16.9.01

Momento crítico


Desde o dia 11, poucas coisas vêm sendo discutidas tão intensamente na internet quanto o papel da tecnologia nos atentados. De um lado, os celulares e agendas conectadas que permitiram às pessoas avisarem às famílias que estavam bem ou, absoluto horror, que o seu avião havia sido sequestrado ou o prédio estava caindo. De outro,a possibilidade de que a internet tenha, de alguma forma, facilitado a comunicação entre os terroristas.

No dia seguinte ao atentado, o FBI já estava batendo à porta dos maiores provedores de acesso e instalando Carnivores em seus servidores. O Carnivore é um software que permite a leitura do conteúdo dos e-mails que trafegam de um lado a outro; ele próprio faz uma leitura inicial desta massa de informação buscando pelas palavras-chave que, em tese, acenderão a luz vermelha para que um agente entre e cena e veja o que diz a perigosa mensagem. Como se, ao planejar um atentado, alguém precisasse, necessariamente, usar as tais palavras-chave...

Mas, como seria de se esperar, houve pouca, quase nenhuma resistência a este software que, há poucos meses, era execrado pela comunidade de TI. Na maioria dos fóruns de discussão sobre tecnologia de segurança, americanos se dizem dispostos a permitir que seus telefones sejam grampeados e seus e-mails escarafunchados pelo FBI se isso contribuir para a segurança do país. Essa reação absurda, que está assustando os usuários de outros países, só se explica pelo medo - e, possivelmente, pela ignorância do que seja, de fato, um estado policial.

Terroristas usam a internet? Provavelmente. Mas eles também usam os correios, e nem por isso vamos dar autorização para que a nossa correspondência seja rotineiramente aberta e lida em nome de uma vaga segurança. O Carnivore (e seu colega europeu Echelon) darão algum resultado? Talvez. Quando se vasculha tudo, o tempo todo, alguma coisa sempre se encontra - mas não o suficiente para que, em nome dela, se prive toda uma sociedade de seus direitos básicos e de sua liberdade de expressão.

O Globo, 16.09.2001

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