23.4.07

A alma imoral

Fui assistir à "Alma Imoral", do rabino Nilton Bonder. A peça é um sucesso extraordinário, com lotação esgotada todos os dias.

  • Pessoalmente, sou um animal literário, que prefere ler textos corridos a ouvi-los, seja em audio-books, seja no palco; isso, claro, influencia a minha opinião.

  • A encenação é um ato de bravura de Clarice Niskier, inclusive pelo fato de se apresentar nua, eventualmente enrolando-se e desenrolando-se, com muita habilidade, num pano preto.

  • Ainda assim, acho essa nudez desnecessária. O fato de "na natureza não haver nudez" não significa, necessariamente, que a atriz que pronuncia essas palavras tenha que estar nua. Considerando-se o fato de que a proposta da peça é discutir a alma e o pensamento, em tese as almas é que deveriam estar nuas -- mas, no caso dos espectadores, elas, ao contrário, se vestem na nudez da atriz, ou seja, aquele passa a ser o ponto de (des)conforto da apresentação. Um amigo que estava ao meu lado, por exemplo, fechou os olhos durante metade da peça porque queria pensar sobre o que estava sendo dito, sem distrações. Ainda que em nenhum momento a nudez de Clarice seja erótica, ela é gratuita... (a palavra que eu quero é distracting, ou seja, algo que rouba a atenção; ainda não achei um correspondente bom em português, mas continuo pensando. Aceitam-se sugestões!).

  • Concordo com as idéias do rabino, que batem muito bem com as minhas. Discordo apenas -- e veementemente -- da noção de que um animal que se reconheça como tal deixa de ser o animal que é. A idéia por trás dessa afirmação é, suponho, destacar a nossa capacidade de raciocínio, mas acontece que TODOS os animais têm a exata noção do que são; apenas não enunciam a questão. Um gato sabe não só que é um gato, mas sabe exatamente o tipo de gato que é, a tal ponto que gatos parecidos têm uma dinâmica peculiar de comportamento. Os elefantes sabem tanto quem são que, quando apresentados a ossadas dos seus antepassados, ficam profundamente perturbados. Os elefantes são, possivelmente, a única espécie do planeta que sabe separar os ossos dos familiares de ossos de estranhos. Manda um humano fazer isso, sem teste de DNA...

  • De qualquer forma, é ótimo ver uma peça que discute idéias atrair tanta gente.
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