Na quarta-feira passada participei de um bate-papo sobre amor na internet no programa "Happy hour", do GNT. Por incrível que pareça, depois de tantos anos conectados, namoro pela internet ainda causa estranheza em muita gente -- e, mais estranho, em gente jovem, que já nasceu com computador ao lado do berço.
Não entendo o porquê disso. Namoro à distância, afinal, existe, imagino, desde que os correios foram inventados. Quantas pessoas não namoraram por correspondência ao longo dos séculos?! A diferença é que, como papel e tinta eram tecnologias bem conhecidas, ninguém estranhava; ao contrário, havia sempre um ar de irresistível romance nas relações epistolares.
Há também a idéia de que, na rede, as pessoas não correspondem às suas descrições. Isso é só parcialmente verdade. Ou é verdade na medida em que as pessoas mentem mais, ou menos, a respeito de si mesmas -- e isso também não é nenhuma novidade do século XXI.
Quanta gente já não viveu amargos desapontamentos na, digamos, "vida real"?! Quantas moças não começaram namoros com solteiros, ricos, estabelecidos com uma bela profissão, para descobrir, passado algum tempo, que estavam com casados, nem tão ricos, eventualmente desempregados?
O que a internet facilita, de fato, é a mentira a respeito de características físicas. Mas quanto mais sérias são as intenções de quem procura uma relação online, mais corretas tendem a ser as informações fornecidas. Todos sabem que, num encontro ao vivo, os 40 anos que têm não passarão pelos 20 que disseram ter, assim como 80 quilos não passarão por 50. É por isso, aliás, que todos os especialistas recomendam sair do virtual para o real o mais rápido possível. Gostou do perfil? Telefona. O papo agradou? Encontra.
Já ouvi gente reclamando de que relações iniciadas na internet duram pouco tempo. Não me parece, porém, que relações começadas "aqui fora" tenham garantia de durabilidade. Também há quem imagine que a internet está povoada de tipos sinistros e perigosos; e as ruas da cidade?!
A rede é uma mão-na-roda para quem foge ao padrão da eterna disponibilidade social. Onde é que a pessoa sossegada, que não gosta de barzinhos, vai encontrar sua alma gêmea? Onde é que a pessoa que trabalha o dia inteiro (e não quer saber de ninguém do escritório) vai encontrar alguém?
Foi interessante receber, durante o programa, tantos telefonemas e emails de gente que queria relatar experiências. A maioria das pessoas que entrou em contato com a produção tinha um final feliz para contar, embora houvesse, naturalmente, uma boa amostra dos casos "clássicos": o que se descrevia como ortopedista e era técnico de radiologia, a que tinha mandado ao namorado virtual uma foto feita há 20 anos e não sabia o que fazer quando ele quis marcar encontro, e assim por diante. Todos conhecemos casos assim. Todos conhecemos também muitos casos de namoros que começaram na praia ou na esquina e que também não deram certo, mas nos esquecemos deles quando se fala em amor online. Quem mandou bem mesmo foi a Aurora Maria Lopes, que deixou este comentário lá no blog:
"Meu Deus, qual a diferença entre o email e o telefone? Conheci meu marido há 40 anos por um engano pelo telefone e estamos juntos até hoje, com três filhos e três netos lindos! Sem medo de ser feliz, mesmo pela internet!"
(O Globo, Infoetc., 9.4.2007)
Nenhum comentário:
Postar um comentário