27.9.01

Pé na estrada


Hoje à tarde, depois de visitar a fábrica da Samsung e ver como se monta um telefone celular de ponta a ponta, chegamos a Kyongju, antiga capital da Dinastia Shilla. Eram umas quatro da tarde, e isso nos permitiu passear e fazer umas fotos legais -- ainda havia boa luz. Assim que eu me encontrar com uma conexão decente, vou subir as fotos para o Photo Island para que vocês vejam. O lugar é maravilhoso, mas a Coréia (e, sobretudo, Kyongju, que é longe até para o povo de Seul) ainda está tão fora do roteiro dos turistas ocidentais que, quando fomos ao museu local, chamamos a atenção dos bandos de crianças que estavam lá com as suas professoras. As crianças nos olhavam, riam e as mais saidinhas vinham conversar com a gente. Melhor dizendo, vinham testar se o que estão ensinando a elas é mesmo inglês e se os gringos entendem:

-- Hello! What's your name?

-- How old are you?

-- Where are you from?...

Só faltou mesmo fazerem a clássica pergunta do Rubem Braga:

-- Is this an ashtray?

Éramos o próprio P.T. Barnum Circus, chegando à cidade em grande estilo. Os maiores sucessos da parada foram, curiosamente, os dois muchachos brasileiros: o Ramalho, que tem quase dois metros de altura, e o Carlos que, apesar de baixinho (tem só 1m83), é ruivo.

Agora passa de uma da matina, e estou caindo pelas tabelas; meu saudável plano de, finalmente, tentar dormir sete horas, foi para o brejo. Tive que dar pelo menos uma geral nos mais de cem mega de fotos que já fiz -- e, nisso, passaram-se três preciosas horitas. Amanhã saímos cedo. Ainda damos uma rápida volta em Kyongju, e depois pegamos a estrada de volta para Seul.

Dois detalhes:

1. Os coreanos são totalmente diferentes dos japoneses e dos chineses. Não são um coletivo perpétuo, como os japoneses, nem disciplinados, como os chineses. São gente light e descontraída, e são extremamente simpáticos. Uma coisa que particularmente me encanta neles é a forma como encaram os horários. Quando marcam alguma coisa para as nove, isso não quer dizer, necessariamente, que vamos nos encontrar no exato momento em que os ponteiros dos relógios se encontrarem sobre os números determinados, mas apenas que esta talvez seja uma boa base de trabalho. Não cheguei a discutir a teoria a fundo com nenhum deles, mas suponho que o encontro real dos corpos não é tão importante assim dado que, em espírito, estaremos mesmo juntos quando constatarmos que horas são. E, afinal, somos todos espírito. Ou não, Millôrzinho?

Eu gosto muito disso!

2. Estamos todos nós, apesar de periodistas, por supuesto, meio -- para não dizer inteiramente -- desligados das notícias do chamado "mundo civilizado". Pois querem saber de uma coisa? Sinceramente? Não nos estão fazendo a menor falta.

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