, o Adsense se guia por palavras-chave encontradas na sua página, que são comparadas com as palavras-chave fornecidas pelos anunciantes.

O processo é "marromenos" ilustrado aqui e aqui.

Quando seu blog é "vasculhado" pelo Google ele deve armazenar em algum lugar as palavras-chave encontradas no(s) site(s) da sua conta, que serão utilizadas para fazer o "matching" dos anunciantes a serem exibidos.

As exceções ficam por conta dos bloqueios dos anunciantes e dos bloqueios pela sua conta no Adsense, o que reforça a provável utilização de um database que é atualizado periodicamente segundo os critérios do Google.

E esse database deve ser atualizado "cross-location" ou seja, o Google varre o database de anunciantes e verifica quais palavras-chave encontradas em seu site estão em consonância com qual localização informada pelos mesmos. Acredito que esse processo deva ser otimizado por reconhecimento de idioma através do algoritmo das "3 letras" encontrado em algumas subrotinas por aí.

Ou seja, o anunciante faz campanhas utilizando "geotargeting" e o Google busca no database a comparação entre as palavras-chave encontradas em seu site versus a localização do visitante, e mostra o anúncio mais adequado.

Caso o Google não encontre esse par localização-palavra-chave, então exibe aqueles anúncios horrorosos tipo "Qual o mais baixo ponto da Terra?".

A falha pode ser da falta de anunciantes para o local dos seus visitantes ou então a falta de palavras-chave em seu site para exibir anunciantes.

Interessante que o Google poderia exibir qualquer anúncio, mas prefere não fazê-lo. Também não sei o critério que o Google utiliza para alternar anunciantes.

Aqui está um link que mostra como os anunciantes podem fazer campanhas; aqui há outro link para explicar como o anunciante escolher boas palavras-chave.

Para poder ver os anúncios exibidos em cada localidade, utilize o Adsense Preview. Para saber onde vc está via IP targeting utilize este link.

Existem dezenas de sites pela web oferecendo produtos para como obter o máximo rendimento a partir do Google Adsense, ou seja, quais palavras-chave colocar em sua página (mesmo que escondidas) para atrair os anunciantes que mais pagam por cada CPR (cost-per-click).

Adorei a explicação, mas certas coisas ainda escapam à minha compreensão. Por exemplo, quando estava fazendo uma pesquisa sobre capivaras (ou capybaras, em inglês) achei um monte de Adwords de pousadas no Pantanal -- muito mais interessantes, convenhamos, do que mais um servidor barato na índia!

E, apesar de falar tanto na Família Gato, nunca vi nenhum anúncio de ração para gatos, cães ou periquitos adornando estas páginas.

Tudo bem, deixa estar.

Qualquer hora conto para vocês como foi que ganhei mais de US$ 500 jogando em caça-níqueis de cassinos online. Eu estava fazendo uma reportagem sobre jogo online; gastei US$ 25, e tive um belo lucro. Por outro lado, nunca mais consegui me livrar dos spams dos cassinos...

26.9.04



Ah...

Para quem ficou curioso com a fotinha dos celulares aí ao lado, ontem foi um dia especial: Mamãe finalmente entrou na era da comunicação tal como a curtimos, e é a feliz (hmmm... ainda não muito!) proprietária de um telefone celular!

Na fotinha, parte da "família" reunida...


Nossos comerciais II

Como vocês podem ver, reformulei o layout dos anunciozinhos do Google. Tentei de todas as formas pôr a barra na vertical aqui à direita mas não consegui; há uma tal confusão de scripts no meu template, a essa altura, que vou precisar da ajuda de um dos meus cavalheiros andantes do mundo web.

O máximo que consegui foi transferir a maquininha de poker virtual ali pro lado, pra barra de links & outros que tais, pra ver se dou mais sorte no casino da publicidade online.

Aliás, essas duas palavras, poker e casino, grafado assim, à inglesa, com um S só, são, de acordo com as estatísticas, as que produzem os anunciozinhos com melhor rendimento. Porisso elas entraram no texto: quero ver se isso é verdade.

Assim, quem sabe, em vez de ganhar US$ 0.03 por clic eu ganho US$ 0.05!

É claro que, a essa altura, o que mais deve haver no mundo (além de casinos online, para a disputa estar tão acirrada) é gente estudando a misteriosa arte de ganhar dinheiro com websites.

Eu não cheguei a me dedicar muito ao assunto, até porque o internETC. não chega a ser exatamente uma cash cow, mas tenho a impressão de que, para blogs pequenos com um público fiel, como este aqui, a melhor pedida talvez não sejam os Adsense, mas sim um patrocinador fixo -- desde que, naturalmente, se consiga encontrar um patrocinador fixo! (diz ela como quem diz, casualmente, que a melhor forma de ganhar dinheiro é topando com uma mina de ouro, casando com um milionário ou acertando na loteria: dã!)

Enfim. Mais tarde vou ver se tiro a barrinha aí do lado e passo para a direita; estou achando horrível o efeito visual, mas agora vou sair correndo para pedalar um pouco antes que o sol se ponha.

Beijos para todos!

Update: Acabo de ver no Toplinks que a AP descobriu o que todos nós já sabemos: blog não é uma ferramenta para ganhar dinheiro. Outro dã! bem sonoro...

24.9.04



Nossos comerciais

Anda fraquinha a coisa do Adsense aqui no blog: três meses de anúncio renderam míseros U$ 45. Por outro lado, a verdade é que os quadradinhos têm pouquíssimo a ver com o conteúdo; tenho que descobrir a causa do problema, já que, em quase todos os outros sites que acesso (inclusive minha página do Multiply) os anunciozinhos são de fato bem adequados ao contexto.

Já escrevi pro Google e, claro, eles não têm idéia do que possa ser. A minha impressão pessoal, considerando a quantidade de anúncios de servidores e soluções para webmasters (em inglês) é que, de alguma forma, estão confundindo o blog com o sistema de comentários -- que fica mesmo nos EUA.

Vou perguntar pro Fábio "The Man" Sampaio, que sabe dessas coisas melhor que ninguém.

A boa notícia é que o Google está ciente das dificuldades de recebimento que sites como o Alma Carioca e o Ueba têm enfrentado, e prometem solução: vão, provavelmente, fazer depósitos diretamente na conta corrente dos editores. Garantem eles que ninguém vai ficar sem o seu rico dinheirinho.

Já a Receita Federal, consultada pela Elis, que está fazendo matéria sobre o assunto, não tinha sequer noção do que estávamos perguntando...

*suspiro*


Orkut

Não entendo o desespero geral com o fato do Orkut estar fora do ar, mas, para todos os efeitos, continua valendo o velho golpe: é só ir até lá via Orcut, com C.

De nada.




Um especial do internETC. -- a abertura do Festival do Rio 2004 em montagem das fotinhas de telefone! Os originais estão no Moblog, aí ao lado: basta clicar na fotinha da Pipoca para chegar lá...


Orelha para o livro "Blog: comunicação e escrita íntima na internet", de Denise Schittine:

O que é um blog?

Começo a chegar à conclusão de que esta pergunta, na sua aparente simplicidade, é a ciber-esfinge dos novos tempos. Aquilo que, para a maioria das pessoas, é -- como obedientemente aprenderam em jornais e revistas -- ?um diário de adolescente na web?, é, na verdade, algo tão variado e complexo quanto a própria rede.

Ou, arrisco dizer, quanto a própria alma humana.

Blogs variam conforme o autor, o dia, o momento. Gente de todas as idades mantém blogs ? inclusive a adolescente de 50 anos que assina esta orelha. Sua extraordinária facilidade de uso, responsável pelo sucesso inicial entre os internautas, conquista, a cada dia, novos adeptos, das previsíveis empresas de comunicação a grandes manda-chuvas do mundo corporativo e até, quem diria, políticos em campanha -- embora ainda esteja para aparecer político que mantenha blog depois de eleito.

Ciente da amplitude do universo que se abria diante dela, Denise Schittine sabiamente optou por examinar apenas uma de suas galáxias, a do blog pessoal ? aquele que é mantido por puro gosto por pessoas tão diferentes quanto a sofisticada Marina W., digamos, referência em elegância no mundo blog BR, ou o pragmático Edney de Souza, sem cujos conselhos a vida on-line de todos nós teria sido tão mais difícil.

Duas perguntas básicas orientaram o seu trabalho: o que leva as pessoas a escreverem blogs, e o que as leva a lerem blogs. Como tudo o que diz respeito a blogs, esta também é uma tarefa simples apenas na aparência, já que há tantas respostas para elas quantos blogs e leitores.

Para mim, foi uma aventura interessantíssima acompanhar uma autora tão bem preparada pelo emaranhado de caminhos cruzados e pistas falsas do vasto mundo dos blogs, um terreno tão escorregadio que já fez muita gente boa perder o rumo e desistir da empreitada. Achei particularmente notável a naturalidade com que Denise aceita a falta de respostas definitivas; afinal, assim é a vida, assim é a Internet e, claro, assim também são os blogs ? mas nem todo mundo se convence disso.


Cora Rónai
Rio, julho de 2004

23.9.04





É hoje!

Aliás, agora: o lançamento de "Blog: comunicação e escrita íntima na internet", da querida Denise Schittine! Lá na Travessa: Rua Visconde de Pirajá 572, em Ipanema. O telefone é 3205-9002.

A orelha foi feita por mim; quando voltar para casa vou postar o que escrevi sobre o livro, que achei muito bom.



Ah, sim:

Vejam que bonitinhos os franguinhos d'água! São bem pequenininhos e muito jovens, por isso tão coloridos. Quando mais velhos ficam maiores e pretinhos, com umas faixas brancas.




A vida secreta do Bonequinho


Há mais coisas na vida do Bonequinho do GLOBO do que aplaudir de pé, aplaudir sentado, olhar, dormir ou sair do cinema. O Bonequinho se emociona, o Bonequinho torce, o Bonequinho passa por dúvidas torturantes, o Bonequinho fica indignado, o Bonequinho dá pulos de contentamento na poltrona, o Bonequinho sai da sala -- no fim do filme! -- andando nas nuvens, o Bonequinho arranca os cabelos de nervoso, o Bonequinho tem engulhos e, às vezes, sincera vontade de se atirar pela janela. Sobretudo, o Bonequinho rala muito, ainda que, para a maioria dos mortais, ir ao cinema e dar palpite sobre o filme dificilmente se enquadre na categoria de ralação.

No último fim de semana, por exemplo, enquanto seus amigos aproveitavam as tardes lindas da primavera carioca e depois iam jantar feito gente civilizada, o Bonequinho estava trancado no escurinho do Odeon, junto com um monte de tipos estranhos, assistindo a meia dúzia de filmes diferentes, de um bom documentário sobre a al Jazeera a um pornô que se acha filme-cabeça. Na segunda, coitado, em vez de aproveitar o conforto da cama e dormir até mais tarde, teve que acordar cedinho para estar lá novamente, às dez em ponto, para assistir a "Santa menina". É mole?!

A sorte do Bonequinho é que ele não só consegue estar em vários lugares ao mesmo tempo como, ainda por cima, consegue permanecer num mesmo lugar tendo várias opiniões simultâneas. É por isso que as suas críticas saem assinadas por tantos pseudônimos. Às vezes, ele até assina Cora Rónai, mas como este é um nome geralmente indisponível antes das 14h, a participação desta cronista como alter ego do personagem mais simpático do jornal tem sido muito esporádica. Fico triste e vivo tentando (em vão) mudar de vida, porque adoro ser Bonequinho.

Acontece que ser Bonequinho é escrever sobre cinema de uma perspectiva única, totalmente carioca. Enquanto os demais jornais do mundo têm que se virar com cotações em estrelas, bolas e asteriscos, todos igualmente impessoais, o Bonequinho não só resume a nossa opinião como acaba se tornando personagem da crítica. Não raro nos sentimos obrigados a explicar suas atitudes para os leitores, como aconteceu com o Eros Ramos de Almeida ainda semana passada: "O Bonequinho está saindo do cinema só porque foi obrigado a entrar", esclareceu. Pudera: o filme era "Anaconda 2, a caçada pela orquídea sangrenta" (!).

Ser Bonequinho é ver metade dos filmes antes de todo mundo e metade quando sai em DVD; é passar meses sem ir a um cinema de verdade; e é, volta e meia, viver situações bizarras como, digamos, encontrar o padre Marcelo Rossi cercado por suas ovelhas, em plena manhã de sábado, entoando hinos antes da exibição especial de "Maria, mãe do filho de Deus". Ser Bonequinho é, também, zoar muito o infortunado colega que cai numa dessas.

Ao contrário do que é permitido ao público (e do que mostra a sua imagem), o Bonequinho jamais sai da sala antes que o filme acabe. Por pior que seja o que está na tela, lá fica o pobre coitado, pacientemente esperando os créditos finais. No domingo mesmo, enfurnada no Odeon como seu alter ego , assisti, do começo ao fim, a um dos piores filmes dos últimos tempos, "Um vazio no meu coração" ? o tal pornô metido a filme-cabeça. Lá se foram 98 preciosos minutos da minha vida, imolados em nome do cinema.

Assistir a essas multissessões no Odeon, porém, que já se transformaram em festas para iniciados, só acontece em festival. Normalmente, o Bonequinho vê um filme por vez, nas cabines das distribuidoras -- salinhas confortáveis mas sem luxos, com uns 20 lugares, tipicamente escondidas em edifícios do Centro. Houve tempo em que apenas os jornais eram levados a sério, e o Bonequinho podia se dar ao luxo de marcar dia e hora da sessão; era chique demais mas era, também, uma experiência muito solitária. Hoje o Bonequinho divide sessões previamente marcadas com pelo menos uma dúzia de colegas, e curte mimos das distribuidoras, que põem refrigerantes e salgadinhos à sua disposição. Na sessão especial do ?Náufrago?, por exemplo, houve farta distribuição de água-de-coco com coco e tudo: achei tão simpático e engraçado que nunca me esqueci disso. Já do filme...

Muitas vezes, sobretudo no circuito Estação, as cabines (como, por tabela, são chamadas as sessões prévias para a imprensa) são realizadas nas próprias salas de exibição. Mas como elas têm que estar disponíveis para o público na parte da tarde, o Bonequinho é obrigado a acordar cedo e ir para o cinema às dez da manhã. Todo mundo tem sua cruz para carregar, e esta é a do Bonequinho. Nem todos os seus dez alter egos são tão radicalmente noturnos quanto eu, porém todos concordam neste ponto: ir ao cinema antes do almoço é prejudicial à saúde. O Bonequinho está careca de saber disso mas, resignado, acerta o despertador e prepara-se para uma nova missão. Ah, o que ele não faz pela arte!


(O Globo, Segundo Caderno, 23.9.04)


Orkut

Tá, eu sei que não estou perdendo grandes coisas, mas que é um saco ficar na jaula do Orkut, lá isso é. O pior é que já tentei mandar o tal email que solta a gente, já mandei um email de verdade para a administração, e nada.

*suspiro*


Philip Roth

Para os anglo-parlantes que gostam de Philip Roth: há um ótimo perfil no Guardian.

22.9.04








Dia de vento

Hoje, quando sai pra dar uma volta de bicicleta, tentei encontrar as tartarugas do Piraquê. Dei um bom tempo por lá, mas nada.

Em compensação vi três frangos d'água bem pequenininhos, mais coloridos do que os maiores; vi um casal de bem-te-vis botando um gavião pra correr; e vi um socó solitário bem bonitinho.

Estava ventando, e as garças ficaram todas despenteadas.

21.9.04



Zire 72: o irmão turbinado do Zire 71


Uma das melhores máquinas do ano passado foi, disparado, o Palm Zire 71: bom, bonito e (relativamente) barato, um daqueles aparelhos que a gente usa, usa e não se arrepende jamais de ter comprado. Foi um grande acerto da Palm mas, como todos os acertos da área, criou um grande problema. Afinal, como fazer usuários perfeitamente satisfeitos trocarem de equipamento?

O Zire 72 -- que chegou ao mercado brasileiro há uns dois meses, com preço inicial semelhante ao que tinha o Zire 71 quando foi lançado -- tem, pois, a delicada missão de desbancar o irmão mais novo. Para isso vem com alguns atrativos interessantes: gravador de voz, câmera com maior resolução (1.2 Mp) e capacidade de gravar vídeos, processador mais rápido, 32Mb de RAM e -- importante! -- um Bluetooth bem configurado que permite conexão descomplicada à internet através de alguns modelos de celulares (entre eles o fiel Nokia 7650 de que falei na semana passada). Nos EUA, a PalmOne já lançou um cartão Wi-Fi que possibilita ao Zire 72 conectar-se sozinho em ambientes sem fio. O preço da pequena maravilha? US$ 130, lá.

Do meu ponto de vista, outra vantagem é a ausência da base para sincronização, que sempre considerei uma trapizonga desnecessária: o Zire 72 conecta-se ao computador através de um simples cabo USB, e estamos conversados. Isso facilita muito a vida de quem viaja com o Palm, mas sei que há gente que prefere espetar a maquininha no slot do berço e vê-la recarregando baterias e sincronizando-se de pé, em cima da mesa.

O som é parecido com o do 71: suficiente para ouvir num ambiente silencioso, como um quarto de hotel, lembrando um antigo radinho de pilha. Com fones, porém, a coisa muda de figura e o som fica ótimo, o que o transforma num bom player de MP3 -- desde que se tenha cartão de memória SD suficientemente grande para armazenar músicas. O Zire 72, que custa cerca de R$ 1.500, não vem nem com cartão nem com fones.

O look é elegante, mas já ouvi reclamações de que a linda pintura azul emborrachada descasca com facilidade; em compensação, o botão de liga/desliga fica no topo do Palm, o que evita que ele ligue sozinho na bolsa, como às vezes acontece com o 71. O reset pode ser feito com a própria canetinha, o que significa adeus aos clips de papel entortados. No geral, o Zire 72 é uma máquina simpática e bem acabada, com uma excelente relação custo-benefício; mas, com exceção do Bluetooth, que de fato faz muita falta ao 71, não consegue superar o irmão mais novo como, digamos, "conjunto de obra".

O Zire 71 continua tendo a melhor tela que já vi num PDA, inclusive em modelos mais caros da própria PalmOne e da Sony; e a sua câmera, ainda que tenha menor resolução, é muito mais generosa do que a do 72, que em más condições de luz é praticamente cega. Além disso, o sistema de slide do 71 não só protege a lente, como oferece uma "pega" melhor para se fotografar. Em boas condições de luz, no entanto, a qualidade das imagens do 72 é melhor, embora não se compare, naturalmente, com o resultado de câmeras digitais "de verdade".

Em suma: se você tem um Zire 71 e não precisa de Bluetooth, continue com ele. Se você não tem PDA, ou acha que está na hora de fazer upgrade, o Zire 72 é uma excelente opção; mas não se esqueça de dar uma olhada no 71, que ainda se encontra -- e em liquidação! -- em algumas lojas.

(O Globo, Info etc., 20.9.04)


Esta imagem, por exemplo, foi enviada pelo Hello! É um pouco menor do que as que eu envio pelo Blogspot: tem 320 pixels em vez dos 350 habituais -- mas, por outro lado, eu não preciso me preocupar em reduzi-la. O Hello! faz isso sozinho, como também põe sozinho a moldura, do tamanho e da cor que a gente quiser.
 Posted by Hello

Em tempo: da esquerda para a direita, Miriam Leitão, Zuenir Ventura, Ancelmo Góis, Evandro Teixeira, eu e o Xexéo, na festa do Prêmio Comunique-se.

Acabei de receber a foto, enviada pelo Evandro, e adorei. Uma ótima lembrança da festa, com tanta gente querida!

Quanto ao Hello!: é excelente para quem não tem muita idéia de como reduzir e subir fotos para um blog, mas está longe do ideal para quem já é macaco velho na área.


Uma ótima pedida!

Um dos meus programas favoritos para arrumar e, sobretudo, encontrar fotos é o Picasa. É feia a coisa aqui na máquina, onde devo ter, fácil, uns 100Gb de imagens; dá pra sentir o tamanho do drama, né?

O Picasa é, no fundo, uma cópia do iPhoto do Mac. Ele recolhe as fotos do dispositivo -- máquina, cartão, CD -- numa pasta separada; tanto pasta quanto fotos ficam com o nome que você der.

Gosto tanto do Picasa que, no passado, paguei a licença de uso, apesar de também usar dois ótimos freewares, o XnView e o IrfanView.

Pois o Picasa acaba de ser comprado pelo Google, e agora é grátis. Recomendo demais este programa: aproveitem a chance!

* * *

O que é que o Google tem a ver com a Picasa?

Tudo, é claro.

Primeiro, porque o Picasa tem um indexador, e uma máquina de busca de fotos, inclusive por palavra-chave; depois, porque o Picasa desenvolveu o Hello!, um programinha de IM e transferência de imagens que combinou muito bem com o Blogger -- que, como todo mundo sabe, já é do Google.

Em suma: é ferramenta de publicação na web? O Google quer. E pelo menos uma coisa a gente tem que reconhecer: eles sabem fazer compras...


20.9.04








Jantar

Esta é uma das freguesas dos pescadores aqui do Cantagalo, ligeiramente entalada com o jantar: este inchaço no pescoço não é inchaço, mas o pobre de um peixe, cujos últimos movimentos a gente ainda podia ver no gogó da garça.

Eu deveria ficar com pena do peixe -- na verdade, tenho a maior dó dos peixes que ficam pulando no chão, morrendo de falta de ar -- mas, no caso, acho tão fascinante a forma como as garças se alimentam, que acabo hipnotizada pelo processo, tão veloz que mal consigo fotografar.

Hoje dei sorte, já que a companheira pernalta foi um pouco mais esganada do que de hábito.

Vi os quero-queros, mas não consegui fotografá-los; estava muito escuro. E assim, depois de acompanhar o jantar da garça, saí correndo para ver se ainda pegava a capivasca lá do outro lado. No meio do caminho, meu estilo inconfundível na bicicleta me denunciou, e fui reconhecida pelo Fernando, um dos leitores do blog, que estava andando com o filhinho; ele me deu o mapa da mina das tartarugas do Piraquê, minha próxima meta fotográfica.

Valeu, Fernando! Muito obrigada!

Ah, sim: consegui encontrar a capivara, que estava pastando encoberta pelo mato. Fiz meia dúzia de fotos às cegas, com o flash, e depois fiquei conversando com o vendedor de coco enquanto admirávamos aquela sombra roliça, ao longe.


Sexcut.com

Não gosto do Cocadaboa. Já gostei menos, quando o autor ficava no anonimato, porque aí juntavam-se à falta de afinidade as restrições que faço a anônimos covardes; agora, que o site tem nome, endereço e telefone conhecidos, não é mais questão ideológica, é só questão de gosto pessoal.

Apesar disso, tenho que reconhecer que essa eles mandaram muito bem: o Sexkut foi um dos melhores trotes que vi na rede. Uma idéia engraçada, na qual era praticamente impossível não cair.

Afinal, se até um Catster já existe...




Levando um papo sobre o scanner com Tutu

19.9.04



Relendo Jorge de Sena

Cada vez que leio Jorge de Sena descubro uma coisa nova, ou uma coisa antiga que me impressiona de maneira nova.


Genesis

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça... -- Ai quantos que eram novos
em vâo a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade... Ó transfusâo dos povos!

Não há verdade: o mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

(1946)



Fidelidade

Diz-me devagar coisa nenhuma, assim
como a só presença com que me perdoas
esta fidelidade ao meu destino.
Quanto assim não digas é por mim
que o dizes. E os destinos vivem-se
como outra vida. Ou como outra solidão.
E quem lá entra? E quem lá pode estar
mais que o momento de estar só consigo?

Diz-me assim devagar coisa nenhuma:
o que à morte se diria, se ela ouvisse,
ou se diria aos mortos, se voltassem.

(1958)


Eu, hein

O Orkut me mandou pra cadeia. O mais esquisito é que eu não fiz nada; na verdade, não tenho feito nada de nada por lá.

Vá entender...




Um vizinho da pesada

Aí está um dos frangos d'água que venho tentando fotografar há tanto tempo! A foto é do João Quental, vizinho de bairro e de Multiply, que juntou a melhor coleção de fotos de bichos da Lagoa que já vi: tem até tartaruga.

Dêem uma olhadinha, e vejam se não é mesmo uma maravilha.

Aliás: existe em alguma outra língua palavra de tão amplo espectro quanto o nosso bicho, em português?

Bicho vale para formigas e elefantes, para peixes e pássaros, para cobras e lagartos e, ça va sans dire, para gatos e capivaras.

É uma das minhas palavras favoritas.

Bom domingo, pessoal!

18.9.04



Vivendo & aprendendo

Pela primeira vez na vida, estou às voltas com um processo. Tudo me parece esquisito no mundo legal, da linguagem e do cerimonial ao próprio Fórum, aquela micro-cidade com seus corredores imensos, seus cantinhos de tirar cópia, seus terminais de consulta, seus ambulantes que passam pelos corredores vendendo café e chocolate como, na praia, se vendem mate e refrigerantes.

Acho que nunca conseguiria ser advogada. É complicado demais, há leis demais, protocolos e formalidades demais, papelada demais.

Além disso, fico me perguntando como se pode viver defendendo o indefensável, ou movendo processos que vão contra todas as leis do bom senso -- que nem sempre combinam, necessariamente, com as do código penal.

Por exemplo, como é que alguém pode defender um Fernandinho Beira-Mar, uma Georgina do INSS, um juiz Nicolau? Sei que todo ser humano deve ter direito à defesa, e que é bom que assim seja, mas de um ponto de vista puramente emocional, como se pode defender criaturas assim?!

É muito esquisito isso para mim, muito mesmo.

17.9.04



Querem ficar malucos?

Então cliquem aqui: o sentido dos movimentos do cursor do mouse foi invertido.

Vocês têm que sair de onde estão e seguir a trilha branca até o goal (é, assim, em inglês -- bem chique).

Achei no Toplinks. É a coisa mais irritante que já vi.

Arghhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!

16.9.04



Linda, linda, linda!

Janjão me mandou um link maravilhoso: uma foto de satélite do Rio.

É um escândalo de bonita e perfeita; por pouco não vi a capivara aí na Lagoa...



Um avião fantasma brasileiro
no Adriático


-- Tudo começou no verão de 1996 -- disse Riccardo Bottazzo. -- Um dia, um pescador veio nos contar que, numa praia de pedras não muito longe daqui, a sua rede andava se prendendo em alguma coisa que arrastava por uns bons 20 metros antes de se soltar. Fomos até lá com ele, e passamos o verão inteiro procurando a tal coisa, que imaginávamos ser um avião. Afinal, se fosse um navio, a rede não conseguiria arrastá-lo. Mais especificamente, achávamos que era um avião de reconhecimento americano que, durante a Segunda Guerra, costumava inspecionar e fotografar a Laguna e o porto de Marghera para transmitir informações aos bombardeiros. Este avião acabou se tornando tão conhecido e familiar que os venezianos o chamavam de "Pippo".

Riccardo, duplamente colega como jornalista e mergulhador, é assessor de imprensa da região do Veneto e conselheiro da diretoria do Club Subacqueo San Marco. Nós estávamos conversando na sede do clube, que divide os antigos armazéns de sal do Zattere com duas outras sociedades esportivas, a Canottieri Bucintoro e a Compagnia della Vela.

* * *

Os armazéns, que formam um lindo conjunto de edifícios, foram construídos no Século XV, quando o comércio do sal era um importantíssimo esteio da então poderosa economia veneziana. Foram reformados em princípios do Século XIX mas, apesar de terem perdido a função original há tempos, continuam sendo conhecidos como Magazzini del Sale . Dizem que a Fundação Peggy Guggenheim, que fica ali perto, anda de olho neles, para transformá-los em área de exposição; as associações esportivas, compreensivelmente, detestam a idéia.

Mesmo numa cidade de canais como Veneza, é difícil encontrar melhor localização para clubes de esportes aquáticos. Os armazéns são amplos e o Zattere, espaçoso e tranqüilo, fica ao longo do Canale della Giudecca, que é, mal comparando, a Avenida Brasil da cidade. Por este largo e profundo canal passam embarcações de todos os tipos, de barquinhos singelos a transatlânticos de luxo, maiores e mais altos do que qualquer construção que se veja às suas margens; passam canoas de remo, veleiros e ferries que transportam motos, carros de passeio, betoneiras e os caminhões que abastecem o comércio; passam vaporettos, motoscafos, gôndolas e os demais membros da exótica família de embarcações venezianas. Quando anoitece e ninguém está prestando atenção, passam até lanchas de playboys, envenenadas, botando pega.

* * *

-- Aqui, o fundo do mar é literalmente coalhado de antiguidades -- observou Riccardo, que entre suas muitas atividades é também editor da simpática revista "El Mar", publicada pelas três vizinhas dos armazéns do sal. -- Para mergulhar na Laguna precisamos, antes de mais nada, ter um plano de ação bem definido, e apresentá-lo à superintendência de bens históricos submersos. Se ele for aprovado, inspetores e técnicos do patrimônio nos acompanham durante os mergulhos.

O suposto avião encontrado pelo pescador, no entanto, estava no Adriático, menos complicado de explorar.

-- Procuramos muito. O verão terminou, a temperatura começou a ficar fria demais para mergulharmos e estavamos quase desistindo quando encontramos o avião. Mas não era o Pippo! Era um caça P47. A estrutura estava carcomida demais para que se pudessem ler as suas marcas, mas não era um avião americano, já que os registros dos EUA não acusam nenhum P47 abatido na zona, nem inglês, já que os ingleses não voaram por aqui durante a guerra. Passamos o inverno inteiro tentando descobrir o mistério. Telefonamos para todos os ex-combatentes ainda vivos, até que, finalmente, um ex-oficial esclareceu a questão. O avião era brasileiro! Uma esquadrilha brasileira juntou-se aos americanos em 1944, realizando diversas missões na região.

Segundo o velho aviador consultado pelo pessoal do Subacqueo San Marco, sete caças brasileiros, que bombardearam a estação ferroviária de Treviso e outros alvos estratégicos, teriam sido abatidos na área. Mas ou a memória do ex-combatente italiano está falhando, ou a lenda ampliou-se com o passar das décadas: em várias páginas da internet sobre a atuação da FAB na Segunda Guerra, encontrei referência a apenas dois P47 derrubados no mar. Qualquer que seja a conta, porém, um foi encontrado... para desaparecer em seguida.

-- Há diversos grupos de mergulhadores piratas na Europa que vivem de revender o que encontram no fundo do mar, -- explicou Riccardo. -- Não sabemos o que aconteceu com as bombas que o P47 carregava, mas um desses grupos achou o avião e roubou o motor para vender como ferro velho. Com isso, a carcaça ficou leve demais, à mercê das correntezas e das redes dos pescadores, que freqüentemente a arrastam por muitos metros antes de se soltarem ou se romperem. Nós mesmos, do Subacqueo San Marco, não o avistamos mais desde que o encontramos, nem sabemos onde, exatamente, se encontra neste momento. Veja só: um verdadeiro avião fantasma, singrando as águas do Adriático...


(O Globo, Segundo Caderno, 16.9.04)

14.9.04






Sampa

Estou viajando com Mamãe pra São Paulo, para a festa do Prêmio Comunique-se. Ainda estou meio ruinzinha da gripe, mas acho que estou quase no final dos tais sete dias protocolares das viroses.

A Família Gato está extremamente contrariada com a visão da mala, ainda por cima porque a Bia já saiu hoje cedo para Fernando de Noronha onde, coitada!, tem que fazer uma reportagem. Este povo que trabalha em televisão sofre, vou te contar...

Beijinhos para todos!

13.9.04






Moderno ou eterno?

A Nokia, que detém 30% do mercado mundial de telefones celulares, anda pensando na vida: 30% é muito, mas é menos do que os 35% que já teve ? ainda que, em números absolutos, ela não possa se queixar da vida. Afinal, o mercado mundial de celulares deve chegar aos 600 milhões de aparelhos este ano.

A concorrência está acirrada e a Nokia perdeu algo da fama de criadora de produtos irresistíveis desde que a onda fashion dominou o mercado, com celulares pequenininhos, bonitinhos e descartáveis, feitos para durar apenas os seis meses da temporada. O mais irônico é que foi ela quem deu partida a esta onda, ao apresentar uma linha de telefones num desfile do Kenzo, em Paris, há alguns anos.

A Nokia, campeã dos modelos retinhos, se ressente também da falta de flips, atuais xodós do mercado; mas é claro que, no seu website, já há meia dúzia deles prometidos para o fim do ano. Esses flips devem fazer sua estréia comercial junto com três celulares ultra fashion, apresentados na quinta passada em Shangai.

Os três, que misturam toques art decô a elementos orientais, são tão lindos, mas tão lindos, que nem se parecem com telefones. Eu olho para o meu velho 7650, que nem está mais no mercado, e me pergunto se é melhor ser moderno ou ser eterno ? a eternidade, aqui, reduzida às devidas proporções do mundo eletrônico.

O 7650 é pesado (154 gramas), grande (114mm x 56mm x 26mm), antiquíssimo (foi lançado há mais de dois anos), não tem rádio, não toca MP3, não dança tango nem chega a ser um campeão de beleza, mas é o melhor telefone multimídia que eu conheço. Tem uma interface maravilhosa e inteiramente personalizável, uma das melhores câmeras integradas (vejam a definição das fotinhas no moblog!), bastante memória (quase 4Mb), GPRS, um joystick ótimo e, fundamental, bluetooth e infravermelho, para que a gente possa sincronizá-lo com o computador, o Palm ou um outro aparelho semelhante.

O 7650 foi o primeiro celular com câmera integrada da Nokia. Na época, imaginava-se que um telefone não era bem um objeto para se trocar como se troca de camisa; conseqüentemente, a lente da câmera, que é de plástico como praticamente todas as lentes de fonecams, ficava bem protegida pelo slide. A minha está, até hoje, completamente livre de arranhões.

Um dia vou ter que aposentar este fiel amigo; mas está difícil encontrar substituto à altura. Uns têm ótimas câmeras, mas interfaces complicadas; outros têm boas interfaces, mas não têm nem infravermelho nem bluetooth; outros, ainda, só têm uma carinha bonita e nada mais.

Quando fui recarregar o chip italiano em Veneza, o rapaz da loja quase chorou: ?Ah, a senhora ainda tem um 7650! Era o meu telefonino... Foi roubado, hoje tenho um muito mais moderno, mas sinto tanta saudade dele!? Eu disse que entendia perfeitamente e é verdade, como entendo. Pobre ragazzo.

* * *

Atenção, fotógrafos digitais: encerram-se hoje as inscrições para o concurso regional da Sony! Detalhes em www.sony.com.br/concurso. Corram lá, é uma boa!

Enquanto isso, a De Plá e a Oi iniciam, essa semana, uma parceria para a impressão de fotos de celular. Usuários da Oi poderão enviar as fotos direto de seus celulares para a De Plá e retirá-las na loja mais próxima. As primeiras cinco cópias são gratuitas; as demais custarão R$ 1,50. Para usuários das demais operadoras o custo será de R$ 1,99 por foto. Vale lembrar que a De Plá cobra apenas R$ 0,99 quando se levam mais de 20 fotos num CD... Dica: usem sempre a mais alta resolução possível.

(O Globo, Info etc., 13.9.04)

11.9.04









Na quinta passada, ao anoitecer, muito fora de esquadro por causa de uma gripe chata que não me deixa em paz há dias, fui dar um plantão de capivara.

Não dei sorte; mas em compensação me encontrei com esta garça, que mora ao lado dos pedalinhos e é uma das aves mais mansinhas da Lagoa.

Só para dar uma idéia: as fotos não foram feitas com zoom, até porque já estava escuro e precisei usar o flash.






Há tempos venho tentando fazer uma boa foto dos frangos d'água. Que eu saiba, não são muitos na Lagoa. Há alguns ali perto do Flamengo, outros na área da capivara do Vasco e um casal vizinho dos quero-queros do Cantagalo.

E, por falar nos quero-queros: eles estão chocando! Em breve, se tudo correr bem, teremos filhotinhos na área. Eles são tão simpáticos.

Bom fim de semana para todos!

10.9.04



Pipoca de avião

O Terminal

Viktor Navorski, cidadão de um país fictício da Europa Central, está em pleno vôo quando uma revolução depõe o governo da sua terra natal. Para efeitos diplomáticos, Krakhozia deixa de existir. Nós ficamos sabendo disso quando o encontramos pela primeira vez, na fila da imigração, inocente da situação kafkiana em que o destino o mergulhou. Dono de um passaporte e de um visto que não valem mais, cidadão de um país em suspenso, ele não pode entrar nos Estados Unidos, não pode ser deportado e nem tem por quê ser preso.

Diante da insólita situação, o chefe de segurança Dixon (Stanley Tucci) o deixa na área de desembarque, espécie de terra de ninguém dominada por lojas tão convenientes para o enredo do filme quanto para o merchandising da produção. Dixon imagina que logo a situação estará resolvida; mas o tempo passa e Navorski fica, mais ou menos como o iraniano que, desde 1988, vive no aeroporto Charles De Gaulle, em Paris.

Aos poucos ele aprende inglês, encontra expedientes para sobreviver e se enturma com os trabalhadores do aeroporto, uma tribo para Benetton nenhuma botar defeito: faxineiro indiano, copeiro hispânico, inspetora afro-descendente... enfim, uma verdadeira ode ao politicamente correto, tão ao gosto do diretor.

A vida no terminal nem seria tão ruim se Dixon não começasse a se sentir incomodado com o nosso simpático náufrago da globalização e não tentasse se livrar dele de todas as maneiras. Mas Viktor Navorski é Tom Hanks, e logo o aeroporto em peso está a seu favor, ajudando-o a driblar o perverso burocrata e, nas horas vagas, a conquistar uma aeromoça.

Com os mesmos elementos -- um inocente preso nas engrenagens do estado, revoluções, a vida nos aeroportos depois de 11 de setembro -- se poderia fazer um grande drama ou, pelo menos, um bom filme cabeça. Spielberg, porém, optou por uma comédia leve, um filme simpático que diverte sem dar ao espectador a difícil tarefa de refletir sobre o mundo contemporâneo.

Procurar significados ou simbologias neste "Terminal" é tão inútil quanto procurar, na vida real, uma aeromoça igual a Catherine Zeta-Jones, que faz a amada de Navorski.

Esqueçam a lógica, embarquem na história e... boa viagem!


(O Globo, Rio Show, 10.9.04)


Blog!

Uma excelente dica do Pedro Dória.

8.9.04

A Mater Dolorosa de Beslan



A Mater Dolorosa de Beslan

Considerações sobre a dor, a beleza e
uma fotografia que personificou a tragédia


A mulher é jovem e bonita, muito bonita. Vestida com apuro, sobrancelhas feitas, cabelos presos num rabo-de-cavalo do qual poucos fios se soltaram, está sentada no chão, de joelhos dobrados, braço esquerdo dobrado também, entre o tronco e a perna que a longa saia preta encobre. A mão, enfeitada com dois anéis de prata, singelos como alianças, toca o próprio pescoço; o braço direito estende-se na direção do olhar. Há tal beleza e elegância na postura que a gente poderia até pensar numa pose estudada -- não fosse pela mão direita, que acaricia a cabeça de uma criança morta.

De todas as terríveis imagens de Beslan, nenhuma me tocou mais do que esta mãe quase serena, mergulhada na intimidade da sua dor, sem uma lágrima sulcando o rosto ou um traço da sujeira e do caos à sua volta refletindo-se na roupa ou na compostura. Passei dias assombrada com a foto de Sergei Karpukhin, da Reuters, que foi publicada em jornais e revistas do mundo inteiro e que, obviamente, fisgou um nervo exposto do nosso inconsciente coletivo.

* * *

Num planeta ao qual não faltam desgraças, a repetição torna tudo mais ou menos banal, da tragédia infindável da África às cenas de horror no Oriente Médio, da devastação das guerras longínquas à nossa própria violência doméstica, que vai da pobreza indescritível da periferia aos assassinatos gratuitos da esquina.

De certa forma, já nos acostumamos com as fotos de legiões de famintos, com as procissões de desassistidos que deixam suas terras com os poucos haveres, com as eternas velhinhas de lenço na cabeça erguendo as mãos para os céus diante de casas demolidas ou filhos mortos, com homens carregando crianças feridas, com meninos armados até os dentes; já conseguimos ver fotos de mulheres e crianças com pernas arrancadas por minas terrestres sem ter pesadelos durante semanas, já até tomamos café da manhã depois de conferir as últimas baixas dos tiroteios no Rio de Janeiro. Somos, felizmente, animais altamente adaptáveis, ou tanto e tamanho horror simplesmente nos paralisaria.

Ainda assim, a associação da beleza com a tragédia é sempre desconcertante. A segunda fatalmente deveria excluir a primeira, pelo menos no imaginário de uma sociedade em que o belo é um valor em si mesmo, acima de qualquer outro mérito ou juízo.

Afinal aí está, no cinema, na televisão, na propaganda: todo mundo sabe que ser bonito é ser feliz, e vice-versa. Às vezes nos lembramos de Marilyn Monroe, mas apenas como um conto moral, uma espécie de consolo por nossas eventuais imperfeições; e mudamos logo de assunto, antes de precisar pensar.

A pungência da imagem da mãe de Beslan, porém, em que a beleza se traduz em dor, dá um curto-circuito no nosso conformismo visual. Ela nos lembra algo que nunca esquecemos, mas que preferimos não recordar: a miséria não é nem feia nem bonita, apenas humana. E não há nada -- situação geográfica, dinheiro ou mesmo beleza, este atributo dos deuses -- que possa nos livrar dela.

Acontece que, quando uma imagem de fato vale por mil palavras, é muito difícil -- quando não impossível -- tentar explicar seu valor.

Olho para a foto extraordinária e o mistério é maior do que qualquer racionalização que eu possa fazer. Através da dor muda, do gesto contido e da infinita delicadeza da jovem mãe russa, falam ao meu coração vários séculos de arte ocidental, representados nos grandes quadros que, mesmo sem saber, registrei na memória: aqueles em que a Virgem, linda, introspectiva e elegante como a Pietá de Beslan, tem no colo o filho morto. Em suma, a expressão máxima da dor em todo o esplendor da beleza.

* * *

Pensar sobre esta fotografia emblemática foi a forma que encontrei de pensar e não pensar sobre o que aconteceu na Rússia. Para mim, nada justifica semelhante grau de violência, nem o desejo de independência dos chechenos, nem a intransigência com os seqüestradores por parte do governo russo. Há um ponto além do qual não há explicação possível, um ponto além do qual não há mais qualquer humanidade.

Ao mesmo tempo, não consigo acreditar numa única palavra do que diz o Kremlin. Vladimir Putin é a perfeita encarnação de um sistema paranóico e patologicamente mentiroso, incapaz de dizer a verdade ainda que ela lhe seja favorável. Como no caso do escorpião da anedota, é uma questão de caráter.

Não acredito que os seqüestradores da escola fossem separatistas chechenos, não acredito que fossem da al Qaeda, não acredito que o prisioneiro que vem sendo exibido na televisão seja quem dizem que é, nem que os fatos aconteceram como se diz.

Não acredito em nada, rigorosamente nada. E nem no seu avesso.

* * *

Enquanto isso, no nosso amável paraíso tropical, onde tudo vai bem e a classe política está, como sabemos, num patamar de elevada civilização e inquestionável civismo, o presidente do TSE apóia a lei que garante a acusados de crimes o direito de se candidatar. Ele está, em tese, defendendo a Constituição. É um belo gesto, mas só queria saber quem vai defender, depois, os cidadãos.

(O Globo, Segundo caderno, 9.9.04)

7.9.04



Gatos & toxoplasmose

Fiquei muito sentida com a morte da atriz Miriam Pires. Não a conhecia pessoalmente, mas gostava do seu jeito de ser, simpático e sem estrelismos. Além do quê, ela gostava de gatos -- e eu gosto de quem gosta de gatos.

Como ela morreu de toxoplasmose, os pobres felinos entraram novamente na linha de fogo.

Bom. Há exatamente um ano tivemos aqui um grande debate sobre toxoplasmose causado por uma notícia leviana do site da BBC do Brasil, que dizia que cientistas lá na Caxaprego (aquele lugar vizinho do Cafundó do Judas) achavam que toxoplasmose causava alterações de personalidade.

O resumo da história é: toxoplasmose só se pega de gatos com toxoplasmose e, ainda assim, ingerindo as fezes dos ditos gatos.

Para quem quiser maiores detalhes, aí vai o que escrevi e a mensagem que uma médica da Fundação Oswaldo Cruz me enviou à época. Infelizmente os comentários se perderam, pois havia muitas informações interessantes sobre o assunto enviadas por outros médicos e estudiosos da doença:

"Um amigo me mandou, apreensivo, uma notícia do site da BBC Brasil: ?Parasita de gato altera personalidade de humanos, diz pesquisa?. Não tenho a menor confiança em manchetes que terminam com as palavras ?diz pesquisa? ? pois, em geral, não tenho a menor confiança em 99% das pesquisas. Para ficar apenas num fato da memória recente, basta lembrar aquela que o Tony Blair apresentou à ONU, para provar que o Iraque estava até os dentes com armas de destruição em massa.

Guardei o e-mail dos gatos para ler depois. Mas, em menos de duas horas, 19 pessoas me enviaram links para a BBC. A coisa assumia proporções alarmantes. Fui checar:

?Cientistas estão responsabilizando os gatos por infectar metade da população da Grã-Bretanha com um parasita que pode alterar a personalidade das pessoas. Os dados emergem de pesquisas de universidades britânicas, tchecas e americanas, feitas em torno do Toxoplasma gondii, um protozoário que existe em quase toda a população de felinos.?

Depois dessas 50 palavras, só me ocorreu uma 51ª, inglesa, para casos assim: Bullshit ! Como sabe qualquer pessoa com um mínimo de interesse por gatos, só carregam este protozoário gatos que se alimentam de ratos. Não há hipótese de um gato de apartamento transmitir toxoplasmose. Então, ?quase toda a população de felinos? onde, cara-pálida? Pode ir tirando a minha Família Gato daí.

?Os homens infectados, segundo o estudo, tendem a ser mais agressivos, anti-sociais e menos atraentes. As mulheres, por outro lado, se tornam mais desejáveis e divertidas, mas menos confiáveis e possivelmente mais promíscuas.?

O ?achado? está levando os cientistas a associar a contaminação endêmica da população de gatos com a cultura de um país ? cientistas não perdem uma oportunidade de cientificar. A França, por exemplo, tem mais gatos infectados do que a Grã-Bretanha, ?o que explicaria as mulheres francesas serem consideradas mais sensuais do que as britânicas.?

Quer dizer: a atração irresistível da Camila Parker-Bowles, de quem o príncipe Charles queria ser o Tampax, e por quem jogou tudo para o alto, inclusive a princesa Diana, provavelmente vem de um casal de siameses clandestinos que ela mantém em cativeiro.

Mas, olha aí, o estudo não foi feito por ?universidades britânicas, tchecas e americanas?, mas apenas por pesquisadores da universidade Charles, de Praga, que aplicaram questionários a 857 recrutas tchecos.

Qualquer pesquisa de comportamento geral que se baseie num grupo tão específicamente... uh, questionável... nem deve ser questionada. Mas os ?cientistas? pesquisadores conseguiram descobrir que, entre esses recrutas, os que eram sorologicamente-positivos à toxoplasmose eram menos criativos e impulsivos, e tinham um QI mais baixo, ora vejam só.

O ?estudo? não passa de uma pensata cheia de termos científicos, não chega a conclusão alguma e ? palmas para os pesquisadores tchecos ? tem mais pontos de interrogação do que referências bibliográficas.

Abrindo a possibilidade para que, amanhã, com os mesmos dados, outro grupo de cientistas prove exatamente o contrário. Como, por exemplo, que a falsa ciência, amparada pelo mau jornalismo, é capar de fazer com que uma jornalista sensata do outro lado do mundo (eu, who else ?) se sinta obrigada a defender de público a Tati, o Lucas, a Netcat, a Pipoca, a Tutu, o Mosca e a Keaton.

Ah, sim ? como se pega toxoplasmose? A dra. Heloisa Justen, uma das maiores autoridades brasileiras em gatos, diz que a principal causa da doença na Europa, de onde vieram o ?estudo? e a reportagem sensacionalista, é comer carne crua. Gatos não passam nem perto.

Aqui, sim ? é comer hortaliças mal lavadas e ter contato direto com fezes de gatos portadores do toxoplasma gondii. Mas por contato direto leia-se ingerir essas fezes ? que, aliás, devem estar por ali há pelo menos cinco dias, tempo necessário para que a forma infectante dos protozoários se manifeste.

Enfim. É só para não continuarmos comendo gato por lebre, o que estamos fazendo desde que a imprensa propriamente dita decaiu, a televisão assumiu e BBC e Gugu passaram a ser farinha do mesmo saco."

(O Globo, Segundo Caderno, 25.9.2003)

E a carta da dra. Elizabeth:

"Foi com prazer que li a sua coluna sobre a matéria recém-veiculada pela BBC quanto a uma ?possível? relação da toxoplasmose com alterações cognitivas e comportamentais. Na qualidade de médica responsável pelo ambulatório de Toxoplasmose do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/FIOCRUZ recebo há anos pacientes encaminhados dos mais diferentes serviços com as mais diferentes manifestações da infecção, mas de modo geral, a tônica é a desinformação tanto da população quanto da classe médica. Toxoplasmose é uma infecção causada por um protozoário (parasita composto por uma só célula) que tem um ciclo evolutivo complexo onde o gato tem papel de perpetuador no meio ambiente.

Como foi claramente exposto na sua matéria, o contacto direto com o gato doméstico não é fator de transmissão da infecção uma vez que o gato doméstico se alimenta de ração industrial. O Brasil é um país de elevada endemicidade desta infecção que em sua maioria não é acompanhada de manifestações clínicas severas. Costuma ser uma infecção auto-limitada em geral não necessitando de tratamento específico uma vez que as drogas disponíveis podem ter efeitos colaterais consideráveis.

Por outro lado, quando adquirida durante a gravidez pode levar a lesões fetais graves e ocasionalmente irreversíveis. Infelizmente apesar de estarmos no século XXI e apesar de haver medidas profiláticas que podem ser tomadas para evitar esta e outras infecções de transmissão materno-fetal, ainda nascem crianças com toxoplasmose congênita, que neste caso, pode levar a alterações visuais e cognitivas no futuro uma vez que o parasito tem uma predileção por afetar o tecido cerebral do feto.

Não li ainda o artigo científico citado na matéria, mas estudos epidemiológicos devem ser interpretados à luz de condições geográficas, ambientais, sociais e acima de tudo metodológicas especiais. Para que uma conclusão de um trabalho seja considerada uma ?verdade? deve ser passível de reprodução em outros estudos que o referendem.

De qualquer modo, gostaria de lembrar que o que causa alteração de personalidade é violência, ignorância, fome e desinformação.

Por favor, consultem os profissionais especializados e deixem os pobres gatos em paz."

Elizabeth de Souza Neves, Crm 52-34588/9


Uau!

Grande dica da Bia: os bichos que a Márcia viu na África do Sul.

Coisa linda, de verdade!


Aliás...

Como eu publiquei só um trechinho no outro dia, hoje vai a íntegra:

PÁTRIA MINHA
Vinícius de Moraes


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."


6.9.04








Camarim

Ontem foi o último dia de "Brasileirinho". Fizemos duas mesas bacaninhas: Mamãe, Geraldinho Carneiro, Denise Bandeira e eu; e Olivinha, João Nuno, Egberto Gismonti e a Bibi, filha dele.

O show foi um arraso. Tudo aquilo que eu já tinha dito a vocês; mas desta vez com a Nana Caymmi, que há dois dias ligou para a Kati, produtora do show:

-- Eu vou no domingo.

-- Perfeito, -- disse a Kati. -- Vou mandar ver uma mesa para você...

-- Não, você não está entendendo. Eu vou cantar.

E assim foi. Nana estava na primeira versão do show, junto com a querida Miúcha, mas desta vez, com os pais doentes, se afastou. Como o estado de saúde deles deu uma estabilizada, quem veio ao espetáculo de encerramento teve a chance de pegar esta canja de altíssimo luxo.

Não sou muito de pôr foto minha aqui, agora -- com uma companhia dessas, como é que eu ia resistir?!

Fico devendo a história da minha contribuição à MPB; amanhã eu conto.


O caso do filtro solar,
precursor de confusões

"Senhoras e senhores da turma de 1997", dizia o discurso de Kurt Vonnegut no MIT que um amigo internauta me mandou da Califórnia. "Usem filtro solar. Se eu pudesse lhes dar uma única dica em relação ao futuro, filtro solar seria esta dica. Os benefícios do uso do filtro solar a longo prazo já foram comprovados pelos cientistas, ao passo que os meus outros conselhos não têm base mais sólida do que a minha vivência mambembe.

Aproveitem a força e a beleza da sua juventude. Aliás, deixem pra lá. Vocês não conseguirão entender a força e a beleza da sua juventude até que tenham desaparecido. Mas, acreditem: dentro de 20 anos, vocês olharão para suas fotografias e se lembrarão, de uma forma que nem conseguem imaginar, quantas possibilidades existiam diante de vocês, e como eram bonitos. Vocês não estão tão gordos quanto pensam.

Não se preocupem em relação ao futuro. Ou preocupem-se, mas saibam que isso adianta tanto quanto tentar resolver um problema de álgebra pulando amarelinha.

Não sejam displicentes com os corações dos outros. Não aturem pessoas que sejam displicentes com o seu. Escovem os dentes. Lembrem-se dos elogios que receberem. Esqueçam os insultos. Se conseguirem fazer isso, digam-me como se faz.

Conservem suas antigas cartas de amor. Joguem fora seus antigos extratos bancários. Sejam gentis com seus joelhos. Vocês vão sentir falta deles quando não os tiverem mais.

Aproveitem seus corpos. Usem-nos de todas as formas. Não tenham medo do que outros possam pensar deles. O corpo é o melhor instrumento que jamais terão.

Não leiam revistas de beleza. Elas apenas os farão sentir-se feios.

Conheçam seus pais. Nunca se sabe quando eles partirão para sempre. Sejam gentis com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com o passado e, com grande probabilidade, as pessoas com quem mais poderão contar no futuro.

Compreendam que os amigos vão e vêm, mas há alguns poucos, preciosos, aos quais devem se agarrar. Façam o possível e o impossível para vencer os espaços na geografia e na vida, porque quanto mais velhos ficarem, mais precisarão de gente que os tenha conhecido quando jovens.

Aceitem algumas verdades insofismáveis. Preços sobem. Políticos prevaricam. Vocês também ficarão velhos. E, quando ficarem, terão a ilusão de que, quando eram jovens, os preços eram razoáveis, os políticos honestos e os jovens respeitavam os mais velhos.

Respeitem os mais velhos.

Não façam besteira demais com seu cabelo, ou quando chegarem aos 40, ele estará com cara de 85. Tomem cuidado com os conselhos que aceitam, mas sejam pacientes com quem os dá. Aconselhar é uma forma de nostalgia. É um jeito de pescar o passado do lixo, limpá-lo, repintar as partes feias e reciclá-lo, para que pareça valer mais do que vale.

Ainda assim, confiem em mim quanto ao protetor solar."

Maravilhoso, não? Sinto informar, porém, que Kurt Vonnegut jamais fez qualquer discurso no MIT. Esse texto, que corre pela internet há algumas semanas, foi escrito, de acordo com o "Chicago Tribune" de ontem, pela colunista Mary Schmich, e é a mais recente lenda urbana da rede.

Entende-se. Será que alguém que recebe uma msg recomendando a leitura de uma ótima coluna de Mary Schmich, do "Chicago Tribune", vai se dar ao trabalho de ler? Pois é.

* * *

Publiquei o texto acima em 8 de agosto de 1997, aqui mesmo no GLOBO, numa coluna chamada "Aviso aos Navegantes". Na semana seguinte, ou seja, no dia 15, voltei ao assunto. Depois de descascar um pouco a "Time", que andava portando-se horrorosamente mal com a internet e os então relativamente poucos internautas, escrevi:

"Para mostrar como está por dentro, a "Time" manda, nas frases da semana: "Wear sunscreen, Kurt Vonnegut, at the Massachussets Institute of Technology". Ora, isso só faz sentido para quem tem e-mail e recebeu, de alguém, o tal discurso do filtro solar de que falei na semana passada. Em suma, é mais ou menos como se a revista estivesse piscando o olho para os leitores internautas, dizendo "Viram? Nós também recebemos".

Com isso comeu a mega-mosca da temporada, tanto mais injustificada porque, no dia 7 de agosto (a data de capa da "Time" é 11 de agosto), a versão on-line do "Chicago Tribune" publicara uma longa matéria pondo os pingos nos ii. Aliás, na sua coluna de 2 de agosto, no jornal propriamente dito, Mary Schmich, verdadeira autora do discurso, já havia escrito sobre o ti-ti-ti. Talvez porque, um dia antes, a versão eletrônica da "Wired" (!) saíra com alguns trechos vonnegutianos.

No site da "Time" não se fala no assunto. No do Chicago Tribune, descobre-se o que os principais envolvidos acharam da história.

-- O texto é muito esperto, mas não é esperteza minha, -- comentou Kurt Vonnegut com a autora das suas (vocês decidem) palavras. -- O ciberespaço é assustador.

-- Bom, sem dúvida é muito melhor acharem que o meu texto é do Kurt Vonnegut do que acharem que é da Danielle Steel -- observou Mary Schmich, provando que realmente sabe das coisas.

Mas quem dá mesmo um banho é a "Wired". Lá, Steve Silberman foi fundo, anteontem. Nada de mais bonito se escreveu sobre o hoax -- e, de modo geral, sobre a rede que tanto amamos e que, mais uma vez!, está levando porrada.

P.S. sobre Kurt Vonnegut: Bad news! Aos 74 anos, aposentou a verve e a cabeça aberta. Usa máquina de escrever, odeia computadores e fez declarações tão malsãs que estão sendo brandidas, agora, como Sagrada Escritura contra a rede pelos censores de plantão. Que pena que ele não é Mary Schmich.

* * *

Lembrei dessa história porque foi esta a primeira vez em que o texto de uma pessoa mais ou menos desconhecida circulou pela internet com falsa autoria. "Vonnegut" e "MIT" eram, na época, palavras mágicas para quem usava a internet; não havia como resistir ao apelo da mensagem. Mas quem já estava online na época aprendeu: não se manda adiante texto recebido por email sem ter certeza de quem escreveu.

Continua valendo.

(O Globo, Info etc., 6.9.04)

5.9.04





Novo desafio ornitológico

Depois da ave grandona que mais ou menos acertamos chamar-se baguari, alguém poderia me dizer o nome desta garça miudinha? A ave ao lado é um quero-quero, pouco maior do que um pombo, só para dar idéia do tamaninho dela.

É pequena mas esquentada, e dada a implicar com biguás que vêm pescar na mesma freguesia.

Quanto ao casal de quero-queros, acho que estabeleceu mesmo residência aqui perto de casa. Nós nos encontramos praticamente todos os dias e já estou pegando o jeito deles; consigo chegar bem perto sem que se chateiem com a minha presença.






4.9.04



Vote!

Cortesia involuntária da Girafa de Lisboa (que é, aliás, um baita blog): este site que estende as eleições americanas ao mundo inteiro.

É brincadeirinha, claro, mas considerando-se o potencial que tem os Estados Unidos para acabar com o planeta, devia ser para valer.


Abismo

Não consigo tirar as imagens terríveis das crianças russas da cabeça. Nada justifica este grau de violência, nem o desejo de independência dos chechenos, nem a intransigência com os sequestradores por parte do governo. Há um ponto além do qual não há racionalização possível, um ponto além do qual não há mais humanidade.




Bis

Ontem consegui sair mais cedo do jornal do que de costume e... fui ver Bethânia de novo. Estou apaixonada pelo show. Aqui em casa ouço o CD e vejo o DVD, mas não é a mesma coisa.

Nada substitui o espetáculo ao vivo, sobretudo um espetáculo triunfante como este, em que os cambistas perguntam se você tem ingresso para vender (!) e a platéia aplaude antes mesmo de ouvir uma nota.

Encontrei vários amigos, e todos foram unânimes: há tempos não viam nada tão lindo.

O show sai de cartaz domingo, mas eu ainda volto lá, se não volto...

3.9.04










Animal Planet

Seu Antonio do coco trabalha perto da Colônia dos Pescadores. Na hora do almoço, aproveita para pescar.

Há uma série de aves suas freguesas, porque ele distribui pedacinhos de peixe, ou até peixes inteiros, entre elas. Essa garça azul (ou garça real, ou baguari, ou... ainda não chegamos a uma conclusão definitiva no outro post) fica tranqüilamente pousada no barco enquanto ele navega e joga a rede.

Depois come da mão dele, uma coisa linda de ver!

Quando enche a pança vai embora, e fica parada pensando na vida numa bóia logo ali em frente.


YIKES!

Ouvindo Bush na BBC. É simplesmente assustador.

Update: Não, não é assustador. É muito mais do que isso. A sensação que eu tive foi, imagino, igual à que deviam ter as pessoas que, longe da Alemanha, ouviam os discursos de Hitler pelo rádio: como é que o povo está acreditando nesse cara?!

Como podem ouvir todas essas barbaridades e... aplaudir?!

Será que todos perderam a capacidade de raciocínio, será que ninguém pensa mais?!

Ouvir Bush falar em compaixão, em liberdade e em democracia me enoja, me parece uma piada de extremo mau gosto.

Pior é ouvir a platéia aos uivos, Four More Years! Four More Years!

Que pesadelo, meu Deus, que pesadelo.

2.9.04






Consultoria ornitológica

Pessoal, alguém sabe me informar o nome deste pássaro desta ave? Os pescadores dizem que é um flamengo; conheço "flamingos", mas não são assim. O cara do coco diz que é uma garça, mas as garças são menores e brancas, não?


Hoje, às 17h30, no GNT...

...vai passar Nova York -- a cidade e o mundo. Segundo a Vera, que já viu, o documentário -- sobre a movimentaçao de uma parcela da populaçao que, indignada com o que o poder público estava fazendo, resolveu se reapropriar da cidade e declarar definitivamente que ela pertencia aos seus habitantes e nao aos eventuais governantes -- é ótimo. E, quem sabe, não nos dá umas idéias ou, pelo menos, uma esperança...


A gangorra emocional da semana

Depressão com o governo, redenção com Bethânia


Quando eu estava crescendo no Bairro Peixoto, havia casas feias. Casas que não combinavam com uma idéia particular do que era bonito, com o ideal dos livros de arquitetura ou, pura e simplesmente, com o olho da gente. Depois veio a especulação imobiliária e botou a cidade abaixo, sem fazer qualquer distinção entre as casas: feias, bonitas, humildes ou suntuosas, todas foram demolidas para dar lugar aos edifícios que aí estão, iguais no descaso com a paisagem, na falta de capricho, de idiossincrasias e de um mínimo de humanidade.

Hoje não há mais casas feias aos meus olhos. Diante da brutalidade do que se construiu no Rio, não consigo deixar de gostar de uma falta de simetria aqui, de um excesso de estuque ali, de uma indefinição entre a vontade e a realização. Não consigo deixar de gostar das casas com personalidade, pequenas ilhas de caráter e autenticidade numa paisagem urbana cada vez mais deteriorada.

Ir ao Centro, onde alguns trechos não podem ser mais Habana Vieja de tão decaídos, é uma experiência angustiante, cheia de altos e baixos emocionais. Não importa quantas vezes eu passe pelas mesmas ruas, sempre me deslumbro com os casarões. A sua graça, que resiste ao tempo e aos maus tratos, me faz sentir uma nostalgia enorme dos tempos em que o Rio era uma cidade faceira, que se cuidava; o seu estado de abandono e a insegurança que os cerca me fazem sentir um ódio implacável pelos sucessivos governos que os deixaram chegar a este ponto, e que a este ponto não souberam amar a cidade.

Há uma teia de ruas cravejadas de maravilhas entre o jornal e Lapa, há quarteirões tocantes por trás do sambódromo, remanescentes da sanha demolidora com que se abriu o Santa Bárbara. Nenhuma dessas áreas foi, em momento algum, uma área nobre. Os sobrados e casas que se mantém de pé, construídos em fins do século XIX e princípios do século XX, falam de uma gente humilde em ascensão, de uma pequena classe média, de comerciantes que moravam no andar de cima das lojas. Qualquer dessas ruas pobrezinhas, porém, tem, ainda hoje, mais beleza e mais caráter do que qualquer avenida da Barra.

* * *

Ando muito sensível com o abandono do Rio. Olho para a minha cidade como quem olha para um amor ferido: a ressaca no Leblon, a luz das tardes do Aterro, as capivaras da Lagoa, as revoadas de pássaros -- tudo me dói no coração, tudo me lembra que, tanto aqui quanto em Brasília, temos governos incapazes de se comoverem com toda esta beleza ameaçada.

O sol se põe por trás das montanhas, a lua cheia brilha sobre as águas e a revolta quase me sufoca: como podem existir pessoas para quem o destino deste lugar abençoado signifique tão pouco?! Que espécie perversa de cegos está no poder?!

* * *

"Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água,
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos..."

* * *

Pois é; mas vocês precisam ouvir esses lindos versos do Vínicius ditos pela Maria Bethânia! "Brasileirinho", que voltou ao Canecão na semana passada e fica em cartaz até domingo, é absolutamente emocionante, um dos espetáculos mais bonitos que já vi. Ali está o Brasil do coração da gente, essa mistura de ternura e perplexidade que nos acompanha e é tão sutil, tão distante dos ufanismos políticos; a pátria gentil e amada, tão rica na sua simplicidade e tão complexa nos seus sentimentos; a pátria que, traduzida em música, consegue o prodígio de alcançar o âmago do coração urbano com um luar do sertão. "Brasileirinho" toca naquela parte recôndita da alma brasileira que resiste aos modismos e ao som enlatado da globalização.

Não há erros neste show de acertos, do cenário de Gringo Cardia à luz de Maneco Quinderé, da direção de Bia Lessa aos arranjos e à regência de Jaime Alem; e, claro, acima de tudo, a voz e a presença inigualáveis de Maria Bethânia.

Devo dizer, aliás, que sou devota de Maria Bethânia, que divide o altar da minha máxima admiração com Fernanda Montenegro. Gosto muito de inúmeros artistas, sou fã sincera de vários deles mas, diante de Bethânia e de Fernanda, tenho sempre a sensação de estar na presença de seres de outra dimensão, habitantes talvez de um planeta diferente, onde as pessoas já evoluíram o suficiente para descobrir a verdadeira essência das coisas.

Agradeço à minha boa estrela o privilégio de ter nascido no tempo dessas duas mulheres extraordinárias, para além do talento curiosamente tão parecidas também na sabedoria, no recato e na elegância.

(O Globo, Segundo Caderno, 2.9.04)

1.9.04



Emergência felina!

A dra. Andréa Lambert é a abnegadíssima veterinária que cuida, entre outros, dos gatinhos do Campo de Santana.

A situação lá está crítica -- para variar.

Vejam o email que ela enviou aos amigos:

A situação no Campo de Santana continua muito triste.

O abandono nunca acaba, uma realidade de vários pontos da cidade do Rio de Janeiro e como muitos sabem, de todo o Brasil.

Por ser um parque público no centro da cidade e pela facilidade de acesso o Campo de Santana é um local onde o abandono é intenso. Sãos gatos adultos, filhotes e gatas com ninhadas. Esta semana recolhi l3 lindos filhotes sendo que cinco foram abandonados com as mães e 8 sem a mãe.

Além destes filhotes, ainda tem cinco que chegaram antes e muitos adultos para adoção. Sem falar nos doentes em tratamento e recuperação da esterilização

Ainda estou procurando um local para tentar fazer uma feira de adoção. Várias pessoas se ofereceram para ajudar e assim que tiver um local chamarei para começarmos a programa-la.

Por enquanto preciso de ajuda para manter os gatinhos e prepara-los para adoção.

Agora tenho duas faturas de ração de quase 800 reais, uma vencerá dia 05 de setembro. E encomendei 30 doses de vacina e vermífugo para vacinar todos os animais.

Também estou precisando de bacia higiênica, lençóis, e cobertores ou caminhas para gatos.

Com a grande quantidade de gatos, além do terraço, os coloquei em outros locais da casa.

Para ajudar podem trazer a ração, medicamentos ou depositar qualquer quantia na conta corrente abaixo.

Banco Itaú
Ag. 0703
Conta corrente 29426-4
CPF 913.001.427-15

Medicamentos: Benzetacil, vermífugo Drontal ou Endal, Frontline, Fragyl pediátrico, seringa três e 5 ml, álcool, papel - toalha, colírio, própolis elixir, esparadrapo, azitromicina comp. depo-medrol.

E o mais importante é claro, conseguir bons donos para estes gatinhos.

Abraços,

Andréa Lambert

Agradeço de coração aos que puderem ajudá-la de alguma maneira.