24.3.02



O horror, o horror

Todo mundo sabe que um conto puxa outro; com casos de horror não é diferente. Depois do apavorante relato do Ricardo Abude E. Silva sobre sua detenção em Los Angeles, aparece uma nova história de maus-tratos sofridos por brasileiros (no caso brasileiras) nos Estados Unidos. Transcrevo a carta tal como a recebi, com pequenas correções editoriais. É importante esclarecer que, ao contrário do que faria no jornal, não verifiquei pessoalmente os fatos; considerando, porém, a quantidade de casos semelhantes que me têm chegado ao conhecimento, não tenho por que duvidar deles.

"Meu nome é Roberta Damasceno, sou curitibana e tenho 26 anos. Assim como Ricardo A. E. Silva, eu também fui deportada quando viajei a passeio para Nova York, no dia 28 de janeiro. Fiquei 14 horas presa numa casa de detenção para imigrantes, também numa cela de 2x2. Lá havia imigrantes do mundo inteiro. Não tive direito a dar um telefonema.

Fui interrogada e torturada psicologicamente por três horas. Ouvia comentários racistas e arrogantes sobre brasileiros. Sendo mulher, fui submetida a comentários obscenos e a um exame médico detalhadíssimo. Não comi nada o dia todo e, além do mais, confiscaram todos os meus pertences, me fazendo trocar a roupa por um uniforme de presidiária.

Passei pela pior das humilhações de minha vida. Fui carregada junto com outra brasileira de Vitória (companheira de cela) pelo saguão do aeroporto. algemada com uma corrente que envolvia meus pés, cintura e mãos. Na hora de embarcar, ficamos sentadas na sala de espera do aeroporto por mais ou menos uma hora esperando o nosso vôo, ainda algemadas e acompanhadas de dois agentes da imigração, armados. Enquanto isso, todos nos miravam como se fossemos terroristas ou qualquer outra coisa do gênero.

Foi a pior experiência da minha vida. Tive um tratamento que não se é dado nem ao pior dos bandidos. Eu estava indo a passeio! No Brasil tenho poder aquisitivo razoável, sou Estilista de Moda e nunca imaginei passar por tal experiência, presa, interrogada, tratada como bicho. Eles alegaram que eu estava indo para residir nos Estados Unidos.

Eu já havia visitado amigos e familiares lá fora, mas nunca fui submetida a tal interrogatório. Após três dias de pesadelo, entre 20 horas de vôo e 14 de cárcere, já no Brasil, tive que ir diretamente à Polícia Federal do aeroporto de Guarulhos (São Paulo). Tive que assinar uma declaração de deportação. Quer dizer, até no meu próprio país fiquei fichada. Na Polícia Federal fiquei sabendo que diariamente cinco brasileiros, em média, são deportados dos Estados Unidos. São inúmeros os casos. Inclusive o de um casal que foi deportado quando viajava em lua-de-mel.

Agora eu queria saber se nós brasileiros seríamos capazes de tratá-los com tanta crueldade. Sub-raça!?

Não sou anti-americana, mas não posso negar a antipatia que tomei por aquele país e, principalmente, por seus dirigentes, após ter vivido na pele o que vivi. Não aconselho nenhun brasileiro a ir gastar seus dólares nos Estados Unidos. Sinto muito por nós brasileiros, e por toda a América Latina, por estarmos sendo controlados economicamente por essa nação de racistas e arrogantes. Eles podem até ser líderes economicos mundiais, mas não deixam de estar longe de ser um povo humano e solidário.

Sinto pena deles..."

Confesso que, diante de relatos como o do Ricardo ou o da Roberta, não é bem pena o que sinto dessa gente. É nojo, mesmo.

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