20.9.02



Lula e a reserva de mercado

Como Serra, Ciro e Garotinho, Lula também veio ao GLOBO para conversar com a gente — mais especificamente, responder a perguntas de jornalistas e leitores. Brincou com a platéia, arrancou muitas risadas de todos e nos proporcionou uma tarde de agradável civismo. Saiu-se muito bem na maioria das perguntas, inclusive na que lhe fiz.

Eu lembrei que um dos fundamentos básicos do planejamento econômico dos militares (que ele andou elogiando) foi a reserva de mercado para a área da informática, que nos atrasou em várias gerações — e que ainda não foi completamente renegada pelo PT. Qual a opinião dele a respeito disso?

Com vocês, Lula:

“Vou te contar uma coisa. A reserva de mercado na área da informática foi aprovada inclusive com votos de deputados do PT, em 1982. Lembro que o grande defensor dela era o companheiro José Eudes, que era deputado federal do PT aqui. O que foi um equívoco. Se você determina a reserva de mercado para uma determinada área, então precisa fazer grandes investimentos para que você se transforme, efetivamente, num exportador do produto que você quer fabricar. Fizemos a reserva de mercado e não crescemos na área. Na verdade, você quase cria um pequeno monopólio.

Frustrando você, não vou dar o nome, porque a figura que eu vou citar é importante hoje no Brasil, é até ministro, mas certa vez viajei com uma figura para fora, defensor da reserva de mercado na informática, e quando vejo — nós estávamos vindo dos Estados Unidos — ele vem com um computador debaixo do braço, “porque o brasileiro não é muito bom”. Falei: “Mas peraí. Se você que defende está comprando aqui fora, por que que não abre logo esse negócio para todo mundo ter acesso?”

Não sou favorável à reserva de mercado na área de informática, não. Acho que a informática tem uma participação tão grande na vida do ser humano que nós precisamos estar abertos e ter acesso a tudo que for possível para que nosso país possa inclusive criar as condições para que as crianças pobres tenham acesso à informática. Para, quem sabe um dia, a escola pública vá permitir que as crianças mais pobres tenham acesso e que a gente possa daqui a dez, 15 ou 20 anos — penso sempre numa nova geração — ter uma geração muito mais bem equipada, mais bem informada. E acho que isso só virá se a gente tiver livre trânsito nessa área."

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