31.3.06

A caminho




Mais inveja




Que inveja...





Classificado

Povo, estou com o seguinte problema: tenho uma ótima ajudante aqui em casa, a Sônia -- é simpática, inteligente, limpa, de uma honestidade a toda prova, adora os gatos (e vice-versa), faz tudo com boa-vontade e, enorme vantagem do meu ponto de vista, fala pouco e não é chegada a ficar com TV ligada direto na cozinha. Eu viveria feliz para sempre com ela, não fosse por um problema: com a morte do meu tio, a Clemilda, que está há 40 anos na família, me conhece desde pequena e é a "mãe-preta" da Bia, ficou desempregada.

Durante toda a doença do tio, ficou implícito que, em acotecendo o pior, ela viria para cá. De modo que vou ter que abrir mão da Sônia, que está comigo há cerca de um ano, porque não tenho nem trabalho nem cacife para manter duas empregadas em casa.

Acontece que gosto demais da Sônia, e não quero dispensá-la antes que ela encontre outro emprego. Será que alguém está precisando de uma pessoa realmente bacana e bom astral?

Mensagens nos comentários, ou emails para cronai(arroba)well.com.


Para Kidity:



Clemilda e Bia; agora fico devendo fotos da Sônia e da sua (dela) linda filhota.

30.3.06

No restaurante




Nós e os Paulos




Os Paulos e Millôr




Otto Stupakoff e Sérgio Rodrigues






Um país em queda livre

Livro sobre Afeganistão corta o coração da cronista,
que percebe o quão perto estamos de Cabul


"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente uma variação do roubo.(....) Quando você mata um homem, está roubando uma vida. (....) Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos o direito de ter um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça. (....) Não há ato mais infame do que roubar."

Há alguns anos, eu teria recomendado "O caçador de pipas", de Khaled Hosseini, como leitura obrigatória para a canalha política, nem que fosse por estas palavras, dirigidas ao narrador por seu pai. Hoje não me dou mais ao trabalho, e não só porque livros não se usam em Brasília. É que não se usa mais vergonha na cara na política brasileira, não se usam mais valores como dignidade, honra, preocupação com o povo, amor à Pátria. Acho que a própria acepção que dou aqui a esta palavra, "valores", perdeu-se por completo nas esferas do poder.

Há alguns anos, os ladrões nossos funcionários cultivavam, ainda, um mínimo de hipocrisia, e tentavam disfarçar a avidez, a ganância, o pouco caso para com a coisa pública, a falta de dedicação ao país e à sua gente. O objetivo final talvez fosse o mesmo, mas naqueles dias, pelo menos, fazia-se de conta que roubar era crime. A honestidade, bem como a educação e a cultura, ainda tinham seu valor para o público externo; alguns homens públicos, acredito, envergonhavam-se quando descobertos de posse de "fundos não contabilizados", este safado eufemismo para a grana alheia; outros poucos, verdadeiramente honestos, provavelmente envergonhavam-se da malta com que se viam obrigados a conviver.

* * *

Dizem os colegas que sabem mais dessas coisas que sou muito pessimista e que ainda há políticos honestos, além dos dois ou três em quem confio. Mas são uma espécie em extinção dentro de uma classe que perdeu de vez o pouco que tinha de decência e civismo com a dança grotesca da deputada Angela Guadagnin, musa do PT -- que, no mínimo, deveria cassada por quebra de decoro parlamentar, se os nossos parlamentares ainda se lembrassem do que quer dizer decoro.

Os poucos políticos honestos e genuinamente interessados no bem do país que têm estômago para conviver com os seus pares nada podem fazer contra o fedor insuportável que emana dos palácios e das repartições públicas, contra a falta de caráter e a cafajestagem explícita que os cercam. Mesmo que queiram, eles nada podem fazer contra a desconstrução das instituições, contra o escárnio com que é tratado o povo, contra a voracidade da máquina que tritura a classe média, arrancando-lhe os olhos da cara em impostos que, quando não seguem sem escalas para paraísos fiscais, sustentam a bandalheira esculachada dos biltres que deveriam cuidar do país, dos estados, dos municípios.

Ai de nós.

* * *

"O caçador de pipas", romance de estréia de Hosseini, que nasceu em Cabul, no Afeganistão, e hoje vive nos Estados Unidos, não chega a ser um grande livro, mas é uma excelente leitura, interssante, ágil, impossível de largar. Sua maior virtude é nos apresentar ao país onde, uma vez, cidades como Cabul, Kandahar ou Mazar-i-Sharif eram lugares cheios de vida, e não as pilhas de escombros que nos acostumamos a ver na televisão e nos jornais. Há um quê de paraíso perdido nessas memórias, mas compreende-se: quando nos lembramos do Rio de Janeiro dos anos 60, a nostalgia traz à tona a paz, a segurança, a cidade maravilhosa; a falta d´água ou as favelas que cresciam somem diante do que se perdeu.

* * *

Amir, o personagem de Hosseini, passa 20 anos longe do seu desgraçado país, primeiro invadido pelos russos, depois vítima dos talibãs. Quando volta, só encontra miséria, ruínas e violência. Os talibãs, a escória da sociedade, percorrem as cidades em bondes, impondo a sua "lei", matando por gosto ou desfastio. A elite intelectual do país e a classe média estão mortas, exiladas ou mendigando nas ruas; os que se refugiaram nos Estados Unidos vendem quinquilharias em mercados de pulgas -- camelôs que, na sua terra, eram médicos, engenheiros, escritores, militares.

Enquanto lia sobre este país torturado, não conseguia deixar de pensar no Brasil, e sobretudo no Rio, que regridem a passos tão largos. Tecidos sociais não se esgarçam de uma hora para outra; vão se desfazendo aos poucos, de violência em violência, de concessão em concessão, de bandalheira em bandalheira. Quando os talibãs do tráfico debocham do exército e os talibãs do MST contam com a complacência dos poderosos, porém, não há mais como disfarçar: estamos cobertos de andrajos morais.

Cabul é aqui.

(O GLOBO, Segundo Caderno, 30.3.2006)

29.3.06

As corujinhas de Floripa








Postei uma coleção de corujas no Flickr.

Para ver, é só clicar em qualquer foto dessas e sair navegando por lá.

Não são lindas?

Em tempo: estas não são fotos de celular. Foram todas feitas com a Panasonic Lumix FZ20.

Coruja buraqueira






Às vezes ainda uso câmeras digitais em vez de telefones.

Lá no Costão do Santinho, por exemplo, encontrei dezenas dessas corujinhas simpáticas e irresistíveis. E fiz, claro, montes de fotos "de verdade" delas.

Depois posto mais algumas para vocês verem.


Fala, Mario AV!

Grande comentário sobre a proteção do CD da Marisa Monte:
No tempo das fitas cassete, pouquíssima gente chegou a saber que o preço de cada fita virgem incluía uma porcentagem destinada a compensar as gravadoras. Nos tempos atuais, o fato de a EMI brasileira estar sabotando os próprios CDs alegremente há vários anos me diz que, mais uma vez, existe uma massa de consumidores néscios que deixa os seus direitos serem usurpados sem tomar conhecimento de nada e sem reagir quando sabem. Não fosse assim, uma mobilização pública razoavelmente simples acabaria com a palhaçada.

A Marisa não teria como não saber que o seu CD sairia com a proteção, pois, como acabei de falar, a EMI brasileira está fazendo isso em todos seus discos há vários anos. Portanto, sinto muito, mas que se dane a EMI e junto com ela também a Marisa.

Em algumas ocasiões, comprei as versões originais gringas de alguns CDs, pois essas não têm a proteção. Isso mesmo, gastei mais dinheiro por causa de um bando de idiotas num escritório no Brasil. Pelo menos nem um centavo do meu bolso foi para a mão deles.

Lembro que a transferência do conteúdo do CD para uma mídia secundária como o iPod nunca foi e continua não sendo crime, embora a indústria fonográfica esteja tentando mudar isso faz algum tempo.

Tenho em casa apenas um desses malditos discos nacionais estragados pela gravadora. O rip do iTunes funciona corretamente na minha máquina mais veloz até uns dois terços do disco, depois disso emenda as músicas e inclui um trecho em branco. Ainda estou por verificar na máquina mais lenta. (Mario AV)
Alguns amigos que usam Mac me escreveram dizendo que conseguem ripar o CD pro iTunes sem problemas. Acontece que a imensa maioria dos usuários de iPod no Brasil usa PCs. A estes, e aos que não quiserem jogar dinheiro fora em CDs que não conseguirão passar para os seus players, recomendo que busquem no e-mule a solução para os seus problemas.

É um pecado, porque os CDs da Marisa estão lindos e são uma gracinha como objetos, enfim, a gente gostaria der ter aqueles produtos bonitos na coleção -- mas não aleijados, e muito menos em troca de ser taxado de malfeitor pelos gênios da EMI.

Quando uma empresa usa proteção contra cópia, ela está implicitamente chamando de ladrões todos os usuários otários o suficiente para comprarem os seus produtos.

28.3.06

Nanini, Carla e Ney




Na estréia de Irma Vap






Que papelão!

"Lamentavelmente a imprensa não se interessou na cobertura do evento realizado pela ONG Viva Polícia, no auditório da Academia de Polícia Silvio Terra, ocasião em que prestamos merecida homenagem as MULHERES PIONEIRAS NA SEGURANÇA PÚBLICA.

Cerimônia presidida pela Delegada de Polícia Inamara Costa -- Coordenadora das delegacias especializadas de Atendimento às Mulheres, Delegada de Polícia Martha Rocha, Dra. Maria Regina Purri Arres -- Presidente da Comissão de Mulheres Advogadas da OAB/RJ e o Escrivão de Polícia Luiz Mattos (Presidente da ONG Viva Polícia), presentes a nossa heroína da FEB -- Major (Enf) Elza Cansanção Medeiros (84 anos), Escrivã de Polícia Maria Thereza Bhering de Araújo (80 anos) -- autorizada pelo Presidente Vargas a prestar o devido concurso público, Detetive Inspetora Mary May da Silva Porto (80 anos), Delegada de Polícia Marly Preston, Inspetora e Primeira Motorista Policial Civil Rosangela Coelho Cabral, Perita Criminal Wilma Fargnolli Jobim, Tenente-Coronel Célia Rodrigues Pinheiro dos Santos -- Primeira Mulher da Turma de Praças e Primeira Mulher da Turma de Oficiais, Tenente-Coronel (BM) Sonia Regina Taveira Pereira, Delegada Federal Inês Nunes Fraga, Inspetoras da Secretaria de Administração Penitenciária -- Nilza da Silva Santos, Cristiane Bastos de Abreu, Stefania Tavares Matinha e Andrea Nobre da Rocha, Policial Rodoviária Federal -- Francisca de Assis da Costa, Inspetora da Guarda Municipal Tatiana Mendes Freitas, Guarda Municipal Vera Guedes da Silva.

Homenagens Póstumas

* Regina Coeli da Cunha Augusto -- Detetive Inspetora assassinada em 19/4/91 por traficantes no morro da providência;

* Sidnéya dos Santos Jesus -- Diretora do DESIPE -- brutalmente assassinada em 5/09/2000;

* Lida Monteiro da Silva -- Mártir da OAB, vitimada por carta bomba em 27/08/80.

Homenagens Especiais

1. Edith Homem de Mello -- Trabalho social na Creche Girassóis que acolhe crianças do lixão em Niterói;
2. Ivone Ferreira Caetano -- Juíza Titular da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso;
3. Cleyde Prado Maia -- Mãe da Gabriela vitimada no metrô São Francisco Xavier -- que, com coragem e determinação, colheu assinaturas para assegurar justiça a sociedade brasileira;
4. Thereza Richa -- Presidente do Clube Sírio e Libanês do Estado do Rio de Janeiro -- pelo seu trabalho social em sua creche no Grajaú, que abriga crianças das comunidades adjacentes.

O que mais nos entristece é o fato de ser uma cerimônia que enaltece, eleva a auto-estima e fortalece as Instituições das homenageadas, que com estímulo, reconhecimento devido passarão a prestar maiores e melhores serviços ao Povo Brasileiro -- E NINGUÉM DA IMPRENSA dignou-se a cobrir o evento -- porém, de escândalos, desvios de conduta e improbidades já estamos cansados de ver estampado em TODOS os jornais e noticiários -- desgraçadamente é o QUE VENDE a edição!

Cordiais Saudações,

Marcelo Roberto Ferreira
Vice-Presidente
Associação das Empresas de Botafogo
www.aseb.com.br

Eles têm toda a razão, e eu, como imprensa que sou, peço sinceras desculpas pelo papelão. Eu mesma tinha prometido à Fabiana postar uma notinha aqui no blog avisando a todos do evento, mas no corre-corre do encontro em Floripa praticamente só acessei o blog por telefone e não me lembrei de que tinha este dever para com uma amiga e uma ONG tão necessária e batalhadora.

A vontade que tenho é me esconder embaixo do sofá e lá ficar escondida de vergonha pela falta.

Mil perdões, amigos da Vipol!

27.3.06

Bom dia!





Desculpem o atraso na publicação; é que lá em Floripa não me sobrou tempo para subir esta coluna, da quinta passada.


O universo ao meu redor

Gatos, manias e um lindo CD que não pegou o espírito da coisa

Taí: nada como confessar publicamente manias esquisitas para se sentir uma criatura perfeitamente normal! Depois da crônica da semana passada, em que listei cinco de meus hábitos esquisitos, recebi uma enxurrada de manifestações de solidariedade -- a maioria de donos de animais, me assegurando que falar com bichos não tem nada demais, muito antes pelo contrário. Esquisito -- como sempre achei e, pelo visto, acham também os leitores -- seria ter um animal de estimação e não dirigir-lhe a palavra.

Essas manifestações não me surpreenderam. Afinal, quem convive com animais sabe como o diálogo com eles é importante. Claro que ninguém vai discutir Kant ou Joyce com o gato de estimação (até porque o gato, caso se dignasse a falar, daria um banho na conversa), mas não há dúvida de que nossos quadrúpedes gostam de ouvir a voz humana, e se não entendem o que dizemos no varejo, certamente entendem no atacado.

Confesso, porém, que fiquei muito surpresa com a quantidade de leitoras que, como eu, cultivam o estranho hábito de comprar cremes e maquiagens que não usam jamais. Isso eu realmente acreditava que fosse maluquice exclusiva da minha cabeça, mas não: há inúmeras mulheres que não resistem à sedução das embalagens, das cores, dos potinhos lindos... e depois deixam tudo na gaveta! Uma amiga me confessou que, ainda outro dia, jogou fora quinze batons, porque perderam a validade. Todos virgens.

Houve quem atribuísse o hábito a cobranças de família por um pouco mais de vaidade, mas não sei se é por aí; lá em casa, ao contrário, o que sempre se ressaltou foi o mal que cosméticos podem fazer à pele. Em suma: o mistério continua. Ouso dizer que aí está um bom desafio para psicólogos, antropólogos e estudiosos dos hábitos humanos em geral.

* * *

Tanto entre as cartas que chegaram ao jornal quanto nos comentários do blog, levei puxões de orelha por gostar da Lancôme, que pertence à L'Óreal, que testa seus produtos em animais. Peço sinceras desculpas por isso. Nada, absolutamente nada, justifica que se torturem seres vivos por conta da nossa vaidade, sobretudo se levarmos em conta que há empresas de cosméticos que conseguem produzir produtos maravilhosos como MAC, Clinique ou O Boticário sem maltratar criaturas indefesas.

Aliás, a venda da Body Shop para a L'Óreal podia ter sido acertada por Duda Mendonça, o especialista em tapear otários. A Body Shop, como vocês sabem, é aquela empresa inglesa ecologicamente correta, que sempre praticou o bom-mocismo ambiental e cultural, comprando matéria prima direto de produtores, de preferência tribos indígenas, e usando suas vitrines para manifestações políticas e sociais.

Sempre foi a loja favorita de pessoas de cabeça feita, preocupadas com o meio-ambiente. Que a L'Óreal tenha tido vontade de comprá-la entende-se; mas que ela tenha se vendido justamente para a sua antítese é a prova de que seus "valores" não passavam de uma hipócrita jogada de marketing.

Que gentinha.

Millôr, que é um sábio, bem que vive avisando:

"Desconfie sempre do idealista que lucra com o seu ideal."

* * *

E, dos lados da PUC, vem -- ufa! -- uma ótima notícia. Quem me contou foi Claudio Téllez, um dos protetores dos gatos do local, que semana passada participou, junto com Claudia Pinheiro, Claudio Alberto Téllez (seu pai e ex-professor da PUC) e Flavya Mendes-de-Almeida (especialista em populações felinas e coordenadora veterinária da WSPA Brasil) de uma reunião na prefeitura do campus com a supervisora de administração da divisão de serviços gerais, Silvia Murtinho, e Marcos Antunes, funcionário da mesma divisão.

O assunto foi, como não podia deixar de ser, a população felina do campus.

Na ocasião, foi devidamente escrito, assinado e carimbado um documento em que a PUC-Rio se compromete a "construir, em local apropriado, um abrigo para os gatos, colocar uma caixa de areia para dejetos e assumir a responsabilidade pela alimentação deles."

Os protetores aceitaram a proposta, o que me leva a crer que este abrigo não será uma câmara de horrores como o famigerado "gatil" do Jockey. Flavya Mendes-de-Almeida sugeriu que as gatas fossem castradas, e a supervisora não só concordou com a medida como se propôs a procurar veterinários para ajudar a universidade nesse sentido.

Civilizado, digno, humano. Assim é que se faz.

* * *

Sei que é chover no molhado, mas não posso deixar de elogiar "O universo ao meu redor", da Marisa Monte. É um CD delicado, delicioso, um encanto só -- que, entre outras maravilhas, revela um surpreendente lado sambista de Adriana Calcanhoto, artista que se supera a cada temporada.

O CD é um primor de cuidados, da apresentação aos arranjos. Infelizmente, tem um defeito imperdoável: proteção contra cópia para iPods, incompreensível a essa altura do campeonato. Para que penalizar justamente os consumidores tementes a Deus que o compraram, quando é tão fácil baixá-lo da internet e passá-lo para o iPod sem qualquer perrengue?

Grande, imenso gol contra, que o lindo trabalho de Marisa Monte não merecia.

(O Globo, Segundo Caderno, 23.3.2006)

25.3.06

The end




Um dia perfeito para o peixe banana




Assinatura com cogumelos




O cão contemplativo cãotemplativo




Mosaico homenageando as corujinhas




Corujinha buraqueira





Logo ali, (mais) uma vergonha nacional

Estou hospedada no Costão do Santinho, um bonito resort em Santa Catarina. Não que desse para ver muita coisa à hora que chegamos, mas olhando assim por alto, do ônibus, e recordando uma visita anterior, a região parece um local calmo, pacífico, civilizado.

Lamentavelmente, não é.
Exmo. Sr. Luiz Henrique da Silveira,
Governador do Estado de Santa Catarina,

Na qualidade de vice-presidente do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal estou informando a V. Exa. que na Rodovia Vereador Onildo Lemos, nr. 2128, no Santinho, na ilha, há um boizinho branco, mocho ou com chifres pequenos, animal que chegou escondido numa Kombi e que aguarda a triste sina de ser torturado, perseguido à exaustão e morto por uma turba de bêbados desordeiros, praticantes da famigerada Farra do Boi, que é crime ambiental e que foi confirmada como tal pelo Supremo Tribunal Federal.

Moradores contrários à Farra do Boi ligaram para os telefones da Polícia Militar, que estavam sempre ocupados. Não podemos nem imaginar que alguém tenha tido a idéia de tirar o fone do gancho de uma corporação encarregada de zelar pela ordem e combater o crime. Não queremos acreditar em tal hipótese, mas já temos recebido reclamações neste sentido. Sugerimos enfaticamente que V. Exa. mande verificar o que está ocorrendo com os telefones da PM.

A partir do momento em que V. Exa. está informado do endereço exato do local onde está escondido um animal franzino, pequeno, aguardando uma morte sofrida, a lei ordena a V. Exa. que envie uma força policial ao local para apreender o animal. Na casa onde o pobre animal se encontra há uma vaca de leite e galinhas. O boi branco surgiu há dois dias e foi denunciado por moradores, que viram a sua chegada. Praticantes da farra estão indignados, pois o animal é manso e indefeso e o estão chamando de "vaca". Imagina-se o que esta gente fará para irritá-lo e acuá-lo.

Aliás, outra informação que passamos a V. Exa. neste momento é que os bois estão sendo transportados em Kombis e pequenos caminhões, cobertos com lona. Ora, para que os animais caibam numa Kombi não é necessário grande exercício de imaginação para deduzir-se que se trata de novilhos, mal saídos da condição de bezerros. Este jogo em que a população farrista finge que não há bois e em que a polícia finge que não está vendo nada é um show de hipocrisia e cabotinismo intoleráveis.

A esmagadora maioria da população catarinense é contrária à Farra do Boi. Portanto, fazer "vista grossa" para este divertimento boçal objetivando agradar a um eleitorado minoritário, sem educação e sem cultura, mantendo-o nesta condição e fornecendo-lhe "boi e circo" é coisa de Nero, de Calígula, chefes de Estado inimagináveis num Estado de Direito.

No ano passado, no município de Governandor Celso Ramos, na praia de Ganchos, a Prefeitura Municipal instalou carros de som, em que a música mais berrada era "Cowboy Veado". Este é o tipo de cultura que se deseja disseminar entre um povo carente de educação e de cultura?

A partir deste momento, como V. Exa. bem sabe, os princípios do Direito Administrativo que regem sua atuação como agente político lhe impõem que cumpra seu dever funcional, caso contrário V. Exa. estará praticando crime de prevaricação.

Gostaria de lembrar-lhe que, com o advento da internet, as informações circulam rapidamente. Caso V. Exa. decida omitir-se no combate a este desvio coletivo de comportamento representado pela Farra do Boi, assim definido pela psiquiatra Dra. Nise da Silveira, não hesitaremos em fazer uma gigantesca corrente pela internet e pelos sites do Orkut, orientando internautas que combatem o sadismo a não votarem em nenhum candidato do PMDB em todo o país. Portanto, os votos que seu partido porventura arrebanhar entre os farristas certamente não compensarão danos de imagem irreparáveis que poderemos impor ao PMDB pela omissão de V. Exa.

Senhor Governador, reprimir a Farra do Boi nada mais é do que o cumprimento de seu dever de Chefe do Executivo em obediência à decisão da Corte Suprema Constitucional do Brasil.

Estamos atentos ao que ocorre nos locais farristas de Santa Catarina.

Ana Maria Pinheiro
Vice-Presidente
Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal
Devo dizer que me sinto horrorosamente angustiada de estar tão perto deste pobre animalzinho, que ignora o terrível destino que o espera, e não poder fazer nada.

Cesar Valente, meu querido amigo manezinho, como se pode despertar o governador da sua (dele) letargia?! O que podemos fazer para evitar esta boçalidade medieval, este desvio de caráter, esta patologia inexplicável?!


UPDATE:

Cesar Valente escreveu sobre o assunto num fenomenal jornalzinho local chmada "Diarinho -- Diário do Litoral". É um tablóide que trata assuntos graves com a maior irreverência, não tem filiação política alguma e é o que eu já vi de mais parecido com o falecido Pasquim dos anos 70. As manchetes são o que a gente comentaria na mesa do boteco. Exemplos: "Tiroteio deixa os manezinhos cagados de medo". A notícia, apesar da linguagem, é tratada com uma seriedade de deixar muito jornal "sério" encabulado.

Resultado: sucesso total. São tirados 10 mil exemplares que chegam às ruas às 7hs. Às 8hs estão esgotados. Já viu que se eu morasse aqui tava frita...

As colunas do Cesar, que é o titular da página 3, no less (você abre o jornal e dá de cara com ele), estão todas num blog, vejam lá: De olho na capital.

Cesar, Valente que é (taí um trocadilho que ele não deve mais agüentar ouvir, mas é tão bom que é inevitável) pegou o touro à unha -- ao contrários dos covardes que se "divertem" por aqui -- e abordou a questão de forma ampla e, embora muitos defensores de animais radicais possam discordar -- humana.

Leiam, é talvez o que de mais equilibrado e sensato já se escreveu sobre a Farra do Boi e o papel no estado nessa história toda.

22.3.06

Estamos MORTOS de fome - mas a palestra continua...




Pronto: ao trabalho




O improvável acontece: chegamos!




Ainda à espera...




Fazendo hora

Por causa da chuva, um avião derrapou na pista principal e se
acidentou. Até tirarem ele de lá, vamos ficar mofando no interior da
aeronave. Já estamos com atraso de uma hora, e é só o começo: depois
que liberarem a pista, a prioridade é dos aviões que estão no ar, à
espera de autorização para pouso... *suspiro*

--

Blog: http://cronai.com
Fotos: http://www.flickr.com/photos/cronai

Bom, pelo menos embarcamos




A bordo, mas à espera




Dizem que fechou o aeroporto...




Chove muuuito!




E lá se vai nosso lindo aeroporto




Lá vou eu...




Keaton e os mistérios da hidrologia