16.4.05





Final feliz na saga das cartolas

Da seção Há 50 anos:
Corbiniano Villaça, em fins do século passado, foi a Paris, com auxílio do governo paraense, aperfeiçoar a sua técnica de pintor. Tornou-se amigo de Francisco Braga e, talvez sem o querer, dentro em pouco, se transmudara a sua vocação artística. Ao invés de pintor, se transformara em festejado cantor de ópera. Freqüentou a sociedade parisiense e, como o governo paraense lhe cortasse a subvenção, por não entender muito a mudança de pendores do protegido, Corbiniano Villaça teve de regressar ao Brasil. Guarda ainda de sua atribulada permanência em Paris a cartola que lhe completava a indumentária das reuniões elegantes da época. E é essa cartola que ele vem de pôr à disposição dos membros da comitiva presidencial em vésperas de partir para Portugal. Como foi publicado ontem, não há cartolas no mercado carioca e o protocolo português exige o uso da mesma em indumentárias de algumas recepções previstas para o presidente Café Filho.

Mas nem só o bom Villaça se preocupou com as aperturas dos acompanhantes do Sr. Café Filho. Outros leitores do GLOBO se prontificaram a tirar a comitiva da dificuldade em que se debate. Estão, no caso, como nos comunicaram, uma professora residente na Rua Haddock Lobo, um cavalheiro morador na Rua Pires de Almeida, que disse possuir três cartolas elegantíssimas, londrinas legítimas, e um senhor, residente na Rua Benedito Hipólito, que, por telefone, nos declarou ceder a cartola que possui, destinando o produto da venda ao Asilo dos Velhos de Vila Isabel.

Como se vê, por falta de cartolas, os membros da comitiva presidencial não deixarão de viajar, e muito menos de atender às exigências do protocolo e da etiqueta.
O jornal não diz quantos empregos públicos esta gentil troca de favores entre cidadãos e governantes custou à época, mas eu, que sou uma romântica incurável, gosto de imaginar que tudo foi feito apenas por boa-vontade, dentro do espírito cordial daqueles tempos.

Nenhum comentário: