30.3.07

O que mais falta acontecer?!

Vocês conhecem a piada da mãe judia, né? Aquela em que ela dá uma gravata verde e uma azul pro filho e, no dia seguinte, quando ele aparece usando a azul, diz:

-- Eu sabia que você não tinha gostado da verde!

Oy vey! Foi-se o tempo das piadinhas de gravata inocentes...

Nós estávamos no meio do jantar quando o Chico deu a notícia, que ouvira no rádio a caminho do restaurante. Ficamos todos estarrecidos: como é que um homem como o rabino Sobel sai por aí roubando gravatas?!

Não faz o menor sentido.

A história é uma tragédia pessoal de proporções inimagináveis, provavelmente mais caso de hospício do que de polícia; mas o pior é que, por mais triste que seja ver um homem tão respeitado virar material de anedota, a situação é um prato feito para todo tipo de gozação.

O mundo anda mesmo muito esquisito.

Update: Algumas pessoas acham que quanto menos se falar nesse assunto, melhor -- seria uma forma de respeitar o rabino. A meu ver, é justamente a respeito de casos assim, que desafiam a lógica e a compreensão, que todos sentem necessidade de falar. Aí estão os mais de cem comentários que não me deixam mentir. Nada é mais perturbador para bípedes que vivem em sociedade do que algo que foge dos limites do compreensível. Todos temos uma opinião e todos buscamos a opinião dos outros, para ver se algo faz sentido; todos gostaríamos de uma explicação clara, simples e de fácil assimilação.

Há gente que acha que todo o bem que uma pessoa faz ao longo da vida vai por água abaixo com um único mau passo, mas também não é bem assim. Não é o caráter do rabino que está em questão quando tentamos entender o que aconteceu; é a nossa capacidade de compreensão e a nossa necessidade de respostas.

Ao mesmo tempo, há, sim, um elemento de ridículo em todo o episódio, ampliado pela figura quase caricata de Sobel, e negá-lo é hipocrisia. Falar sobre o que aconteceu até que passe -- já já um novo escândalo empurra o assunto para escanteio -- é apenas humano.

Por isso ele está nas primeiras páginas dos jornais, na televisão, nas mesas dos botequins, nas comunidades do Orkut e aqui mesmo.

O presente não anula o passado, obviamente -- mas tampouco o passado redime o presente.

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