13.3.02



Pedro, um brasileiro


Quando a gente trabalha num jornal de grande circulação, como é O Globo, e, especialmente, quando a gente trabalha na mesma área há tanto tempo, é normal receber uma quantidade ligeiramente inflacionada de e-mails: alguns simpáticos, outros desaforados, muitos pedindo help... por aí vai. Mais difícil é a gente receber e-mails que mexem mesmo com a gente, como este, do Pedro Gadelha, que mostra como o mundo vai dando as suas voltas. Ele não me mandou a mensagem para publicação, naturalmente, mas acho que não vai ficar chateado se eu dividí-la com um pequeno grupo de amigos (sobretudo considerando-se o PS...).



Cara Cora,

Que rídiculo começar um e-mail assim, parecendo uma brincadeira de fonemas, mas não resistí -- fica bem bonitinho, e para mim você é cara, no sentido mais profundo da palavra que brinca com seu nome.

Eu sou o Pedro Gadelha que escreveu uma matéria de capa pra esse jornal de informática que até hoje é o mais simpático e atual entre tantos, inclusive um que pretendo editar aqui na região onde estou morando atualmente. Lembra daquela matéria sobre fotografia digital quando a Kodak lançou a primeira câmera, a qual eu comprei apesar do meu minúsculo salário de funcionário da fotografia (laboratório) simplesmente pelo fato de ser um deslumbrado com o assunto como sou até hoje? Fiz um paralelo com as câmeras com filme que nem se comparavam com o que existe hoje. Isto foi em 22 de julho de 1996, uma eternidade em matéria de informática.

Pois é, faz tempo mesmo, ao menos pra mim, para quem tanta coisa mudou nesse pequeno espaço de tempo cronológico. Hoje me encontro num segundo casamento, morando no interior do Mato Grosso (interior mesmo, mas tem um provedor ufa!), longe da Cidade Maravilhosa, mas tentando fazer maravilhosa minha vida noutra cidade, e longe do Pedro Gabriel e da Giulia (meus filhotes).

Escrevo agora em meio a uma solidão desurbana (se é que existe essa palavra), perdido no meio do quase nada, mas convicto da importância que a informática teve na minha vida, e nessa importância você tem um espaço todo especial.

O que vem agora é apenas uma historinha, que já está se tornando comum nesse meio.

Conheci a minha atual mulher numa sala de chat, depois icq, depois telefone e finalmente nos vimos pela primeira vez, e aqui estamos, ela uma médica cheia de coragem que quis praticar a verdadeira medicina no interior, depois de pouco mais de um ano nos casamos e cá estamos, longe de todos que amamos, encarando o nomadismo que existe no ser humano, tentando existir e conseguindo, nessa sociedade cosmopolita e pós-industrial, que tem aflorado após a informática ter deixado de ser uma ciência quase oculta.

Pretendo montar nessa pequena cidade chamada Barra do Bugres, que fica a Noroeste de Cuiabá, acredite se quiser, um pequeno Cybercafé, com serviços de informática pra quem não tem micro em casa, e parece, pela receptividade que tenho tido, que talvez dê certo, no mínimo será mais uma viagem desse internauta das antigas.

Estou tendo um recomeço de vida, entrei pra faculdade de informática local, tem um Campus da Universidade Estadual do Mato Grosso aqui, até rasparam minha cabeça num trote, com 40 anos na cara.

Leio o Caderninho, voluptuosamente toda a semana, pela Internet, quase como um vício que me dá um alívio e um pequeno extase, em saber que posso me atualizar tão facilmente, mesmo sem ter o papel jornal a sujar minhas mãos.

Desculpe se escrevi demais, mas é apenas pra parabenizar o caderninho pelos 11 anos de existência e dar um beijinho bem carinhoso no seu ego e na pessoa linda que você é, e pela continuidade da qualidade editorial que você, a Cris (um beijo bem carinhoso pra ela) e toda a G'all'era do caderno conseguem manter mesmo nesse rítmo frenético do Globo.

Agora vou tomar meu café da manhã na rede (daquelas de tecido, que se amarra de uma árvore á outra, lembra?), em baixo do meu pé de mexerica aqui no quintal.

Um grande parabéns para todos....

Pedro Gadelha

PS -- Me responda se puder, receber e-mails aqui é uma dádiva... rs...

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