24.3.02



Delicadeza



E, mais uma vez, estou em São Paulo, teclando da máquina da Fafá -- que, fazendo jus ao nome, está em Belém. A Mariana, porém, está aqui -- e a Lucy também que, lá do sofá, fica me olhando daquele jeito gozado dela, como se estivesse perguntando a que horas, afinal de contas, vamos dormir?!

Os gatos lá de casa já estão acostumados com os meus hábitos noturnos, mas a Lucy (apesar de morar com a Fafá!) ainda estranha um pouco.

Vim num pé e volto no outro, só para ver o espetáculo (ou show? ou apresentação?) que a Fernanda Montenegro faz no CCBB daqui (atenção, turma de Sampa!). Maravilhoso -- para variar: é a Fernanda, pois não? -- mas difícil de enquadrar dentro do que a gente está acostumada a ver. O show (ou apresentação? ou espetáculo?) chama-se Encontro com Fernanda, e é exatamente isso, um encontro com Fernanda, despida de qualquer personagem, exceto a maior e melhor de todas, que é ela própria.

O tema é a delicadeza, assunto de que entende como pouca gente: Fernanda é extremamente delicada, no melhor sentido da palavra, uma das pessoas mais WYSIWYG que conheço. Fala da sua experiência, lê textos de Clarice Lispector, Hilda Hilst, Cornélio Pena e Simone de Beauvoir, e conversa com a platéia do pequeno teatro. No misto de entrevista coletiva e terapia de grupo, a participação e as perguntas do público são às vezes estranhas e muito interessantes.

É curioso que, com qualquer outra pessoa no palco, este é o tipo de coisa que me causaria pavor, porque pode ser facilmente dominada pelo eterno chato de plantão ou, eventualmente, não terminar nunca. Fernanda, porém, tem um jeito gozado, ao mesmo tempo severo e terno, de pôr o ponto final na história.

Adorei.

Aliás, adorei toda esta minha aventura paulista, do embarque no Rio -- onde encontrei com Chico e Eliana, esbarrei no Augusto Nunes quase perdendo o avião dele e ainda vim ao lado do meu amigo Jefferson Lessa, o Jeff (um dos editores da Rio Show) -- à ida para o CCBB, passando pelo velho Centro de SP, deserto e estranhamente iluminado na noite de sábado, e ao nosso jantar num árabe ótimo onde, inteiramente de surpresa, apareceram Fernandinha Torres e o Andrucha, com um monte de amigos com quem tinham acabado de demolir um Maverick, na Bienal, numa instalação que vai virar curta da Conspiração.

Pode ser muito divertida, São Paulo.

Adendo, às 20h30: Depois do toró habitual que atrasou a Ponte uma meia hora, aqui estou, sã e salva. A espera foi ótima, porque encontrei com o Márcio Montarroyos, que tinha ido tocar em Sampa, e ficamos no maior papo. Ele acaba de tirar carteira de Arrais Amador: achei chique demais, Arrais Amador.

Começo a descobrir que as salas de embarque do Stos Dumont e do Congonhas, no fim de semana, são ótimos lugares pra se encontrar os amigos; pra mim, que só vou a SP a trabalho, essas duas últimas idas foram, de fato, viagens.

Ótimas viagens!

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