15.10.01

Enquanto isso, no Brasil...


Vamos reconhecer: desde o dia 11 de setembro, só pensamos nos problemas dos Estados Unidos, do Afganistão, da Palestina, dos Talibãs... enquanto isso, a vida continua à nossa volta, e nem sempre às mil maravilhas. Leiam a carta que recebi do meu amigo Rodrigo Belchior, ele mesmo uma pessoa que muito lutou (e ainda luta) para viver com dignidade:

"Conheci o Marquinhos, hoje com 13 anos, mais uma criança pobre na favela Dona Marta, morando com sua avó tão velha quanto doente. O que me chamou a atenção naquele moleque foi a sua alegria, a meiguice daquele olhar grande e puro, tudo isso numa criança órfã e ainda tendo a responsabilidade de cuidar de sua única família -- a avó.

Perguntei-lhe, um dia, se gostaria de tocar flauta. E aí começa a história.

Como, naquela época, eu estudava nos Seminários de Música Pró-Arte, em Laranjeiras, não foi difícil conseguir uma bolsa de estudos para ele. É claro que isso só não bastava, então, durante algum tempo, junto com uma amiga que se prontificou a me ajudar, paguei seus estudos em uma escola particular. Com o passar do tempo percebi que, além de estar ficando com o bolso vazio, pois tinha todos os meus compromissos financeiros para arcar, a escola deixava muito a desejar. Com esta mesma determinação que me leva a escrever esta carta, levei Marquinhos para fazer prova para o colégio Pedro II, e, com a ajuda de Papai do Céu, Marquinhos estuda até hoje nesse colégio. Na Pró-Arte? Vai muito bem, já toca flauta transversa e começa a estudar trompete, com o professor Nailson Simões, fazendo parte dos Flautistas da Pró-Arte, cuja apresentação de fim de ano aconteceu dia 12 deste mês de Outubro no Teatro Villa-lobos, e durante os próximos dois meses vão apresentar-se ainda por outros teatros do Rio.

O que me leva a escrever?

É que esse menino com tanto talento e tanta dedicação mora num barraco de madeira, sem cozinha, sem banheiro, sem janela, sem televisão. Foi lá que o encontrei esta semana, sem TV, sem aparelho de som, como qualquer garoto normal de sua idade teria, estudando sua flauta e seu trompete (doados por amigos) com o afinco e a seriedade de sempre. Revolta? Nenhuma, ao contrário, leva sua vida no morro com a mesma simplicidade com que convive com adolescentes de classe média com os quais estuda na escola de música.

Foi diante desse quadro que me veio a idéia de mobilizar pessoas que de alguma forma se sintam sensibilizadas e motivadas a ajudar outras menos favorecidas a crescerem e se tornarem cidadãos de bem. Sonho ver esse menino morando num lugar decente, onde ele possa ter seu espaço para guardar seus livros, partituras, etc, e estudar com privacidade. Espero idéias que, de alguma forma, façam este sonho ficar próximo da realidade.

Desde já agradeço a simples leitura desta carta e a divulgação da mesma.

Abraços do amigo Rodrigo Belchior (Cel. 021 9956-0475)
"



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