12.3.05









Bethânia, insuperável.
Como sempre...

O que é que faz um artista que atinge o auge da perfeição possível com um espetáculo? Repete este espetáculo até o fim dos seus dias? Muda de profissão? Retira-se para um convento? Ou enche-se de coragem, deixa o que passou para trás e mergulha num projeto radicalmente diferente?

Maria Bethânia, não fosse quem é, nem esperou assentar a poeira de Brasileirinho, e partiu para Tempo Tempo Tempo Tempo.

O show não é melhor do que Brasileirinho, porque nada pode ser melhor do que Brasileirinho.

Mas, por outro lado, TTTT simplesmente não pode ser comparado com Brasileirinho -- e aí está o segredo do seu sucesso. Os shows são tão diferentes entre si quanto podem ser dois shows feitos pela mesma pessoa.

Brasileirinho era um resumo da História do Brasil, solidamente amarrado a um fio condutor, uma espécie de Missa em celebração ao país a que o público assistia mudo e hipnotizado.

Tempo tempo tempo tempo é um buquê de canções gostosas e variadas, que nos fizeram companhia em bons e maus momentos, e que entraram, cada qual à sua maneira, na trilha sonora das nossas vidas.

Se há algum fio condutor no show é a homenagem a Vinícius, a ênfase nos seus poemas e nas suas músicas; mas, honestamente, o que menos me pareceu existir em TTTT é este fio.

Se em Brasileirinho Bethânia celebrava a Pátria, agora ela celebra o indivíduo, o amor, o momento pessoal, a vida miudinha -- mas nem por isso menos apaixonada -- de todos e de cada um. Este é um show que comemora, pura e simplesmente, a alegria de cantar.

O mesmo público que assistia a Brasileirinho mesmerizado e eventualmente aos prantos, agora acompanha todas as músicas, canta junto, faz a festa.

É muito bom!

Xexéo criticou os cenários e a luz, mas ou vimos shows diferentes, ou o nosso gosto, desta vez, não bateu mesmo. Eu gostei demais do cenário, que achei não só inteligente e criativo como extremamente fotogênico; e adorei a luz, linda.

Para não dizer que não vi nada de errado, em alguns momentos senti um desequilíbrio no som. Ou se aumenta o microfone da Bethânia ou se baixa um pouco o dos instrumentos, sobretudo na percussão, que volta e meia afoga aquela voz tão bonita: um pecado!

Outra coisa? Não sei se por deformação familiar, mas sinto falta de uma flautinha básica nos arranjos. Isso, no entanto, não vem de hoje. E, nem preciso dizer, não compromete nada.

Parece que o Canecão já está lotado para hoje e para amanhã, últimos dias aqui no Rio, mas recomendo qualquer negócio para assistir a Tempo tempo tempo tempo: subornar porteiro, recorrer a cambista, fazer propostas indecentes a amigos que reservaram mesa.

Como escrevi ainda agora a uma amiga:

Que coisa boa foi ver este show, que coisa boa é viver num tempo que tem uma Bethânia assim, insuperável, superando-se a si mesma a vida inteira.

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