23.4.05



Que nojo

Não sei vocês, mas eu até agora não engoli este asilo dado ao ex-presidente do Equador. Um corrupto totalitário, que levou o país ao caos por tentar dar um golpe de estado.

E aí vai o bondoso companheiro Lula, que não pode ver um ditador sem fazer-lhe um agrado, e manda buscar o pobre em avião especial, para que ele não tenha que passar pelo inconveniente de responder pelos seus atos.

Contrariando a vontade explícita do povo equatoriano que, a essa altura, está queimando bandeira brasileira em praça pública.

É mais ou menos como se, na época do impeachment do Collor, o Menen lhe desse guarida na Argentina.

Nisso se vai o nosso dinheiro -- e, de quebra, a nossa dignidade: por que temos que ser o pinico do mundo?!

Enquanto isso, na "fazenda-modelo" que o companheiro desapropriou com estardalhaço há dois anos para assentar 450 famílias do MST, meu colega Pedro Motta Gueiros revela que o que existe é a miséria mais profunda, um favelão onde as pessoas disputam comida com os animais: para evitar que as galinhas comam os próprios ovos, os moradores queimam-lhes os bicos.

O Globo relembra o que o vosso presidente disse quando esteve lá:
"Porque nós precisamos atingir a perfeição nesses assentamentos para que a gente possa, inclusive, mostrar ao mundo que o tipo de reforma agrária que vamos fazer, no nosso governo, não é apenas dar um pedacinho de terra e um pouquinho de caatinga para o trabalhador, não. Disso a gente já está cansado.?

"A gente quer a terra, a gente quer o financiamento, a gente quer assistência técnica, a gente quer se organizar em cooperativa, a gente quer a agroindústria e a gente quer vender o produto que produziu por um preço. E o governo tem que ajudar até que as pessoas atinjam a capacidade de andarem sozinhas.?
Ainda bem que a gente sabe que a culpa disso tudo é do FhC. Ou do Itamar, sei lá.

Esclarecendo: É ÓBVIO e EVIDENTE que sou contra fechar as portas do país a quem precisa de abrigo. Dar asilo a cidadãos perseguidos é uma prática civilizada e habitual, que deve ser respeitada.

Mas isso é uma coisa, e outra, diferente, é se oferecer correndo para importar um presidente impopular, deposto porque desfez a Suprema Corte e estava tentando defender um arqui-corrupto, antes mesmo de esperar baixar a poeira e saber o que houve ou não.

Asilo sim; conivência instantânea não.

O nosso governo teria tido toda esta atenção com um cidadão equatoriano comum que estivesse sendo perseguido?!

Quem assume uma presidência tem que assumir os riscos que decorrem disso: ou é só o bem-bom da pompa e da circunstância e na hora de prestar contas à população chama-se o Lula?

Asilo ou não asilo, ação civilizada ou não, me indomoda demais ver ditadores ou candidatos a ditadores sem sorte terminem seus dias confortavelmente instalados no "exílio", beneficiando-se do que roubaram, engaram e mataram, direta ou indiretamente, enquanto o povo sofre. Vide Idi Amim, Stroessner, o Xá do Irã, Fujimori e por aí vai.

Nenhum comentário: