Um Nobel para Sir Vidia
V(idiadhar) S(urajprasad) Naipaul, ou Sir Vidia para todo o establishment literário inglês, levou o Nobel de literatura deste ano. De família indiana, mas nascido em Trinidad (aquela ilhota do Caribe que fica ao lado de Tobago), ele é, disparado, um dos grandes escritores de livros de viagem deste século, digo, do século passado -- neste, acho que ainda não publicou nada do gênero -- talvez um dos maiores de todos os tempos. Por outro lado, dizem (mais especificamente: diz Paul Theroux, que escreveu um livro chamado Sir Vidia's Shadow, com o único propósito de esculhambá-lo -- e muita gente concorda com o dito livro) ele é um osso duro de roer, uma pessoa difícil, metida, cheia de não-me-toques. Pode se dar a esse luxo, porque escreve bem pra caramba -- mas, sobretudo agora, depois do Nobel e do seu nada desprezível milhão de dólares, pode fazer o que bem entender. Ele é um chato insuportável? Who cares? A gente não tem mesmo que conviver com ele...
Segundo Per Wastberg, o membro da Academia sueca que normalmente dá essas notícias à imprensa, Naipaul "considera a religião o flagelo da humanidade, que acaba com as nossas fantasias e o nosso desejo de pensar e experimentar". Tá certo. E taí o recado político deste ano da Academia. Bota político nisso: um dos livros de Naipaul disponíveis aqui no Brasil é "Entre os fiéis", lançado pela Companhia das Letras -- uma visão do islamismo a partir da Teerã dos aiatolás. Eu não li este livro, especificamente, mas li alguns outros, e inúmeros artigos e ensaios do Naipaul. Recomendo A Bend in the River, que descobri no início dos anos 80 e me causou, então, uma fortíssima impressão: nada acontece na história, mas o clima de tensão só é comparável, a meu ver, ao de "Under the Volcano", de Malcolm Lowry.
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