23.4.07

A arte de capinar comentários

(Esta coluna foi escrita como comentário à ótima matéria do André Machado, publicada na última página do caderno, "Código de conduta para blogs?")
Como blogueira de longa data, já passei por toda a espécie de perrengue nos comentários: de chatos insuportáveis a anônimos que aproveitam a falta de exigência de cadastro para dizer desaforos que, tenho certeza, jamais ousariam dizer se estivéssemos frente a frente.

Até aqui, graças à ajuda de amigos que se revezam como "gerentes de comentários", não precisei tomar nenhuma atitude drástica, como moderá-los ou exigir cadastro dos freqüentadores; sequer exijo endereços de email, porque sei que não há nada mais fácil do que criar uma mailbox fantasma.

Gosto de áreas de comentários abertas, como botequins virtuais.

Também não exijo que ninguém se identifique. Vários leitores freqüentam o blog há anos com apelidos; a tal ponto que, quando eventualmente os encontro na vida real, não consigo chamá-los pelos nomes verdadeiros. Há incontáveis razões que levam as pessoas a preferir nicks à própria assinatura, e não acho que isso chegue a prejudicar a dinâmica da interação online.

Mas este é um equilíbrio delicado, porque, de fato, muita gente não conhece limites. Lá estou eu, com nome e email à disposição de todos; seria de se esperar que alguém que entra no blog especificamente para atacar a mim ou outro leitor tivesse a cortesia elementar de se identificar da mesma forma; mas a covardia, infelizmente, é mais disseminada entre os bípedes do que se imagina.

O curioso é que são essas pessoas, justamente, que gritam "Censura!" quando apago algum comentário inconveniente...

Ora, eliminar comentários que fogem às regras tácitas da boa convivência não é censura; é, infelizmente, algo essencial para manter o ambiente saudável. Assim como eu não publicaria uma carta cheia de insultos e palavrões no jornal, não permito comentários semelhantes no blog.

Em suma: a palavra básica da convivência online é "bom-senso".

(O Globo, Info etc., 23.4.2007)

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