5.3.02



E, por falar em cidadania...

A Vania, uma das co-autoras deste blog, de tantos e tão bons comentários que tem feito, deixou um desabafo da maior importância em relação à nota que dei sobre o meu amigo Coley:

"O Rio Transplante faz e muito bem a parte dele. Trabalho com pacientes que usam órgãos captados por ele, e é serviço de primeiro mundo. Exigir bom uso do dinheiro público, nesse caso, não é a primeira coisa hoje: era pra ter sido feita ONTEM.

Trabalho com pacientes queimados, a gente cansa de sair pra captar pele de cadáver pra cobertura de grandes queimados, e a gente chega lá e tem várias outras equipes em cima, captando avidamente córneas, coração, fígado, ossos, tudo o que for possível. Temos equipes de médicos, enfermeiros, ambulância, noite e dia prontos a sair em caso de surgimento de doador.

Temos pacientes, todos seres humanos, com queimaduras extensas, e temos um banco de pele de primeiro mundo... vazio. Porque não aparecem os tais montes de doadores por mês. As pessoas morrem, mas poucos são doadores potenciais, e desses poucos, a maioria se perde na burocracia, na inoperância, na desinformação, no despreparo material e de pessoal das unidades hospitalares onde ocorrem estes óbitos.

Não é que o pessoal das unidades seja burro e preguiçoso. É que saúde não dá lucro, então não é prioridade de político nenhum, a não ser aqueles de fachada. Então o sistema todo é cheio de buracos, e só funciona bem em alguns núcleos privilegiados. A prioridade teria que ser nossa, e enquanto não agirmos de acordo com isso, patéticos seremos nós, pagantes mudos de impostos.

Todos estes pacientes aguardando transplantes são seres humanos com problemas sérios, ok, natural querer ajudar um amigo, mas, se você mesma não der seu fígado pra ele (no caso de ser compatível), pouco vai adiantar gritar no ouvido do diretor do Rio Transplante. Pouco vai adiantar gritar pra quem quer que seja, se não exigirmos ONTEM o nosso direito."

Você tem toda a razão, Vania, e -- apesar da pequena edição -- não mudo uma vírgula do que diz. Concordo absolutamente com você: salvo raras exceções, não temos o hábito de vigiar nossos políticos, e de lhes tomar satisfações. Mas também é verdade que uma das formas que a gente tem de exercer a cidadania é fazendo alguma pressão -- neste caso (que nunca devia ter chegado onde chegou, como não deveriam ter chegado os tantos milhares de casos de que não tomamos conhecimento), enviando e-mails para a autoridade responsável. Nem que seja para lhe dar munição para, por sua vez, ir a Brasília com alguns milhares de cartas em mãos, para mostrar aos canalhas de lá que há gente indignada gritando aqui.

Não é muito, eu sei, mas pode ser um começo.

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