e-commerce à brasileira
Há simplesmente duas horas (é, isso mesmo: DUAS horas) estou tentando fazer aquela coisa moderna, simples e rápida: compras de supermercado pela internet. Excesso de escolha? Indecisão diante das mil opções da sociedade de consumo? Conexão lenta? Pois sim! Simplesmente não consigo passar das telas de abertura de nenhum dos dois supermercados online que freqüento -- e, estranhamente, pelo mesmo motivo. Os dois mudaram de interface e de sistema e, nessa, as senhas dançaram. "Esqueceu sua senha?", pergunta, solícito, o Pão de Açúcar. "Clique aqui!".
Ato contínuo, aparece uma janela para digitar-se o email, após o que, em tese, a senha é enviada para o dito email. Obediente, digito cronai@well.com. A próxima tela diz:
A página a qual você esta tentando acessar esta indisponível neste momento. Por favor, "clique" no botão voltar do seu navegador Internet e tente novamente. Caso ainda necessite de ajuda, entre em contato com nossa Central de Atendimento pelo telefone 0800-906767.
Tá. Esqueço o português de quinta e "clico" (mas por que entre aspas?!) no botão voltar do meu navegador internet e tento novamente. Mesma resposta. Tento uma terceira vez, agora com o email alternativo; idem.
Ah, que diabos, penso com minhas teclas; me cadastro de novo, e pronto. Abre-se, então, um questionário enorme; felizmente, não pediram o CPF da Mamãe, porque isso eu não saberia responder e, a essa hora, ela está dormindo. Mas o resto, pediram -- e eu, pacientemente, preenchi todos os quadrinhos. Claro que precisei voltar atrás duas vezes, porque o número de telefone não pode ser digitado com traço, ao passo que o CEP não pode ser digitado sem. Finalmente, tudo OK, dou ENTER... e sou jogada de volta à página anterior, aquela que pede login e senha. Volto à tela do cadastro onde, felizmente, ainda está tudo o que digitei, e tento de novo por lá: o sistema me informa que já existe um usuário cadastrado com este nome. Grande novidade! Ainda assim, insistente, tento de novo. Mesmo resultado. Tento então ligar para o 0800, onde uma voz mecânica me informa que o horário de atendimento é de seis a meia-noite. Azar o meu, que estou tentando fazer compras às três, quando qualquer ser humano civilizado já tinha que estar na cama.
Nisso, surprise!, chega um email do Amélia (o site-mãe do Pão de Açúcar). O por quê da demora de um processo supostamente automático, nem desconfio. Mas ele traz boas notícias:
Olá, Cora Ronai,
Atendendo à sua solicitação, aqui está sua senha: 321247.
Obrigado por comprar no www.paodeacucar.com.br. Se você precisar entrar em contato conosco, escreva para falecom@amelia.com.br e continue nos visitando no endereço www.paodeacucar.com.br.
Toda feliz, pego o número, vou para o Pão de Açúcar, e o que acontece?
O nome e/ou senha digitados estão incorretos. Por favor tentar novamente.
Eu, idiota que sou, tento. E tento.
Nisso, chega um outro email do Amélia, com uma senha diferente. Minhas esperanças se reacendem. Recorto o novo número... mas qual. Eles não querem mesmo saber de mim, e resolvo ir pro Zona Sul que, afinal, sempre me serviu tão bem, e que agora está todo esperto, com abertura em Flash e o escambau. Digito o meu login e a minha senha e...
Acesso Inválido, verifique seu Login e Senha e tente novamente.
Tentar novamente?! Sem chance, agora sou uma mulher escolada, e vou direto pro Esqueci minha senha. Aqui é diferente, eles são sérios, pedem o meu CPF. Digito cuidadosamente, número por número.
Seu email não foi encontrado. Por favor, entre em contato conosco pelo telefone 0800-237070 ou 563-2727. Você pode ainda utilizar o fale conosco em nosso site.
Como sou de internet e não de telefone, tento, é claro, o tal Fale Conosco. Abre-se uma janelinha que me diz o seguinte:
Error Diagnostic Information
An error has occurred.
HTTP/1.0 404 Object Not Found
O 563-2727 está ocupado. Vou tentar o 0800. De qualquer forma, já são 5h32, e daqui a pouquinho o 0800 do Pão de Açúcar entra no ar. Se não entrar... bom, aí eu vou dormir, deixo um dinheiro e um bilhete pra Miriam, que assim que acordar liga pro armazém da esquina (vulgo Casa Nelson) e, em meia hora, um rapaz estará aqui, lépido e fagueiro, com tudo o que precisamos.
Depois o pessoal reclama que brasileiro é desconfiado e não tem audácia pra se aventurar pelo comércio eletrônico.
Então tá, né?
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