3.5.04



Enquanto isso, na Assespro-RJ...

O Assespro Direto RJ é o simpático boletim online da associação dos produtores de software do Rio de Janeiro. Tem dez anos, está no número 462 e, como as circulares do gênero, funciona, basicamente, informando aos associados do que vai pela área.

Na sexta, ao abrir a edição da semana, levei um susto: o título era “Recado para a Cora”. Dizia:
"Caríssima Cora,

Temos sentido uma saudade louca de você. Por onde tens andado que tanta falta nos faz? Não que não tenhamos culpas por nossos desencontros. Mas, ainda que de longe, temos acompanhado você. Nos “fotologs”, nas “capivaras da Lagoa”, nas campanhas de “legalização das drogas”, em tudo enfim que você, como sempre, assume com entusiasmo, coragem e brilho.

Temos ciúmes de todas porque você era coisa nossa que lutava pelas nossas empresas brasileiras de software, pela defesa da tecnologia nacional, e, através de você e sua coluna, nos fazíamos ouvir. Nós, pequenos empresários de informática, tentando sobreviver e acreditando que, um dia, isto seria possível. Aí veio a explosão da internet e o nosso veículo de comunicação com o poder decisório — e aí estamos falando dos políticos e gestores da coisa pública, já que repercussão na mídia eles bem entendem e ouvem — foi se afastando do software.

Talvez sem perceber, nossa atividade foi ficando esquecida e sem defensores. E você era nossa “generala” com bandeiras desfraldadas. Hoje estamos pagando por isto, com uma política tributária inversa e perversa, que nos afasta do Simples, que nos penaliza na elevação da base de cálculo do lucro presumido para 32% do faturamento, com uma Cofins de 7,6%, sem compensações, um conjunto de gravames que nos levará de vez à breca. E a nova política industrial para o software? Vamos incidir nos mesmos erros de nosso passado recente — buscar metas inviáveis de comércio exterior, sem antes reforçar o mercado interno com ações concretas, entre elas a de priorizar as compras públicas para os produtos aqui desenvolvidos, ainda que pelas próprias multis.

Quem são os beneficiários dos incentivos fiscais de nossa área? São empresas genuinamente nacionais ou se concentram em alguns privilegiados? Nossas empresas (em sua grande maioria pequenas, sem ativos contábeis e pouco capitalizadas) não advogam por incentivos ou isenções. Queremos simplesmente, sobreviver e produzir. Queremos equidade.

Mas como nos fazer escutar se de tão pequenos e frágeis que somos, nosso melhor “lobby” é um chope na esquina? Financiar campanhas? Nem pensar. Como lutar por isso se perdemos você?

Volta, Cora! Talvez ainda dê tempo de nos salvar.

Newton Palhano, diretor executivo da Assespro—RJ

Ô amigos, desculpem! Vocês têm razão, eu ando às voltas com tantas coisas... Mas é que tudo é rápido demais, tudo muda muito depressa nessa área da gente que tem tantas novidades o tempo todo. Agora mesmo, por exemplo, está meia internet batendo cabeça, tentando descobrir para que serve o famigerado Orkut.

Reconheço que esta é uma questão quase bizantina quando a gente sabe que, além de enfrentar todos os problemas da crise econômica e da concorrência globalizada, os produtores de software locais ainda têm que lutar contra um Estado cuja única criatividade econômica e financeira é aumentar a carga tributária de quem não tem cacife para fazer lobby. Esta coluna, porém, não está com essa bola toda; a gente fala, fala, fala... e tudo continua na mesma.

O atual governo, vocês sabem, não é muito dado à leitura.

(O Globo, Info etc., 3.5.2004)

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