13.9.01

Notícia à flor da pele


A Lia, que faz um blog muito bom, está contente com a reação da imprensa ao papel desempenhado pelos blogs durante os últimos acontecimentos. Como blogueira (inda que principiante) também estou -- foi, sim, dado um bom destaque aos blogs, e não só no Globo, onde trabalho, porque aí seria fácil, né? mas também nos grandes portais. O fato é que estamos vivendo uma época única, de mudança de paradigma, em que a notícia deixa de ser mercadoria exclusiva dos veículos "oficiais", e passa a ser o que sempre foi, desde tempos imemoriais -- a manifestação das vozes (por vezes dissonantes) de bípedes que querem transmitir as suas emoções e experiências aos outros bípedes, seus semelhantes. Algo que deixa de ser exclusivamente fechado (como, p.e., em All News That's Fit To Print. Quanta arrogância! Quem sabe o que é fit?!) e passa também a circular livremente, de boca em boca, de blog em blog.

(Quer dizer que os blogs vão substituir os jornais? Os noticiários de rádio e TV? Não, é claro que não vão. Mas, com a internet, pela primeira vez, desde que a humanidade deixou para trás as pequenas cidades em que todo mundo se conhecia, o cidadão comum --pelo menos, o que já tem acesso à rede -- pode se fazer ouvir onde quer que seja. Assim como o rádio não acabou com os jornais, nem a TV acabou com o rádio e os jornais, a internet também não vai acabar com ninguém; vai apenas se juntar ao fluxo de informações já existente, não apenas contribuindo para engrossar o caldo mas, principalmente, para mudar a receita.)

Me desculpe a garotada que freqüenta as faculdades de comunicação, mas eu -- que nunca me formei em coisa alguma, e sempre fui contra a obrigatoriedade do diploma de comunicação para exercício da profissão -- acho que jornalista a gente é de nascença, ou não é. O que se vai acrescentar a isso depois é o domínio das técnicas do ofício -- mas isso, sinceramente, é o de menos.

A Deb, do alto dos seus 19 anos, provou ser muito mais jornalista do que muito colega de diploma e carteirinha. Também, por exemplo, aquelas meninas mostradas pelo Jornal Nacional, que estavam quietas em Nova York e saíram correndo com suas câmeras para o WTC assim que souberam dos atentados -- elas são essencialmente "jornalistas" e, ainda que tenham prometido às mães que vão se cuidar mais, não vão não, não tem jeito. Quando um jornalista sabe que há alguma confusão rolando perto de onde ele está, sai correndo para lá. Está no sangue.

Desnecessário dizer o quanto me orgulho de pertencer a este grupo estranho.

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