(in)Segurança
Como o post anterior, este também está sendo escrito a bordo. Quando a gente tem doze horas de vôo pela frente (em cada perna!) dá para fazer muita coisa... No primeiro pedaço da viagem, pela Varig, eu estava tão cansada que só deu mesmo pra escrever, esperar a decolagem de verdade (quer dizer, rumo a Los Angeles) e jantar. Chegamos a Los Angeles às 8h00, e este vôo em que estou agora, da Korean Air, só saiu às 12h30. Mas pergunto, sinceramente: o que são quatro horas e meia para uma mulher que está querendo escolher uns cosméticos básicos no Duty Free?!
O aeroporto de Los Angeles também estava vazio. Não tirei nenhuma foto porque aquele povo não é propriamente conhecido pelo senso de humor, ainda mais nesses dias tensos. Vai que um deles cisma de achar que estou fazendo fotos indevidas de instalações nevrálgicas, ou sabe-se lá o quê. Brincadeira? Pensem de novo: em todos os vôos chegando ou saindo dos Estados Unidos, estão proibidas facas de verdade para a comida (nos vôos internos nem conta, porque eles nunca servem comida, mesmo). Tanto na Varig quanto na Korean, o negócio é talher de plástico... como se essa fosse a causa de todos os males que nos afligem. O pior é que as facas sumiram antes que fossem feitas as necessárias adaptações no cardápio. Vocês já tentaram cortar cordeiro assado com faca de plástico? Não? Pois aceitem um conselho de quem já tentou: peçam a sopa.
Eu não sou uma pessoa mal-intencionada, nem tenho grande imaginação para bolar crimes ou atentados.Nunca descobri o final de um livro da Agatha Christie sem trapacear, por exemplo e, entre outras coisas, fiquei perplexa com os atentados porque nada daquilo jamais teria me passado pela cabeça. Mesmo assim, apenas olhando o que temos à mão, vejo diversas armas em potencial ignoradas por esta segurança de jardim de infância que não quer facas a bordo ("Nada disso, crianças, vocês podem se cortar!"): garrafas, por exemplo. Quem já viu um western sabe que uma garrafa quebrada é uma arma e tanto. E quem já viu La Femme Nikita sabe que há poucas coisas tão contundentes quanto um lápis bem apontado. Os pratos de porcelana fininhos: quebre um ao meio e você terá um bom objeto pontiagudo em mãos. Os cadarços do sapato do cara que está ao meu lado, que qualquer sequestrador de tamanho médio pode usar para estrangular aeromoças pequenas...
Fora o que não vi. Apenas na minha mala de mão, cuidadosamente revirada tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, há um tubo enorme de mousse para pentear, um notebook e uma câmera digital. Duas vezes me pediram que ligasse o notebook, mas ao tubo e à câmera, a meu ver mais perigosos, ninguém deu a menor atenção. Na câmera, no vão das pilhas, caberiam pelo menos duas facas bem espertas. No spray, poderia haver uma quantidade de gás suficiente para acabar com um bocado de gente. Lembram do metrô de Tóquio? Pois é.
Mas tudo isso é bobagem. Não são medidas rudimentares e infantis como essas (fora com as tesourinhas de unha! abaixo os alicates! lixas de metal, adeus!) que vão resolver o problema de seqüestros cometidos por kamikazes. Contra uma pessoa que está disposta a morrer, há muito pouco a fazer -- se é que há, por pouco que seja, a não ser impedi-la de embarcar.
No Los Angeles Times de hoje, domingo, há uma matéria gigantesca a respeito das falhas da fiscalização dos aeroportos americanos. Um expert em segurança israelense disse tudo: "Há uma diferença de enfoque. Os americanos continuam procurando a bomba. Já a El-Al quer encontrar o cara que vai detonar a bomba".
É isso aí. Nos aviões da El-Al, que estão entre os mais seguros do mundo, as refeições continuam sendo servidas com todos os talheres, mas as cabines de comando são invioláveis. Há tempos.
Olhem bem!
Este é o cartão de milhagem de um dos meus companheiros de viagem, o grande (em todos os sentidos) José Ramalho. Eu nunca vi um desses antes, e vocês também provavelmente não. Este é o cartão de um camarada que já completou um milhão de milhas voadas numa mesma companhia! Na verdade, ele já está com 1.200.000 milhas, e tem um novo plano de metas: quer completar dois milhões. O que, pelos cálculos dele, deve acontecer dentro de dois anos e meio. Como é: tem louco pra tudo, ou não tem?
Adendo, no dia 23.09.01, às 23h28 (hora local): Cheguei a Seul. Sã, salva e morrendo de sono. Novas notícias em breve, ou em edição extraordinária...
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