26.3.02



Flo, a Gata

Para quem se amarrou na história de Frank, o Gato, informo: ele não é o único felino a se tornar web-celebridade ao ajudar um bípede a testar sistemas. Uma outra gatinha, Flo, trabalha testando os algoritmos de reconhecimento de imagem desenvolvidos por seu companheiro Boris, da Quantum Picture. A história de Flo, porém, não é tão dramática quanto a de Frank, que quase morreu atropelado antes de ir parar na gaiola vigiada pelas webcams que o tornaram famoso. O problema de Flo (na verdade, o problema dos seus bípedes) é que Flo, como todo gato que entra e sai de casa, tinha mania de trazer ratos e pássaros agonizantes para a sala, de presente para a família. Suas intenções eram as melhores possíveis, mas não foram bem compreendidas. (Reparem nesse focinho pintado dela, que coisa mais bonitinha...!)

Solução? Desenvolver um algoritmo que soubesse distinguir, pelo perfil de Flo, se ela estava voltando sozinha ou trazendo alguma coisa na boca; e instalar uma tranca, controlada por este algoritmo, na portinhola que ela usa nas suas idas e vindas. Parece complicado... e é mesmo! Mas é, também, extremamente engenhoso.



A teoria:

Uma imagem é composta por um determinado número de atributos: num rosto, por exemplo, a gente pode distinguir, e descrever, formato, nariz, orelhas, olhos, boca, sobrancelhas... por aí vai. O desafio é fazer com que um algoritmo seja capaz de identificar esses atributos, de forma que, numa pesquisa na web, ao "mostrar" um rosto para a máquina de busca, ela possa encontrar todas as fotos em que aquele rosto aparece na rede.

A prática:

Uma câmera instalada do lado de fora da portinhola, conectada a um computador, observa constantemente um espelho iluminado. Quando Flo aparece, a imagem escurece. Se os contornos desta área escurecida correspondem aos parâmetros definidos no algoritmo, o computador destrava a portinhola e Flo entra; o sistema tem cerca de um segundo -- tempo transcorrido entre o momento em que ela passa diante do espelho até chegar à portinhola -- para processar tudo isso. Quando os contornos estão alterados, ou seja, quando há obviamente alguma coisa não identificada na boca de Flo, o computador não destrava a portinhola. Ela então faz duas ou três tentativas de entrar em casa, fracassa e, para alívio geral, vai terminar a matança longe da família e das visitas.

No website da Quantum Picture, tudo está explicado em detalhes -- fascinantes, por sinal. Tecnologicamente, tudo faz sentido, funciona às mil maravilhas e está descrito de forma perfeitamente compreensível. Saí de lá com a sensação de ter visto algo genial na sua paradoxal complexidade/simplicidade. É óbvio que este é um sistema que está, sem trocadilhos, engatinhando, mas tem um futuro brilhante em mil diferentes aplicações.

Minha única dúvida não satisfeita não tem a nada a ver com tecnologia, mas sim com comportamento animal. Com o tempo, Flo vai perceber que, cada vez que traz um bicho pra casa, não consegue entrar; e logo estará deixando de trazer as suas vítimas para compartilhar com a família. Pelo que percebi no site da Quantum, já há outros gatos na jogada (Squirrel e Ellipse). A pergunta (que, aliás, já encaminhei ao Boris) é: quanto tempo um gato leva para perceber o jogo do sistema? E de quantos auxiliares quadrúpedes ele ainda vai precisar para deixar pelo menos este sistema em ponto de bala?

Visitem a Quantum. É um lugar interessantíssimo, cheio de boas fotos e informações.

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