inVEJA
Não dá para entender certas notas da Veja sem pensar em falta de assunto, na melhor das hipóteses, ou mau-caratismo, na mais provável.Há coisa de duas, três semanas, esta nobre e altaneira publicação, que tem mania de se pôr no papel de ombudsman da vida intelectual e jornalística nacional, como se estivesse acima do bem e do mal, publicou uma nota burra e venenosa, chamada "Pagos para elogiar", "denunciando" o gravíssimo fato de que escritores recebem para escrever prefácios.
Vejam vocês: escritores pagos para escrever! Alguém já viu semelhante absurdo?!
Escritor tem mais é que morrer de fome, todo mundo sabe.
Independentemente disso, com cachê ou sem, não conheço ninguém de respeito que escreva um prefácio ou apresentação se não tiver gostado do leu, viu ou ouviu. Afinal, é a reputação de quem escreve que fica em jogo ao dar o aval, e não a dos editores da Veja.
Mas a revista conferia à nota um tom sórdido, como se estivesse revelando ao público um segredo tenebroso da indústria editorial: escritores ganham de R$ 500 a R$ 1.000 por prefácio!!!
Escândalo!!!
Desse jeito, onde vamos parar?!
Não toquei no assunto na época porque acho que não se amplia a voz dos imbecis; e porque, logo na segunda seguinte, enquanto eu ainda estava remoendo o caso, pê da vida, o Luis Fernando Veríssimo mandou uma carta que matou a pau.
Acontece que ele, um dos principais "acusados", jamais ganhou um centavo por prefácios.
Agora, semana passada, lá veio a Veja de novo.
Desta vez o alvo era O Globo, que não teria dado a foto do Chico Buarque na praia porque o Rodolfo (Fernandes; diretor de redação) joga futebol com ele regularmente.
Me segurei nas pontas mais uma vez.
Não se amplia a voz dos imbecis, não se amplia a voz dos imbecis, não se amplia a voz dos imbecis...
O Rodolfo, porém, que também sabe que não se amplia a voz dos imbecis, acabou escrevendo uma carta para eles. Não por ser ou não amigo do Chico (ninguém é perfeito), mas porque a Veja mentiu deslavadamente e tratou o caso como se O Globo tivesse sonegado uma informação da maior relevância dos seus leitores.
Pois vocês acham que a Veja publicou a carta?
O que vale é que O Globo publicou, he he he...
Saiu na edição de ontem.
Aqui vai um cut&paste pra driblar o registro no site:
"Por falta de tempo, ou de vontade, a revista Veja deu informações equivocadas sobre o fato de o GLOBO ter decidido não publicar fotos do compositor Chico Buarque feitas por paparazzi . Em nome da boa prática jornalística, e para repor a verdade na matéria apócrifa da Veja, seguem os fatos corretos:Pronto!
1) A Veja não tem como sustentar, pois é rigorosamente falsa, a insinuação de que tenha existido qualquer telefonema de "assessores" de Chico Buarque ao jornal O GLOBO, em qualquer instância, solicitando que as fotos do compositor não fossem publicadas. Prestei a informação correta por escrito à Veja mas ela foi omitida da matéria;
2) Não é verdade que o GLOBO tenha sido "um dos jornais que cobriram mais extensamente" as confusões do casamento do craque Ronaldo com Daniella Cicarelli. Uma apuração menos preguiçosa teria notado que o GLOBO foi, entre os grandes jornais, o único a não ter um enviado especial ao cenário do casamento. Sequer a correspondente do GLOBO em Paris foi deslocada para Chantilly. A "extensa cobertura" do GLOBO limitou-se a um texto-legenda na editoria de Esportes e a notas de coluna;
3) Veja omitiu capciosamente do texto -- provavelmente porque isso iria contrariar a tese embutida na sua matéria -- a informação que enviei por escrito à revista dando conta de que o GLOBO nunca publicou fotos de Ronaldo com uma modelo tiradas por paparazzi na Itália, quando ainda era casado com Milene;
4) Chega a ser infantil a afirmação de que Chico Buarque, um dos maiores artistas do país, em ação há mais de quarenta anos, precisa de "amigos" na imprensa para dar uma forcinha em sua carreira. O GLOBO possui realmente um bom relacionamento com Chico e é motivo de orgulho que ele tenha sido colunista do jornal por um período. O GLOBO não tem problemas com o sucesso dos artistas brasileiros e estabelece com eles uma relação profissional e de respeito. O GLOBO não negocia o acesso a artistas em troca de resenha favorável a suas obras;
5) A decisão de não publicar as fotos seguiu uma linha editorial que vem sendo adotada pelo GLOBO há muito tempo -- diante disso, a opção foi muito clara. Apenas para informação dos leitores da Veja, cabe lembrar episódios recentes, de áreas diversas, em que a mesma orientação foi seguida. Quando a atriz Carolina Dieckman saiu de casa, e sabia-se que estava em processo de separação, a orientação do jornal no episódio para a coluna de TV foi de que não havia interesse nesse tipo de assunto, envolvendo futricas familiares que poderiam causar prejuízos à vida particular dos envolvidos. O mesmo ocorreu há poucos meses quando o compositor Caetano Veloso saiu de casa e revistas de celebridades fizeram campana na sua porta: o assunto foi aberta e francamente discutido com editores da coluna de gente do jornal e o GLOBO decidiu minimizá-lo. Conduta semelhante o GLOBO adotou quando a revista Contigo! ofereceu fotos da apresentadora Angélica de topless num hotel em Miami: nada publicamos. Mais atrás ainda, o mesmo comportamento norteou a linha editorial do jornal -- e de toda a imprensa brasileira, Veja inclusive -- quando o ministro Ciro Gomes e a atriz Patrícia Pillar começaram a namorar.
6) No caso de Chico, que está separado há quase dez anos, nem mesmo uma notícia havia no episódio para justificar a publicacão;
7) A postura do GLOBO de respeito aos fatos, aos leitores e às fontes tem sido consagrada pela circulação crescente, pela coleção de prêmios e pela credibilidade do jornal junto ao público formador de opinião no país. Pesquisa apresentada este ano no Fórum Econômico de Davos pela maior agência de relações públicas independente do mundo (Edelman) aponta o GLOBO como o veículo de maior credibilidade entre todos os meios de comunicação brasileiros;
8) Cada veículo tem a sua linha editorial, baseada em suas discussões internas, no perfil de seus leitores e em seus princípios éticos. Se a Veja publica fotos de paparazzi, está no seu direito. O GLOBO evita avançar na intimidade de seus personagens de forma sensacionalista. Por isso, não vê relevância jornalística neste tipo de fotos. Veículos de qualidade pelo mundo afora também agem assim. Esta não é uma decisão simples, é fato editorial bem mais complexo do que faz supor a vã aula jornalística da Veja. No próprio episódio Chico Buarque, a maior revista de celebridades do país, a "Caras", decidiu não publicar as fotos, embora tenha sido procurada pelo fotógrafo que clicou o compositor. E não consta que Chico tenha algum "grande e poderoso" amigo na "Caras" para "dar uma mãozinha".
Atenciosamente,
Rodolfo Fernandes
Diretor de Redação"
Agora os eventuais leitores da Veja que freqüentam este blog mas não são leitores do Globo (vocês, hein...?!) também podem tomar conhecimento das informações que a revista esconde.
Que sejam os proverbiais 17, contra o milhão e tanto da Veja; no problema.
Sangue de internet tem poder... ;-)
Update: Artigo muito pertinente do Tom Taborda aqui.
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