12.9.02



Estou devendo resposta a um monte de emails, a comentários feitos aqui e no álbum de visitas: mil perdões, pessoal, mas a barra está tão pesada...! Além do meu trabalho normal estou com duas pautas pesadas, uma tradução pelo meio, um conto sobre gatos que já estourou todos os prazos... Um dia eu ponho a vida (e este blog) em dia, prometo {sigh}.

Enquanto isso, aproveito a sorte de ter amigos que escrevem bem! Tom Taborda -- que até hoje não sei por que não tem um blog -- me mandou ontem esta mensagem. Estava sem acesso, só a recebi agora. Resolvi dividí-la com vocês. Com um dia de atraso -- ou de adiantamento, dependendo da ótica de calendário que se queira adotar:

"No dia 13/set/2001, enviei a msg abaixo para o Dines. Nas nossas 'videoretinas', temos estampadas imagens indeléveis do atentado.

Mas é sempre bom lembrar que estas marcantes imagens foram sendo criadas nas salas de edição, posteriormente. Fica a impressão, hoje, de uma brilhante cobertura da CNN, quando na verdade, do ponto de vista tele-jornalístico, foi um fiasco: demonstrou falta de agilidade, despreparo e incapacidade de cobrir o acontecimento (cá prá nós: uma única câmera num terraço distante é inadimissível! Nem mesmo o 'Cidade Alerta' faria uma coisa dessas, teria um helicóptero e alguns motoqueiros despachados para o local). Faltou chefia de reportagem na sucursal novaiorquina.

Como têm toneladas de dinheiro, nos dias seguintes foram comprando as imagens disponíveis, de amadores e profissionais independentes. E fica a idéia que cobriram o fato de todos os ângulos. A reputação está salva.

Mas os americanos são mesmo mestres em 'colocar todos seus fracassos nas Paradas de Sucesso' (vide o filme "Falcão Negro em Perigo/Black Hawk Down", um fiasco militar pintado com cores de heroísmo; patético, se comparado com "Galipoli", filme australiano sobre uma derrota militar, que é maravilhoso).


Dos terraços da CNN

por Tom Taborda


Avisam-me da inimaginável tragédia do WTC. Liguei as televisões (são três aqui no meu escritório -- uma na Globo, outra na Record e a terceira na DirecTV, alternado a CNN, a BBC e a TVEspaña; infelizmente não tenho a NET). O ato terrorista pegou não apenas o governo americano desprevenido, como também expôs o despreparo da CNN em cobrir o inesperado: uma única câmara, no alto de um terraço tão mal situado que, quando o segundo avião chocou-se, estava eclipsado pela torre da frente. E esta inepta locação manteve-se durante todos os dias seguintes. Tudo bem que, num primeiro momento, fosse o primeiro acampamento, enquanto outras equipes se posicionassem em outros terraços, outras janelas, outras ruas, outros pontos de vista. Mas isso não ocorreu, nós telespectadores ficamos reféns de um único ponto de vista. A 'estética' CNN, consolidada na Guerra do Golfo, consiste em mostrar prédios à distância sendo bombardeados. São prédios, construções inanimadas. Não existem pessoas, dentro dos prédios, não há gente, não há sangue, não há suor, lágrimas ou sofrimento. Não há vida. No dia seguinte, um novo terraço amorfo da CNN: em Cabul. A CNN confunde 'cobertura' com 'terraço'. E não agüento mais os terraços, o distanciamento da CNN! Não agüento mais a mesma escavadeira à distância, do mesmo ponto de vista, a vasculhar os escombros (não dá para colocar duas, três, cinco câmeras no local?). Será que há alguma restrição, unwritten law, do governo em relação às imagens de uma tragédia?

A Globo, convenhamos, deu 'um show' de jornalismo, ativando toda a sua infra-estrutura: os repórteres, produtores e câmeras, exibindo variados quadros e ângulos da tragédia. Até mesmo a imagem da janela do escritório, com as multidões escoando pelas ruas e, mais tarde, as mesmas ruas desertas com o carro de polícia parado, tinha mais emoção. Naquela noite, no Jornal Nacional, os editores de VT, mais uma vez mostraram porquê seus nomes aparecem nos bem-merecidos créditos de edição. Outro show de eficiência, que nenhuma outra emissora fez igual (abro um parênteses para louvar que sempre apreciei a qualidade das edições da TV Globo, mesmo quando flagrantemente apelativas, no emocional, são precisos nesta proposta; ninguem edita VT tão bem quanto os editores de VT da Globo, altamente profissionais, os melhores do mercado).

Com menos recursos locais, usando imagens de satélite foi igualmente satisfatória a cobertura da TVEspaña. Quase na madrugada, descobri zapando que a MTV.LA estava transmitindo a programação da CBS. Vi muito pouco, já o final do dia, mas a cobertura local me pareceu infinitamente superior à da CNN.

E, para terminar, como meu irmão, Felipe Taborda lembrou: ele desconfia de manipulação propagandístico das imagens, repetidamente mostradas, daqueles palestinos comemorando. Nada nas imagens atesta que eles estejam, de fato, comemorando o dito bombardeio (nenhum deles segura um jornal com as imagens das torres em chamas, por exemplo) e é uma mísera rua, meia dúzia de pessoas, com uma padaria cujo dono distribui bolos. Pode ser comemoração de um time de futebol ou até mesmo o nascimento do filho do dono da padaria. Ocorrida naquele dia, na semana anterior, ou imagens de arquivo. Já vimos antes comemorações nacionais anti-americanas nos países árabes e as imagens são completamente diferentes.

Desconfie sempre do que dizem ser as imagens, sobretudo propagandas que inflamam ódios.

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