12.9.01

Ao povo, unido, jamais faltará informação



A internet enfrentou o seu primeiro grande teste em 31 de agosto de 1997, quando a princesa Diana morreu. Na ocasião, os grandes portais de notícias deram um show, ganhando disparado dos jornais, da televisão e mesmo do rádio na velocidade da transmissão de notícias.

O segundo grande teste da internet aconteceu ontem. Para quem acompanhou os dois fatos pela web, o contraste foi impressionante. Os mega-portais entraram em colapso, até porque ainda é técnica e humanamente impossível atender à demanda de uma rede que, dos menos de 20 milhões de usuários globais daquele 1997, passou para os mais de 400 milhões deste 2001 — todos, naturalmente, querendo saber das mesmas coisas ao mesmo tempo. Resultado: as notícias “oficiais”, digamos assim, só voltaram a fluir com certa normalidade passadas cerca de quatro horas dos atentados.

Mas a gigantesca, imensa internet — aquela, a verdadeira, composta de milhões de vozes espalhadas ao redor do mundo — deu uma das mais surpreendentes provas de vitalidade jamais vistas. As notícias que estavam indisponíveis nos portais voavam nas mensagens e listas que habitualmente desaguam nas mailboxes dos usuários; os blogs serviam simultaneamente à informação dos leitores e à manifestação de perplexidade dos autores; e a melhor e mais ágil cobertura de todas foi ao ar, previsivelmente para quem “mora” na rede, no slashdot.org, clássico boletim de geeks e nerds — no fundo, um grande blog coletivo — e um dos poucos websites preparados para enfrentar a inquietação universal do dia. Estranhamente, o Google, ferramenta favorita de busca na internet, que devia conhecer melhor a sua gente, preferiu ignorar o real poder da rede, recomendando aos que lá chegavam que buscassem notícias no rádio e na TV. Perdeu muitos pontos entre os internautas com esta atitude impensada.

A velocidade e competência com que se organizaram os blogs, porém, compensou o faux pas do Google. Listas de links para fotos, vídeos e notícias individuais brotaram feito cogumelos em dia de chuva, numa fabulosa rede de pasmo e solidariedade.

O GLOBO, 12.09.2001

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