"Mesmo um relógio parado acerta duas vezes por dia", diz o ditado; encontramos provas disso constantemente, às vezes com grande surpresa. Acabo de ler o "Jornal do Brasil" e, acho que pela primeira vez na vida, concordo em gênero, número e grau com o ditador Fidel Castro, que, num artigo publicado no Granma semana passada e hoje reproduzido no JB, faz a crônica de milhões de mortes anunciadas.
Fidel denuncia o sinistro encontro de Lula com Bush em que se discutiu a produção de etanol e, embora cheio de dedos com o Brasil, faz a pergunta que ninguém fez:
-- Quem vai fornecer os mais de 500 milhões de toneladas de milho e de outros cereais de que os Estados Unidos, a Europa e os países ricos precisam para produzir a quantidade de galões de etanol que as grandes empresas norte-americanas e de outros países exigem como contrapartida de seus inúmeros investimentos?
O ditador aponta o seguinte: os cinco principais produtores dos cereais que Bush quer converter em combustível fornecem ao mercado mundial 679 milhões de toneladas. Os cinco principais consumidores precisam, atualmente, de 604 milhões. O excedente não chega a 80 milhões de toneladas.
Pior: num mundo ameaçado pela fome, o esbanjamento de alimentos para produzir combustíveis serviria para poupar aos países ricos menos de 15% do consumo de seus automóveis.
Fidel faz referência a um artigo anterior (que não li), em que apontava que a simples substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes permitiria uma poupança de recursos energéticos muito superior à que se obteria com a produção do etanol em larga escala -- "sem mexer num só hectare de terra agrícola".
Eu já andava assustada com a questão do etanol desde que Bush e O Iluminado começaram a conversar sobre o assunto; desde que soube que estrangeiros têm comprado vastas extensões de canaviais; e, sobretudo, desde que os jornais noticiaram que o presidente José Dirceu dedica-se, agora, ao rentável mercado do etanol.
Depois de ler o que Fidel escreveu, estou francamente apavorada.
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