30.4.07

Um pesadelo de consumo

Recebi um email de um amigo. Dessa vez, para variar, não se tratava de uma consulta sobre compra de equipamento; o amigo é craque na área e sabe muito bem o que quer. Mas, como todo cidadão brasileiro, não agüenta mais ser esfolado pelo governo:

"Este email é só para desabafar (mais uma vez) sobre nossos impostos. Estou encantado com um novo laptop, o HP Tablet Pavillion TX1070BR. Ele custa R$ 8 mil nas Lojas Americanas, em dez vezes "sem juros". Vamos calcular o dólar a R$ 2,2 o que dá US$ 3.636. Ora, no site da HP nos Estados Unidos, a mesma configuração custa US$ 1.131 (R$ 2,5 mil)!

Ou seja, aqui pagamos não o dobro, mas mais do triplo (3,21) do preço que um consumidor americano paga pelo mesmo produto! Nada mais nada menos do que US$ 2.505 (cerca de R$ 5,5 mil) a mais! E note que a HP americana não é uma instituição beneficente, e é de supor que, neste preço, haja uma boa margem de lucro embutida.

Agora me diga se isso não é o governo agindo como o pior dos mafiosos: "Aí ó: quer comprar um computador? Pois tem que comprar dois outros pros mano!"

Juro que o bichinho é tão sedutor que, apesar do preço astronômico, quase saí da loja com um. Mas, prudentemente, resolvi esperar uma semana, o que me deu tempo de fazer uma pesquisinha básica na internet... A extorsão praticada contra o consumidor brasileiro ultrapassou qualquer limite da decência. Não dá! Prezo meu dinheirinho e não gosto de me sentir otário.

O pior é que já estamos tão acostumados a sermos roubados que, sinceramente, cheguei a pensar que se achasse a máquina pelo dobro (!) do preço dos Estados Unidos comprava... Resultado: lá vou eu, que sou um sujeito decente, que detesta fazer as coisas por baixo dos panos, em busca de um "esquema"...

Tudo neste país nos empurra para a ilegalidade, inclusive (ou sobretudo) o destino dado aos impostos escorchantes que nos arrancam, e que só servem para financiar as mordomias do poder, para pagar mensalões e criar ministérios absolutamente desnecessários para os amiguinhos desempregados do presidente.

Desculpe o tamanho da mensagem, desculpe a falta de humor, desculpe a indignação. Você não tem nada a ver com isso, mas eu precisava desabafar com alguém. É isso. Nada de novo sob o Lábaro Estrelado."

(Info etc., 30.4.2007)

Vale acrescentar à coluna um outro email, este recebido hoje mesmo:
"Meu nome é César Salomão, sou estudante universitário de Física na PUC-RIo e leitor do Info Etc. há anos, nunca escrevi um e-mail endereçado a vocês, mas a reportagem "Um Pesadelo de Consumo" me chamou a atenção.

Não quero aumentar a indignação de seu amigo e conseqüentemente sua, mas apesar da boa avaliação do preço que ele fez, ele se esqueceu de considerar a seguinte coisa: os EUA não são o Brasil.

Temos que considerar algo mais importante do que o valor dito de um produto, temos que considerar a quantidade de salários mínimos necessários para adquiri-lo.

Segundo sua reportagem o valor do tablet pc mencionado foi de US$ 1.131, ou seja, 1.37 salários mínimos, considerando o trabalho de 160 horas mensais com o salário mínimo federal americano a US$ 5.15 a hora. Já o preço do mesmo produto no Brasil é de R$ 8.000, ou seja, 21.05 salários mínimos, considerando o salário mínimo de R$ 380 mensais.

Temos então que o produto é 21.05/1.37 = 15.36 vezes mais caro no Brasil do que nos EUA.

Assim, enquanto um profissional americano que ganhe salário mínimo trabalhará dois meses e já poderá comprar seu tablet pc, um profissional brasileiro levaria 22 meses para adquirir o mesmo produto -- ainda assim, supondo que não tenha outras despesas, o que é algo irreal de se pensar.

Sinto muito trazer mais tristeza para a reportagem, mas precisamos abrir os olhos com o nosso país.

Abraços, César S."

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