Too little, too late
Maureen Dowd, que é uma das melhores articulistas da página de Opinião do New York Times, escreve a respeito do discurso feito por Laura Bush denunciando o tratamento dado às mulheres pelo Taliban, e que tanto pano pras mangas deu à imprensa americana ("Oh! A primeira dama fez um discurso!"); Maureen se pergunta por que a família Bush, subitamente tão chocada com a tragédia das mulheres afegãs, não se manifesta também a respeito da total falta de liberdade das mulheres na Arábia Saudita, por exemplo, ou no Kuwait, onde não podem votar, não podem dirigir, precisam de autorização por escrito de um parente do sexo masculino para viajar ou para ir a um hospital, têm que usar bancos e escolas separados dos dos homens, e assim por diante. A resposta é óbvia: a Arábia Saudita e o Kuwait tem petróleo, e o Afeganistão não tem. E petróleo é, como se sabe, o segundo principal negócio de Bush & Cia.
A mim, o que mais irritou no discurso falso e oportunista de Laura Bush (que, feminismo ou não feminismo, devia voltar pro tanque, levando junto o marido) não foi a ausência de referências às mulheres dos demais países islâmicos, mas sim o ar de grande novidade que ela tentou dar ao assunto. É verdade que os americanos são um dos povos mais insulares do planeta; é verdade que eles não têm a menor idéia do que acontece além das suas fronteiras; mas também é verdade que praticamente todo mundo no país tem acesso à internet onde, há pelo menos três anos, rola incessantemente uma circular (de resto irritante, como toda a circular) denunciando os abusos do Taliban. Imaginar que o status sub-humano das mulheres afegãs é, atualmente, novidade para quem quer que seja, não é só ignorância. É uma ofensa.
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