30.4.07

Um pesadelo de consumo

Recebi um email de um amigo. Dessa vez, para variar, não se tratava de uma consulta sobre compra de equipamento; o amigo é craque na área e sabe muito bem o que quer. Mas, como todo cidadão brasileiro, não agüenta mais ser esfolado pelo governo:

"Este email é só para desabafar (mais uma vez) sobre nossos impostos. Estou encantado com um novo laptop, o HP Tablet Pavillion TX1070BR. Ele custa R$ 8 mil nas Lojas Americanas, em dez vezes "sem juros". Vamos calcular o dólar a R$ 2,2 o que dá US$ 3.636. Ora, no site da HP nos Estados Unidos, a mesma configuração custa US$ 1.131 (R$ 2,5 mil)!

Ou seja, aqui pagamos não o dobro, mas mais do triplo (3,21) do preço que um consumidor americano paga pelo mesmo produto! Nada mais nada menos do que US$ 2.505 (cerca de R$ 5,5 mil) a mais! E note que a HP americana não é uma instituição beneficente, e é de supor que, neste preço, haja uma boa margem de lucro embutida.

Agora me diga se isso não é o governo agindo como o pior dos mafiosos: "Aí ó: quer comprar um computador? Pois tem que comprar dois outros pros mano!"

Juro que o bichinho é tão sedutor que, apesar do preço astronômico, quase saí da loja com um. Mas, prudentemente, resolvi esperar uma semana, o que me deu tempo de fazer uma pesquisinha básica na internet... A extorsão praticada contra o consumidor brasileiro ultrapassou qualquer limite da decência. Não dá! Prezo meu dinheirinho e não gosto de me sentir otário.

O pior é que já estamos tão acostumados a sermos roubados que, sinceramente, cheguei a pensar que se achasse a máquina pelo dobro (!) do preço dos Estados Unidos comprava... Resultado: lá vou eu, que sou um sujeito decente, que detesta fazer as coisas por baixo dos panos, em busca de um "esquema"...

Tudo neste país nos empurra para a ilegalidade, inclusive (ou sobretudo) o destino dado aos impostos escorchantes que nos arrancam, e que só servem para financiar as mordomias do poder, para pagar mensalões e criar ministérios absolutamente desnecessários para os amiguinhos desempregados do presidente.

Desculpe o tamanho da mensagem, desculpe a falta de humor, desculpe a indignação. Você não tem nada a ver com isso, mas eu precisava desabafar com alguém. É isso. Nada de novo sob o Lábaro Estrelado."

(Info etc., 30.4.2007)

Vale acrescentar à coluna um outro email, este recebido hoje mesmo:
"Meu nome é César Salomão, sou estudante universitário de Física na PUC-RIo e leitor do Info Etc. há anos, nunca escrevi um e-mail endereçado a vocês, mas a reportagem "Um Pesadelo de Consumo" me chamou a atenção.

Não quero aumentar a indignação de seu amigo e conseqüentemente sua, mas apesar da boa avaliação do preço que ele fez, ele se esqueceu de considerar a seguinte coisa: os EUA não são o Brasil.

Temos que considerar algo mais importante do que o valor dito de um produto, temos que considerar a quantidade de salários mínimos necessários para adquiri-lo.

Segundo sua reportagem o valor do tablet pc mencionado foi de US$ 1.131, ou seja, 1.37 salários mínimos, considerando o trabalho de 160 horas mensais com o salário mínimo federal americano a US$ 5.15 a hora. Já o preço do mesmo produto no Brasil é de R$ 8.000, ou seja, 21.05 salários mínimos, considerando o salário mínimo de R$ 380 mensais.

Temos então que o produto é 21.05/1.37 = 15.36 vezes mais caro no Brasil do que nos EUA.

Assim, enquanto um profissional americano que ganhe salário mínimo trabalhará dois meses e já poderá comprar seu tablet pc, um profissional brasileiro levaria 22 meses para adquirir o mesmo produto -- ainda assim, supondo que não tenha outras despesas, o que é algo irreal de se pensar.

Sinto muito trazer mais tristeza para a reportagem, mas precisamos abrir os olhos com o nosso país.

Abraços, César S."

Hangar no Rio Negro









Mais fotos antigas (ou quase): este é o hangar que fica em frente ao Hotel Tropical, em Manaus. Eu adoraria fazer um passeio de hidroavião até as Anavilhanas, mas era caro às pampas...

Em tempo: a foto com a cadeira de plástico foi feita especialmente para o Riq Freire.

Criei coragem...



29.4.07

Estaleiro

Desculpem aí qualquer coisa, mas acho que o que achei que era gripe é uma virose qualquer. Não tenho febre nem nada de muito esquisito, mas há mais de uma semana não tenho disposição para nada e, nos dois últimos dias, a única coisa que tive vontade de fazer foi... dormir! Nem quero saber dos DVDs e livros novos, para vocês terem idéia da dimensão da coisa...

Se alguém estiver se sentindo assim e tiver disposição de ir ao médico, por favor me avise depois o que ele recomendou, OK?

Extenuada, agradeço.

Estava mexendo com umas fotos....






e achei esta borboleta que cliquei no Panamá há uns dois ou três anos.

Ó nóis aí!




27.4.07

Olha o sapato da Bel!




SOS GATINHOS!

Amigos, nossa querida Leila, do sosgatinhos, está passando por sérias dificuldades. Desde 2002, o sosgatinhos conseguiu novos bons lares para cerca de 400 gatos; mas, antes mesmo disso, a Leila já cuidava de encontrar bons bípedes para bons gatos, e vice-versa. Graças a ela, a Tati veio morar lá em casa.

Leila agora está sozinha para cuidar do projeto, dos gatos, das adoções, do site e da divulgação; é muita coisa! Os gastos e o trabalho são enormes. Ela não dá conta de tudo, dar remédios, fazer curativos e a limpeza da casa de 250 m2. O que ganha não dá para pagar o aluguel, ração, veterinário, remédios e as contas da casa. No momento procura uma nova sede para o sosgatinhos, com o aluguel mais em conta. A ração em estoque acaba esse mês.

Há várias formas de ajudar:

  • Vários amigos de São Paulo têm se revezado ajudando-a com os gatinhos; se você mora em Sampa, entre em contato! Caronas também são necessárias para levar os gatinhos ao vet ou aos seus novos lares.

  • Adotar um gatinho é uma grande ajuda, e uma felicidade ainda maior; mas você também pode apadrinhar um gatinho, patrocinando seu tratamento e alimentação.

  • Doações de ração ou de areia podem ser feitas por telefone com pagamento em cartão de crédito ou depósito em conta na loja Fauna e Flora (tel. 11 5845-0969). É só avisar à vendedora Helaine que se trata de uma doação para o SOSGATINHOS. Ela conhece a marca de ração e areia que os gatinhos usam. A entrega é feita direto à Leila. Mas por favor clique aqui e mande um mail avisando de sua doação, para que ela possa manter o controle.

  • Comprar as maravilhosas camisetas criadas pela Leila, aqui: a renda reverte em benefício dos gatinhos.

  • Doar medicamentos, cobertores, caminhas e material de limpeza também é ótimo.

  • Doações financeiras também são muito bem-vindas. A conta do sosgatinhos é:
    Banco ITAÚ - AG- 0641 - CC- 63761-6
    Nome do Correntista: Pablo Barbosa dos Santos (filho da Leila)

  • Finalmente, outra grande forma de ajuda é divulgando esta campanha!

    Agradeço muito em nome da Leila e dos gatinhos. Ela é uma das melhores pessoas que conheço, uma amiga querida, que neste momento precisa de nós.
  • Os véinho tão que tão!



    A sensação do momento na Inglaterra é o grupo The Zimmers (idade média 90 anos): os velhinhos só cantam rock e estão em todas as paradas.

    Utilidade pública

    Amigos, a Catharina Castro está precisando de um bom marceneiro.

    Alguém tem alguma indicação?

    DUAS HORAS no engarrafamento!




    Millôr e Bianco




    Chove!




    Shiraz




    Amigos II




    Bom dia!




    26.4.07

    Tchau Mike, olá Christine!

    Mike Penner, da editoria de esportes do Los Angeles Times, anunciou hoje aos leitores que vai tirar umas férias e voltar como... Christine! Ele tem 40 anos, é transexual, resolveu assumir a sua identidade feminina e vai à luta.

    Eu só sei de uma coisa: é preciso ser muito macho para fazer isso e, ainda por cima, abrir o jogo na própria coluna.

    Que seja feliz na nova encarnação; ele merece.

    A gente encontra maravilhas no Flickr!!!







    As bolsas e a vida

    E, finalmente, cronista vê "A alma imoral"

    A Bia não mora mais comigo. Casou, mudou, adotou uma gatinha muito bonitinha chamada Chica, mas mantém direito de visitação aos gatos e os poderes quase plenipotenciários das filhas sobre os guarda-roupas das mães. No outro sábado, me ligou da praia:

    -- Vou passar aí para ver os gatos. Ah, por acaso você tem uma bolsa grande sobrando?

    Todas as minhas bolsas são grandes, sempre foram, mesmo antes desta moda abençoada que, de repente, me deu uma riqueza de escolha que, antigamente, eu só tinha em sonhos ou em lojas de departamentos americanas, o que dá mais ou menos na mesma. "Sobrar", porém, é um dos verbos mais relativos da língua portuguesa, parente próximo, metafisicamente falando, de "precisar".

    Enquanto a Bia não chegava, dei uma olhada na situação do armário -- e, ato contínuo, fui tomada pela invariável crise de consciência que me ataca quando paro para refletir sobre as minhas posses. Tenho muitas sandálias, tenho cinco pares lindos e fúteis de All Stars e até alguns sapatos de verdade; tenho bem menos roupas do que a maioria das minhas amigas, mas muito mais do que de fato uso; e bolsas em profusão, todas bastante parecidas entre si, salvo as naturais e necessárias diferenças na cor e no formato.

    Eu disse "necessárias"?! Mas que diferença faz se uma bolsa é mais ou menos arredonda na parte de baixo, desde que nela caiba o mundo de coisas que carrego comigo?! Para quê preciso de quatro bolsas pretas?! Enfim: pavorosamente culpada por embarcar no conto da sociedade de consumo, comecei, como de hábito, a desenvolver uma série de argumentos de auto-defesa.

    Se ninguém comprasse nada, o que seria dos empregos gerados pela indústria e pelo comércio? Do que iriam viver essas pessoas? E o que é o meu modesto armário comparado ao inacreditável closet do Romário, exibido pelo Fantástico?! Por outro lado, quantos gols eu já marquei na vida?! E o que diria o Romário diante das minhas estantes, onde os livros estão estacionados em fila dupla?! E...

    Nisso chegou a Bia, para alegria dos gatos e grande alívio da Pobre e Velha Mãe Doente. Brincou com os gatos, conversou comigo e, finalmente, fomos às bolsas.

    -- Mãe! -- exclamou a Bia. -- Você está ficando maluca. Essas duas aqui são iguais!

    -- Não são, não... Uma é mais arredondada na parte de baixo.

    -- Oh, que diferença...! E, vem cá, quatro bolsas pretas?! Todas do mesmo tamanho?!

    Minha desculpa, honesta e sincera, de que estou me precavendo para o dia em que a moda mudar e só se encontrarem bolsas ridiculamente pequenas nas lojas, não colou. Depois de fazer uma limpa geral, separando bolsas que já não seriam aceitas nem em brechós e capturando duas ou três muito úteis para uma jovem trabalhadora, ela foi embora, mais uma vez convencida da minha absoluta incompetência administrativa.

    Num primeiro momento, fiquei encantada com o espaço conquistado no armário, subitamente amplo e fácil de arrumar. Prometi a mim mesma não comprar bolsas novas tão cedo e, até aqui, posso afirmar, cheia de orgulho, que estou cumprindo a promessa. O diabo são as provocações. Ali na loja da esquina tem uma bolsa preta linda, com a parte de baixo arredondada, que grita o meu nome cada vez que passo pela vitrine.

    * * *

    Fui assistir à "Alma Imoral", do rabino Nilton Bonder. A encenação é um ato de bravura de Clarice Niskier, até por se apresentar nua, eventualmente enrolando-se e desenrolandose, com muita habilidade, num pano preto.

    Ainda assim, achei essa nudez desnecessária. O fato de "na natureza não haver nudez" não significa, necessariamente, que a atriz que pronuncia essas palavras tenha que estar nua. Considerando-se o fato de que a proposta da peça é discutir a alma e o pensamento, em tese as almas é que deveriam estar nuas -- mas, no caso dos espectadores, elas, ao contrário, vestem-se na nudez da atriz, ou seja, aquele passa a ser o ponto de (des)conforto da apresentação. Um amigo que estava a meu lado, por exemplo, fechou os olhos durante metade da peça, porque queria pensar sobre o que estava sendo dito. Mesmo que em nenhum momento a nudez de Clarice seja provocadora, ela distrai e rouba a atenção.

    Concordo completamente com a maioria das idéias do rabino, expostas com inteligência e criatividade. Discordo apenas, e veementemente, quando ele afirma que um animal que se reconhecesse como tal deixaria de ser o animal que é. A idéia por trás dessa afirmação é, suponho, destacar a nossa capacidade de raciocínio -- mas acontece que todos os animais têm a exata noção do que são; apenas não enunciam isso.

    Um gato não só sabe que é um gato, como sabe exatamente o tipo de gato que é, a tal ponto que gatos parecidos têm uma dinâmica peculiar de comportamento. Os elefantes sabem tanto quem são que, quando apresentados a ossadas dos seus antepassados, ficam profundamente perturbados. Eles são, possivelmente, a única espécie do planeta que sabe separar os ossos dos familiares de ossos de estranhos. Manda um humano fazer isso, sem teste de DNA!

    De qualquer forma, em louvor da nossa espécie, deve-se reconhecer que é ótimo ver uma peça que discute ética e moral atrair tanta gente, por tanto tempo, com tanto sucesso.

    (O Globo, Segundo Caderno, 26.4.2006)

    25.4.07

    A pedidos, ou: O que penso a respeito dos diplomas

    Ontem ficou uma certa dúvida no ar a respeito da minha posição a respeito da obrigatoriedade de diplomas de comunicação para jornalistas. Esclareço melhor:

    Sou a favor do registro de jornalista. Como se conseguia isso quando fui trabalhar em jornal? Trabalhando por um mínimo de três anos, e a pedido do orgão de comunicação. A esse pedido eram acrescentadas matérias, fotos, páginas, enfim -- aquilo que o candidato a jornalista tivesse produzido. Aprendia-se na prática diária; e, devo dizer, boa parte das pessoas que achavam que davam para a coisa caiam fora antes dos três anos regulamentares, porque jornalismo não é para diletantes.

    Jornalismo, no entanto, é para quem tem vocação. Acho que o bom jornalista já nasce com as características necessárias ao exercício da profissão, como insistência, garra, disposição para o trabalho, uma vontade imperiosa de contar aos outros o que viu e uma curiosidade verdadeiramente malsã.

    Antigamente, pessoas com essas características, mas formadas nas mais diversas profissões, acabavam atraídas pelo jornalismo: médicos, advogados, economistas.

    Quanto ao diploma de comunicação, não sou apenas contra; sou absolutamente contra, radicalmente contra. Os cursos de comunicação tendem a ser feitos por pessoas de um mesmo nível social, que acabam aprendendo mais ou menos as mesmas coisas. Acho, no entanto, que as redações teriam muito a ganhar com uma bio-diversidade maior, e a conseqüente pluralidade de visões que viria daí.

    Isso não quer dizer que o jornalismo não seja uma profissão de nível superior. A bagagem cultural do bom jornalista é maior do que qualquer faculdade pode ensinar, e a sua atualização constante é um imperativo. Hoje, porém, criou-se a idéia de que as pessoas só aprendem alguma coisa se forem para a universidade. Há toda uma questão sócio-ecônomica envolvida nisso.

    Não vou brigar contra os tempos; mas por que, em vez do curso de comunicação, um jornalista não poderia fazer um ano de pós-graduação, digamos, depois de se formar em qualquer outra coisa? Nessa pós-graduação seria ensinado aquilo que, nos velhos tempos, a gente aprendia aos trancos e barrancos, na redação: como redigir uma matéria, diagramar uma página, fazer títulos, subtítulos e legendas, e o que mais se fizesse necessário.

    Acho que mesmo essa alternativa é restritiva, porque obriga à necessidade de um diploma; mas pelo menos ela traria para as redações pessoas com formações muito diferentes e, conseqüentemente, pontos de vista diferentes em relação ao mundo.

    Deu na "Cláudia"

    Boas de blog

    Dieta, humor, cultura, filhos, comentário de novela e das notícias do dia, confissões amorosas... Tem de tudo na ala feminina da blogosfera e é impossível não se identificar com os deliciosos diários das mulheres na internet. Leia aqui e acesse daí.

    O apartamento da advogada e funcionária pública gaúcha Patrícia Antoniete Ferreira, 33 anos, em Porto Alegre, não tem sacada. Mas seu computador funciona como uma, de onde ela avista e conhece pessoas dos quatro cantos do planeta. "Tenho uma varanda que se comunica com as outras varandas do mundo", diz Ticcia, como ela é conhecida entre a legião de blogueiras que vem fazendo da internet um território cada vez mais feminino.

    Espaço virtual inicialmente conquistado por adolescentes que dominam o "internetiquês", a língua da internet, os blogs acabaram caindo nas graças de mulheres modernas e com um repertório cultural mais sofisticado. Confessionais ou noticiosos, recheados de ironia e tiradas espirituosas, eles se tornaram espécies de diários abertos em que elas compartilham as vivências do dia-a-dia.

    "O sucesso de um blog depende da identificação que provoca nos leitores", continua Ticcia, com a autoridade de quem já foi tachada de "Paulo Coelho da blogosfera" por causa da quantidade de acessos que seu blog, Megeras Magérrimas, recebeu em três anos de existência. Cerca de 750 mil visitas fizeram dele um "blog-seller".

    Ticcia continua mantendo na internet as engraçadas páginas das mulheres em constante luta contra a balança, escritas a quatro mãos com a também funcionária pública Roberta Arabiane. Em julho do ano passado, sua parceira desistiu da empreitada, incomodada com o excesso de exposição do diário virtual, e Ticcia se aventurou numa carreira-solo. Foi assim que surgiu um segundo blog, em que ela manteve no título as iniciais "MM", que atraíram sorte para o primeiro.

    Num trocadilho que mistura o nome da bruxa da Disney com a palavra mean, malvado em inglês, o novo blog, Mme. Mean, revela o ambiente de camaradagem existente na blogosfera. Para ter uma idéia, outra conhecida blogueira de Porto Alegre, a advogada Isabel Ribeiro Alice, 32, a Belly, foi "morar de favor" no blog de Ticcia assim que aposentou seu Mishappenings por absoluta falta de tempo para fazer as atualizações.

    "Achei injusto ela não ter mais um lugar para mostrar o seu humor espetacular", diz Ticcia. A solução foi Belly assinar a coluna Criada de Madame, na "casa" da Mme. Mean.

    Ticcia e Belly sempre estiveram "linkadas", interligadas pelos chamados links, seguindo a melhor tradição dos blogueiros, que criam atalhos nas suas
    páginas para os blogs preferidos. Esses links recomendados fortalecem uma rede baseada em interesses comuns. Muitas vezes, as afinidades ultrapassam a tela do computador e grandes amizades nascem dos diários virtuais.

    Natural de Santos, no litoral paulista, a jornalista e professora de francês Lívia Araújo, 28, mudou-se para Porto Alegre depois de um longo período acessando as páginas da madame e sua criada. De freqüentadora do universo virtual do Mishappenings, ela virou amiga de Belly e acabou alugando o apartamento de um ex-namorado da blogueira.

    Lívia conta que já morou em diversas cidades e suas constantes andanças inspiraram o título de outro popular blog criado há cinco anos, o Festa Móvel. O nome veio do clássico A Moveable Feast, do escritor Ernest Hemingway -- traduzido aqui como Paris é uma festa. O festejado espaço de Lívia é animado por pequenas ficções, comentários culturais, fotos e vídeos retirados do YouTube.

    "Ele é quase uma extensão do diário de papel dos tempos da adolescência", compara. Com a diferença que permite o acesso ao diário de outras pessoas."

    Faz sentido o que Lívia diz. O maior público dos blogueiros são os próprios blogueiros. No fundo, uns alimentam os outros por meio do maior número de links. O Festa Móvel, por exemplo, está linkado com o Kaleidoscópio, também sob o enfoque do cotidiano, criado pela tradutora carioca Daniela Dias, 33 anos. Mãe de duas filhas, Daniela conta que começou a blogar depois de conhecer o Mothern, o blog inventado pela dupla de publicitárias mineiras Laura Guimarães, 35, e Juliana Sampaio, 36, hoje já um clássico na blogosfera, desmembrado em livro e programa da GNT, que estréia em maio a segunda temporada. O Mothern, que faz um trocadilho mesclando, em inglês, as palavras mãe (mother) e moderna (modern), estreou em 2002 com dicas do tipo "como enfrentar a energia infantil de pois de uma balada".

    "Eu me senti alivia da quando caí lá, pois não me identificava com o enfoque da mídia tradicional sobre maternidade", diz Daniela.

    O Mothern deu cria. E hoje prescinde até da presença das mães. "Muitas pessoas fizeram amizades freqüentando o nosso livro de visitas", comenta Laura, que, além de publicitária, é designer gráfica e professora universitária. O livro de visitas é umponto de encontro, em que as pessoas podem conversar e trocar experiências. "É o boteco da blogosfera", carimba a publicitária.

    Um livro de visitas considerado hilariante tanto pelas motherns como pela jornalista Cora Rónai (leia mais em "Coráculo.com") é o que está contido no espaço da professora e escritora paulista Fábia de Azevedo Cardoso, a Fal, 36 anos. Fal conquistou a audiência com seus impagáveis comentários das novelas e das CPIs feitos em tempo real. Por seu turno, ela acha graça no blog de Angela, que por sua vez cita o espaço das Duas Fridas. E Fal e Ângela mencionam outro blog de texto irônico e elegante, mantido por uma advogada de Brasília que suplica não ter o nome publicado na reportagem.

    Ela diz que não quer se comprometer no trabalho. "Foi o melhor brinquedinho que encontrei na vida", revela a anônima blogueira. Mais previdente continuar na moita."
    Todo mundo tem o direito de manifestar suas opiniões na rede preservando o anonimato.

    Mas também é verdade que esse instrumento está sendo cada vez mais usado como um canal de exposição e até de aproximação dos artistas com seu público. O blog de Luana Piovani, por exemplo, ficou mais conhecido depois de publicar uma declaração nada modesta dela propagando ter inspirado uma canção de Caetano Veloso - afirmação prontamente desmentida pelo compositor. Com muito mais elegância, a cantora paraense Leila Pinheiro começou a tricotar seu blog Conversa Afiada na teia eletrônica há quase três anos.

    Abastecido com histórias de sua vida e opiniões sobre o universo da música e cultura, ele acabou curiosamente atraindo outro tipo de audiência. Ao declarar em inúmeros posts o seu amor incondicional aos bichos, Leila conquistou sem muito esforço o que todo blogueiro sonha na vida: um público de fidelidade canina.

    CORÁCULO.COM

    O "ORÁCULO" da blogosfera das mulheres atende pelo nome de Cora Rónai. A jornalista carioca de 53 anos aparece diariamente em cerca de 3 mil computadores do país. Seu blog traz comentários do noticiário e temas de informática, fotos de cenas cariocas e de suas gatas. Ela já fez amizades na blogosfera - orientou teses, escreveu prefácios de livros e até reuniu um bloco para pular o Carnaval.

    Alguns outros blogs feitos por mulheres estão entre os preferidos de Rónai, assim como o da física e jornalista Rosana Hermann, a criadora do programa Pânico na TV. Atuante na blogosfera desde 2001, a experiente blogueira foi ainda fisgada pelo humor de Fábia Cardoso, a Fal, e pela delicadeza de blogs como o de Esther Bittencourt.

    Os fãs de Cora são tão fiéis que alguns ganharam uma senha para apagar os comentários indesejáveis no período da manhã, pois ela não dorme antes das 5 e seu blog fica desguarnecido nesse período. Cora se diverte ao saber que algumas blogueiras a chamam de "oráculo". "Deve ser por causa da minha idade", desconversa.

    Um bom blog, segundo ela, deve exibir textos curtos e ser constantemente atualizado. Ela desaconselha que se recomende outro blog apenas por companheirismo, pois isso afetaria a credibilidade. "Posso até gostar pessoalmente de um determinado autor, mas, se o conteúdo for ruim, deixo fora dos meus links", diz ela. E fecha o "coráculo".
    Eu citei mais alguns bogs; claro que no espaço reduzido de uma revista não podem entrar dezenas de links, mas sinto particularmente pela ausência, na lista, do blog da VanOr, um dos meus grandes favoritos.

    Por falar nisso: ela agora tem anúncios! Não pode pedir aos leitores que cliquem neles, mas eu, que não me chamo Joaquim e não moro em Niterói, posso! Então, galera, vamos dar uma força à nossa Van e clicar nos anúncios de lá?

    Valeu! :-)

    Não é linda a barriguinha do Mosca?




    Bom dia!




    24.4.07

    Sobre os comentários

    Por favor, usem o link de comentários à esquerda, do Falou & Disse; quando eu voltar pra casa, vou desativar novamente o Yaccs, mas antes vou ter de passar os comentários lá feitos para o F&D -- é, vai ser um trabalhão.

    A administração agradece!


    Prontinho, gente, acabou o estranho caso de dupla personalidade!

    Valeu, pessoas!




    E agora, para o jornal!




    Momento Livro do Bebê




    Adoro o Sérgio




    Outro intervalo




    No estúdio




    Intervalo




    Ah, hoje estou no Sem Censura




    Bom dia!




    23.4.07

    A caminho do Fellini




    Desculpem a nossa falha técnica...

    mas os comentários estão fora do ar... :-(

    (Provisoriamente, ativei os comentários do YACCS)

    A alma imoral

    Fui assistir à "Alma Imoral", do rabino Nilton Bonder. A peça é um sucesso extraordinário, com lotação esgotada todos os dias.

  • Pessoalmente, sou um animal literário, que prefere ler textos corridos a ouvi-los, seja em audio-books, seja no palco; isso, claro, influencia a minha opinião.

  • A encenação é um ato de bravura de Clarice Niskier, inclusive pelo fato de se apresentar nua, eventualmente enrolando-se e desenrolando-se, com muita habilidade, num pano preto.

  • Ainda assim, acho essa nudez desnecessária. O fato de "na natureza não haver nudez" não significa, necessariamente, que a atriz que pronuncia essas palavras tenha que estar nua. Considerando-se o fato de que a proposta da peça é discutir a alma e o pensamento, em tese as almas é que deveriam estar nuas -- mas, no caso dos espectadores, elas, ao contrário, se vestem na nudez da atriz, ou seja, aquele passa a ser o ponto de (des)conforto da apresentação. Um amigo que estava ao meu lado, por exemplo, fechou os olhos durante metade da peça porque queria pensar sobre o que estava sendo dito, sem distrações. Ainda que em nenhum momento a nudez de Clarice seja erótica, ela é gratuita... (a palavra que eu quero é distracting, ou seja, algo que rouba a atenção; ainda não achei um correspondente bom em português, mas continuo pensando. Aceitam-se sugestões!).

  • Concordo com as idéias do rabino, que batem muito bem com as minhas. Discordo apenas -- e veementemente -- da noção de que um animal que se reconheça como tal deixa de ser o animal que é. A idéia por trás dessa afirmação é, suponho, destacar a nossa capacidade de raciocínio, mas acontece que TODOS os animais têm a exata noção do que são; apenas não enunciam a questão. Um gato sabe não só que é um gato, mas sabe exatamente o tipo de gato que é, a tal ponto que gatos parecidos têm uma dinâmica peculiar de comportamento. Os elefantes sabem tanto quem são que, quando apresentados a ossadas dos seus antepassados, ficam profundamente perturbados. Os elefantes são, possivelmente, a única espécie do planeta que sabe separar os ossos dos familiares de ossos de estranhos. Manda um humano fazer isso, sem teste de DNA...

  • De qualquer forma, é ótimo ver uma peça que discute idéias atrair tanta gente.
  • A arte de capinar comentários

    (Esta coluna foi escrita como comentário à ótima matéria do André Machado, publicada na última página do caderno, "Código de conduta para blogs?")
    Como blogueira de longa data, já passei por toda a espécie de perrengue nos comentários: de chatos insuportáveis a anônimos que aproveitam a falta de exigência de cadastro para dizer desaforos que, tenho certeza, jamais ousariam dizer se estivéssemos frente a frente.

    Até aqui, graças à ajuda de amigos que se revezam como "gerentes de comentários", não precisei tomar nenhuma atitude drástica, como moderá-los ou exigir cadastro dos freqüentadores; sequer exijo endereços de email, porque sei que não há nada mais fácil do que criar uma mailbox fantasma.

    Gosto de áreas de comentários abertas, como botequins virtuais.

    Também não exijo que ninguém se identifique. Vários leitores freqüentam o blog há anos com apelidos; a tal ponto que, quando eventualmente os encontro na vida real, não consigo chamá-los pelos nomes verdadeiros. Há incontáveis razões que levam as pessoas a preferir nicks à própria assinatura, e não acho que isso chegue a prejudicar a dinâmica da interação online.

    Mas este é um equilíbrio delicado, porque, de fato, muita gente não conhece limites. Lá estou eu, com nome e email à disposição de todos; seria de se esperar que alguém que entra no blog especificamente para atacar a mim ou outro leitor tivesse a cortesia elementar de se identificar da mesma forma; mas a covardia, infelizmente, é mais disseminada entre os bípedes do que se imagina.

    O curioso é que são essas pessoas, justamente, que gritam "Censura!" quando apago algum comentário inconveniente...

    Ora, eliminar comentários que fogem às regras tácitas da boa convivência não é censura; é, infelizmente, algo essencial para manter o ambiente saudável. Assim como eu não publicaria uma carta cheia de insultos e palavrões no jornal, não permito comentários semelhantes no blog.

    Em suma: a palavra básica da convivência online é "bom-senso".

    (O Globo, Info etc., 23.4.2007)

    22.4.07

    Vantagens da gripe

    Estou lendo "Confissões de um burguês", memórias do grande Sándor Márai. Como todos os livros do autor, é maravilhosa leitura; mas é duplamente interessante para mim por falar da Hungria em que viveu meu Pai. Embora houvesse uma distância social intransponível entre a pequena nobreza rural da qual descendia Márai e a família de comerciantes judeus na qual descendo, tudo me é extremamente familiar. Reconheço hábitos, comidas, os nomes de escritores que povoaram a minha infância.

    Terminei de ler "No país dos homens", de Hisham Matar. É um livro fascinante e terrível: Suleiman, o protagonista, é um menino que cresce na Líbia de Kadhafi. É através de seus olhos inocentes e de seus sentimentos confusos que aprendemos a realidade à sua volta, e nos afligimos, adultos que somos, com gestos e sinais que, sabemos, prenunciam o horror.

    E, na Veja dessa semana, páginas amarelas com Robert Hughes: sensacional! Amo Robert Hughes, o mais lúcido e divertido crítico de arte que conheço, e escritor poderoso -- há pouco tempo li, com atraso, "The Fatal Shore", extraordinária história da Austrália, seu país de origem.

    Diz ele, entre outras coisas:
    "Hoje se podem encontrar bons escultores e pintores, mas a idéia de que a arte atual possa um dia se igualar às enormes realizações do passado é um disparate. Nenhuma pessoa séria, por mais que se empolgue com a arte contemporânea, pode acreditar que ela um dia será comparada àquilo que foi feito entre os séculos XVI e XIX."
    Nada a acrescentar.

    21.4.07

    Para Ribondi



    O que me amarra mesmo, lá para as bandas do México, são os únicos, inimitáveis Los Panchos. Não há muito material deles em filme no You Tube, mas é um barato ver os esforços que os fãs fazem para divulgá-los.

    Clicando aí em cima, você ouve História de un amor; e ainda tem Noche de Ronda (também sobre uma foto) e Flor de Azalea (filme mesmo!).

    Outro clássico imperdível em filmino de época é Malageña, com o Trio Tariacuri: uma gravação simplesmente inolvidable.

    Besos!

    Estaleiro




    Saudade TEM idade



    O que faz uma criatura gripada que não consegue se concentrar nos livros? Mergulha no You Tube, claro; assim é que passei os últimos dois dias viajando na máquina do tempo.

    Confesso que fiquei absolutamente chocada quando vi a data deste clip:

    1966!

    Descobri Peter Paul & Mary um ano depois, em 1967, quando nossa família viveu um ano letivo nos Estados Unidos.

    Desde então não parei de ouví-los. Em qualquer fita cassete que eu gravasse, em qualquer playlist que eu faça, sempre houve, sempre há Peter Paul & Mary.

    Lá se vão quarenta anos, e eu nem percebi.

    *suspiro*

    19.4.07

    Mosca e os percalços da fama





    Maria Lenk,
    a master mestra

    Lembranças de um mundial na Itália

    Em dezembro de 2003, Maria Lenk, então com 89 anos, quebrou o fêmur. A notícia causou grande consternação aqui em casa; ela e Mamãe eram não só amigas como colegas de natação, e preparavam-se para disputar o Mundial de Masters de 2004, que se realizaria em junho em Riccione, na Itália. Duas semanas depois, porém, quando Mamãe desceu de Friburgo e foi visitá-la, as notícias foram ótimas. Maria estava não só em franca recuperação, como tenazmente disposta a participar do campeonato.

    Agora imaginem a cena: uma senhorinha de 79 anos, aliviada porque a amiga, de 89, que acabara de passar por uma delicada cirurgia para reparar uma fratura complicadíssima, garantia a participação num mundial de natação! Quem não as conhecesse, teria todo o direito de achar que estavam delirando. Mas as sereias vintage são, como todas as sereias, muito enganadoras. Por baixo da aparência frágil de velhinhas escondem uma determinação inabalável, uma fibra de ferro. São as verdadeiras Super Mulheres.

    Tive a sorte de poder acompanhar Mamãe a Riccione e ver Maria Lenk cumprir a promessa. Ficamos na mesma pensão, junto com duas outras sereias maravilhosas, a Luzia e a Érika. Mamãe e dona Luzia ocupavam um quarto, Érika e a Maria Lenk outro. Eu, que passo a noite acordada no computador, tinha um quarto só para mim -- imagina se aquelas atletas exemplares tinham condições de conviver com criatura tão indisciplinada!

    Não sei a que horas iam para o parque aquático, que ficava a uma boa distância da pensão. Só sei que, pelos meus padrões, eu acordava horrorosamente cedo e, ainda assim, quando chegava à piscina, todas já tinham faturado pelo menos uma medalha. Eu ainda estava semi-adormecida e pensando em café da manhã, e elas, animadíssimas, já discutiam o almoço. Muito humilhante!

    * * *

    A rotina de um campeonato é exaustiva. A cada prova correspondem horas e horas de espera. Em Riccione, esse tempo era passado no gramado ao lado da piscina, transformado pela chuva num gigantesco lamaçal. Equipes que já conheciam as instalações tinham se precavido e montado barracas, mas a maioria dos nadadores ficava mesmo solta por ali, tiritando de frio. Era um esquema meio selvagem, para dizer pouco.

    O terreno era particularmente difícil para Maria Lenk, que não podia pôr o pé no chão e andava com auxílio de muletas. Era com visível sacrifício que ia até a piscina; uma vez na água, porém, estava em seu elemento. É claro que, por causa da cirurgia recente, não estava no auge da forma. Não bateu nenhum recorde, como de costume, e, ao contrário do que sempre acontecia, não chegou a vencer nenhuma prova, embora tenha conquistado várias medalhas de prata.

    Qualquer mortal comum ficaria em estado de graça por se classificar em segundo lugar num mundial; Maria Lenk, no entanto, não me pareceu muito contente. Não cheguei a conversar sobre isso com ela, mas tive a nítida impressão de que, lá no fundo, estava convencida de que o Barão de Coubertin não sabia da missa a metade.

    Tenho implicância com a expressão "lição de vida" -- mas não encontro outra forma para definir a sua atitude. Outra pessoa teria ficado em casa, teria evitado a longa viagem e os desconfortos do campeonato; acontece que Maria Lenk não era Maria Lenk por nada. Desde então, sempre que penso em desistir de alguma coisa por causa de uma contrariedade, me lembro dela.

    Qualquer um que chegue aos 50 com a garra e a determinação com que ela chegou aos 92, pode dizer que venceu na vida.

    * * *

    Tentei enxotar todos os assuntos que me insultaram durante a semana, mas não consigo me livrar de uma frase do Iluminado, que explica, em boa parte, porque nunca antes, na história deste país, um presidente demonstrou tanta aversão pelo trabalho:

    "Se um dia vocês chegarem à Presidência da República, vão perceber que esse é o ápice de um ser humano" -- proclamou. -- "Não tem nada além disso."

    Ele já chegou lá; pronto!

    E eu aqui, inocente, achando que o "ápice do ser humano" era a elevação espiritual conquistada através do bem e da sabedoria, ou a glória suprema de se viver uma vida longa, reta e vitoriosa como a da Maria Lenk...

    Que falta de ambição estarrecedora essa de se contentar com as mordomias, com os puxa-sacos, com o aviãozinho! Como Collor antes dele, Lula está tão ofuscado pelo poder que não percebe a grandeza do que jogou fora —- a possibilidade de fazer História com H maiúsculo, em todos os sentidos.

    * * *

    Por falar nisso: "O Globo" fez História na primeira página de ontem, ao pôr tarja no rosto do morto velado no Cemitério do Catumbi. Está na hora de proteger a imagem das pessoas de bem.

    (O Globo, Segundo Caderno, 19.4.2006)

    17.4.07

    Atenção: este debate já aconteceu!

    Republico a coluna por causa de
    duas ou três coisas que escrevi aqui e disse lá.

    Discutindo a pirataria, no CCBB

    Vai ao ar amanhã, no CCBB, mais um módulo do ciclo de debates "Piratas da Cultura - comunicação e cidadania", que acontece todas as terças do mês no auditório do 4º andar. A idéia do curador do ciclo, o professor João Maia, da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, é propor a ampliação da visão sobre a pirataria, deslocando a discussão do âmbito jurídico para o âmbito antropológico. Trata-se, em suma, de pensar a pirataria como uma estratégia popular que, de certa maneira, democratiza o acesso a bens culturais antes restritos a certos circuitos.

    Esta vossa escriba participa do "capítulo" de amanhã, às 18h30, junto com Dagomir Marquezi, da "Info", Carlos Albuquerque, aqui do GLOBO, e Sérgio Branco, da Fundação Getúlio Vargas. Vou falar sobre pirataria tecnológica, uma área muito polêmica, a despeito do que pretendem fazer crer as associações de produtores de software, que desde que os primeiros computadores nasceram, queixam-se amargamente dos "prejuízos" que lhes são impostos pelos piratas.

    Para mim, o próprio termo "pirata" não tem a conotação que lhe atribuem; quem vende software produzido por outros é ladrão, e ponto. Acho ingenuidade ou má fé pôr no mesmo saco essas pessoas, que agem em busca de um lucro ilícito, e usuários que trocam programas, sem qualquer ganho, em busca de conhecimento.

    Já escrevi inúmeras vezes sobre isso. Os produtores cometem o erro básico de imaginar que todas as pessoas que copiam programas - ou, hoje, dada a disseminação geral do roubo puro e simples, compram programas a dez real - comprariam os seus produtos pelos preços praticados no mercado oficial.

    Um software que é muito interessante como distração, sem custo, some da lista de prioridades quando custa uma pequena fortuna. Ainda não se inventou melhor forma de combate à pirataria do que preços razoáveis.


    (O Globo, Infoetc., 16.4.2006)

    Bate papo




    O céu está lindo!




    Enquanto isso, lá em cima...

    "More than any time in history mankind faces a crossroad. One path leads to despair and utter hopelessness; the other to total extinction. Let us pray that we have the wisdom to choose correctly." -- Woody Allen


    Há alguns anos peguei um táxi em Houston, Texas, onde participava de uma conferência. O motorista era chileno -- e lá fomos nós batendo papo em portunhol até o meu destino. Perguntei por que tinha emigrado, e a resposta foi a de dez entre dez motoristas de táxi estrangeiros radicados nos EUA: as coisas andavam difíceis em casa, precisava ganhar dinheiro. Já morava em Houston há quase dez anos, adorava a cidade, o clima e o trabalho, estava feliz.

    -- Então você não volta mais?

    Como não? Lógico que voltava! Aliás, sonhava com isso. Assim que tivesse o suficiente para comprar uma casinha em Santiago, adiós , América...

    -- Ué, mas não está tudo tão bom aqui?

    Ah, sim, claro. Ninguém podia, em sã consciência, se queixar de Houston, do clima ou da grana disponível para quem estivesse decidido a dar duro. O problema eram as pessoas. Perguntei o que havia com as pessoas.

    -- Lo que passa, señora, es que son todos anormales.

    Não adianta. Sei que essa é uma generalização ridiculamente exagerada, mas a primeira coisa que me vem à cabeça quando fico sabendo de horrores como este massacre na universidade de Virginia são mesmo as palavras do Filósofo Anônimo de Houston.

    Piratas da Cultura, no CCBB

    Içar velas, consultar a bússola, girar o leme. As grandes navegações que expandiram infinitamente a visão de mundo dos europeus no século XV encontram eco nas megalópoles globais. É o que caracterizará o seminário ‘Piratas da cultura - comunicação e cidadania’, que será realizado todas as terças de abril no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Esta é a primeira vez que o CCBB, uma das mais importantes instituições culturais da América Latina, com quase 20 anos de atuação, abriga discussões específicas sobre o assunto, num evento exclusivamente dedicado ao tema.

    O evento propõe uma ampliação da visão sobre a pirataria, partindo das discussões contemporâneas, pautadas prioritariamente por marcos legais defasados. Com o ciclo, pretende-se deslocar a discussão do âmbito jurídico para o antropológico, pensando na pirataria como estratégia popular que, de certa maneira, democratiza o acesso a bens culturais antes restritos a certos circuitos, bem como interpreta esta pirataria como uma atualização do processo de antropofagia, enunciado pelo modernismo em 1922.

    Gostei da proposta, e topei participar: estarei hoje à tarde, às 18h30, no auditório do CCBB, conversando com Dagomir Marquezi (Revista Exame), Calbuque (O Globo) e Sérgio Branco (FGV).

    Nosso papo dedica-se, particularmente, à pirataria hi-tech.

    Apareçam por lá! É grátis e acho que vai ser bem animado...

    16.4.07

    no cabelereiro






    Fiquei muito sentida com a morte da Maria Lenk, grande amiga e colega da Mamãe, e mais célebre das "sereias vintage".

    Convivemos relativamente pouco, porque os campeonatos são de manhã e, também, porque nos faltavam assuntos em comum -- verdadeira máquina de nadar, a Maria só falava de natação, assunto no qual eu, sem trocadilho, bóio completamente.

    Ainda assim, era um prazer vê-la em atuação. No mundial de Riccione, há três anos, ela acabara de sair de uma complicada cirurgia no quadril. Estava com 89 anos. Precisava de muleta para andar, e era com grande sacrifício que ia até a piscina; uma vez na água, porém, estava em seu elemento.

    Tenho certa implicância com a expressão "lição de vida" -- mas não encontro outra forma para definir a sua atitude. Qualquer outra pessoa teria ficado em casa, teria evitado a longa viagem e os desconfortos do campeonato, onde mais se espera do que se nada.

    Não a Maria Lenk, que não era a campeã que era à toa.

    Desde então, sempre que penso em desistir de alguma coisa por causa de uma contrariedade qualquer, me lembro dela.

    Quem consegue chegar aos 70 com a garra e a determinação com que ela chegou aos 92, pode dizer que venceu na vida.

    A florzinha que sobreviveu aos gatos




    14.4.07



    A Kidity descobriu um site ótimo sobre bicicletas!

    Lá encontrei respostas a várias dúvidas que tinha, e até a algumas que não tinha.

    Recomendo muito, especialmente para quem não sabe qual bicicleta comprar; e para quem, tendo comprado, quer tirar a magrela da garagem e sair para umas voltas.

    Valeu, Kidity, muito obrigada!

    OT: Como vão as rãs albinas?

    Esse garoto vai longe!

    Foi com esta foto absolutamente espetacular que o Lucas -- o "nosso Lucas" -- ganhou um concurso organizado pela embaixada americana.

    Ele vai passar dez dias no Parque Nacional Everglades, na Flórida, e ainda vai levar, de quebra, uma câmera V570 da Kodak.

    Quando ele for famoso, nós, aqui do blog, poderemos nos gabar:

    -- Ahá, nós vimos primeiro!

    Parabéns, Luquitos! Se há um prêmio merecido, é esse: a sua foto não é obra do acaso, mas de muita persistencia, muita curiosidade, muita dedicação e, sobretudo, muito talento.