19.9.05



A velha e boa TV

(Ai, não é que ia me esquecendo da coluna?)
Às vezes, a impressão que se tem é de que as copas do mundo existem única e exclusivamente para dar uma força à indústria de televisores. Na IFA 2005, pelo menos, era impossível fugir desta sensação. Apesar da profusão de gadgets e objetos diversos em exposição, as telas planas de grande formato dominaram o ambiente. As letras que movem este mundo são HDTV, a sigla para TV de alta definição.

É que a Copa de 2006 promete entrar para a História como a primeira em que os jogos serão transmitidos, em sua totalidade, em alta definição. Para nós, brasileiros, que sequer chegamos a uma decisão em relação ao padrão que será adotado no país, o sonho pode parecer distante; na Europa, a realidade é concreta.

Não há um único fabricante que já não tenha uma linha de aparelhos HD-ready, ou seja, prontos a captar as transmissões em alta definição. Até que as emissoras abertas estejam transmitindo em HD, em 2010, o consumidor já pode assistir filmes que praticamente não deixam a dever ao que se vê no cinema; e podem gravar e exibir seus próprios vídeos em altíssima definição.

Emissoras a cabo -- como Sky, Astra, Premiere e Canal+ -- já estão fazendo transmissões experimentais.

A diferença para os padrões a que estamos acostumados é abissal, mais ou menos como a que se vê entre uma fotinha singela de telefone celular e uma foto caprichada feita numa câmera de muitos megapixels.

Mas os aparelhos mais sofisticados em exibição não fazem só transmitir. Eles também permitem a gravação de programas, como Sky Plus brasileiro, embora reproduzir a gravação ainda seja tabu por causa do berreiro que vem sobretudo de Hollywood, da MPAA -- a esclarecida associação dos produtores de cinema que, um dia, já quis proibir a fabricação de aparelhos de videocassete, porque, nas palavras de Jack Valenti, seu presidente, eles "arruinariam a indústria do cinema".

Estava tão enganado o senhor Valenti (como de hábito) que, ao contrário, o videocassete acabou provando ser a salvação da lavoura cinematográfica, com a proliferação das locadoras e de usuários interessados em manter suas próprias videotecas.

O cipoal em que se transformou a questão dos direitos autorais está afetando diretamente o desenvolvimento da tecnologia -- e não só a dos aparelhos de TV. Como este é um continente onde a leitura é hábito geral, há muita grita por parte das editoras. A União Européia lida com 25 diferentes sistemas de direito autoral, boa parte dos quais funciona através de associações como o nosso Ecad, isto é: um escritório central recolhe o que supõe que os usuários estão consumindo, e distribui de acordo com o que imagina ser justo.

A falta de transparência é absoluta. Na Alemanha, o suposto valor das cópias a serem feitas pelo consumidor, já embutido nos equipamentos, pode adicionar cerca de 75 euros a um conjunto de PC e impressora dos mais simples; na Espanha, por causa do mesmo raciocínio, copiadoras, que poderiam custar menos de 80 euros, não saem por menos de 130.

Neste momento, a grande briga da EICTA, a associação de fabricantes de sistemas de informação, tecnologia da comunicação e eletroeletrônicos é a criação de um sistema único, baseado em DRM (Digital Rights Management), que permita ao usuário fazer cópias de acordo com os termos das licenças do que quer copiar.


(O Globo, Info etc., 19.9.2005)

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