16.12.04



Dos comentários

Nádia Almosny é veterinária. Ela escreveu o seguinte:
Tenho acompanhado a vida da capivara por meio de suas matérias no jornal. O que li hoje foi justo para a capivara mas injusto para com os veterinários. Durante este período pós captura eu não li uma declaração de veterinários na mídia.

As pessoas que foram consultadas pela mídia NÃO ERAM VETERINÁRIOS.

Voce já visitou o Zoológico de Niterói, para onde trazem os animais? Pois é... pobres pinguins e capivaras... venha ver de perto se existe algum veterinário por lá.

Quando alguem falar à imprensa se dizendo veterinário, peça a carteira do Conselho Regional de Veterinária. Aliás, estas pessoas não disseram que eram veterinários, pelo menos não estava escrito nas reportagens que li.

E quanto a transferir animais de uma região para uma área de proteção ambiental sem quarentena? Pobres demais capivaras.

Gostaria de ter certeza de que esta capivara, de quem aprendi a gostar, está por lá mesmo. O lugar dela é na Lagoa, mas os políticos decidiram por ela (e sem consultar veterinários, certamente). Também estamos, nós veterinários, tristes pela aus&encia da capivara na Lagoa.

Os políticos foram injustos com a capivara e você foi injusta com os veterinários. (Nádia Almosny)
Nádia, peço mil perdões se fui injusta com veterinários de verdade. Como já disse várias vezes, adoro veterinários, uma das minhas categorias profissionais favoritas.

A senhora de quem falo é a diretora do Zoo; esta declaração infeliz foi dada ao Dia. Já joguei fora o jornal e não me lembro se ela era classificada como veterinária ou se apenas intui isso; mas eu devia ter desconfiado, porque um veterinário responsável jamais soltaria um animal desconhecido numa reserva sem deixá-lo em observação.

Se a nossa Capivara tivesse alguma doença infecto-contagiosa, por exemplo, poderia contaminar toda a população de capivaras da tal reserva antes mesmo de ser caçada, como indubitavelmente será, ingênua que é.

Não conheço o zoológico de Niterói. Não desmereço os seus profissionais. Acredito que sejam bem intencionados e que, em ocasiões que não acompanhei, tenham sido influências benéficas nas vidas dos bichos com quem entraram em contato.

Infelizmente, este não foi o caso da Capivara.

Aos que querem ver um preconceito que não existe no meu texto: esses veterinários (ou biólogos, ou que outras profissões tenham) são de Niterói, vale dizer, de outra cidade. Eu teria destacado o fator geográfico qualquer que fosse a outra cidade -- Búzios, Friburgo, Vassouras, Campos, tanto faz.

O problema não é de onde eles são, mas de onde não são, ou seja, daqui. Isso significa que não convivem com a Lagoa e que nunca viram a Capivara no seu habitat urbano.

Repito: a única opinião que respeito em relação a este caso é a do biólogo Mário Moscatelli, que conhece cada centímetro deste chão e que, com um trabalho paciente, desenvolvido ao longo de anos, transformou a Lagoa na área cheia de vida que hoje é.

Destaco ainda outro comentário, feito pelo meu vizinho Jayme Derenusson, para os que acham que um jornal não pode se dar ao luxo de gastar meia página com uma capivara:
Morei em Niterói e adoro aquela cidade. Cora também não nasceu aqui. Hoje moramos na Lagoa, por acaso somos vizinhos e nos tornamos amigos. Fomos, eu e ela, vizinhos também da Capivara, que aqui chegou, não se sebe como (só garanto que não a trouxemos), transformando-se em uma presença extremamente simpática, exótica e emblemática.

Que seria de um jornal como O Globo, publicando apenas notícias sobre assaltos, sequestros, tiroteios, roubalheiras de dinheiro público, manobras político-partidárias, miséria, menores abandonados, dentre tantos outros temas asquerosos, se não publicasse também matérias amenas e palatáveis?

A Capivara tem muita importância sim, em uma cidade que vêm se brutalizando a cada minuto! É absolutamente necesssário que desviemos nossa atenção de nossas desgraças, para pensar em um animal que se tornou símbolo de um espaço público como a Lagoa, frequentada não apenas por seus moradores, mas igualmente por gente de toda parte, que ama o lugar e as coisas que dele fazem parte.

Um jornalismo focado exclusivamente em temas desditosos não seria condizente com o espírito de nossa cidade, que ainda conserva muita coisa de bela e alegre, contexto no qual adequadamente se incluiu nossa Capivara. Quem pensa "grande" não pode ser obsessivo, estressado ou fanático; tem que olhar para os lados e ver o mundo com todos os seus detalhes pitorescos. (Jayme Derenusson)

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