7.4.07



Ação na selva












"Cuidado com a jibóia!", gritou um dos técnicos de "Amazônia" quando íamos entrando pela trilha do Seringal Cachoeira, perto de Xapuri, onde estavam sendo gravadas cenas da terceira fase da minissérie.

Saquei a câmera na maior empolgação: "Onde, onde?" E ele: "No chão, ora!"

Para minha decepção, "jibóia" é o nome dado aos cabos que se embrenhavam mata adentro, levando luz do caminhão gerador à área de seringueiras onde Cássio Gabus Mendes interpretava Chico Mendes. Jibóia do tipo que eu esperava não vi nenhuma, até porque cobras não são bobas e tendem a fugir de áreas de muito movimento -- e há poucas coisas mais movimentadas do que uma gravação. Mas vi tucanos, papagaios, pássaros de todos os tipos, borboletas indescritíveis. Dois lindos caburés faziam point na varanda do meu quarto.

A floresta é um deslumbramento contínuo, mas gravar à sombra de suas árvores é uma autêntica operação de guerra. Além do caminhão de luz, havia um que fazia as vezes de camarim e de caracterização, com centenas de potinhos de maquiagem (e alguns litros de repelente), incontáveis roupas e acessórios de época, e outro com banheiros químicos; fora os veículos que nem consegui contar e que transportavam elenco, figurantes e equipe técnica, comida e bebida para todos, mesas, cadeiras e equipamentos de todo o tipo -- sem esquecer as centenas de sacos e latões em que se recolhia o lixo.

Terminadas as cenas, não sobrou um pauzinho de picolé no chão para contar a história. Afinal, não faria sentido falar tanto na preservação da floresta e deixar um caos de herança por lá.

Muitos dos figurantes são mesmo seringueiros e habitam a região; mas, em algumas coisas, o mundo está muito mudado. Lima Duarte, que estava quieto num cantinho assistindo às gravações, perdeu a conta das fotos que fez ao lado deles. Apesar dos cuidados da arte, quase todos traziam um celular com câmera ou uma câmerazinha digital escondidos no bolso, para registrar sua participação na minissérie.

A sorte do pessoal do som é que, no meio da floresta, os celulares não pegam. Por enquanto...

(O Globo, Revista da TV, 31.3.2007)

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