19.3.02



Questão de infra

E aqui estamos todos nós, conectados e felizes, clicando a torto e a direito, indo aonde nos levam os links encontrados pelo caminho. Às vezes, mas muito de vez em quando, paramos, ligeiramente embatucados diante da rede: Que coisa espantosa!... e vamos em frente, porque o espanto é uma emoção que foi abolida nas últimas décadas do século passado. Pouca gente quer entender o que está por trás da rede; aliás, pouquíssimas pessoas entendem, de verdade, como funciona a coisa.

Uma delas é o Carlos Affonso, a quem devemos o primeiro ISP brasileiro, o AlterNex. Um dos fundadores do Ibase (com Betinho e Marcos Arruda), ele é um homem a quem admiro e respeito, um brasileiro digno, que sonha por um país melhor e vai em frente e briga por isso. Já tivemos nossas divergências no Pleistoceno, mas devo reconhecer que eu estava (como sempre estive; e ainda estou) numa posição bem mais cômoda do que a dele: eu era uma pedra que insistia em voar em todas as vidraças e, numa época, o AlterNex calhou de ser uma delas. Mas disso se fazem as histórias e, eventualmente, as amizades.

Pois ontem o Carlos Affonso me mandou um documento que preparou para a Fundação Friedrich Ebert: Internet: quem governa a infra-estrutura?. Ele será publicado pela fundação, mas já está disponível online na RITS. Se você quer saber em que pé está a gestão da internet lá fora mas, sobretudo, como anda ela por aqui, prepare a sua impressora e mande ver. O assunto é da maior importância para todos nós, usuários e (ainda) não-usuários, e está admiravelmente bem explicado pelo Carlos Affonso. Devia ser leitura obrigatória nas faculdades de informática.

Eu concordo inteiramente com ele em relação à Fapesp e ao Comitê Gestor: falta transparência a ambos, sobretudo no que diz respeito aos recursos arrecadados pela Fapesp com o registro de domínios. Por outro lado acho que, de alguma maneira. ainda conseguimos (milagre!) criar aqui no Brasil uma estrutura menos esculhambada do que a americana, talvez até pelo nosso apego congênito à burocracia.

Nos EUA, qualquer um se registra com o domínio que bem entender, com as óbvias exceções de mil, gov e edu. Aqui, registrar uma org.br é coisa complicada; e se alguém quiser ser um com.br deve ser pessoa jurídica, com firma registrada, CGC e tudo o mais.

(Eu, que sou uma simples pessoa física, não posso, por exemplo, ser coraronai.com.br; volto a isso logo mais).

A nossa é, certamente, uma forma mais civilizada de distribuir domínios, e tem dado conta, um pouco melhor, da complicadíssima questão dos cyber-squatters, isto é, do pessoal que sai registrando tudo o que é nome que vê pela frente para depois vender pelo que conseguir na praça: cyber.cambistas.com.

O problema do sistema é, justamente, o de casos como o meu. Não é segredo para ninguém que este é um país recordista em economia informal, digamos assim; e, até segunda ordem, o nosso domínio clássico ainda é o com.br. Inúmeras empresinhas de fundo de quintal, que não têm CGC mas precisam da internet para tocar os seus negócios, acabam se registrando nos Estados Unidos, e virando ponto.coms; e inúmeros brasileiros que gostariam de ser fulanosdosanzóis.com.br são obrigados a optar por domínios que os definem profissionalmente (como bio, eng, med, mus) mas que, possivelmente, ainda vão demorar a pegar.

Ou alguém acha alguma graça em www.coraronai.jor.br?!

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