17.3.05



Modesta Proposta do Prof. Bomílcar

Com vocês, Tom Taborda:
Entre as boas lembranças da minha vida destacam-se os almoços de domingo na casa do meu tio (já falecido) Fernando Bomílcar da Cunha Teixeira, que ensinava matemática na Gama Filho e na Estácio, conhecido como Prof. Bomílcar.

O prato favorito era a pizza tradicional, finíssima, com muzzarela e rodelas de tomate, feita na mão por minha tia -- que chegava a preparar inacreditáveis 24 tabuleiros para fazer frente à nossa voracidade. A sobremesa era, invariavelmente, mousse de chocolate amargo, na maior travessa que vocês podem imaginar; no caminho da cozinha à mesa, a primarada toda, devidamente "armada", ia atacando a travessa e enchendo suas xícaras com o troféu.

Depois de nos fartarmos "obrigado-dona-Irma" (Dona Irma era a sogra dele, culinariamente generosa; e a frase ficou para sempre na nossa família como sinônimo de fartar-se satisfeitamente, até não caber mais uma só garfada), nada melhor que um bom papo. Como meus tios foram dos primeiros a se mudar para a Barra, quase um areal na época, fazíamos a digestão em deliciosas conversas no quintal, resolvendo todos os problemas do mundo noite adentro.

Em muitos desses papos, tio Fernando reiterava a sua solução para resolver a questão da Saúde & Educação: ?Político, mulher de político e filho de político tinham que ser obrigados a utilizar escolas e hospitais públicos?.

Se a turma do "andar de cima" tivesse que utilizar tais serviços, argumentava, eles iriam naturalmente melhorar, beneficiando, em cascata, toda a população. Como o Hospital dos Servidores, hoje sucateado, mas que já foi o "hospital do Presidente e Ministros" e era um centro de excelência como um todo.

Numa penada, por decreto, ficaria determinado o seguinte:

Funcionário ou servidor público, do Legislativo, Executivo, Judiciário, Autarquia, ou Companhia Estatal, nas esferas municipais, estaduais ou federais, e seus familiares, todos estão obrigados a utilizar os Serviços Públicos: Escolas, Hospitais e Previdência.

A beleza -- e abrangência -- deste "decreto" é a palavra todos.

É funcionário ou servidor público? De autarquia (Petrobrás, Banco do Brasil etc.), ou dos poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário? Municipal, Estadual ou Federal? Foi nomeado Secretário, Ministro ou Presidente de Estatal? Tá incluído no decreto.

Da mais humilde "auxiliar de manutenção" da escolinha municipal ao poderoso Ministro do Supremo, das mais altas estratosferas da burocracia ao distribuidor de fichas do INSS, todos -- bem como seus familiares -- estariam obrigados a utilizar os serviços públicos gratuitos, hospitais e escolas até o Segundo Grau (*), e a contribuir para a Previdência "normal", em vez das "Previs" das autarquias, para não falar na obscena aposentadoria de deputados e senadores.

Todos. Sem exceção.

O único problema deste decreto é que seria votado pelos mesmos deputados que decidem:

a) o aumento do salário mínimo para a população;

b) o aumento dos seus próprios salários, independentemente do salário mínimo.

Ao mesmo tempo, seria questionado juridicamente pelos membros daquela outra casta que paira acima da população, a dos juízes das mais diversas instâncias -- que tampouco iriam abrir mão de privilégios exclusivos.

(*) O ensino público até o Segundo Grau seria gratuito nas escolas públicas. Já o ensino universitário, mesmo nas universidades públicas, seria pago, com as devidas bolsas de mérito. Ensino superior é um privilégio dos mais capazes e não um direito de todos. (Tom Taborda)

Nenhum comentário: